segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Mudar de paradigma

Não concebo que uma equipa com a grandeza do FCP baseie o seu modelo de jogo nas transições rápidas. Nem acho que JF limite a estrutura táctica do FCP a uma mera situação conjuntural do jogo.

Parece-me que qualquer táctica prevê um conjunto de acções que favoreçam situações de vantagem para delas tirar o máximo de proveito. As transições rápidas - o contra ataque – é uma dessas expressões. Que a equipa as saiba provocar é absolutamente essencial. Nada contra isso, portanto.

Mas a organização de jogo do FCP não pode estar refém do modelo, porque aos adversários não é assim tão difícil contrariar um sistema que se rotina excessivamente. Defender é muito mais fácil e um autocarro em frente da baliza é sempre complicado para ultrapassar. O FCP aparece frequentemente apático, com baixa intensidade de jogo e raramente cumpre os 90 minutos ao nível exigido a um campeão.

E parece que ou o FCP corre pouco ou então corre mal. No último jogo com o Belenenses pude verificar uma situação insólita e ridícula : Farías a correr de um lado para o outro a tentar pressionar a defensiva adversária de forma absolutamente isolada. Nenhum colega o acompanhou, nem a equipa foi capaz de subir e de encurtar o espaço entre linhas. O que é isto ? Para que serve ? Como ganhar bolas se não se consegue colocar qualquer problema ao adversário, que se fortalece à medida que o tempo passa, mesmo que seja muito fraco.

Também no jogo com o Belenenses acompanhei a movimentação de Beluschi e não percebo como se pode ter posto a jogar alguém que me pareceu fisicamente tão em baixo. Quase sempre colado ao Fernando, não foi capaz de subir e criar desequilíbrios e muito menos de pressionar. Foi uma jogador a menos. Já basta o Fernando que é um excelente tampão, mas ainda falha muitos passes e raramente se aventura para além do meio campo.

Como exemplo de desperdício, de mau aproveitamento ou de dificuldade de integração, destacaria a escolha de Prediger que contra o Sertanense jogou devagar, devagarinho e parado e não saiu do seu meio campo. Não falhou passes, mas foram sempre curtos e laterais. Será que este jovem só é capaz de cumprir este tipo de tarefas ? Foi táctico ? Para que serve um tal reforço ? É este o perfil de jogador que procuramos para o meio campo ? Custou 3,5m€, não deveria ser um pouco melhor ou estamos apenas a treiná-lo para regressar à Argentina na condição de emprestado como Bollati ?

Nesse jogo, gostei bem mais do miúdo dos juniores que jogou no meio campo. Bons pés, boa movimentação, atrevido e com visão de jogo. Um jogo é pouco para tirar conclusões, mas é tempo de ser arrojado e dar aos miúdos oportunidades, nomeadamente quando os ditos consagrados criam pouco e correm menos.

Quando comecei a ver futebol, as equipas jogavam num 3X2X5, todos ao ataque e fé em Deus. Os ingleses trataram de introduzir o WM como via para um maior equilíbrio entre as acções ofensivas e defensivas, com o clássico 3-4-3 ou mais especificamente o 3-2-2-3, porque mantinha três jogadores na defesa, três no ataque, com quatro homens no meio campo (dois auxiliando a defesa; dois, o ataque. O 4x4x2 chegou a Portugal com Otto Glória e Yustrich. Em Itália o Herrera consolidou o catennacio, um 5X4X1 com um libero para apagar os fogos. A Laranja Mecânica da selecção holandesa revolucionou o futebol com o seu “carrossel” onde os jogadores não guardavam posições e faziam passar a bola de pé em pé até chegar ao golo. O 4x3x3, o 4x4x2, o 4x2x3x1, os 3x3x4 ou 3x4x3 do nosso Adriaanse, são alguns dos modelos tácticos que evoluíram dos que estiveram na moda no passado e lhes serviram como fonte de inspiração. Hoje, são o 4x3x3, o 4x4x2 (que inclui a sua versão de 4x4x2 losango) os modelos preferidos. Iremos continuar a evoluir na continuidade. Não prevejo revoluções, nem mesmo grandes novidades.

No futebol não há muitos segredos e a evolução incide mais na metodologia de treino, na gestão do esforço , na recuperação da fadiga e na sofisticação dos processos para melhorar a componente física. Contudo, há uma certa tendência de ver na táctica e na mão do treinador todas as soluções. Não estão ! JF é sério, competente, rigoroso, profissional e inteligente. Falta-lhe, provavelmente, o "instinto matador" e sentir o grau de reconhecimento que dá confiança e auto-estima, que um líder passa e partilha com os comandados.
Reconheço que é frequente o FCP exibir-se bastante mal e perante adversários teoricamente muito mais fracos. Os últimos jogos no Dragão foram muito mauzinhos. Só resiste à sonolência e insiste em estar presente no Dragão quem o faz com espírito de missão, por ser postista.

