Por Miguel Lourenço Pereira
Há alturas da vida em que começamos a perceber que há coisas que, quando estão na moda, são difíceis de contrariar. Depois de vender a imagem de que um bom técnico tem de chegar com uma bagagem de experiência e (muitos) anos de serviço acumulados, nos últimos passou-se para o outro lado da barricada. Técnicos jovens, sem aparente experiência, chegam rapidamente a postos de máxima importância. André Villas-Boas, novo treinador do FC Porto, é o último destes casos. Um caso perigoso por se partir da falsa premissa de que a genialidade pode ser contagiosa. Nunca o é. Para singrar na vida e nos relvados é preciso algo mais. Esse plus tê-lo-á o novo mister?
Começo esta análise à chegada de Villas-Boas ao FC Porto por sublinhar que não tenho nenhuma expectativa em relação ao técnico. Principalmente porque este não me deu nenhum motivo para tal. Nem bom, nem mau. E esse é o meu, e talvez de outros portistas também, problema. Não sei se é a sede de títulos, se o passado mediático do técnico, ou o desejo de voltar atrás no tempo. Mas o que me parece é que o consensualismo gerado à volta desta contratação é uma faca de dois gumes.
A nossa história tem um curioso background para estas questões da idade e experiência. Os três maiores técnicos da vida do FC Porto começaram muito novos no banco das Antas. Pedroto foi treinador interino com 32 e principal aos 38. Artur Jorge chegou com 38 e José Mourinho com 39. Todos eles tinham alguma experiência prévia em equipas de inferior reputação. Pedroto tinha orientado a selecção júnior portuguesa (com a qual foi campeão da Europa), o Leixões, Varzim e Académica. Artur Jorge tinha sido adjunto de Pedroto no Vitória de Guimarães, passando depois a técnico principal durante ano e meio, antes de treinar Belenenses e Portimonense durante os dois anos seguintes. E Mourinho, depois de algumas semanas na Luz, brilhou em Leiria antes de chegar ao clube azul e branco. Esses argumentos serão válidos para os defensores da nomeação do novo técnico. Com a particular diferença de que os seus antecessores tinham uma real experiência no banco, com bons indicativos. E, exceptuando Mourinho, com quem tanto – e até nisto - se quer comparar o novo técnico, os outros dois tinham sido futebolistas de sucesso, habitualmente um primeiro passo importante para dar o salto à função de técnico.
Villas-Boas, ao contrário, começou como analista pontual de Bobby Robson, época onde conheceu Mourinho, com quem travaria amizade. A partir de 2002 ambos começaram um largo trajecto que terminou no passado Verão. Essa carreira, feita lado a lado com o “Special One”, deu-lhe um bónus mediático invulgar, para alguém com as suas funções, e ajudou a criar a aura de que era alguém preparado para os grandes desafios depois de “beber” todos os ensinamentos do mestre. Para mim, escassos argumentos para uma empreitada como esta.
Depois de um ano como o que se viveu no Dragão, espera-se que o novo técnico do FC Porto seja, no mínimo, um revolucionário tranquilo. Não se procura uma politica de corte radical, criticada como já se viu com os Del Neri e Adriaanse, mas sim alguém que arme uma equipa, seja eficaz e, acima de tudo, entenda os principais objectivos de um clube que precisa de títulos para agradar aos adeptos e exibições convincentes na Europa, para fazer caixa com as sempre inevitáveis vendas.
Villas-Boas pode vir a revelar-se um treinador de top. Não há qualquer indicio em contrário. Mas também não o há a seu favor. A sua Académica foi uma equipa assumidamente pautada pela mediania da metade da tabela da Liga Sagres. Não entusiasmou, não goleou, não bateu o pé aos grandes, nem sequer melhorou a sua prestação do ano prévio. Talvez não fosse o aspecto mediático que o rodeia, e pouco diferenciaria Villas-Boas de Inácio, van der Gaag, Vidigal, Ulisses Morais ou Manuel Machado. Mas hoje em dia o marketing é tudo. Mourinho funcionou, Guardiola funcionou, Dunga funcionou... e fica no ar a sensação de que o fenómeno pode repetir-se. O que a maioria das pessoas se esquecem é que, por cada jovem precoce que se afirma nos bancos, surgem dois ou três treinadores que demonstram que a imagem não é tudo. E que, para orientar um clube de top, como se deveria considerar o FC Porto, é preciso dispor de uma considerável bagagem. E não é necessariamente a experiência em anos. Há treinadores jovens que emergem, mas que já davam todas as indicações de serem projectos apetecíveis quando apenas eram jogadores. Aí está o caso de Guardiola, ou do próprio Pedroto. Villas-Boas é considerado um brilhante analista, com conhecimentos técnico-tácticos de primeira ordem. Mas a sua função nos últimos anos assentou essencialmente no trabalho de olheiro e confidente. Não na gestão de um grupo de homens, ou na prospecção de mercado (interno, leia-se camadas jovens, ou externo). Não tem a mínima experiência de liderança em situações adversas, nem nunca levou verdadeiramente aos ombros a pressão de um jogo chave. Até nisso a sua Académica foi um inicio tranquilo, o que nos deixa poucas pistas.
