Final da Taça de Portugal da época 1979/80 (fonte: Reportv dedicado a Pedroto)
«Bo, o cão-d’água português que mora na Casa Branca, usa uma coleira de cortiça por cortesia de Sandra Correia, a portuguesa de 40 anos que acaba de ser eleita pelo Parlamento Europeu como a empresária do ano 2011 no Velho Continente. (…)
César Correia, o pai de Sandra e antigo árbitro, aproveitou os conhecimentos do mundo do futebol para se tornar fornecedor dos cavas catalães e dos champagnes franceses. (…)
Durante a infância e início da adolescência era um ferrinho no Estádio da Luz, a ver treinos e jogos, pela mão do pai. “Lá em casa sempre fomos todos do Benfica” conta [Sandra], recordando o dia em que foi expulsa da aula, em São Brás de Alportel, por estar a ouvir um relato radiofónico de um jogo do clube do seu coração numa quarta-feira europeia. (…)
[Sandra] admirava Carlos Manuel, Bento e Veloso, que conheceu pessoalmente quando acompanhava o pai árbitro. (…)
[Sandra] está desde pequena habituada a lidar com jornalistas – quando andava com o pai para todo o lado conviveu muito com veteranos jornalistas de A Bola e do Record. (…)
No fim do curso, fez um estágio no Record. (…)»
in Notícias Magazine (suplemento do JN e do DN), 04/12/2011
Por vezes, é muito interessante quando as pessoas falam do passado de forma aberta, descomplexada e sem tabus, abordando facetas da sua vida que, de outra maneira, nunca seriam do domínio público. Foi isso que senti ao ler o artigo sobre Sandra Correia, publicado na revista Notícias Magazine que veio com o JN do passado Domingo.
No que ao futebol diz respeito, a infância e adolescência de Sandra Correia, filha do ex-árbitro César Correia (se não estou em erro, o primeiro árbitro algarvio a chegar a internacional), é reveladora dos meandros de um certo período do futebol português. O pai, árbitro da 1ª categoria, levava-a consigo quando ia ver jogos e treinos (!!) do seu slb, apresentava-a aos craques encarnados e os dois conviviam animadamente com jornalistas de A Bola e do Record.
Passados 30 anos, estes episódios familiares, contados de forma descontraída, mostram como o futebol português era tão puro e transparente nos anos 60 e 70… De facto, não havia qualquer tipo de promiscuidade entre árbitros, dirigentes, jogadores e jornalistas…
Ao contrário do que se passa actualmente, em que é conhecido, ou mesmo assumido pelos próprios, o benfiquismo de diversos árbitros internacionais (Olegário Benquerença, Bruno Paixão, Duarte Gomes, Pedro Proença), no tempo de César Correia eram todos do Oriental, Atlético ou Olhanense.
Deste modo, talvez por desconhecer a enorme paixão que César Correia nutria pelo slb, ou então como prémio de carreira, a FPF nomeou-o para uma das finais da Taça de Portugal mais polémicas de sempre, na época 1979/80. Vale a pena recordar este jogo, realizado a 7 de Junho de 1980, em que adeptos do SCP e do Belenenses juntaram-se aos benfiquistas no Jamor e reeditaram o célebre BSB (Benfica - Sporting - Belenenses), unindo forças contra os portistas que rumaram do Norte.
Num jogo disputado praticamente em casa, e com o apoio da “união nacional”, o slb de Mário Wilson venceu o FC Porto de Pedroto por 1-0.
No final, o inesquecível Zé do Boné, para além de se queixar de uma grande penalidade sobre Fernando Gomes que César Correia não assinalou, disparou noutras direcções:
“Perdemos o Campeonato [para o SCP] e a Taça por causa dos 'penaltys' que ficaram por marcar. Se o prejudicado fosse o Benfica julgo que estariam já marcadas manifestações de rua, pedindo a demissão do Governo. O treinador do Benfica, com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping. Gostaria, contudo, que me fosse explicado o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida e que, na minha frente e nas barbas do fiscal de linha, agrediu Lima Pereira. O circo voltou a descer à cidade. O futebol é uma selva e vou sair dela”.
Mas voltando a César Correia, e já depois de largar o apito (não sei se durante a sua carreira terá recebido algum dourado ou de outras cores…), continuou ligado à arbitragem fora dos relvados.
Um dos serviços que prestou, presumivelmente como colaborador do slb (de quem haveria de ser?), foi o de acompanhar árbitros estrangeiros quando estes vinham arbitrar jogos à Luz, tendo sido visto com Marcel Van Langenhove na casa de diversão nocturna 'Elefante Branco', após o célebre slb x Marselha (o da mão de Vata).
