quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O valor do futebol na TV


Em Julho do ano passado, o João Saraiva e o José Rodrigues já abordaram este assunto em dois artigos:
A evolução do direitos de TV (07/07/2008)
Joaquim Oliveira, o "amigo" dos clubes (08/07/2008)

Contudo, a discussão à volta do valor das transmissões televisivas dos jogos de futebol continua ser um tema actual (actualíssimo!) e, por isso, transcrevo de seguida partes de dois artigos do DN de 28 de Agosto.


«Actualmente, a Olivedesportos, detentora dos direitos televisivos das duas Ligas profissionais, investe por época cerca de 45 milhões de euros no escalão principal, canalizando as maiores fatias para os três grandes, com Benfica, FC Porto e Sporting a garantirem praticamente a mesma verba, cerca de 8,5 milhões de euros.

As equipas apontadas como candidatas a lugares europeus garantem receitas na ordem dos três milhões de euros, como sucede com o Vitória de Guimarães, enquanto o Sporting de Braga encaixa um pouco menos, cerca de 2,5 milhões.

Os emblemas que partem para a Liga com o principal objectivo da manutenção recebem cerca de 1,5 milhões, como Académica ou Leixões.

O presidente da SAD do clube de Matosinhos, Carlos Oliveira, é precisamente dos que defende um outro modelo de negociação dos direitos televisivos, de forma a reforçar o poder negocial dos clubes mais pequenos.
"Há uma disparidade enorme entre aquilo que é pago aos três grandes e aos outros clubes. Um modelo como se pratica em Inglaterra [acordo colectivo] seria muito mais interessante", defende, apontando para uma solução que, nas suas palavras, até poderia melhorar a qualidade da primeira Liga portuguesa.
Carlos Oliveira acredita que se os clubes acumularem "boa parte do orçamento através das receitas televisivas" o fosso entre as equipas "diminuirá", tornando a liga portuguesa "mais espectacular e competitiva".

Um artigo recente publicado pelo Futebol Finance, site especializado na área económica da modalidade, estimava que um acordo colectivo poderia render anualmente à liga principal até 150 milhões de euros, o triplo dos números actuais.
Mesmo assim, há clubes que parecem mais inclinados em estudar individualmente propostas, como o Benfica, que acredita poder passar a arrecadar uma verba na ordem dos 40 milhões de euros por época assim que expirar o acordo com a Olivedesportos, como estimava ao diário Público, em finais de 2008, o administrador Domingos Soares Oliveira.

Comparando os valores a Ligas com semelhanças à portuguesa e que também firmaram acordos colectivos, os números equivalem-se aos praticados em Portugal, como sucede na Bélgica (46 milhões de euros por época) ou Dinamarca (47).

Na Grécia, a Liga recebia um pouco mais, cerca de 55 milhões de euros, mas um novo acordo assinado entre com a Skai TV e NOVA renderá anualmente perto de 70 milhões de euros de receitas televisivas (mais 25 milhões que o contrato anterior) a partir desta temporada.
De fora ficaram Olympiacos e Xanthi, que preferiram manter os vínculos à estação pública NET.

Na Escócia, o contrato com a Setanta, empresa que entretanto faliu, foi substituído por um acordo muito menos rentável com a ESPN e Sky.
O contrato anterior previa 145 milhões de euros por cinco temporadas, montante que a Setanta não conseguiu cumprir. Face às dificuldades financeiras desta empresa, a Liga escocesa virou-se para os dois canais televisivos, que pagarão metade (75 milhões) pelo mesmo número de temporadas.
Face à desvalorização abrupta desta parte das receitas, os dois maiores clubes escoceses, Celtic e Rangers, ponderam criar um canal de futebol, um projecto que já terá propostas de financiamento na ordem dos 145 milhões de euros por temporada.
A ideia seria distribuir cerca de 30 milhões pelos outros 10 clubes da Liga escocesa e reter a restante quantia para os dois maiores.

Nas contas entre as potências europeias, os números sobem radicalmente. Os valores totais pagos em Portugal, Bélgica ou Dinamarca não chegam, por exemplo, para cobrir as receitas anuais do Bayern de Munique.

O clube bávaro é, segundo um estudo recente da Deloitte, um dos "gigantes" europeus que menos recebe pelas transmissões televisivas. Mesmo assim, garante quase 50 milhões de euros por ano, mais do que a Olivedesportos investe por época na Liga portuguesa.
No actual acordo com a Sirius, detentora dos direitos da Bundesliga, o Bayer de Munique tem direito a 10 por cento do total investido, na ordem dos 500 milhões de euros, montante muito aquém do dinheiro que circula na Liga inglesa, quase 1400 milhões de euros por temporada.

Até a Liga francesa, talvez o menos atractivo campeonato dos cinco maiores da Europa, conseguiu um acordo de valores superiores à prova da maior economia europeia. A Ligue 1 arrecada por temporada quase 700 milhões de euros, com as maiores fatias a serem canalizadas para Lyon (75) e Marselha (70).

O mesmo estudo da Deloitte mostra que há nove clubes da Europa cujas receitas exclusivas de televisão rondam a faixa "mítica" dos 100 milhões de euros, todos das três principais potências futebolísticas do "velho continente".
Dois clubes espanhóis, Real Madrid (136 milhões) e FC Barcelona (117), quatro italianos, AC Milan (123), Inter de Milão (108), Juventus (107) e As Roma (106), e três ingleses, Manchester United (116), Chelsea (98) e Liverpool (95), lideram a tabela, com receitas que "esmagam" as obtidas pelos três grandes portugueses.»
in Diário de Notícias, 28/08/2009


Referências:
Contratos de Direitos Televisivos
Audiência e Share dos jogos da Liga Sagres 2008/09
Direitos televisivos impõem horários na Bundesliga

1 comentário:

HugoPORTO disse...

FANTASTICO POST amigo joão. parabéns. só espero que os contratos, quando expirarem, sejam revistos em alta, no minimo para o dobro!