O homem que chegou a aceitar ser seleccionador das Ilhas Virgens Britânicas sem nunca lá ter posto os pés, é um verdadeiro desconhecido. Um tiro que pode ir tão depressa ao alvo como passar largamente ao lado. Tem tudo o que pode permitir a um adepto duvidar. E isso pode funcionar a seu favor ou como elemento desestabilizador. Terá de ser ele, agora ungido novo profeta, a provar que a razão, algo sempre relativo, dorme do seu lado. Não se esperam mutações tácticas (afinal, é um amigo do 4-3-3 como Jesualdo Ferreira, sem uma visível capacidade de aplicar distintos modelos), nem que traga como Mourinho, hábeis descobertas no mercado nacional. Os que se lembram da ascensão meteórica de Artur Jorge, que também bebeu largos anos com outro mestre, devem também lembrar-se de Morais, o homem que muitos viam como tão bom quanto Pedroto. Os que mergulham no futebol inglês conhecerão também a história de Brian Clough e do inseparável Peter Taylor, de quem muitos achavam que era o génio da dupla. E quanto a “invenções”, nada mais recente do que a tentativa de Pinto da Costa em tentar fazer de José Couceiro o que ele simplesmente não é. Tudo lições que é preciso retirar de um passado ambíguo como tudo na vida.
No final resta sublinhar que o novo técnico do FC Porto terá todo o meu apoio como sócio e adepto. Espero que o seu reinado no Dragão seja, se não longo, pelo menos bem sucedido. Dele esperam-se títulos, bom futebol e um sentido de liderança dentro e fora do terreno de jogo que tanto foi questionado no técnico anterior. No entanto, e ao contrário de muitos, não acredito em “messias” e em homens à prova de críticas. O banco de suplentes do FC Porto não é um lugar qualquer. É preciso merecê-lo. E saber mantê-lo. Boa sorte André!
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Lourenço Pereira a elaboração deste artigo.
35 comentários:
Excelente artigo, Miguel.
Subscrevo inteiramente e reforço os votos de boa sorte ao André.Que os deuses estejam com ele e com o FCP.
No entanto, não consigo deixar de pensar que o AVB me dá mais segurança que o Domingos, por exemplo.
Em 1º lugar: Este artigo parece querer mostrar apenas o mau de termos contratado o AVB. Só mostra os contras. Sim, a Académica foi uma equipa mediana, que acabou a meio da tabela. Uau. Realmente ele deve ser um treinador mesmo fraquinho. Se bem que... quando ele pegou na académica, ela estava em último!! A académica era uma equipa de rastos quando ele chegou. No entanto ele conseguiu transformar completamente a dinâmica de jogo e os resultados. Que queriam mais? Que no primeiro ano da sua carreira, com uma equipa arrasada, em último lugar, que ele pegasse na académica e fosse a subir por aí até dar luta ao Porto, Braga e Benfica? Era isso que já faria dele um treinador decente para o Porto?
Em 2º lugar, e passo a citar: "O homem que chegou a aceitar ser seleccionador das Ilhas Virgens Britânicas sem nunca lá ter posto os pés". O Scolari alguma vez veio a Portugal antes de ter treinado a nossa selecção? Isso interessa para alguma coisa? Isso altera o facto de, gostemos dele ou não, termos chegado à final do Euro?
