A recente reportagem da Sport TV sobre José Maria Pedroto (para quem não viu está no youtube) é mais uma excelente demonstração de como o tempo nos altera a percepção das coisas, e que muitas vezes interpretamos a mesma situação de forma antagónica consoante nos dá jeito.
São histórias já conhecidas mas que relembradas me fazem sorrir e olhar para ditos mais recentes dando-lhe a pouca importância que têm e reconhecer, mais uma vez, como é fácil manipular massas - que sendo fácil não é para qualquer um - é preciso ter um dom. E Pinto da Costa tem carradas dele. As vitórias realmente são o ópio do povo.
As histórias das contratações do Pedroto são nesse aspecto deliciosas.
Alguém que passa de banido em assembleia geral a treinador bandeira, faz-me ter a certeza que se um dia PdC fizer regressar Mourinho ou AVB, as ofensas de "não ter festejado", "de Palermo", "da traição", e coisas que tais, vão ser todas relativizadas e o pessoal vai aplaudir.
Como PdC recordava o local onde às escondidas de todos (e do Boavista) assinou dentro do carro o contrato com Pedroto, imagino daqui a uns anos Abramovich a recordar o restaurante Camelo.
Se foi assim que o nosso sucesso começou porquê criticar Mourinho (ou o AVB) e o Chelsea, e elogiar Pinto da Costa e Pedroto?
Não podemos / devemos ter dois pesos e duas medidas. Mas às vezes dá mesmo jeito, não é?
17 comentários:
Se o AVB tiver sucesso além fronteiras na sua carreira de treinador e, daqui a 10 ou 15 anos regressar ao FC Porto, não tenho dúvidas que a esmagadora maioria daqueles que hoje em dia lhe chamam ingrato, traidor, Judas, borrado, Libras-Boas, etc, estarão na primeira linha a apoiar o seu regresso.
Como afirmou uma pessoa nossa conhecida nas tertúlias da noite portuense da década de 70, longos dias têm 100 anos...
Excelente João, é mesmo isso!
O PdC já começou a reabilitação do AVB ao dar-lhe o Dragão de Ouro, ou acham que foi só por mérito...
Ainda em relação ao Presidente do FCP, que tem muitos e inegáveis méritos, também ele entra em contradição e dá muitas vezes um pontapé na coerência em função do momento...
Já agora e off-topic, uma nota de destaque para aquele que se tornou no mais novo jogador a envergar a camisola azul e branca - Kadu!
Deliciosa a simplicidade da história do Kadu que vem hoje relatada n' O Jogo.
Bem, o Pimenta Machado afirmou uma vez, e quase toda a gente sabe isto, que "no futebol o q é verdade hoje é amanhã mentira".
Muito mais do q ter preocupações de coerência, o q interessa no futebol (e não só, mas no futebol ainda mais) é as conveniências do momento. O resto é descartável e totalmente acessório, principalmente quando se tem manipuladores de massas como um PdC (e como o João diz e bem, isso por si só não chega - tem q ser combinado com vitórias, o q é o caso de PdC).
Dito isto, o mundo não é imutável e o q às vezes parece uma incoerência não o é, já q o contexto pode ter mudado imenso. Ou a própria pessoa em questão.
Quanto à pergunta q o João coloca sobre PdC, uma coisa é a avaliação global q se faz dele e outra coisa muito diferente é bater palmas a toda e qq decisão ou medida q ele tome, e parece-me q o João se esquece disso.
Ou seja: eu elogio imenso o PdC, em geral; mas não deixo de o criticar em certas atitudes, decises ou medidas q ele tome. Onde é q estáo os 2 pesos e 2 medidas nisso?
Sobre o episódio em questão, sinceramente não sou suficientemente velho para me lembrar do contexto dessa história - mas em princípio não gosto q o PdC ande a negociar às escondidas com treinadores não dando cavaco ao clube actual deles, se é q isso aconteceu há 30 e tal anos - isto se o FCP não tiver más relações com o clube em questão, claro (se tiver, no problem!).
ahhh... o prazer de sentar na barbearia e relaxar passeando os olhos pelas revistas de há 10 anos com as manchetes dos grandes escândalos políticos, sociais e desportivos de então?... como tudo nos parece longínquo e desproporcionado...
pronto, fica combinado: daqui por 10 anos o AVB regressa, presta novo juramento de fidelidade com pompa e circunstância, afirma com redobrada convicção que está na cadeira de sonho, que fica durante 15 anos e eu (massa acéfala), qual macaquinho, aplaudo de mãos e pés.
NB: em nada me incomoda um eventual regresso do AVB seja ele quando for e desde que os seus méritos profissionais o justifiquem. não volta é a enganar-me, que à segunda só cai quem quer ;)
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"uma coisa é a avaliação global q se faz dele e outra coisa muito diferente é bater palmas a toda e qq decisão ou medida q ele tome"
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"mas em princípio não gosto q o PdC ande a negociar às escondidas com treinadores não dando cavaco ao clube actual deles"
exacto, continuamos em sintonia, ó homem daqui a pouco estou a pedi-lo em casamento :)
"Se o AVB tiver sucesso além fronteiras na sua carreira de treinador e, daqui a 10 ou 15 anos regressar ao FC Porto, não tenho dúvidas que a esmagadora maioria daqueles que hoje em dia lhe chamam ingrato, traidor, Judas, borrado, Libras-Boas, etc, estarão na primeira linha a apoiar o seu regresso."