Em defesa de JF diria que o FCP tem um plantel curto neste momento, para um a prestação equilibrada nas diversas frentes. Poucos avançados e muitos lesionados trouxeram problemas acrescidos ao treinador. Há muita acomodação na equipa do FCP. De qualquer forma, considero que o ciclo JF se esgotou, porque provavelmente se esgotou o aval da direcção, a disciplina dos subordinados e a paciência dos sócios.

18 comentários:

Mestre Alves disse...

Não concordo com a sua opinião.
Nunca é demais relembrar que se Paulo Bento faz omeletes sem ovos, aqui o Jesualdo é um milagreiro que não se chama Jesus.

O FC Porto desde que o homem chegou perde todos os anos pedras fundamentais à manobra da equipa, e os resultados finais estão à vista.

Títulos, valorização de jogadores, objectivos desportivos principais conquistados.

O FC Porto está a passar por uma crise, e são estes os momentos que fazem as grandes equipas. Perante a adversidade o FC Porto une-se à volta dos homens que trabalham nesta casa e a dignificam. O Jesualdo goste-se ou não do método de jogo, ou da filosofia táctica é o máximo responsável pelo sucesso desportivo aliado ao sucesso económico, e claro isso tem as suas condicionantes.

Acho que merece uma carta branca dos adeptos portistas e tenho a certeza que tem todo o apoio da direcção.

Francisco Andrade disse...

O míudo dos júniores chama-se Sérgio Oliveira, e aqui reside para mim a grande fraqueza do Jesualdo ou um grande erro estratégico do Porto. Todos os anos entram jogadores caros, quase sempre extra-comunitários, e de valor muito duvidoso.

Jogadores como o Mariano, o Tommy, o Valeri, o Prediger, o Guarin, só para nomear alguns, não trazem absolutamente nada que jogadores como o Helder Barbosa, o Ukra, o Paulo Machado, o Castro, e outros não possam trazer. Se são foras-de-série? Não sei. Sei que são do Porto e merecem uma chance.

Não sei ao certo quem é que define a política de contratações ou o destino dos míudos, quero acreditar que o Jesualdo tem uma palavra a dizer, mas tenho muitas dúvidas.

Não quero obviamente que o Porto seja como o Sporting, mas acho que quando se compra jogadores para o banco, talvez seja de olhar primeiro para entre portas.

Carrela disse...

Eu sou da mesma opinião q o Mestre Alves, e acho de uma extrema injustiça esta sucessiva intolerância para com o JF. E estou convencido que em grande parte se deve à nossa comunicação social sempre em prole do clube do regime.. Que empolga ao máximo qq coisinha q fazem!
Esta insistência exaustiva acaba por "roubar" a inocência aos simples e o cérebro aos ignorantes. basta ver por exemplo Alvalade no jogo de abertura com o Braga e apenas 24mil Adeptos, é normal? Acredito q não, mas já antes de começar estavam descrentes, porque assim foram "moldados". Eu acho q o JF ganhou o direito para merecer mais "respeito" por parte da massa adepta do FCP, não quero com isto q se dê carta braca, mas não podemos agora porq tivemos 3 jogos maus por tudo em causa!! Se tivesse-mos os nossos adversários com 39 amarelos, 6 expulsões, 7 penaltis à 8 jornada seria a mm coisa? No jogo com o belenenses para alêm do golo mal anulado, foram várias as faltas para amarelo e nada... defender com 1 amarelo é diferente de não ter nenhum. Mesmo assim o FCP desperdiçou N oportunidades, bastaria não ter falhado 1 delas...

John Aarson disse...

Concordo em pleno com o post, tirando na parte final. Nós não temos poucos avançados. Na linha avançada actuam Hulk, Rodriguez, Mariano, Varela e os pontas de lança Farias, Falcao e Orlando Sá. Agora, sim... temos demasiados lesionados. O que raio é que aconteceu? O dpt. médico do SLB mudou-se para o Porto e vice versa?

Pedro Azevedo disse...

Concordo em absoluto com o post e jamais em tempo algum um portista pode-se sentir acomomodado por aquilo que vemos. As más exibições já não vem de agora. Grande parte da época passada foram muito más.

E quando se quer fazer crer ou comparar com Sportings ou afins, lembro que estamos a falar de uma equipa do F.C.Porto que vai custar 80 milhões de euros. Não era de exigir mais, muitos mais?

Mário Magalhães disse...