Claro que o Villas Boas pode não ter sucesso no FCP, mas um treinador como ele, que prepara os jogos ao pormenor, estuda os adversários até ao mais ínfimo detalhe AKA o "trabalho de casa" (coisa que MUITOS treinadores não fazem) e que sabe motivar os jogadores. Era isso que precisavamos. Foi isso que tivemos!!! O que querem mais? Há uma coisa que o autor do post e que muitos críticos do AVB não mencionam. É que dentro do perfil do treinador que nós queríamos para o "novo" Futebol Clube do Porto, o AVB encaixa-se quase na totalidade, só lhe faltando mesmo a "maldita" experiência.
Bem, agora vou concordar um bocado com o autor do post, para não parecer mal :P desejo também todo o sucesso do mundo ao André Villas Boas!
Mefistófoles,
Obrigado, esperemos que estejam!
John,
O meu posto não é nem sobre o bom nem sobre o mau que pode vir a ser AVB. Como bem explicitei logo ao inicio, o tiro pode dar para qualquer lado porque não vi nada ainda no seu trabalho "a solo" que me diga por onde vão os tiros.
1) Relativamente à Académica, do que vi ao longo do ano pareceu-me uma equipa aborrecida e nada mais, e gosto de treinadores que me entusiasmem, estejam onde estejam. Mas isso sou eu.
2) Não deves ter percebido, o AVB foi contratado e nunca lá voltou, segundo o presidente da Federação.
3) Um treinador que saiba preparar os jogos hoje em dia é FUNDAMENTAL. Mas não é a única caracteristica que transforma um treinador médio num grande treinador. Quanto à motivação, mais uma vez remito-me à experiencia, não vi ainda exemplos de uma gestao de balneário. Mas isso, sou eu.
4) Estamos de acordo sim, muito boa sorte!
um abraço
O texto é venenoso e servirá um dia, se for o caso, para um: "eu bem vos avisei".
Nota-se na forma como ironiza AVB como Messias e Profeta, supostamente porque alguns adeptos o vêem assim.
Por mais que seja a sua opinião, a que obviamente tem todo o direito, o seu texto está deprimente por dois motivos:
1 - É cínico sem ter graça.
2 - Pretende incutir uma tendência, disfaçando-se de isenção.
Deixo-lhe uma dica. Fará dela o que entender. Deixe-nos sonhar. Se esta aposta falhar terá muito tempo e muitas oportunidades de desestabilização e de veicular a sua mensagem.
Parabéns pela análise ao Miguel Pereira.
Costuma dizer o mesmo que o Miguel, não tenho opinião concreta sobre o AVB porque não há muitos factos para reflectir.
Acho que foi evidente a melhoria das exibições da Académica desde que ele tomou conta da equipa mas os resultados não foram tão notórios como as exibições. Há contundo factores a ter em conta, e que realçam ainda mais as exibições conseguidas pelos jogadores da Académica desde que AVB começou a orientar a equipa;
não fez escolha de jogadores para formar uma equipa de inicio de campeonato
não fez pré-época
pegou numa equipa com uma moral, relativamente, em baixo.
É por isto que acho que há ali umas indicações de possível sucesso.
E, ao contrário do Miguel, eu acho que o facto de ter trabalho com Mourinho cerca de 7 anos é um factor relevante e acredito no efeito osmose e que é assim a lógica da vida.
Há até o provérbio; Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és.
Acho mesmo que esse é um trunfo do qual ele e quem o escolheu, se podem valer. Nos países que funcionam como deve ser, quem quer os filhos a estudar com um sistema exigente e com os melhores professores, tem de abrir os cordões à bolsa e pôr os filhos numa Universidade privada (em Portugal isto funciona quase totalmente ao contrário), pois sabem que os melhores professores têm melhor informação a passar, para quem quer aprender com eles, e o resultado para quem quer depois entrar no mercado de trabalho com um certo gabarito, é melhor pois isso é levado em conta.
Resumindo, não tenho uma opinião forte acerca do Villas Boas mas também lhe dou o meu apoio total e espero mesmo que a pequena centelha de esperança que tenho neste momento aumente e arda durante muito tempo, pois se ele for realmente muito bom será outro que irá inevitavelmente fugir.
A perspectiva do Miguel Lourenço Pereira acerca da escolha de AVB para treinador do FC Porto é uma opinião, tão válida e legitima como a da Ana Martins ou do Ricardo Goucha que, a nosso convite, também escreveram textos sobre este assunto.
