quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A natureza do "escorpião"

Perante o festival de (in)competência demonstrado com a arbitragem da Supertaça, nos últimos dias foram recordadas situações da época passada envolvendo João Ferreira, como foi o célebre caso do túnel da Luz ou as "orelhas sensíveis" no Funchal, que abriram caminho à vitória do slb num jogo que estava a ser difícil.

Mas há muitos mais jogos que poderiam engrossar a lista de João Ferreira. Por exemplo, o FC Porto x Sporting da época 2008/09, com uma arbitragem habilidosa qb e com alguns aspectos muito semelhantes aos do último sábado, ou um célebre Moreirense x Benfica, da época 2002/03, e que levou no final Manuel Machado a dizer "coisas como as que aconteceram nesta partida, só se resolvem com pau de marmeleiro".

Para que o texto não se torne demasiado extenso, vou apenas recordar as incidências de um Sporting x FC Porto disputado em Março de 2005, recorrendo a extractos de uma crónica do Miguel Sousa Tavares.

«Ontem, ao minuto 35 do jogo de Alvalade, o Sr. João Ferreira decidiu abrir o caminho do título ao Benfica, juntando-se a uma vasta campanha nacional em curso que tem como objectivo levar o Benfica ao título, nem que seja por decreto-lei.

Quando digo que decidiu, quero dizer exactamente que a anedótica expulsão de McCarthy — a mais inacreditável expulsão que eu vi em quarenta anos a ver futebol — não foi um deslize de momento, uma precipitação do árbitro. Não: ele teve vários dias para meditar na importância do jogo que estava a dirigir. Ele sabia que jogavam dois candidatos ao título e que a derrota de um deles — o Sporting — significaria que esse estava fora da corrida, e a derrota do outro — o FC Porto — significaria que ambos ficavam, com toda a probabilidade, afastados do título. E sabia, como qualquer árbitro sabe, que, num derby, reduzir uma equipa a 10 jogadores, ainda para mais a visitante, e quando ainda falta mais de uma hora para jogar, equivale praticamente a sentenciar o vencedor. Por isso, uma decisão tão determinante no desfecho quanto essa, tem de assentar num facto absolutamente incontestável por todas as partes. Ora, por mais jogos que arbitre, nunca mais o sr. João Ferreira terá oportunidade e necessidade de expulsar um jogador por ele acertar com o braço na anca de um adversário, quando este está sentado em cima dele e deliberadamente o impede de se levantar. Sobretudo quando, minutos antes, o mesmo sr. João Ferreira fez que não viu uma entrada para aleijar do Beto sobre o Quaresma, que não tinha sido, aliás, a primeira.

E, como se dez contra onze não fosse já suficiente, o mesmo sr. João Ferreira, culminando uma arbitragem escandalosamente caseira em tudo, desde o critério disciplinar à avaliação das faltas, ainda tratou de expulsar também o Seitaridis, «esquecendo-se» que, não tendo ele cortado com a mão uma bola que fosse a caminho da baliza, a sanção correspondente era o cartão amarelo e não o vermelho.

Podia ser até, que o Sporting viesse a ganhar o jogo com toda a naturalidade e justiça. Mas ele não deixou que as coisas acontecessem com naturalidade e justiça.
De uma assentada, o sr. João Ferreira conseguiu atingir duplamente o FC Porto: tomando decisões que se revelaram determinantes na derrota e privando a equipa de contar com McCarthy para os jogos seguintes.»
Miguel Sousa Tavares
in A Bola, 22/03/2005


Tal como na parábola em que o escorpião cravou o seu ferrão no sapo, morrendo ambos afogados, o major Ferreira é o que é e, quando tem um apito na boca, está na sua natureza beneficiar o slb e/ou prejudicar o FC Porto. Os jogadores sabem disso. Os dirigentes dos clubes sabem disso. E quem o nomeia para os jogos também sabe isso perfeitamente.
É por isso que a arbitragem miserável do último sábado não surpreende ninguém e, se o deixarem (tem a palavra o senhor Vítor Pereira), este árbitro da AF Setúbal irá continuar impunemente a fazer das suas.

