domingo, 25 de maio de 2008

Época 2007/08 em revista: O treinador

No final da temporada 2006/07 onde o FC Porto cortou a meta ao “sprint” no primeiro lugar, em disputa acesa com o Sporting, depois de ter estado a meio do campeonato com uma vantagem confortável, começaram a pairar no ar, por parte de uma franja considerável de adeptos portistas, alguns sinais de desagrado e uma certa desconfiança nas capacidades de Jesualdo Ferreira comandar uma equipa com ambições altas.


Devo dizer que nunca concordei muito com as perspectivas mais ou menos catastróficas que muitos sócios vaticinavam sobre o que poderia ser o futuro dos Dragões nas mãos de Jesualdo. De facto a 2º volta da época anterior tinha sido “quase” penosa, mas atrás disso vinha agregado ao treinador a imagem de um homem frio, com conceitos de jogo defensivos e benfiquista. Um perfil com o qual Jesualdo teve de lutar e, acima de tudo, demonstrar que era errado e pré-concebido.


Perante o voto de confiança dado pela administração da SAD para a continuidade do técnico na época que agora finda, houve a oportunidade para que Jesualdo pudesse construir um plantel mais à sua imagem, mediante aquilo que é sua forma de ver o futebol, coisa que não teve possibilidade de fazer no ano anterior, devido a ter chegado ao Dragão mesmo em vésperas do começo do campeonato. Desde logo, o treinador, tratou de passar guia de marcha aos jogadores que não cabiam no seu perfil de jogo e que em alguns casos chegou ter alguma incompatibilidade, como Bruno Moraes e Ibson. Acima de tudo, o sinal para interior do balneário era claro, Jesualdo só aceitava levar consigo para a batalha homens da sua confiança. É certo que permaneceram no plantel elementos que foram objecto de quesilias no passado, casos de Bosingwa e a sua postura imprevisível, ou Quaresma que sempre teve uma personalidade difícil, mas a verdade é que grupo demonstrou no geral um ambiente mais sereno ao longo do ano.



À parte de questões de autoridade, Jesualdo tinha revelado em entrevista ao jornal O Jogo no defeso passado, a necessidade de se encontrar soluções no sentido de introduzir no plantel uma maior dimensão física no jogo, onde lhe pareceu estar a quebra evidenciada pela equipa na época em causa. Mas foi nas soluções já existentes no grupo de trabalho, na predisposição táctica mais concertada de algumas peças, que o treinador conseguiu montar um onze forte, coeso, com dinâmica, rapidez de processos e alguma magia. As vitórias são um tónico importante, pelo que não há duvida que a consolidação da equipa tipo para atacar o campeonato versão 2007/08, deveu-se à entrada demolidora do FC Porto nesta prova. Logo aí a equipa marcou a diferença para os demais adversários, cabendo-lhe a si e ao treinador gerir “apenas” a vantagem ate ao final de forma afastar fantasmas passados, o que, como é sabido, aconteceu.



Mas se Jesualdo Ferreira foi capaz de construir um onze base com patamares de rendimento alto, nem sempre conseguiu fazer uma integração harmoniosa dos restantes jogadores do plantel na equipa. É sempre difícil descortinar ate onde vai a qualidade de cada membro e aquilo que pode dar ao seu conjunto global, mas ficou sempre a sensação ao longo da época que o treinador depositava mais confiança num restrito núcleo de 13 ou 14 atletas. Essa confiança excessiva nesse círculo fechado de jogadores, teve efeitos perversos em alguns momentos, sempre que o Professor foi buscar alguns homens fora deste núcleo, onde a eliminação da Taça da Liga é disso exemplo. Também algumas tentativas de “inputs” na equipa principal, assim como respectivos reajustes tácticos, nem sempre foram bem sucedidos, em especial quando tal sucedia em jogos de cariz mais decisivo, ou em situações em que não se justificava de todo alterações, deixando a equipa sempre muito agarrada ao rendimento de uma pequena franja de jogadores.



Este será porventura um dos maiores desafios para Jesualdo Ferreira na proxima época, conseguir abrir portas da titularidade a um maior leque de jogadores do plantel, sem que a equipa perca qualidade. A permanencia do tecnico permite um certo enraizamento no Clube dos seus conceitos, estabelecendo uma linha de continuidade no projecto sem causar grandes fracções, que no seu propósito principal saiu vencedor (campeonato), pese embora as insuficiências nas competições a eliminar. Não pode ficar esquecido também o contributo muito válido que o treinador amíude tem dado na defesa da honra e interesses do FC Porto, nas conferências de imprensa, antes ou depois dos jogos, em algumas entrevistas ou eventos mais sociais. Um sinal muito significativo num momento onde impera muita contenção verbal no seio dos orgãos decisorios do Clube, e a mostrar de igual forma que cumpre este que é o maior desafio da sua carreira, de forma bastante profissional.