A todos estamos gratos por partilharem as suas opiniões connosco e ainda bem que não estamos de acordo em tudo (excepto na vontade de querer que o FC Porto ganhe sempre). É algo que contribui para que tenhamos trocas de opiniões mais ricas e interessantes.
JRP,
É natural que cada um tenha o seu ponto de vista e todos podem sonhar. Não acredito que aqueles que não gostam ou não vêm com bons olhos a contratação do AVB prefiram perder a dizer "eu bem vos disse". Eu pelo menos prefiro estar enganado, como sempre digo no texto. E como bem diz, procuro utilizar expressões que têm sido moeda corrente, incluindo aqui no blog e na caixa de comentários, por muitos de nós. Agora, quem sou eu para destabilizar alguém?
Steve,
O meu ponto é precisamente esse. AVB pode ser um genio ou um imbecil, mas de momento não tenho nenhuma pista para achar que será uma coisa ou outra.
Naturalmente que quem está ao lado dos melhores terá maiores oportunidades de "beber" os conhecimentos certos, mas tudo na vida é relativo. Utilizando o felix exemplo, em universidades dei-me bem em cadeiras com péssimos professores e não tão bem com professores excelentes. Cada um é como é, e o talento de um não passa forçosamente a outro. Fosse assim e os "segundos" de Busby, Herrera, Clough, Santana, Schonn, Michels, Cruyff, Capello, Sachi e companhia tinham todos sido grandes treinadores. E nunca o foram.
José,
É sempre um prazer colaborar na Reflexão! ;-)
Eu acho que faz sentido manifestar alguma dúvida quanto ao possível sucesso do treinador. Na verdade se ele fosse extraordinariamente experiente poderia ainda assim falhar, e sendo inexperiente pode acertar até mesmo sendo, aos olhos de algum analista, menos competente do que outros. Há outros factores que contribuem para o sucesso, ou falta dele, numa passagem de um técnico por qualquer equipa.
Eu não conheço AVB intimamente para especular sobre se ele conseguirá motivar os jogadores a serem melhores profissionais, mas os órgãos eleitos estão lá para isso mesmo – para conhecer e aprofundar os dados que têm sobre as várias hipóteses e escolher a melhor. A direcção terá entendido que AVB é a melhor relação custo/benefício disponível. A partir daqui vejamos e atribuiremos crédito a quem de direito – a Pinto da Costa, o seu grupo na administração e AVB se a escolha se provar inteligente e de sucesso – ou atribuiremos crítica na mesma proporção e na possibilidade inversa de resultados.
Efectivamente o talento não é contagioso, mas o ser mais inteligente do mundo terá dificuldades em aprender quando não vê exemplos, não tem referências e tem escola pobre, enquanto um ser medianamente talentoso pode tornar-se muito capaz se for observador, estudioso e estiver em bom ambiente de aprendizagem.
AVB parece-me uma figura inteligente. Reconhecidamente, por quem trabalhou sob as suas instrucções, é um bom líder, portanto só posso achar que a aposta, sendo de risco, é também de grande potencial retorno. E se for apenas boa parte do que foi JM, já talvez não seja mau de todo, até porque AVB é portista e se tiver sucesso, talvez se relacione de forma mais duradoura com o clube, contrariamente ao que fez JM.
Pedro Carriço
Também tenho um expectativa positiva sobre o Villas-Boas e se rebobinarem a cassete, lembrar-se-ão que o Mourinho era totalmente desconhecido quando chegou ao Porto pela mão de Robson, era considerado um simples "tradutore"...Foi daqui com ele para Barcelona, conviveu assim mais uns tempos e depois de Robson sair, ficou ao lado de Van Gaal...Só depois entrou na carreira a solo de Treinador e logo no ULeiria, uma equipa perfeitamente equiparada à da Académica...Pouco tempo depois, foi desejado pelo Sporting, chegou a assinar por ele, rumou temporariamente ao Benfica e daí, acabou no Porto...Se o José Mourinho é considerado o "Número Um", porque razão André não terá aprendido com ele o suficiente durante 8(!) anos, para poder pegar de estaca no FCdoPorto? -Pois a experiência...Mas estar lá todos os dias, ver todos os processos de treino, acrescentar inconscientemente mais alguns -cada um dá sempre um acréscimo a qualquer teoria-, aprender com experiências tão ricas e diversificadas, como estar a trabalhar e treinar diariamente ao lado de Robson, Van Gaal, Mourinho, poder ver a evolução desses diversos processos de treino aplicados em Clubes como o Porto, Barcelona, Chelsea, Inter de Milão, em jogadores tão excelentes como os que jogaram no seu tempo nestes Clubes, não é experiência mais do que necessária e suficiente?...Só se ele tiver algum complexo que ainda não é completamente visível e se sobreponha à sua verdadeira vontade...
