terça-feira, 8 de junho de 2010
Os Gloriosos Malucos das Deslocações de Antanho
No meu tempo acompanhei muitos jogos fora do F.C. Porto, especialmente, claro, a Lisboa (os casos de Boavista e outros de ao pé da porta são obviamente diferentes, pois nem deslocação envolviam). E como eu, muitos outros. A televisão não transmitia, os jogos eram a horas decentes e o pessoal lá ia. Milhares, por vezes dezenas de milhar, pois vi alguns jogos nos antigos estádios de Alvalade e da Luz com 20.000 ou mais adeptos do F.C. Porto nas bancadas.
Na estrada era um sem-número de automóveis com cachecóis e bandeiras azul-brancas a esvoaçar. O leitão - prato favorito de muitos ao jantar nas viagens de regresso de Lisboa - esgotava em alguns restaurantes da "região demarcada" da Bairrada. Era vulgar ver-se picnics no Campo Grande antes de jogos em Alvalade. Eu costumava ir com um grupo mais ou menos fixo e o Caleidoscópio, passe a publicidade, era o nosso pouso habitual antes de jogos em Alvalade ou na Luz. Neste último caso seguia-se uma longa caminhada até ao estádio - e sem polícia ou cortejo organizado, nada disso, que as claques ainda não existiam ou, mais tarde, ainda eram incipientes.
Por vezes fazia-se a viagem em excursão de autocarro e ocasionalmente havia umas peripécias memoráveis. Como naquele dia em que, ao sairmos da portagem de Sacavém, fomos recebidos pelas habituais comissões de recepção de benfiquistas, com bandeiras vermelhas empunhadas. Um dos vermelhuscos bradava, mostrando quatro dedos de uma mão: "Quatro! Ides levar quatro!" Subitamente, salta um portista mais irado do lado esquerdo do autocarro, põe a cabeça de fora de uma janela do lado oposto, e grita: "Quatro levou a tua mulher encostada à estátua, ó filho da p...!". Gargalhada geral no autocarro, claro!
Agora, o forasteiro em jogos de futebol é quase exclusivamente um membro de uma claque. A televisão, os horários e os ambientes cada vez mais hostis afastaram o Zé do Farnel das viagens ao futebol. Fizemos em Portugal um percurso inverso, neste aspecto, ao de Inglaterra. Eu estava naquele país nos anos 70 quando o hooliganismo já fizera a sua aparição e era perigoso ir a certos jogos. Anos mais tarde, com o problema resolvido, voltei a visitar estádios de Inglaterra na maior segurança. De hoje em dia em Portugal ir a um jogo fora é uma aventura arriscada.
Mas estas linhas pretendem essencialmente recordar aqueles bons tempos de clubismo sadio, mas nem por isso menos entusiástico. Havia zaragatas volta e meia, claro, mas era mais confusão causada pelo verde tinto do que por maus instintos. Os gloriosos malucos das deslocações de antanho bem que mereciam um monumento em sua homenagem. Esses tempos, provavelmente, nunca voltarão.
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13 comentários:
Dificilmente voltarão, Alexandre.
Fica apenas a memória para aqueles que tiveram a felicidade de viver tais tempos.
Estes actuais, são tempos de adeptos quase meramente figurantes.
Como também fica a saudade de quando os Mundiais eram apenas para aqueles que gostavam mesmo de futebol.
Agora é mais circo e carnaval do que outra coisa. Parece mais uma feira de que um acontecimento desportivo.
As televisões assim o querem.
"Estes actuais, são tempos de adeptos quase meramente figurantes."
Um bocado mais de RESPEITO por quem defende as cores do seu clube em todo o lado. Por quem faz o dobro dos sacrifícios que se fazia na sua altura (horários ridículos, preços exorbitantes, segurança posta em causa, para citar 3 de muitos exemplos.
Não se atreva a dizer que eu sou mais ou menos adepto que o senhor, muito menos que sou um mero figurante.
Sócio nº17994
TRIBUNAL
Those where the day´s,
Já não apanhei essa etapa e as experiências de ver o FCP fora de casa acabaram invariavelmente com pedras a voar por todos os lados. Como dizes bem Alexandre, Portugal está há muitos anos na mesma dinamica de França e Itália e bem longe da excelente politica da Premier, Bundesliga ou La Liga que adaptam o jogo ao adepto e não ao telespectador.
Em Espanha acho delicioso ainda ser possível ver os grande a jogar pela tarde em dias de sol, em Inglaterra manteve-se a cultura do jogo antes da hora de almoço e o ressuscitar da Bundesliga tem muito a ver com a melhoria de horários e condições para que os adeptos locais e visitantes possam deslocar-se a ver um jogo sem problemas.
Aqui, o monopolio televisivo da SportTv, como em tantas outras coisas, destroi qualquer possibilidade do jogo ser um evento familiar. As claques, oficiosamente defendidas pelas direcçoes (gostaria de ver os presidentes dos 3 grandes, FCP incluido, a tomar a mesma politica que o contestado Laporta com os Boixos Nou), fazem com que cada viagem seja um autentico pesadelo. Mesmo em territórios neutros já vi claques de outros clubes (Benfica e Sporting) atacar adeptos do Porto em jogos em Leiria, Faro ou Guimarães.