E o q é q isso tem demais, pergunto eu? Há algum problema com isso? Pelo menos no caso de epítetos como "borrado", "Libras Boas" ou até mesmo "ingrato".
Eu sou o primeiro a afirmar q o AVB foi um "borrado", um "Libras Boas" e um "ingrato" ("traidor" e "Judas" já me parece exagerado e desadequado).
Mas isso por si só não impede JÁ HOJE (não é daqui a 5 ou 10 anos) que estou aberto à possibilidade de ele regressar, pq não cometeu "pecados" suficientemente graves para o riscar da lista. Se calhar punha-lhe era uma cláusula de rescisão de 50M€ da px vez, LOL
O q isso já impedia para mim era a atribuição do Dragão de Ouro, mas isso são outros quinhentos e uma decisão muito menos importante.
Mas olhemos mais em detalhe para dois dos tais epítetos:
1) Libras Boas. Basicamente, estamos com isto a chamá-lo de mercenário. Como portista não fica lá muito bem na foto, mas mercenários são eles praticamente todos (um Adriaanse ou um Jesualdo não vieram para o FCP por amor ao clube, mas sim pelo dinheiro e em menor medida pela carreira). Porque diabo então é q haveria de o vetar para o futuro por ser mercenário?
2) Borrado. Isto veio a propósito de ele ter tido medo desta época correr mal na LC e perder mercado, e o próprio PdC o acusou disso. Ora isto tb não é nem pouco mais ou menos razão para vetar um treinador, pelo menos se não se reflectir na sua forma de jogar, i.e. muito medrosa (e no caso do AVB de facto não se reflecte).
Aliás, eu até digo mais: até mesmo o Mourinho eu estou disposto a aceitar de regresso (embora não o deseje de todo), caso ele faça uma enorme contrição pública e volte-face, dando umas voltinhas de joelhos à volta do estádio...
"O PdC já começou a reabilitação do AVB ao dar-lhe o Dragão de Ouro, ou acham que foi só por mérito..."
Ora aqui está um ponto interessante.
O PdC já mais do q demonstrou ser extremamente calculista (e eu até acho muito bem q ele assim seja, em geral). É de facto de suspeitar portanto q com este prémio quer reabilitar o AVB porque pensa q isso lhe possa dar algum jeito no futuro (seja por dar vontade ao AVB de querer regressar, seja para reconciliá-lo nos olhos dos adeptos).
No entanto, de um ponto de vista calculista ele tb tem q pensar em dois pequenos efeitos adversos:
1) não deixa de ser um bocadinho contraproducente ter ali o AVB a receber palminhas em frente de um V. Pereira q não é exactamente popular, elevando a pressão sobre este último e podendo mesmo aumentando a contestação dos adeptos para com ele, ao lembrar-lhes dos bons velhos tempos de AVB.
2) homenagear alguém q bateu com a porta de forma unilateral passa um bocado a msg a todos os funcionários (jogadores, ...) q só têm q se preocupar com a sua carreira de forma egoísta (mesmo q saiam a mal até estão sujeitos na mesma a receber prémios e tudo).
Finalmente, pergunto: será q este prémio vai fazer alguma diferença num eventual regresso de AVB? Eu acho sinceramente q não, não era necessário de todo.
Existe uma linha de acção que Jorge Nuno Pinto da Costa sabiamente sempre soube usar: "Um homem deve ter o entendimento treinado para virar conforme os ventos da fortuna e a mutabilidade das coisas lhe ordenem (...) nunca faltaram a um «estadista» pretextos legítimos para justificar a sua falta de palavra(...) mas é indispensável saber ocultar este pendor, disfarçá-lo bem (...) se tiver o propósito de vencer os meios empregados serão sempre tidos por honrosos e louvados por todos, pois o vulgo só julga pelo que vê e pelos resultados"
José Rodrigues disse: "não deixa de ser um bocadinho contraproducente ter ali o AVB a receber palminhas em frente de um V. Pereira q não é exactamente popular, elevando a pressão sobre este último", se fossemos a aplicar este princípio nunca poderíamos premiar um treinador com um êxito formidável e que posteriormente saísse do nosso clube, porque o seu sucessor iria sentir "rebaixado" ou pressionado ao ver o êxito do antecessor galardoado.
Se Mourinho voltar ao FCP eu não esqueço umas declarações aziadas dele referentes ao nosso clube mas, desde que ele traga o espírito de vitória e êxitos e independentemente de ele fizer ou não uma - mesmo que tímida - mea culpa das anteriores declarações, aceito tal regresso.
Eu disse "e independentemente de ele fizer" mas deveria ter escrito independentemente de ele «fazer».