-Aqueles estágios que refiro são equiparáveis à frequência consecutiva de várias Universidades de excelência!...
-Se ele não conseguir traduzir bem todos os seus conhecimentos, então será um questão de incompetência para o lugar e ele já afirmou que não o é!...Não percebo como é que alguns ainda sugeriam preferir aquele Brasileiro, de que eu já nem me lembro...
vamos esperar e ver para crer.
JRP comentou: "Se esta aposta falhar terá muito tempo e muitas oportunidades de desestabilização e de veicular a sua mensagem."
Eu nem estou particularmente de acordo com várias passagens do artigo do Miguel, mas mais uma vez tenho de lamentar esta tendência de muitos em verem segundas intenções em opiniões alheias que divergem da sua. É um tipo de intolerância mais que uma mania da perseguição, embora possa conter aspectos da segunda. Infelizmente esse tipo de mentalidade foi incutida em muitos adeptos do FCP por quem até deveria pugnar pela unidade dos mesmos independentemente das suas opiniões.
Miguel,
O Mourinho ao chegar ao Porto tinha apenas mais um jogo que o Vilas Boas como treinador principal. E parece-me um franco exagero dizer que "brilhou" em Leiria. Além do mais nem uma época completa passara com o Mourinho ao comando da equipa.
O Artur Jorge estava há um ano sem clube quando veio para o Porto, perante o cepticismo de muitos - precisamente até porque alguns achavam o Morais o "sucessor natural" do Pedroto (curiosamente, quem aparentemente recomendou o AJ ao PdC foi precisamente o Pedroto). E não "bebeu largos anos com outro mestre": foi adjunto do Pedroto em Guimarães menos de uma época, para sermos precisos (em 1980/81).
Não quero com isto dizer que o AVB vai ter um sucesso semelhante aos outros que referi, até porque não tenho nenhuma bola de cristal, apenas que acho que há uma certa injustiça na avaliação das suas capacidades.
Também não é correcto dizer que o AVB não tem experiência em lidar com situações adversas e que a Académica foi para ele um início tranquilo. Académica que ele recebeu não ganhara ainda um só jogo, e se não seguia em último, andava lá perto. Ele recuperou a equipa em termos pontuais e exibicionais.Perante a situação com que deparou à chegada era exigir de mais que tivesse conseguido que a equipa melhorasse a prestação do ano prévio.
PS: Eu até acho que a Académica jogava bem à bola. Seca, sim, era o Braga!
Se é verdade que a genialidade não se contagia, parece que "les beaux esprits se rencontrent".
Vamos ter esperança que a amizade do AVB com o JM queira dizer alguma coisa sobre a qualidade do André.
Concordo que todos estamos ansiosos por ver o AVB vai fazer enquanto técnico do Porto. A sua inexperiência pode ser um incoveniente para liderar a equipa do Porto, como salienta o texto, mas a "dose" de conhecimentos tácticos e futebolísticos que AVB possui pode colmatar essa inexperiência. Agora discordo de uma frase do texto do Miguel Pereira: "A Académica não bateu o pé aos grandes", lembro que a Académica foi ganhar a Alvalade, e em casa deu luta ao Porto (1-2) e ao Benfica (2-3).
Além de assinar por baixo do comentário do Alexandre (as 14:16) queria salientar, em relação á questão da experiência, e comparando com o anterior treinador o palmarés do Villas-Boas é exactamente o mesmo: zero (0) titulos e que aparte de uma vasta experiência como treinador, este tinha sido adjunto do Toni enquanto AVB o foi de Mourinho.
Portanto, neste caso concreto não me parece que a experiência vá fazer muita diferença.
