domingo, 29 de março de 2009

O desastre da Ponte das Barcas 29/3/1809-29/3/2009


Este blogue é acerca do Futebol Clube do Porto e daquilo que o rodeia na esfera desportiva. Mas é feito por tripeiros, que têm honra em sê-lo e se interessam e sentem tudo aquilo que diz respeito à Invicta. A política, por mais que possa interessar-nos, a nós e à cidade, estará sempre ausente deste espaço, mas o mesmo não podemos dizer da história e da memória, quando ocasionalmente tal se justifique.

E poucas coisas extra-desporto terão tanta justificação em aqui merecerem uma menção como a triste efeméride que hoje se comemora no Porto. O desastre da Ponte das Barcas, que todos conhecemos dos manuais de história, e cuja invocação todos testemunhamos sempre que passamos nas “Alminhas”, na Ribeira, onde um círio permanentemente iluminado homenageia a memória das vítimas, foi a maior tragédia da história da cidade, e decerto uma das maiores da história de Portugal.

Naquele dia, fugindo ao exército francês sob o comando do Marechal Soult, a população do Porto precipitou-se para a ponte, a fim de procurar refúgio na outra margem. A ponte não aguentou e quatro mil pessoas foram tragadas pelas águas do Douro, o nosso bem amado rio, simultaneamente fonte de tanta alegria e de tanta desgraça.

Em vários locais do Norte de Portugal existem pequenos monumentos ou simples marcos com inscrições como “Não Passaram!” e “Daqui eles não Passaram!”, assinalando uma resistência vitoriosa ao invasor. Infelizmente, por aqui eles passaram.

No dia em que se cumpre o segundo centenário da tragédia o Porto mais uma vez recorda os seus filhos tragicamente desaparecidos naquele dia. O “Reflexão Portista” associa-se à homenagem e curva-se respeitosamente perante a sua memória.

Que descansem em Paz.



PS Como disse no início, este blogue é acerca do F.C. Porto. Pois bem: ao longo dos anos o nosso clube tem adquirido o salutar hábito de coleccionar escalpes de equipas francesas nas provas europeias, de que os casos mais recentes são o Lyon e o Marselha (este em duas ocasiões). Mas o facto de a aliança inglesa ter sido fundamental na expulsão dos franceses de Portugal não nos tem impedido de causar dissabores (alguns bem graves) a equipas inglesas. Uma delas foi o Manchester United (por duas vezes), e esperemos que brevemente possamos assistir à terceira!

5 comentários:

Jorge Aragão disse...

Hoje no meu Blog fiz alusão também a este acontecimento trágico da História da nossa Cidade.
Quanto às alianças com os Ingleses, bem que temos umas boas contas a ajustar na medida em que isso nos custou ao longo dos tempos imensos prejuízos.
E até ameaças desses senhores como no caso do Ultimato.
Por isso mesmo, espero bem que lhes tratemos da saúde na eliminatória.
E não será a primeira vez como todos sabemos.

Anónimo disse...

Haveria muito a dizer quanto ao saldo para Portugal da aliança com a Inglaterra, mas eu diria que o saldo é muito favorável - para ambos os lados. Nenhuma aliança se mantêm mais de 600 anos (é a mais antiga do mundo) se não houver benefícios mútuos. E nem é preciso invocar a preciosa ajuda inglesa no caso das invasões franceses, que foram a maior calamidade da história de Portugal em termos de baixas humanas e prejuízos materiais.

Alguns argumentam que depois das invasões tivemos muito trabalho a "vermo-nos livres" dos ingleses. Descontando o jacobinismo francesístico por trás de muitas dessas opiniões, a situação após as invasões era esta: o governo português estava no Rio de Janeiro e os "indígenas", aos olhos dos ingleses, não pareciam capazes de se governarem. O Marechal William Beresford, comandante das tropas inglesas depois das invasões, tinha o título de Vice-Rei, ou seja, governava em nome do Rei. Quando finalmente os ingleses de cá saíram - após a Revolução de 1820 - seguiram-se trinta anos de guerras civis, golpes e pronunciamentos a que só a Regeneração, em 1851, pôs cobro, inciando um período de cerca de 40 anos de paz e alguma prosperidade. Sensivelmente por alturas do Ultimato Inglês (um acontecimento por cá sempre descrito com bastante parcialidade, diga-se) iniciou-se o declínio inexorável - eu ia escrever "da monarquia constitucional" mas temo bem que a expressão mais correcta seja "do país".

E pronto, desviámo-nos bastante do "foco" deste blog, mas a efeméride aqui assinalada a isso nos levou.

Nuno Nunes disse...

Uma coisa é certa: a nossa ligação à Inglaterra mudou definitivamente o rumo da nossa História.

No entanto, um ultimato é sempre um ultimato e por isso nem sequer precisa de parcialidade na sua descrição. Que já nessa época fossemos governados por um bando de incompetentes não tenho muitas dúvidas. Mas o que se exigia era uma atitude firme da nossa parte relativamente aos ingleses, mesmo que fossem dúbios os nossos direitos sobre os tais territórios "cor-de-rosa".

José Correia disse...

As ligações de Portugal à Inglaterra são fortes, mas as do Porto são-no ainda mais. Basta recordar as origens do Vinho do Porto e a influência da forte colónia inglesa na vida portuense durante os séculos XIX e XX.

JPM disse...

Deixem-me só fazer uma declaração de vota: votei na estátua do prof Jesualdo não para substituir o monumento às guerras peninsulares mas para, tendo em conta que o "leão" inglês está a esmagar a "águia" de Napoleão, colocar o prof Jesualdo por cima do "leão", acho que era bem mais significativo sem retirar o monumento actual.