quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um “Verão Quente” para AVB gerir

Por Miguel Lourenço Pereira


Numa época que arranca com uma Copa América e termina com um Europeu de Futebol, a vida dos clubes torna-se mais complicada. Quanto maior o clube, maiores os problemas. E o FC Porto, com o seu status de potência europeia definitivamente consolidado, vai encontrar-se com os mesmos dilemas logísticos dos grandes. Se todos sabemos que uma boa pré-época é meio caminho andado para o sucesso, André Villas-Boas deve estar a dar voltas à cabeça para resolver este puzzle que se adivinha de complexa solução.

Enquanto a FIFA não unificar critérios, o futebol viverá sempre momentos como este. No espaço de um ano, os principais clubes de futebol verão os seus jogadores disputar seis torneios de selecções. Primeiro o Europeu de sub-21 e a Golden Cup, durante este mês de Junho. Depois, em Julho, a Copa América, seguida em Agosto do Mundial de sub-20 (antigo Mundial de Juniores). Em Janeiro é a vez da CAN africana e em Junho de 2012 o Europeu. Muitos jogos nas pernas, que se acumulam aos encontros das provas europeias, ligas nacionais, taças e taças da liga.

Os dragões têm já oficializados 42 jogos para a próxima temporada, incluindo os 30 da Liga, os seis da fase de grupos da Champions League, três da Taça da Liga, a primeira eliminatória da Taça de Portugal e as Supertaças Europeia e Portuguesa. Mas esse número, dependendo das prestações dos azuis e brancos, pode estender-se a um máximo de 57 encontros oficiais. Em 2010/11 o clube disputou 58 jogos, essencialmente graças à campanha europeia e fisicamente mostrou estar sempre a bom nível. Espelho de um óptimo trabalho do staff técnico na pré-temporada. Mas com este calendário sobrecarregado Villas-Boas terá de fazer contas.

O clube volta de férias no inicio de Julho e o primeiro jogo oficial é um mês depois, a 6 de Agosto, frente ao Vitória de Guimarães. Vinte dias depois estará no Mónaco para defrontar o Barcelona na Supertaça Europeia e entre fins de Agosto e princípios de Setembro arrancam igualmente Liga e Champions League.

Se houve algo que marcou o sucesso da época 2010/11 foi o arranque implacável dos homens de azul e branco. A vitória clara sobre o Benfica na Supertaça foi o tónico, mas a eliminatória com o Genk e as primeiras jornadas da Liga deixaram claro que este projecto tinha pernas para ir longe. E felizmente, então, estavam todos os jogadores à disposição de Villas-Boas. Isso permitiu-lhe gerir bem o crescimento de James, com Varela como titular (será que Iturbe e Kelvin terão a mesma sorte?) ou a adaptação de Otamendi.

Este ano a situação será bem diferente. A partir de 1 de Julho arranca a Copa América na Argentina. A prova irá prolongar-se até 24 do mesmo mês e as presenças de Falcao, Guarin, Alvaro Pereira, Fucile e Rodriguez estão confirmadas. Elementos fundamentais na estrutura do técnico – principalmente os dois colombianos – que terão de realizar uma pré-temporada alternativa. Com os perigos que isso sempre acarreta. Veja-se o caso de Diego Forlan, melhor jogador do passado Mundial, que chegou sem férias à Supertaça Europeia que o Atlético de Madrid ganhou ao Inter de Milão, para depois passar uma época marcada por problemas físicos, como consequência de uma má preparação. E exemplos não faltam.

Além do mais, para piorar as contas, quando o quinteto da Copa América chegar (para começar a sua recuperação) saem James Rodriguez, Iturbe e Sérgio Oliveira, presenças seguras no Mundial de sub-20, que irá decorrer entre o 29 de Julho e o 20 de Agosto na Colômbia. O mais provável é que só em meados de Setembro – se as lesões não aparecerem – é que o técnico poderá contar com todos os seus efectivos. Por essa altura a Liga já terá algumas jornadas e a Champions League prepara-se para arrancar.

A aposta na última meia dúzia de anos no mercado sul-americano trouxe os seus frutos mas, neste arranque de época, transformou-se também num problema. Felizmente para Villas-Boas tanto Helton como Otamendi, Bellushi e, sobretudo, Hulk, ficaram fora das contas dos seleccionadores, senão a razia podia ter sido bem pior.

