As remunerações dos membros executivos do C.A. da SAD (Pinto da Costa, A. Caldeira, F. Gomes e R. Teles) ascenderam a 2,3 milhões € na época 2007/08, segundo o Relatório e Contas.
Isto traduz-se num aumento de 30% em relação à época anterior (1,75 milhões €), e corresponde a uma remuneração média por pessoa de cerca de 40mil €/mês.
O primeiro comentário que isto me suscita é o seguinte: numa época em que o rendimento desportivo foi em quase tudo idêntico ao anterior (vitória no campeonato, 1/8s de final na Liga dos Campeões) é à primeira vista difícil de compreender um aumento tão significativo.
A outra grande novidade (surpresa, mesmo, já que não foi anunciado antes dos factos) é que o esquema de remuneração mudou em relação ao passado, nomeadamente no que diz respeito aos bónus: anteriormente estes eram pura função do lucro do exercício; agora passaram a ser pura função do rendimento desportivo.
Sempre defendi que a remuneração do C.A. da SAD dependesse do rendimento desportivo, já que este é o principal objectivo do futebol do FCP. Logo acolho essa mudança de forma positiva.
No entanto penso que nem tanto ao mar, nem tanto à terra... o desempenho financeiro é também importante: não porque um dos principais objectivos da SAD seja distribuir dividendos, mas sim porque a competitividade desportiva a médio prazo (e às vezes até mesmo a curto prazo) depende certamente do desempenho financeiro, já que os jogadores não são pagos com amendoins. Como diz o ditado popular: “sem dinheiro não há palhaços”.
Mas se concordo em princípio a 100% com um esquema de bónus em função do desempenho desportivo, como dizem os ingleses: “the devil is in the details”...
A remuneração de base da SAD em 2007/08 foi de 1,6 milhões €, o que para simplificar dá uma média de cerca de 30,000€/mês por membro do C.A. (mas ressalve-se que Pinto da Costa ganha mais do que os outros, sendo presidente do C.A.). Este é o valor que eles recebem, “faça chuva ou faça sol” (i.e. mesmo que o FCP fique em 7º lugar no campeonato e/ou a SAD faça um prejuízo de largas dezenas de milhões €).
Para além disso o esquema de bónus é como se segue:
- 50% no caso do FCP terminar o campeonato em 2º ou 3º lugar
- 75% no caso do FCP ganhar o título
- 100% no caso do FCP ganhar a taça UEFA
- 120% no caso do FCP ganhar a Liga dos Campeões
Antes de mais, parece-me completamente absurdo - e um autêntico gozar com a cara do adepto anónimo que faz sacrifícios para acompanhar o seu FCP - que haja um bónus (e logo de 50%!) se ficarmos em 2º ou 3º lugar no campeonato. Compreende-se para um Braga, não se compreende de todo para um FCP. Perguntem a um adepto (ou um accionista) se consideram que nesse caso o trabalho feito foi bom... a resposta será provavelmente uma interjeição bem tripeira, que me escuso de transcrever.
Este valor de base parece-me extremamente exagerado, principalmente quando não estamos exactamente em risco de ver um Fortis Bank ou Lehmann Brothers vir-nos roubar um Adelino Caldeira ou um Reinaldo Teles oferecendo-lhes propostas milionárias...
Aliás, muitos bons gestores internacionais (quanto mais em Portugal...) em cargos de maior responsabilidade de um ponto de vista empresarial (em empresas multinacionais) ganham menos do que este valor de base dos gestores da SAD, mesmo após a contabilização de bónus por desempenho que recebem nas suas empresas.
Pessoalmente acho que um salário de base de 1/3 desse valor (uns 10mil €/mês), para além dos fringe benefits que os administradores detêm (como carros de alta cilindrada) seria um valor mais do que adequado, e não iriam certamente passar fome. Neste momento os administradores da SAD ganham muito mais do que um presidente dos EUA, um presidente da Comissão Europeia ou um presidente da ONU. Isto faz algum sentido?
Aliás, nem temos que temer que um tal salário os afastasse para cargos fora do FCP: isso é uma questão teórica que nem se coloca, já que sabemos que os administradores estão na SAD apenas por amor ao clube. E cá entre nós: que grande empresa é que vai querer contratar um Reinaldo Teles? [já agora, aproveito para lhe aqui deixar os mais sinceros votos de melhoras]
Considero pois que o grande problema neste esquema de remuneração está no elevado salário de base + bónus por 2º ou 3º lugar no campeonato. A partir daí a progressão (bónus em % do salário de base) em função das conquistas desportivas (vitória no campeonato e competições europeias) parece-me mais ou menos correcta, embora pudesse fazer sentido introduzir uma etapa intermediária na Liga dos Campeões (acesso aos 1/8s de final) e talvez ajustar um pouco a % exacta para os diferentes títulos.