E só para acrescentar, não se esqueçam que ele não é nenhum estranho da casa. Ou seja, só assim já tem uma vantagem enorme pk sabe o que a casa "gasta". E isso, podendo não parecer é meio caminho andado.
ruibonga
É normal que exista uma expectativa à volta do AVB quanto a treinador do FCP e isso é saudável.
Utilizei os exemplos dos três grandes técnicos que tivemos porque todos partilham dessa curiosa origem sem "experiência". No entanto acho que dificilmente a história se repete e cada caso é um caso, e cada conjuntura é uma conjuntura com as suas especificidades.
Volto a reiterar que não sei se o Villas-Boas vai ser um treinador de top. O Artur Jorge não é do meu tempo e com o Mourinho tinha um "feeling". AVB, honestamente, não me diz nada nem me dá a tranquilidade que muitos parecem ter com a sua chegada, o que é perfeitamente legitimo.
Como foi bem dito aqui o JF também não tinha curriculum, também tinha sido muitos anos adjunto, e isso só transmite a realidade de que a estrutura do FCP permite que um treinador mediano possa ser campeão. Foi assim com outros exemplos do nosso passado recente. Espero que se repita neste novo mandato. Mas que tenha dúvidas, isso ninguém me tira.
um abraço
Alexandre Burmestre,
Quando diz que tem de "lamentar esta tendência de muitos em verem segundas intenções em opiniões alheias que divergem da sua", não estará a referir-se a mim, seguramente. Isto porque para mim, este texto não tem segunda intenção, mas apenas uma e que é clarinha como a água, apesar de disfarçada em isenção.
Se estamos numa de lamentações, eu lamento que a minha opinião a um texto publicado neste blog faça tanta mossa e leve a que 2 administradores do blog tenham que vir em socorro do autor classificando a minha opinião (afinal, eu também julgo ter direito a ela e não apenas o autor do texto) como intolerante e mania da perseguição. Será contudo a vossa opinião.
Lamento também "esta tendência de muitos em verem [perseguições e manias da perseguição] em opiniões alheias que divergem da sua".
Insisto, o texto parece-me cínico e desajustado ao momento de esperança que se vive, sem visões messianicas, mas num estado de crença que, em boa medida, foi o que nos faltou no último ano. Não nos tirem isso.
JRP,
Naturalmente a opinião de cada tem o mesmo valor. Não há aqui, creio, ninguém que valha mais que outro.
Agora acho sim desajustado querer "censurar" uma ideia, apenas porque vai contra o "estado de crença" que alguém esteja a viver. Lá porque há quem confie cegamente em AVB como um novo Mourinho ou algo mais, não quer dizer que aqueles que duvidam tenham de ficar de bico calado. Eu não lhe tiro isso, agora terá é de reflectir se uma simples opinião, para si tão cinica, seja capaz de "tirar-lhe" tanta ilusão.
Jogos como treinadores principais antes de entrar no FC Porto, resultados e idade:
José Mourinho, 28 jogos (19 Leiria) 14v-8e-5d. Leiria = 19 jogos = 9v-7e-3d. 37 anos
Vilas Boas, 22 jogos, 7v-6e-9d. 32 anos.
Desculpem, o Mourinho tinha 39 anos como diz no artigo.
Ó Manel, isso não se faz! Então a desdizer o pároco aquí da aldeia? E não se enganou nos v´s,e´s e d´s? Olhe que a diferença é enorme.
Não havia nexexidade...
JRP,
Não foi a sua opinião que fez mossa, mas sim o modo como a expressou. Classificar de venenoso um texto alheio é, repito, lamentável.
A sua insinuação de que o texto tem uma intenção "clarinha como a água" parte do também lamentável principio de que possa haver portistas que não desejem o melhor para a equipa. É a tese maniqueísta muito em vigor em certos círculos de adeptos do nosso clube, infelizmente, de que quem não aplaude tudo e todos é um "infiltrado" ou serve "uma agenda".
Pretender que, só porque alguns, ou muitos, ou a esmagadora maioria, vive um momento de esperança (eu incluo-me nesse número, devo dizer), quem a não tem não tem o direito de expressar-se é uma lástima.
Miguel,
Se tinhas um "feeling" em relação ao Mourinho - coisa diferente de uma opinião racionalmente fundamentada - também tens de achar natural que haja quem tenha um "feeling" em relação ao AVB. Tão simples quanto isto.