Boas,

Concordo plenamente com o Post, e afirmo que a administração não deveria ter renovado com o JF, noto que a maior parte da massa associativa está cansada deste metodo de jogo de trabalho e de discurso. O Porto precisa de nova alma, novos metodos e nova visão de ver os jogos.
Ninguem tira o mérito do trabalho realizado por JF, valorizou muitos jogadores, praticamos bom futebol em certas alturas, é um bom treinador em transições, mas as suas equipas tem muitas dificuldades quando encontram adversários mais fechados.
Eu sempre gostei de ver o Porto a ter iniciativa, fazer circulação de bola, a fazer pressão alta coisas que neste momento não vejo, por isso a razão do meu descontentamente.
Relativamente a jogadores, está mais que visto que esta estrutura (equipa tecnica e director geral) preferem comprar jogadores estrangeiros (Argentinos) do que apostar em jogadores formados pelo Porto, porque será???? Comissões???? Quem são os empresários???? Muitas coincidencias...
Deixo estas questões, porque acho que merecem uma reflexão por nossa parte...

JS disse...

A minha paciencia esgotou-se no 1º ano do JF. Nunca achei que fosse o treinado certo para o FCP, e nem com tudo o que têm ganho mudei a minha opinião.
É certo que todos os anos têm saido pedras importantes da equipa e entrados jogadores novos, mas a táctica continua a mesma. Não há alterações á tactica consuante os jogadores do plantel.
Os jogadores são obrigados a jogar como o JF quer.
Basta ver que a equipa não sabe, nem nunca soube jogar com 2 avançados fixos na frente. E para mim 1 equipa como o FCP devia jogar sempre com 2 homens lá na frente.
Agora o que para mim é totalmente inconcebivel é que o um jogad...ops, um homem chamado Mariano Gonzalez seja titular!! (mesmo com todas as lesões que atingem o plantel) E o continue a ser jogo após jogo!! (e agoar com este golinho vai lá vai....)

John Aarson disse...

Quanto ao pessoal que está a defender o JF com unhas e dentes, tenham um bocado de calma. Ninguém o está a cruxificar (já está é a tardar a cruxificação do jesus, mas essa é outra história :P ), simplesmente a equipa não está assiiiiiim tão desfalcada que nos faça jogar tão mal como estamos a jogar. Temos lesões chatas e são mais que o normal, mas temos banco para jogar muito, muito melhor. Os adeptos que lixam a cabeça ao JF são uma espécie de consciencia. Não boa ou má, mas simplesmente isso. Uma consciencia que o chateia constantemente e o relembra que as coisas não estão bem e precisam de melhorar urgentemente. O JF não é nenhum menino de coro e tem as costas largas. Aguenta bem com isso e saberá certamente dar a volta por cima e no final levar as coisas pelo rumo mais correcto, seja ele qual for. Ele é grande treinador e é muito inteligente. É também um teimoso do caraças, mas para isso estamos cá nós para lhe chagar a cabeça enquanto as coisas estiverem mal. Também verdade seja dita: o FCP está no grupo da frente, a um ponto do Sport Lisboa "melhor equipa do mundo e arredores" Benfica. Que tem o melhor ataque do mundo e tem jogadores que são semideuses treinados pelo jesus que se dignou a vir a segunda vez à terra para levar o Benfica ao paraíso. (isto tudo repleto de ironia, mas é o que realmente muita gente acha). O FCP está a jogar mal e estamos a um ponto da melhor equipa do universo conhecido e desconhecido, matéria escura incluída :P imaginem quando estivermos a jogar bem! ;)

John Aarson disse...

*correcção: não estamos a um ponto do SLB, estamos a dois, mas tirando isso não mudo uma virgula no que disse.

Nuno Nunes disse...

A atitude displicente com que a equipa entra em campo há vários jogos é da responsabilidade do treinador. Se tem autoridade então que dê um murro na mesa e ponha a equipa a jogar futebol para ganhar desde o 1º minuto.

Os desentendimentos entre os nossos meio-campistas, que não acertam um passe, mostra-nos que o modelo de jogo não está a funcionar. Pessoalmente acho que este modelo de Jesualdo já deu o que tinha a dar e uma equipa como o FC Porto não se pode dar ao luxo de estar vários meses à espera de encontrar a fórmula correcta para o seu tipo de jogo.

Futebol novo precisa-se, atitude nova precisa-se, nomeadamente uma atitude à Porto.

John Aarson disse...

(...)
Jornalista: "Considerando as dificuldades sentidas nos últimos jogos, haverá alterações na estrutura da equipa?"

JF: "Não haverá alterações na estrutura, mas sim de comportamento."
(...)

IN jogo.pt

estamos fodi**s... ele vai alinhar outra vez em 433, e aposto o colh** esquerdo como vai meter o Meireles e o Bellushi naquele meio campo :S

dragao vila pouca disse...