Quando PdC "contratou/contactou" JMP às escondidas as regras do jogo eram outras, que não as de 2004 quando JM se reuniu com o dono do Chelsea na Apúlia.
Não quero com isto dizer que vale tudo.
A relação de um profissional, assalariado, com um clube (entidade patronal), por força do próprio vínculo de trabalho, não é, nem pode ser a mesma, que se estabelece na condição de sócio ou enquanto adepto do clube. Mesmo neste tipo de relação, que é só de amor, quantos deixaram a condição de sócios por desacordo com decisões tomadas pela direcção, ou simplesmente porque o clube perdeu e a exibição foi uma “vergonha”.
Em situação semelhante à de AVB (muito estimado e tão bem tratado quanto ele foi) tenho a convicção que não sairia do FCP em iguais circunstâncias, mas não sou profissional de futebol. O mecanismo de decisão, as perspectivas, o aproveitamento de uma oportunidade que se ambiciona e pode ser irrepetível, podem alterar o que era suposto ser impensável .
Um contrato é um vínculo. A clausula de rescisão ao defender a entidade patronal contra uma rescisão unilateral, estabelece como contra-partida o direito a essa rescisão. O AVB pagou (através do Chelsea) o direito à liberdade de escolher. Outros dirão que não lhe lavou a consciência.
Pessoalmente, acho que AVB optou por sair porque entendeu que era melhor para a carreira. Já o tinha feito quando acompanhou Mourinho. E, esse é um direito que lhe assiste por inteiro, por muito que me tivesse desagradado, por entender que o seu acto poderia ser prejudicial ao meu clube.
Gosto do AVB e estou mais preocupado com o futuro. Acho muito bem que o prémio lhe tenha sido atribuído, sobretudo porque esta decisão é justa e vem na altura certa. Além disso, pode sempre ser interpretada como uma estalada de luva branca e posiciona o alvo sobre o AVB no que concerne à sua reacção a ao propósito (sério) de estar presente.
E se tivesse ido para o SLB diria a mesma coisa ? Como estou convencido que o AVB saiu do FCP para construir a sua carreira em mercados mais vantajosos, acho que nunca mudaria de cavalo para burro. Ponderar essa hipótese seria um exercício meramente académico. A sua ambição passa(va) por outros campeonatos mais competitivos e o SLB faz parte de um país pequeno que não cabe nas suas ambições nem de muitos outros que procuram lá fora o que não têm cá dentro.
Falta só esclarecer que o Sr Pedroto ficoua cumpriu o contrato até ao fim no ano em que assinou, e não começou a preparar uma pré-época noutro clube antes de mudar...
Se referisse ter-se ido em cima da hora buscar o Jesualdo ao Boavista, ai concordava...
Mas temos sempre de entrar em conta, com a hipótese de haver quem não ache bem, nem uma coisa nem outra... que é o meu caso.
Pronto, eu sei: it's a jungle out there!
Prefiro acreditar que poderia ser diferente...
Reine Margot,
fomos buscar o Jesualdo Ferreira com o conhecimento e o consentimento do Boavista, não foi à sucapa a nossa atitude, quando direcção do Boavista fez um "choradinho" de todo o tamanho e nós estavamos a desistir da contratação do Jesualdo, o Valentim filho quase que rogou para o comprarmos, o que nos leva à conclusão que o "choradinho" inicial e a vitimização do João Loureiro apenas tinha em vista conseguir mais algum dinheiro - a cláusula de rescisão/indemnização -pela venda do Jesualdo. Portanto a nossa, do FCP, abordagem foi ética e legítima - independentemente da altura em que foi feita -, já a atitude da direcção boavisteira na abordagem ao Jesualdo Ferreira ainda este estava ao serviço do SC Braga não foi nada ética, mas disso pouca gente falou e também a nós não nos interessa para nada.
Vamos cá a entendermo-nos num aspecto: era um dado adquirido no meio futebolístico que José Maria Pedroto, mais tarde ou mais cedo, regressaria ao FCP, onde já estivera, como treinador, de 1966/67 a 1968/69. Toda a gente o sabia, incluindo o fogoso Major Valentim Loureiro, na altura um figadal inimigo do FCP.
Pedroto era um homem de um só clube, e só o facto de esse clube o ter renegado o tinha feito procurar outras paragens. Aliás, lembro-me bem de, quando ele assinou pelo Boavista em 1974 (meses após se ter demitido do V. Setúbal) um amigo meu boavisteiro me ter dito: "Não pára cá muito tempo. Para onde ele quer ir, todos sabemos".
Não falemos de Mourinhos ou, até, de Vilas Boas, neste contexto. Pedroto sentia que era um homem com uma missão a cumprir: fazer ressurgir o FCP. Ao pé dele, os outros são meros anões, em termos portistas, por mais êxitos que tenham tido.
Muito bem Alexandre. Muito bem.
Já agora: diz muito bem a Reine Margot: Pinto da Costa pode ter-se reunido com Pedroto às escondidas, mas este saíu do Boavista em final de contrato.
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