terça-feira, 18 de março de 2008

FCPSAD: Análise das Contas 1º Semestre 2007/08 (I)

Da leitura do Relatório Consolidado do primeiro semestre deste ano, salta desde logo à vista o equilíbrio conseguido entre proveitos e custos operacionais excluindo transacções com passes de jogadores: 28,5M€ de proveitos contra 28,1M€ de custos. Se no caso dos proveitos operacionais temos um ligeiro aumento de 2,5% (apesar das receitas de Bilheteira e de TV terem diminuído), no que diz respeito aos custos operacionais assistimos a um acréscimo de 13,3% relativamente ao 1º semestre do exercício anterior.

Esta desproporção entre o crescimento dos custos e dos proveitos não é, decididamente, uma boa notícia. Esse aumento nos custos operacionais é justificado pela Administração, no relatório, com o aumento na rubrica de custos com pessoal devido a renovações de contratos de jogadores nucleares e com o aumento dos Fornecimentos e Serviços Externos para fazer face aos eventos organizados pela PortoEstádio (curiosamente o aumento dos custos totais da PortoEstádio é apenas de 0,3M€).

De salientar que, dos custos com pessoal, a parte relativa a jogadores tenha sofrido um aumento de 23,4% em relação ao 1º semestre do exercício anterior mas as remunerações dos Órgãos Sociais também tiveram um “pequeno acréscimo” de 10,5%.

Fonte: FCP SAD, Relatório e Contas 1º Semestre 2007/08

Um dado que podemos constatar da análise do relatório é a tendência para a crescente alavancagem financeira da sociedade. No 1º semestre do ano passado a SAD apresentava um montante total de dívida bancária de 63,1M€ enquanto que no mesmo período deste ano a mesma rubrica apresenta o valor de 75,2M€. Dentro dessa dívida, a maior fatia estava a médio e longo prazo (> 1 ano), ou seja 43,3M€ e no curto prazo (< 1 ano) existiam 19,8M€.

Neste momento temos um valor de dívida a curto prazo de 43,1M€ e de 32,1M€ a médio e longo prazo. Esta inversão na composição da dívida bancária, decorrente da junção da amortização do empréstimo obrigacionista com outro tipo de empréstimos bancários, com montantes mais elevados no curto prazo, coloca maior pressão sobre a tesouraria, o que já se faz notar no rácio de Liquidez Reduzida que diminui de 71% para 69%.

Outro indicador que revela potenciais dificuldades de tesouraria é o aumento das dívidas a terceiros de curto prazo, incluindo a banca, para 96,4M€ (quando no 1º semestre do exercício anterior atingiam 66,1M€), com um aumento de 30M€!

Fonte: FCP SAD, Relatório e Contas 1º Semestre 2007/08

Tudo isto afecta o equilíbrio económico-financeiro, nomeadamente o Fundo de Maneio. A rubrica Fornecedores aumentou 5M€ mas a rubrica clientes aumentou 13M€ (nomeadamente a longo prazo), ou seja, a sociedade está a atrasar o pagamento aos fornecedores porque não consegue cobrar atempadamente aos clientes (ou terá acordado prazos dilatados) e por isso estará mais dependente do recurso a apoios bancários para aliviar a tesouraria. O Fundo de Maneio era, no 1º semestre do exercício anterior, de -19M€ e agora é de -30M€, o que demonstra algum desequilíbrio financeiro da sociedade.

Da Demonstração de Resultados há que salientar o crescimento dos FSE´s (Fornecimentos e Serviços Externos) e dos Custos com Pessoal, ao mesmo tempo que os proveitos excluindo transacções de passes de jogadores (e aqui falamos das 5 fontes de receita 'core' dos grandes clubes da Europa: Bilheteira + TV + UEFA + Publicidade + Corporate Hospitality) diminuíram em 1M€ (-4,1%) (o que motivou a subida de 2,5% dos referidos proveitos foi o aumento considerável de “Outros Proveitos Operacionais”).

Como indicadores com melhorias relativamente ao 1º semestre do exercício anterior podemos encontrar:
· A Autonomia Financeira, em virtude da recuperação do nível de Capitais Próprios e do aumento do Activo.
· O Debt to Equity (rácio dívida capital próprio), também devido à recuperação ocorrida nos Capitais Próprios.
· A Solvabilidade, devido ao aumento do Total do Activo.
· A Cobertura dos Encargos Financeiros, cuja melhoria é muito positiva, mas que é conseguida, principalmente, devido aos encaixes conseguidos com transacções de passes de jogadores.
· EBITDA (por a transferência de Pepe se ter concretizado neste período).
· Return On Equity (Rentabilidade dos Capitais Próprios): 44%
· Return On Assets (Rentabilidade do Activo): 5%

(continua)

1 comentário:

José Correia disse...

Surpreende-me a diminuição das receitas de Bilheteira, TV e UEFA (num total de 1,7 milhões de euros), até porque não consigo encontrar uma explicação para este facto.