Independentemente do que acharmos em relação ao Jesualdo, ao seu futebol, ao seu discurso, aos seus temores, se era ou não o fim de um ciclo, etc., é com ele que temos de ir até ao fim da época, a não ser que aconteça uma catástrofe, que ninguém obviamente deseja.

Mas concordo, e já o escrevi, com a análise do Mário Faria.

Um abraço

Miguel Lourenço Pereira disse...

Concordo totalmente com a análise do post,

Acho que o grande problema deste FCP está no planeamento desportivo do inicio de época de há 3 anos para cá. É verdade que o JF não é um técnico entusiasmante, nunca o foi. Mas a politica da direcçao tem sido altamente negativa ao apostar tanto (em quantidade e dinheiro) em jogadores sul-americanos (acho que se devia analisar bem este fluxo constante) e nao apostar na formaçao. Como aqui se disse nao temos por que ser o Sporting mas se há clube com mais jogadores na liga emprestados, jovens e formados na casa, somos nós. Todos conhecemos a teoria de que um jogador do FCP tem de rodar e comer o pao que o diabo amassou. Mas realmente há jogadores que deveriam estar com o plantel a crescer. E nao estao e talvez isso justifique o acomodamento de jogadores de nivel médio com tudo ganho e sem clara ambiçao.

Desportivamente temos jogado mal os ultimos 2 anos com uma que outra exibiçao de grande nivel. Para a pobre liga que temos chega, para a Europa temos alternado o bom com o péssimo. Mas parece que vamos em pior e nao é só pelas (optimas) vendas. É pela atitude.

E no meio disto tudo, com um plantel mal planeado, muitas lesoes por uma pre-epoca no sul de Espanha que nao interessava a ninguem a nao ser à SAD, e por uma politica de acomodamente constante, está o JF. Outro tecnico pegaria na equipa, dava-lhe uns abanoes e tentava despertar os jogadores e agarrar o publico. O JF teima em continuar com a mesma ladainha quase vitimista e daqui a pouco jogar no Dragao é outra vez jogar fora de casa e afins. Falta caracter a este FCP de cima a baixo. Podemos continuar a ganhar, mas está-se a perder o brio que é a nossa imagem de marca.

um abraço

Miguel Lourenço Pereira
Em Jogo

nickantas disse...

É incrível. Basta a coisa correr mal 3 jogos, dos quais ganhámos 2, para se pôr tudo em causa. É a massa assobiativa típica do nosso clube. Exigência é uma coisa, isto é outra

José Correia disse...

Miguel Pereira disse...
«um plantel mal planeado, muitas lesoes por uma pre-epoca no sul de Espanha que nao interessava a ninguem a nao ser à SAD»

Esta afirmação é capaz de não andar muito longe da verdade.

José Correia disse...

Comparação (diferença de pontos) entre 2008/09 e 2009/10 (à 9ª jornada):

+12 Sp. Braga
+7 Rio Ave
+3 F.C. Porto
+1 P. Ferreira
+1 Belenenses
+1 Benfica
-1 Naval
-3 Sporting
-3 Marítimo
-3 V. Setúbal
-3 V. Guimarães
-3 Académica
-3 Nacional
-14 Leixões

Nuno Nunes disse...

Miguel Pereira disse:
Como aqui se disse nao temos por que ser o Sporting mas se há clube com mais jogadores na liga emprestados, jovens e formados na casa, somos nós. Todos conhecemos a teoria de que um jogador do FCP tem de rodar e comer o pao que o diabo amassou.

Cuidado com estas afirmações. O Dr. Fernando Gomes já veio com a chantagem emocional aquando da apresentação de resultados: "Se os sócios quiserem podemos optar pelo modelo do Sporting". Ou seja, ou isto ou o modelo do Sporting. No fundo mais não fez do que tomar os sócios por estúpidos com esta sobranceria.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Eu nao defendo que se adopte o modelo do Sporting, o FC Porto tem estatuto suficiente para jogar bem no mercado. O que nao entendo é que se faça uma aposta exclusiva por contratar jogadores de fora e menosprezar sempre a prata da casa. Maicon, Valeri e Prediger por exemplo sao casos claros de contrataçoes que tinham equivalencia nos jogadores de formaçao que deveriam ter sido aproveitados.

Nem todos os anos descobrimos uma perola que vale 30 milhoes nem tudo o que compramos se torna em ouro como o Cissokho. Agora a questao está em comprar em quantidade e ver o que funciona ou equilibrar no que vem de fora e potenciar o que ha nas bases. E isso tem sido um calcanhar de aquiles do FCP. Desde o Bruno Alves que nao há um jogador formado no FCP na equipa principal. E antes dele temos de recuar ao Ricardo Carvalho. Isso diz muito da nossa formaçao.

um abraço