Para além disso considero que o desempenho financeiro também devia ser tomado em conta (com um peso de, digamos, metade dos bónus por desempenho desportivo, já que este é sem dúvida mais importante). Ao não existir, podemos assistir a uma situação de injustiça em que um bom trabalho financeiro não é recompensado, ou inversamente em que uma eventual gestão ruinosa não seja punida (nesse caso o C.A. que se seguir que se desenrasque).
Considero finalmente que um eventual bónus por desempenho financeiro devia ser em função dos lucros acumulados ao longo do mandato de 3 anos (de forma a evitar distorções como tem acontecido nos anos anteriores: uma época com dezenas de milhões de prejuízo não foi punida, mas já uma época com lucro deu direito a 6% do mesmo para o C.A.).
Como sabemos, o lucro do exercício depende imenso do volume de mais-valias nas vendas de jogadores, algo que varia imenso de ano para ano (curiosamente e de forma muito sui generis, a SAD considera estas transacções com passes como algo “operacional”). Faria mais sentido olhar para o cômputo geral de 3 anos, em vez de uma única época.
Concluindo: acho muito bem que haja prémios de desempenho, e se o FCP ganhar a Liga dos Campeões os administradores merecem um chorudo bónus. No entanto os salários de base dos administradores neste momento (mesmo que não ganhem nada) é obsceno, e com o novo esquema de remunerações temos um autêntico gozar com a cara dos adeptos aos estabelecer-se um prémio em caso de 3º lugar no campeonato.
Será que os jogadores também recebem bónus se acabarmos o campeonato nesse lugar? Eu diria que nesse caso o mais provável é que hajam umas pedradas nos seus carros...
20 comentários:
Muito bem explicado. E muito mais para explicar se um accionista descontente se manifestar no local próprio...
«Será que os jogadores também recebem bónus se acabarmos o campeonato nesse lugar?»
Eu pergunto antes o seguinte; Como será que os jogadores do plantel reagem sabendo que a sua Direcção é premeada por ficar em 2º ou 3º no campeonato enquanto eles (jogadores) não?
De resto, isto é apenas mais um apontamento entre muitos no Relatório e Contas, onde na FCP SAD se faz uma gestão sem qualquer preocupação num futuro financeiro minimamente sustentável.
Quem vier a seguir que trate de fechar a porta, se conseguir...
Excelente artigo. Subscrevo inteiramente a opinião do José Rodrigues.
José Rodrigues, presumo saber mais desta matéria (e não é difícil) do que eu, mas quanto á forma de premiar a Administração, seria melhor da forma que agora se convencionou - pelos êxitos desportivos, por menos retumbantes que sejam e essa do 3º lugar é um bocado ridícula, convenhamos - ou fazê-lo mediante os lucros?
É que com o aumento do lucro do exercício para o quádruplo, quanto não seria esse aumento que agora se cifrou, por contas suas, em 30%?
Das duas uma: numa empresa onde os accionistas e uma comissão de vencimentos estabelecem regras para o efeito, deve haver prémios ou não?
«Os referidos prémios variáveis resultam das novas regras estabelecidas pela comissão de vencimentos formada por Alípio Dias, Joaquim Faria de Almeida e Fernando Freire de Sousa para o exercício de 2007/08. A anterior redacção formulada pelo mesmo órgão, mas onde apenas se repetia o banqueiro Alípio Dias, não fazia depender os prémios do rendimento desportivo, antes estabelecia uma percentagem sobre os lucros da sociedade: dois por cento para o presidente e um por cento para os restantes membros do conselho de administração.
As remunerações dos conselhos de administração das sociedades, incluídas no grupo FC Porto, ascenderam a 2,276 milhões de euros, sendo que 697 mil euros daquele valor correspondiam à componente variável. No exercício anterior, os administradores receberam 1,754 milhões de euros de vencimento fixo, sendo que esse valor baixou no último exercício para apenas 1,578 milhões.»
Bruno Prata
in PUBLICO, 31/10/2008
«Segundo as contas da SAD, os administradores receberam no último ano um total de 2.276.632 euros, correspondendo a 1.578.954 à parte fixa da remuneração e 697.678 à parte variável. Deste modo, Pinto da Costa, que pelo facto de ser o presidente do Conselho de Administração recebe
o dobro dos outros membros, embolsou mais de 910 mil euros no último ano. Traduzindo por salários, o presidente do FC Porto, recebeu no último ano 75.887 euros/mês.»
in Record, 31/10/2008
"Considero um autêntico escândalo o artigo 4. Todos os associados do FC Porto que pagam com sacrifício as suas quotas e os seus lugares no estádio, devem sentir-se incomodados com o escândalo deste artigo"
Alexandre Magalhães, ex-vice-presidente, sócio honorário do FC Porto
Eu concordo com a lógica de haver prémios – motiva as pessoas – mas, havendo prémios, os salários base têm de ser mais baixos.