6 comentários:

meirelesportuense disse...

O problema é que quem os nomeia fez o mesmo quando era -ele próprio- árbitro...Estou a lembrar-me de um golo que não foi, num Belenenses-Benfica no Restelo, com o Benfica a vencer um jogo que não vencera de facto!...Arbitrou Vítor Pereira!...Eu lembro-me, lembram-se os Portistas, quem mais se lembra ou "quer" lembrar-se?...Sim porque nestas coisas a memória é "selectiva", muitas vezes só funciona, quando o gosto é agradável.
Quanto à violência nesse jogo de Guimarães em que o Costinha foi trucidado pelo Flávio Meireles, recordo-me muito bem, o Portista esteve inconsciente alguns minutos e o Flávio nem amarelo levou, eu nem sei se foi assinalada falta...Não recordava era o facto de se ter passado com o FdGP que arbitrou Sábado em Aveiro.Mas só confirma a tendência da maioria da arbitragem portuguesa, se a arbitragem Portuguesa favorecesse o Porto como o faz com o Benfica, o Porto era campeão todos os santos anos!...E por isso o Benfica ganhou muitos títulos que não mereceu...

Remígio Manuel Silva da Costa disse...

As expulsões que não foram efectuadas e deviam ser, têm efeitos colaterais importantes que convém lembrar: para além do benefício de continuarem no jogo, nas duas ou três jornadas seguintes os caceteiros impunes vão continuar a jogar.
Acharia razoável que o FCP, pelo menos desse a conhecer as razões por que não reagiu veementemente à actuação sectária e contumaz do assoprador militar.

José Rodrigues disse...

Já aqui vamos em 3 artigos sobre o tema. O Labaredas já falou sobre isto, ou anda entretido com outras coisas?

Anónimo disse...

Boa pergunta, caro José Rodrigues, tanto mais que não lhe sei responder!;-)

Mas este caso é demasiado sério para ser respondido com labaredas. Estamos no princípio da época e de pequenino se torce o pepino. Ou seja, a SAD deveria ter reagido oficialmente e de forma vigorosa. Como bem diz o leitor Silva da Costa, o SLB não foi só beneficiado naquele jogo, mas também nos próximos, em que deveria estar desfalcado dos trauliteiros de Aveiro.

José Rodrigues disse...

"Mas este caso é demasiado sério para ser respondido com labaredas."

Concordo, David.

Aliás este e muitos outros.

Temos "comido e calado" durante demasiado tempo (aliás, até mesmo o próprio Labaredas - q tem pouquíssimo impacto - demonstrou preferência por picardias irrelevantes com jornais).

Antes era a desculpa do Pito Dourado, agora já não faço ideia qual será a desculpa...

Estamos permanente em guerra, disso não haja dúvidas. E em guerra deve-se usar das várias armas ao nosso dispôr, e o púlpito público é uma delas.

Digo sem pejo o seguinte: gostava de ver os árbitros aterrorizados com a possibilidade de errar contra o FCP e a favor do slb, com medo de levarem bocas (ou até mesmo no focinho) de algum adepto que ficasse mais exaltado com fortes declarações públicas a denunciar casos precedentes da parte de Pinto de Costa (ou outros dirigentes).

Não estou a dizer q defendo q adeptos agridam árbitros, longe disso: apenas q os árbitros deviam ficar com medo de serem figurativamente *linchados na praça pública* quando nos lixam; e nada melhor do q declarações públicas dos nossos dirigentes para nos assegurarmos de q arbitragens como a de sábado são facilmente esquecidas.

José Rodrigues disse...

ERRATA: como é fácil de adivinhar faltou um "não" na última frase do comentário anterior, i.e. "não são esquecidas".