Manel comentou: "Jogos como treinadores principais antes de entrar no FC Porto, resultados e idade:
José Mourinho, 28 jogos (19 Leiria) 14v-8e-5d. Leiria = 19 jogos = 9v-7e-3d. 37 anos
Vilas Boas, 22 jogos, 7v-6e-9d. 32 anos."
Acho que não há comparação entre as equipas do Leiria em 2001/02 e da Académica na época que agora terminou, pelo que os respectivos resultados não podem ser facilmente extrapolados para comparações entre os respectivos treinadores.
Se o Mourinho não tivesse tido posteriormente o sucesso que teve ninguém agora se lembraria do seu percurso em Leiria, nem o valorizaria por aí além. Tudo isto é relativo.
Quando comparei um ao outro fi-lo apenas na base do argumento da "experiência", e essa era equivalente.
Haverá por aqui quem se lembre da contratação de Artur Jorge como treinador principal do FCP... para suceder, se não estou em erro... a José Maria Pedroto?
Quem se recorda do CV do Artur Jorge?
Vamos compara-lo ao ao AVB ???
Ora vamos lá meditar nisso...
Alexandre,
Touché. Entendo perfeitamente e acho que não digo nada em contrário. A mim, pessoalmente, traz-me dúvidas, mas entendo que haja quem esteja 100% contra e 100% a favor, pelo motivo que seja. Eu sinto-me um pouco no limbo, só isso.
um abraço
Caro Alexandre Burmester e demais comentadores,
os niilistas existem neste blog como existem noutros e na sociedade.
Não vale a pena, em minha opinião, estar sempre a relembrar que o debate é aberto a todos as opiniões exactamente porque há quem não veja isto como um debate de opiniões mas como uma ciência exacta em que o que uns dizem é certo e os outros por dizerem algo diferente já estarão errados.
Mais uma vez digo, o AVB não tem nada de muito concreto para se poder fazer um debate mais sério e profundo, mas não deixa de ter algo de positivo e creio que foi notório para todos que a Académica melhorou a nível de resultados mas muito e principalmente a nível de exibições. É um bom prenuncio mas mais não se pode dizer de concreto pois são os únicos factos que há para fazer a discussão acerca do que poderá ser o futuro dele e do FC Porto. É esperar e acreditar (ou não) que a escolha não foi feita em vão mas sim sustentada em opiniões de pessoas com relevo no mundo do futebol e possivelmente nas tais exibições da equipa que ele treinou e com a qual nem sequer fez pré-época nem escolheu jogadores e apanhou-os num momento mau, animicamente.
Para mim, que não tenho opinião concreta sobre AVB, foi uma decisão de um clube que não costuma brincar ao futebol e muito menos neste tipo de coisas e depois de ter perdido o possível penta e quando vai querer recuperar o titulo. Como confio em quem dirige o clube, também confio que AVB é o homem certo para o clube, neste momento.
Para mim uma decisão que ele (e o clube em conjunto) devia de tomar logo de inicio era deixar de lado a Liga Europa (não dá dinheiro nem prestigio) e concentrar os esforços nas competições internas.
Não cair no risco de querer tudo e no fim não ganhar nada.
Isso era para mim desde logo um sinal de alguém que sabe ponderar todas as suas capacidades reais e de realismo e pragmatismo.
Não sei por quanto mais tempo vai durar esta novela dos Portistas que estão receosos, que o AVB, não seja o "tal"...
Pergunto eu; se em vez JF tem vindo outro não teriamos ganho os mesmos 6 troféus???!!! Teriamos tremido e alterado a equipe contra as equipes da elite???!!! O Nuno André Coelho teria jogado no Arsenal, antes e depois do eclipse porque passou???
Digam claramente, os que se opõem, quem contratariam para este ano???
E não me venham cá com o Domingos... um dia será, talvez, mas agora? Precisamos de tudo menos do Nacional Porreirismo, tu cá tu lá...
JNPC tem feito alguns erros, mas esta escolha, é muito boa... Digam-me daqui a 3 meses... FCP sempre.
Alexandre e Miguel,
Como seres inteligentes que prezo, só posso admitir que não tenham lido bem nenhum dos meus comentários. Se tiverem pachorra, leiam o que eu escrevi e digam-me onde e quando é que eu quis censurar algum texto? Onde e quando eu escrevi que alguém "não tem o direito de expressar-se"?