Prémios em cima de salários base elevadíssimos é, perdoem-me a expressão, uma boa mama!
Prémios, ainda por cima chorudos, se a equipa ficar em 2º ou 3º lugar no campeonato é escandaloso.
Mais. Surpreende-me que uma coisa destas tenha sido aceite por Pinto da Costa, quando ele deveria ser o primeiro a repudiá-la.
Mas não estamos a falar no mesmo país onde os gestores de grandes empresas ,bancos, e empresas públicas ganham autênticas fortunas quando pagam uma miséria aos seus empregados? Porque raio no FC Porto , os jogadores é que tem de receber fortunas, por aquilo que se lê e o mais galardoado dirigente desportivo europeu não pode receber um salário compativel com aquilo que já conquistou?
Sinceramente , acho que há muitas coisas erradas no FC Porto, mas esta campanha contra os salários do Pinto da Costa sinceramente não fazem sentido.
Um gestor com o nivel de resultados do Pinto da Costa estava multimilionário.
Ainda bem que o Pinto da Costa não se transfere e já não está com idade para isso, caso contrário não tenho minima dúvida que tinha lugar em qualquer grande clube do mundo e a ganhar muito bem.
"Porque raio no FC Porto , os jogadores é que tem de receber fortunas, por aquilo que se lê e o mais galardoado dirigente desportivo europeu não pode receber um salário compativel com aquilo que já conquistou?"
Os jogadores são muito bem pagos por duas razões:
Primeiro, porque são a razão de ser do negócio (ninguém vai ao estádio ou subscreve a SportTV para ver Antero Henrique a fazer cruzamentos de trivela ou o Fernando Gomes a fazer assistências...);
Em segundo lugar, devido às forças do mercado: existe um mercado líquido para os jogadores, e qualquer jogador pode ser "roubado" por outro clube a certo ponto da sua carreira (até porque muitos poucos jogam por amor à camisola, começando pelo FCP; ao contrário do que é suposto ser o caso com os dirigentes, que são supostos amar o clube).
Este último ponto, tal como o primeiro, marca uma enorme diferença entre jogadores e dirigentes: alguém acha sinceramente que estamos em risco do Inter ou do Lyon quererem contratar o Reinaldo Teles ou o Adelino Caldeira??
Sou de opinião que os nossos gestores devem ser bem remunerados... pelos êxitos alcançados.
Tratando-se duma SAD penso que os prémios deveriam ser constituídos por uma ponderação entre os resultados desportivos e os financeiros.
Claro que fico espantado com os prémios para o 2.º e 3.º lugares, porque esses resultados não podem ser considerados como êxitos alcançados.
Mas seria interessante conhecer-se como funciona o "regulamento remuneratório" dos nossos principais concorrentes.
O Presidente do SLB e Benfica-SAD não se cansa de dizer que não é remunerado pelas funções que ocupa. Será??
"o mais galardoado dirigente desportivo europeu não pode receber um salário compativel com aquilo que já conquistou?"
Não concordo que Pinto da Costa (ou outros) recebam salários exorbitantes por aquilo que já conquistaram no passado.
Primeiro, porque já foram extremamente bem recompensados no passado: em 2004 receberam um prémio de 1,5 milhões, o que convenhamos não é pouca fruta.
Em segundo porque os salários devem recompensar o trabalho que fazem, não o trabalho que fizeram.
Acho muito bem q PdC & Cia ganhem bons prémios se ganharem o campeonato e ainda mais se ganharem uma competição europeia; mas se ficarem em 3o no campeonato e forem eliminados na fase de grupos da Liga dos Campeões, não devem receber mais do que um bom salário (e 10-20mil euros/mês + benefícios já seria um bom salário).
"seria melhor da forma que agora se convencionou - pelos êxitos desportivos, por menos retumbantes que sejam e essa do 3º lugar é um bocado ridícula, convenhamos - ou fazê-lo mediante os lucros?
[...]É que com o aumento do lucro do exercício para o quádruplo, quanto não seria esse aumento que agora se cifrou, por contas suas, em 30%?"
Como disse no artigo, defendo as duas coisas com preponderância para o desempenho desportivo.
O risco de que o Zé Luís fala não existe se o que defendo fosse feito: bónus por desempenho financeiro APENAS em função dos resultados acumulados em 3 anos.
Ora curiosamente a SAD nunca teve lucro em médias móveis de 3 anos, i.e. o lucro de um ou dois anoa não compensou o prejuízo de outro(s). O que por si só é um sinal de que o desempenho financeiro da SAD tem estado longe de ser brilhante ao longo de 10 anos...