Villas-Boas terá para as Supertaças uma equipa bastante limitada (o Barcelona, pelo contrário, estará na máxima força) e cansada. Em 2003/04, no segundo ano de Mourinho, não houve provas de Verão para importunar a preparação. E na altura o plantel era composto, maioritariamente, por portugueses. O leque de lusos do plantel (Moutinho, Rolando, Micael, Varela) terão outro problema, lá mais para o final do ano. É o velho sindroma de “não meter o pé” quando a convocatória para o Europeu se comece a aproximar. Outro problema de balneário, para AVB gerir à sua maneira.

O certo é que dificilmente veremos o mesmo FC Porto acutilante no inicio deste novo ano. Uma equipa sem os golos de Falcao, a visão de Guarin, a improvisação de James, corrida de Alvaro ou a segurança de Fucile é, claramente, menos equipa do que a que completou um Poker histórico. O mercado até Julho pode trazer novidades específicas para colmatar estes problemas, mas existe a possibilidade do FC Porto chegar a Agosto apenas com um lateral (Sapunaru), um extremo (Varela) e um avançado (Hulk) para os dois primeiros troféus da época. Veremos como o staff técnico e a equipa directiva prepara o importantíssimo mês de Julho. Será mais um desafio para Villas-Boas, talvez mais complicado do que muitas das vitórias conquistadas na passada temporada.


Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Miguel Lourenço Pereira a elaboração deste artigo.

5 comentários:

flama draculae disse...

medo!

Luís Negroni disse...

O Messi, o Daniel Alves e o Mascherano não vão estar na Copa América? Então, o Barcelona vai estar tão limitado como o Porto na Super Taça Europeia, ou se calhar mais limitado, já que é altamente provável que Messi, Mascherano e Daniel Alves fiquem até mais tarde na Copa América que Falcao, Guarin e Álvaro Pereira (Rodriguez e Fucile são suplentes e muito provavelmente até já não vão estar no Porto por essa altura) e para além disso a pré-época do Barcelona vai começar 15 dias mais tarde que a do Porto.

Sinceramente, sem ofensa, acho que devíamos deixar-nos de Calimerices.

eumargotdasilva disse...

Credo! Quase parece uma tragédia... - concordo que são bastantes condicionantes, mas de espantar seria se o AVB e satff ainda não tivessem pensado nisso e ainda não tivessem uma solução para o assunto!!
E, até parece que o Àlvaro e o Fucile no ano transacto não jogaram até ao fim no mundial...
Ora...

Hugo disse...

O Barça também vai ter o Messi na Copa América e possivelmente o Sanchez se o comprarem.
Antes do jogo no Mónaco vão ter um duplo duelo com o Real

Miguel Lourenço Pereira disse...

Luis, Hugo,

A Copa América termina a 24 de Julho e a Supertaça Europeia é um mês depois. Provavelmente então os finalistas já se terão incorporado de forma natural. A diferença está em que o Barcelona sentirá menos a ausência de Messi e Alves do que o FC Porto de Falcao ou James, por exemplo. E é pena porque a Supertaça Europeia é um dos poucos troféus que nos escapa na era moderna e precisamente por esse duplo Barça-Madrid, seria uma boa oportunidade para emendar os erros recentes.

Reine,

Não é naturalmente uma tragédia mas sim um reflexo normal de uma equipa super dependente do mercado sul-americano com a sorte de contar com vários internacionais no plantel. No ano ano passado, com o Mundial, a prova disputou-se em Junho o que permitiu aos jogadores umas boas férias em Julho antes de começar a trabalhar. E mesmo assim, Alvaro e Fucile foram dos jogadores com mais problemas fisicos ao longo do ano.

O problema é que a Copa América é em Julho, o que obriga a que os jogadores tenham férias depois e uma preparação especifica à posteriori. Isso não afecta só os trofeus de Agosto, afecta também o resto da temporada.

A solução normal seria contar com opções para todas as posições que não estivessem sujeitas a essa realidade. Mas sabemos que o plantel actual não as tem e não vejo, de momento, opções crediveis na formação para ocupar esses postos em concreto. O que obriga a ir ao mercado, a antecipar automatismos e a desfigurar um pouco o estilo de jogo que apresentamos no final da época.

Claro que o FCP não tem culpa disto, a desorganização do calendário internacional é tal que não somos os únicos que vão sofrer com esta realidade. Mas talvez sejamos das equipas mais dependentes desse mercado sem alternativas em casa e isso é o que me preocupa. Teremos de saber quem entrará no plantel no lugar de Fucile (e no lugar de lateral direito porque se o uruguaio tinha uma vantagem era a sua polivalência), quem pode fazer o papel de James e, essencialmente, quem pode render eficazmente Falcao.

Não é drama mas é talvez um desafio logistico e de gestão humana como o FCP nunca teve.

um abraço