Extractos de duas entrevistas recentes com os dois únicos treinadores portugueses - Artur Jorge e José Mourinho - que se sagraram campeões europeus, ambos ao serviço do FC Porto.
“Repare, eu sou portuense e portista. Como a minha família. Nasci no Porto e cheguei a ver, veja lá bem, jogos na Constituição [campo do FC Porto, de 1912 a 1952]. Lembro-me nitidamente de um FC Porto-Oriental e eu lá todo espremido entre os adeptos, que, não sendo muitos, entre 4 a 5 mil, enchiam aquele campo e conferiam uma atmosfera especial. Também vi jogos no Estádio do Lima [só utilizado para jogos grandes por ter mais lugares que o da Constituição]. Nessa altura, o FC Porto nem sempre era a terceira potência do futebol português. Agora, com o passar dos anos, com o Estádio das Antas, com o Dragão, com o centro de estágio no Olival, percebemos a real dimensão do clube. No meu tempo de criança, ninguém sonhava sequer que o FC Porto pudesse ser campeão europeu. Quando muito, campeão nacional e e...”
“Para mim, uma equipa precisa de tempo e organização. O FC Porto deu-me isso. Havia jogos em 1984 ou 1985 em que pressentia que aquela equipa ia ser imbatível a todos os níveis, como aconteceu em 1987. O Benfica pediu-me isso, para ontem. Quis fazer uma equipa e comecei pela baliza. Trouxe o Preud'homme, mas a engrenagem não funcionou. Há pessoas boas e más. Há dirigentes competentes, outros nem tanto. Há os que remam para a mesma direcção e os da contracorrente. Enfim...”
Jornal i, 19/12/2009
[PUBLICO]: Tal como no Chelsea, é sempre você a dar o peito às balas. Preferia ter a rodeá-lo dirigentes com uma cultura desportiva mais belicista?
[José Mourinho]: Dou o peito às balas e sempre o darei. Nasci assim no futebol e vou morrer assim. Mas também lhe confesso que sabe bem, de vez em quando, ver aparecer alguém com um colete à prova de balas! Dois anos no FC Porto habituaram-me mal...
[PUBLICO]: Como estão as suas relações com Pinto da Costa? Ainda hoje, os adeptos do FC Porto parecem manter consigo uma relação de amor e ódio...
[José Mourinho]: Diz-me que os adeptos do FC Porto têm amor por mim. Parece-me lógico, pois fui o treinador que chegou com a equipa em crise e que, em dois anos e meio, ganhou a Taça Uefa, a Champions, dois campeonatos, uma Taça de Portugal e uma Supertaça. Parece-me, portanto, normal que gostem de mim. Quanto ao ódio... Só se queriam que eu ganhasse também a Taça Intercontinental. Mas isso era fácil, bastava ganhar a uns colombianos e o FC Porto fê-lo sem mim. Por isso, não vejo razão para me odiarem. Quanto ao presidente... um grande presidente!
PÚBLICO, 25/12/2009
Nota: Os destaques a negrito são da minha responsabilidade.
Fotos: Jornais i, PÚBLICO
9 comentários:
Duas entrevistas em que se consegue perceber o ponto de arranque e o crescimento e a importância actual do FC Porto no futebol nacional, europeu e mundial. Dois homens que estarão para sempre na memória de todos os Portistas, não só pelo que conquistaram em conjunto com a equipa e com o grande Pinto da Costa, mas também pelos seus caracteres. Um mais falador e interventivo e até mesmo arrogante, e outro muito calado e introspectivo e (parece-me) até tímido. No entanto e apesar de muito diferentes, têm para mim a mesma importância, pois consegui ver tanto com um como com o outro, o FC Porto a ser Campeão Europeu, que é o titulo que qualquer adepto mais ambiciona ver o seu clube vencer, mais mesmo que a Taça Intercontinental ou Mundial de Clubes. FC Porto sempre e para sempre.
A diferença básica entre um e outro - para além da educação - é que, por mais voltas que se dê, Artur Jorge é DOS NOSSOS e o outro é um forasteiro a quem o FCP pouco ou nada diz e que acha que na relação entre ele e o FCP só este é que tem de estar grato.
Eu sou dos portistas que não têm "amor" pelo Mourinho, especialmente desde que, para agradar à lisboetagem, começou a mostrar frieza e indiferença para com o FCP.