5 comentários:

Nuno Nunes disse...

"Não pode ficar esquecido tambem o contributo muito válido que o treinador amíude tem dado na defesa da honra e interesses do FC Porto, nas conferências de imprensa, antes ou depois dos jogos, em algumas entrevistas ou eventos mais sociais."

Não seria esta uma função da responsabilidade da sad?
Jesualdo tem estado muito bem, mas devia existir maior apoio nesta 'luta' por parte da administração.

Paulino disse...

Mais uma época que Jesualdo tem de convencer os adeptos que realmente merece ser treinador do Porto.

Falou-se neste posto que a "desculpa" dada foi não ter tempo para construir a equipa a sua imagem, não concordo muito, penso que não teve tempo foi de arriscar mais onde deveria e não subestimar os adversários nos jogos que realmente eram críticos.

Esta época o mérito deve-se literalmente ao jogadores...pouco se verificou o mérito da equipa técnica.

Por agora, estou de acordo com a contratação do N. Benítez, é esperar que se adpate bem cá e que realmente ocupe constantemene um lugar que parece amaldiçoado á já algum tempo.

José Correia disse...

1. Da época 2006/07 para a época 2007/08, o plantel do FC Porto ficou sem dois jogadores do calibre do Pepe e do Anderson.
Notou-se a sua falta?
Não.

2. Durante a época 2007/08, o Jesualdo apostou num leque de 13-14 jogadores, que praticamente não tiveram lesões musculares.
Apenas sorte, ou também consequência de uma boa pré-temporada e de metodologias de treino adequadas?

3. Ao contrário do que era habitual de há muitos anos a esta parte, a equipa não teve qualquer quebra a seguir ao período de férias do Natal.

Na minha opinião, houve muito mérito do Jesualdo na boa época que o FC Porto realizou.

O desafio para a próxima época é continuar a ter uma equipa muito competitiva, apesar da(s) saída(s) de um, ou mais, das jóias da equipa.

Mefistófeles disse...

Creio que esta foi a época de afirmação de Jesualdo no FC Porto e em que demonstrou toda a sua competência. Com uma postura irrepreensível. O título foi conseguido através de uma superioridade esmagadora como os próprios adversários tiveram que reconhecer e isso diz bem do seu mérito. Os desaires nas restantes competições não apagam, quanto a mim, o que de bom fez. Poderá não ser aquele treinador carimático e empolgante, que nos entusiasma, mas é seguramente um profissional competente.
Gostaria também, neste comentário, de enaltecer as qualidades profissionais de Carlos Azenha que, na passada semana, em entrevista a "O Jogo" revelou gratidão para com Jesualdo e o FC Porto ( que outros foram incapazes de ser ). Ou muito me engano ou teremos ali um treinador que terá bastante sucesso.Uma coisa é certa: carácter tem e competência também a deve ter ou não teria sido convidado a renovar. Espero que volte um dia como treinador principal.

Mário Faria disse...

As últimas imagens marcam sempre mais. Por isso, os jogos com o Nacional e a Final da Taça, ajudam a alimentar as dúvidas.
Definitivamente, a equipa tem-se mostrado menos forte nos jogos a eliminar.
Por outro lado, também acho que a equipa não é muito forte na circulação e posse de bola.
Indiscutivelmente, JF tem sabido ser o porta voz do FCP "sofrido" e "prejudicado", sem cair no papel de vítima, fazendo-o quase sempre bem e no registo certo.
Neste momento complicado do FCP, não vejo quem tenha as competências para cumprir as amplas tarefas que cabem, hoje, a um treinador do FCP : tem de ser sério e competente, estar identificado com o clube, os problemas e os silêncios tácticos dos dirigentes e ser a voz respeitada que fala pela nação portista, sobre os factos e as contingências desportivas que se vivem, quando todos os demais responsáveis prudentemente se calam.
A entrevista que JF deu hoje ao jornal o Jogo, é simplesmente brilhante. Não tem pontos fracos e revela que o treinador é muito inteligente. Um bom treinador não ganha campeonatos apenas por ser um bom comunicador. Mas, a um líder não é dispensável que não saiba utilizar esta ferramenta de forma correcta e certeira, nos dias de hoje. JF no seu melhor, hoje n’ O Jogo.