Mas vou dar um exemplo hipotético de um esquema q para mim faria sentido:
- salário base de 10mil/mês
- bónus anual de 50mil euros/administrador no caso de vitória no campeonato
- bónus anual de 50mil euros/p. se passarmos aos 1/8s da LC
- bónus anual de 50mil euros/p. por cada eliminatória da LC ultrapassada a partir dos 1/4s
- bónus anual de 20mil euros se ganharmos a Taça
- bónus de 10% do lucro (a dividir por 4) acumulado (a existir) sobre 3 anos de mandato
Num ano em que não ganhássemos nada e fôssemos eliminados na fase de grupos da LC, receberiam em média 10mil/mês cada um (mais carros de empresa etc).
Num ano como 07/08, receberiam em média 18mil euros/mês.
Num ano como 03/04, receberiam em média 40mil euros/mês.
Se ao fim dos 3 anos de mandato tivessem feito uma média de 5milhões de lucro/ano (15 no total), ainda receberiam um bónus de 1,5 milhões (400mil/cabeça).
Quem acha sinceramente que um esquema deste género e com estes valores seria mais injusto???
E entretanto mais uma derrota...
Para mim ainda faltam 2 para batermos no fundo, que é a melhor forma de ver se acordamos!
Hoje já não me custou nada perder, só me custa é saber que ainda não é desta que a estrutura leva um safanão...
olol acho uma comédia este artigo, como se isso fosse uma novidade, e não é só no futebol...mas felizmente no futebol a melhor alternativa para travar esses glutões é simplesmente... não pagar....
mas é assim e sempre será assim, por isso não venham com balelas de alguns artigos atrás em que defendi que o principal objectivo dos clubes é gerar fonte de rendimento (lucro) e agora com este artigo complementa-se o facto que quem poder tirar uma fatia maior para o bolso que tire....
José Correia disse...
Eu concordo com a lógica de haver prémios – motiva as pessoas – mas, havendo prémios, os salários base têm de ser mais baixos.
Prémios em cima de salários base elevadíssimos é, perdoem-me a expressão, uma boa mama!
Prémios, ainda por cima chorudos, se a equipa ficar em 2º ou 3º lugar no campeonato é escandaloso.
Mais. Surpreende-me que uma coisa destas tenha sido aceite por Pinto da Costa, quando ele deveria ser o primeiro a repudiá-la
Ate aonde chega a cultura de exigência, de vitoria que o nosso clube tinha, e que agora com o mero formalismo pseudo-empresarial chega ao ridículo, de o 1º dos últimos seja ressarcido de uma boa quantia.
Mais vale dar uma reforma vitalícia ao Presidente, pelo trabalho meritorio feito pelo nosso clube.
Quanto á comissão de vencimentos, não sabia que tinha alterado a formula de calculo dos mesmos...
Penso que a anterior formula deveria ter sido mantida, porque vitorias a qualquer preço é para os lampioes, não no Porto, ainda por cima com o aumento do passivo, porque temos necessariamente de gastar o dobro do Sport para sermos campeoes, sem ter receita que cobram o exercicio, a não ser atraves das galinhas dos ovos de ouro.
Isto para mim, não é um bom acto de gestão..e como já não é de hoje...penso que esta mais do que na hora de sairem pelo proprio pé...enquanto podem.
Parabens pela lucidez da prosa.
Como portista fico escandalizado, uma vez mais, com este autêntco assalto aos cofres do clube.
O amor à camisola, não é este certamente.
Não admira que nos dois últimos anos tenhamos mais de 100 milhões de euros em vendas (o ano passado fomos recorde na europa) e o passivo acumulado passou de 116 para 140 e tal milhões!!!
Será altura de uma petição para uma AG extraordinária?!
Desafio-os a todos, vamos a isto?!
"Será altura de uma petição para uma AG extraordinária?!"
Desculpa lá Jorge, mas... AG extraordinária PARA QUÊ, se ainda agora houve uma AG ordinária(no clube) e vai haver outra (na SAD)???
José Rodrigues, no momento, e quanto ao que deixei como questão a ponderar, esqueçamos a sua sugestão.
Vamos concentrar-nos no esssencial.
Os salários/prémios da Administração passaram de 1,75 para 2,3 milhões/ano.
- por quantos administradores dividiu?
- por quantos meses? (com ou sem 13º e 14º mês)?
Quando soubermos isso, e eu não sei, temos de fazer contas ao que ganhariam se o prémio/salário fosse indexado ao balanço: lucro ou prejuízo.
É que, face ao lucro quadruplicado obtido, pode ser uma diferença substancial.
Não acha?
Zé Luis,
os membros executivos do C.A. são quatro: PdC, F Gomes, A Caldeira e R Teles.
De resto nas contas q fiz (40mil/mês, em média por cabeça) presumi que se pagasse 14 meses/ano (senão até era mais).
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