Acima de tudo, Mourinho é um profissional. Nunca o iremos ouvir dizer que é ou foi Portista "desde pequenino", mas enquanto profissional do FC Porto, defendeu-o como ninguém, basta lembrar, por exemplo, o caso da camisola em Alvalade. A frieza ou indiferença que possa ter mostrado, fazem parte da sua forma de trabalhar. Usou e abusou dos famosos "mind games" enquanto treinador do Porto, e com tão bons resultados, que seria estúpido seguir outra estratégia. Em todo o caso, pode não amar o Porto, mas jamais o esquecerá, tal como os adeptos jamais o esquecerão a ele.
Mente,
Ninguem põem en causa o profissionalismo de Mourinho enquanto esteve no FC Porto, apesar da forma como negociou com o Chelsea ter sido muito pouco ética.
Ninguem, tambem, no seu perfeito juízo, exige, para que Mourinho fosse "perfeito", que se converta em adepto do FCP. Contudo, foi neste Clube que se fez como treinador de renome. Foi neste Clube que ganhou o estatuto que tem hoje. Foi na Cidade do Porto que viveu os seus melhores momentos na sua carreira profissional.
Isso, por si só, exigiria no minimo que Mourinho soubesse ser uma pessoa grata ao FCP e à cidade. Porem, como refere o Alexandre, e muito bem, desde que saiu do Porto, tratou com desdém o Clube, e insultou a Cidade, ao associa-la à Máfia de Palermo.
A seres de quatro patas, que não conhecem o Dono, deve ser dada a comiseração respectiva. Vassalagem é coisa que nunca prestarei a Mourinho. Foi cumpridor das suas obrigações enquanto cá esteve. Mas adeus e não voltes mais.
Sobre coletes à prova de balas
"... admito que seja importante para um treinador sentir-se protegido. Jesualdo Ferreira, por exemplo, havia de gostar de um colete à prova de balas. Afinal, passou os últimos anos a dar o peito a todas as balas, até às que nem sequer eram para ele, e continua a ser o alvo preferido de qualquer pretendente a "sniper". Adeptos do FC Porto, adeptos dos rivais, críticos, até padres nos seus sermões aproveitam para praticar tiro ao alvo com o treinador do FC Porto. Há três anos que é assim. E há três anos que Jesualdo Ferreira é campeão. Sem coletes."
Jorge Maia
em O JOGO 27-12-2009
Muito bem Nélson, mas queria apenas acescentar uma pequena praga que roguei ao "ispechialé" logo após a sua despedida mal criada para o Chelsea — espero que nunca mais na sua carreira de treinador consiga ganhar outra champions que não seja no nosso clube, e desejo também ardentemente, que este ano, a não sermos nós, sejam os Blues de Londres a levar o caneco.
Quanto ao "Roi" Artur, foi Homem que sem duvida alguma fez o favor de nos mostrar a todos a real força e dimensão do nosso querido clube. Não é que Pedroto e Morais o não tenham feito em Basileia 84, mas derrotar o Kiev com duas vitórias, cá e lá, e ainda abafar a presunção alemã em Viena, foram feitos muito grandes só ao alcance de alguns e fruto da grande organizaçao interna que o noss clube já mostrava e o espelho da qualidade da equipa que já então tinhamos.
Como prova dos nove, se dúvidas restassem, podíamos cruzar estes dados com a realidade de então ao nivel das selecções. Em 86 - Alemanha é finalista favorita a conquistar o Mundial e cuja equipa era constituida em grande parte pelos jogadores do Bayern que jogaram em Viena em 87. Só mesmo nós e o Maradona é que lhes limpámos o sebinho. E em 88 - a URSS foi também finalista vencida na final do Europeu com uma selecçção formada
na quase totalidade por jogadores do Dinamo e orientada pelo mesmo treinador.
Bi-Bota,
Se por acaso és o Bi-Bota do falecido forum alldragons, envia-me um email para ramo.grande@gmail.com.
Abraço
Não Alexandre, não sou. Já andei mais pelo "pobo" e frequento o "reflexão" com bastante regularidade embora não tenha o hábito de fazer muitos comentários. Usei o "nick" desde sempre e nunca colidi com outro homónimo, mas se alguém aparecer a reclamar o nome estou aberto a negociar... à volta do mesmo ídolo claro está, não faria sentido que fosse de outra maneira.
Abraço.
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