Assim não dá, o futebol há muito que deixou de ser um pretexto para uma tarde bem passada em Portugal
um abraço
"Não se atreva a dizer que eu sou mais ou menos adepto que o senhor, muito menos que sou um mero figurante."
Vocês falam pouco mas infelizmente, quando falam, é para darem razão a quem vos critica. As claques são o cancro do futebol, e este comentário ameaçador é bem exemplo disso.
Ainda por cima não percebeste puto do que escreveu o comentador Luís Carvalho, que não está a criticar as claques.
De resto, já todos sabemos que vocês são uns heróis.
David, que boa oportunidade perdida para estar calado... Quem lhe disse a si que eu pertenço a alguma claque? Muito menos herói, não sou concerteza. De resto, espero pelo comentário do Sr. Luis para esclarecer o sentido que quis dar à referida frase.
Com 47 anos de idade, já tive o grato prazer, de viver deslocações à moda antiga, de excursão e merendeiro.
Por outro lado,fiz deslocações recentes para ver o Porto, nomeadamente fora do País, e fui acompanhado por elementos afectos ás claques. Favor não tomar a parte pelo todo, há gente boa e má em todo o lado.
Não me parece muito útil este tipo de discussão.
Quanto ao post, fez-me lembrar tempos bonitos.
Sim, claro que há "gente boa e má em todo o lado", mas o que eu sei é que nunca vi adeptos normais, isto é, sem serem membros de claques, a causarem o caos e o pânico nas áreas de serviço, por exemplo.
Enquanto se mantiver uma atitude de tolerância para com o comportamento das claques não se resolve o problema, antes pelo contrário, ele tenderá a agravar-se. O clubismo cego tem contribuído muito praa que nada de sério seja feito.
Mas de facto não é esse o tema do post. Eu também me recordo desses tempos com saudade.
ainda acredito ...
tudo sobre o mundial e não só em
http://gazettadosdesportos.blogspot.com/
198 e troca o passo,benficaXPorto ,o jogo era Domingo a tarde,Nos (Portistas da Madalena, Gaia)apanhamos o autocarro sexta a noite (Caima?)ganda farra em lisboa,dormimos 10 gajos num quarto de uma pensao.Fomos ao bingo do Jardim Zoologico,com o moina a porta a "brincar" voces tripeiros blabla.. Eu virei-me para o policia e disse ,vamos entrar ganhamos o bingo e saimos logo, foi dito e feito,ganhamos o bingo no primeiro cartao, o moina ficou com grande cachola.Foi muito porreiro aquele fim de semana nos anos 80.Sera que hoje seria possivel?
Ja me esquecia ,tambem ouve casos nesse jogo, o Eurico?? no aquecimento levou com uma laranja nas bentas
@Porto1969
Foi o Inácio
Concordo integralmente com o post.
Creio que as principais razões para a desertificação dos nossos estádios são:
- os horários dos jogos;
- os preços absurdos dos bilhetes;
- o ambiente de hostilidade e consequente sensação (real) de insegurança;
As claques, nos moldes em que existem, não fazem sentido e são muito prejudiciais ao espectáculo futebol.
Gostaria de ver os dirigentes dos clubes PROIBIREM as claques organizadas nos seus clubes.
AS transmissões televisivas alteraram os dados, definitivamente. A partir do momento que exista uma transmissão directa de um determinado acontecimento, seja de um jogo de futebol ou de outro tipo qualquer, quem iria querer estar presente, questiona-se das vantagens ou desvantagens em se deslocar a esse acontecimento...Isso rouba espectadores e esse deslocamento será ainda maior, quanto maior for a garantia da qualidade da transmissão...Parece-me de resposta simples, não é uma questão de insegurança, o Futebol nunca foi um jogo de meninos, nem nos Regionais é pacífico, é mais uma questão de motivação e de meios...Claro que a juventude tem também uma "força" diferente, contem em si um impulso de conhecer e desbravar caminhos, quem passou por lá, quem viveu esses momentos já não se sente tão motivado...Ir a Lisboa para mim não encerra qualquer motivação ou interesse, muito menos lembrando-me eu dos inconvenientes da viagem, 360 quilómetros para lá e outros tantos para o regresso, ainda por cima com o peso de uma derrota muitas vezes a pairar no horizonte...E o aspecto financeiro.-Quanto custa fazer uma viagem longa -p ex. a Faro- para ir ver um jogo de futebol?...Muito dinheiro e paciência!
-Nesse aspecto tenho que louvar a tenacidade e o espírito de corpo dos elementos das claques, sempre em todas, sempre em constante movimento, do Porto para Guimarães, de Gaia para Lisboa, amanhã no hóquei, depois no andebol, mais tarde nas competições Europeias...Até me canso, só de pensar...
Não sei se estas circunstâncias se irão alterar, para já é a realidade que temos.
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