Eu limitei-me a classificar o texto como venenoso, deprimente, cínico e desajustado. É lamentável? Eventualmente para mentes mais sensíveis será, mas quem escreve num blog e disponibiliza comentários, sujeita-se a levar com uma opinião contrária num tom frontal.
Não entendo também a sugestão que aponta a minha pessoa como membro do grupo dos que acreditam que "quem não aplaude tudo e todos é um "infiltrado" ou serve "uma agenda"", nem tampouco no grupo dos que acreditam que "possa haver portistas que não desejem o melhor para a equipa".
Acusam-me de extrapolações, mas na verdade estas acusações são fantasias e "segundas intenções" bem maiores que qualquer outra que eu tenha feito.
Aliás na senda das efabulações está este parágrafo do Miguel: "Lá porque há quem confie cegamente em AVB como um novo Mourinho ou algo mais, não quer dizer que aqueles que duvidam tenham de ficar de bico calado. Eu não lhe tiro isso, agora terá é de reflectir se uma simples opinião, para si tão cinica, seja capaz de "tirar-lhe" tanta ilusão".
Note-se que em lado algum eu disse que confio cegamente no AVB (quem confia?), nem falei em ilusões. Falei em sonho, é certo, mas não é a mesma coisa. É, aliás, nestes detalhes semânticos que melhor se lê o cinismo do texto do Miguel.
Lamento que se confunda frontalidade com censura.
E temo sobretudo que, nessa perseguição obsessiva contra aqueles que defendem cegamente a SAD (ao ponto de me acusarem de pertencer a esse grupo, só porque critiquei um texto que prepara o terreno para desancar futuramente na SAD), se transformem precisamente nos patrulheiros dos patrulheiros. Por agora, perdoem-me nova frontalidade, é isso que parece.
Tudo bem, JRP, mas ao usar termos como os que usou é natural que tenha resposta, não acha?
De uma resposta, estamos todos à espera. Já de três respostas e em que uma me acusa de ter a mania da perseguição e de ser intolerante, não estava à espera, confesso. Sobretudo porque o estimo, apenas do que conheço da sua escrita, neste e noutros blogs.
Mas, tudo bem. Em frente que o que importa é o clube. Ainda por cima quando, em boa verdade, me parece que temos os dois exactamente as mesmas esperanças e ansiedades perante o futuro, para além do amor pelo FCP.
Abraço.
Caro JRP,
Não quero chover no molhado, mas os termos que usei foram devidos aos termos que o meu caro amigo usou, nomeadamente o "venenoso".
Um abraço
Artur Jorge (1946 - ?) antes de ingressar o FC Porto, o que tinha feito?
Carreira de jogador:
Jogos (Golos)
1964-1965 Porto 4 (1)
1965-1968 Académica 96 (72)
1968-1975 benfiq 95 (72)
1975-1976 Belenenses 47 (13)
1977 Rochester 7 (2)
1978-1979 Belenenses 7 (1)
Total 246 (159)
Selecção Nacional: 17 (1)
Foi 4 vezes campeão nacional, venceu 3 taças de Portugal e foi 2 vezes melhor marcador do Campeonato Nacional.
Artur Jorge Treinador, carreira antes de ser Treinador Principal FC Porto
J V E D GM-GS Pt
1980/1981 VSC Guimarães 5º 30 11 9 10 38-30 31 ADJUNTO de ZÈ MARIA PEDROTO.
1981/1982 Belenenses inc. 9 2 3 4 13-14 7
1981/1982 Portimonense 6º 20 9 7 4 25-13 25
1982/1983 Portimonense 9º 30 11 7 12 35-31 29
Notas sobre 1981/82:
Belém teve 7 treinadores diferentes e terminou época em 15º lugar com 20 pontos (descendo de divisão). Campeonato com 30 jornadas.
Artur Jorge sai de Belém à 9ª Jornada e vai para Portimão. Registo até aí do Portimonense com Manuel Oliveira: 2V 1 E 4D (5 Pts).
Conclusão:
Embora o fiel Adjunto de Pedroto fosse desde os anos 60, o SAUDOSO António Morais (no banco em Basileia 1984), o MESTRE deu indicação de Artur Jorge como o seu sucessor.
Assim, foi Artur Jorge o contratado para treinador Principal do FC Porto em 1984/85, com 37 anos, até 1986/87.
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