Também a Liga de Clubes requisitou os bons serviços de César Correia, o qual, entre 2001 e 2009, presidiu à Comissão de Análise da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (comissão de avaliação de juízes e observadores).
Após ter deixado estas funções, Cruz dos Santos, um dos veteranos jornalistas de A Bola, dedicou-lhe um texto sentido, do qual extraio a seguinte parte:
«Foi no dia 30 de Junho de 1959 que o algarvio César da Luz Dias Correia, então com 24 anos de idade, fez exame para árbitro de futebol. Ficou aprovado, fez longa e bonita carreira, ganhou paixão pela arbitragem, viu-se por ela chamado para diversos cargos, colheu várias distinções (…).
Como árbitro, César Correia não terá chegado tão longe quanto podia, porque nunca foi de “vida social”, preferiu sempre a tranquilidade de S. Brás de Alportel. Mas, mesmo assim, bem pode orgulhar-se de, numa carreira de 23 anos, ter feito os últimos nove no escalão de internacional.»
E pronto, assim se escreveu, e escreve, a história do futebol português.
César Correia, o pai de Sandra e antigo árbitro, aproveitou os conhecimentos do mundo do futebol para se tornar fornecedor dos cavas catalães e dos champagnes franceses. (…)
Durante a infância e início da adolescência era um ferrinho no Estádio da Luz, a ver treinos e jogos, pela mão do pai. “Lá em casa sempre fomos todos do Benfica” conta [Sandra], recordando o dia em que foi expulsa da aula, em São Brás de Alportel, por estar a ouvir um relato radiofónico de um jogo do clube do seu coração numa quarta-feira europeia. (…)
[Sandra] admirava Carlos Manuel, Bento e Veloso, que conheceu pessoalmente quando acompanhava o pai árbitro. (…)
[Sandra] está desde pequena habituada a lidar com jornalistas – quando andava com o pai para todo o lado conviveu muito com veteranos jornalistas de A Bola e do Record. (…)
No fim do curso, fez um estágio no Record. (…)»
in Notícias Magazine (suplemento do JN e do DN), 04/12/2011
Por vezes, é muito interessante quando as pessoas falam do passado de forma aberta, descomplexada e sem tabus, abordando facetas da sua vida que, de outra maneira, nunca seriam do domínio público. Foi isso que senti ao ler o artigo sobre Sandra Correia, publicado na revista Notícias Magazine que veio com o JN do passado Domingo.
No que ao futebol diz respeito, a infância e adolescência de Sandra Correia, filha do ex-árbitro César Correia (se não estou em erro, o primeiro árbitro algarvio a chegar a internacional), é reveladora dos meandros de um certo período do futebol português. O pai, árbitro da 1ª categoria, levava-a consigo quando ia ver jogos e treinos (!!) do seu slb, apresentava-a aos craques encarnados e os dois conviviam animadamente com jornalistas de A Bola e do Record.
Passados 30 anos, estes episódios familiares, contados de forma descontraída, mostram como o futebol português era tão puro e transparente nos anos 60 e 70… De facto, não havia qualquer tipo de promiscuidade entre árbitros, dirigentes, jogadores e jornalistas…
Ao contrário do que se passa actualmente, em que é conhecido, ou mesmo assumido pelos próprios, o benfiquismo de diversos árbitros internacionais (Olegário Benquerença, Bruno Paixão, Duarte Gomes, Pedro Proença), no tempo de César Correia eram todos do Oriental, Atlético ou Olhanense.
Deste modo, talvez por desconhecer a enorme paixão que César Correia nutria pelo slb, ou então como prémio de carreira, a FPF nomeou-o para uma das finais da Taça de Portugal mais polémicas de sempre, na época 1979/80. Vale a pena recordar este jogo, realizado a 7 de Junho de 1980, em que adeptos do SCP e do Belenenses juntaram-se aos benfiquistas no Jamor e reeditaram o célebre BSB (Benfica - Sporting - Belenenses), unindo forças contra os portistas que rumaram do Norte.
Num jogo disputado praticamente em casa, e com o apoio da “união nacional”, o slb de Mário Wilson venceu o FC Porto de Pedroto por 1-0.
No final, o inesquecível Zé do Boné, para além de se queixar de uma grande penalidade sobre Fernando Gomes que César Correia não assinalou, disparou noutras direcções:
“Perdemos o Campeonato [para o SCP] e a Taça por causa dos 'penaltys' que ficaram por marcar. Se o prejudicado fosse o Benfica julgo que estariam já marcadas manifestações de rua, pedindo a demissão do Governo. O treinador do Benfica, com o ar esfíngico que lhe é característico, lançou a pedra e escondeu a mão, suplicando controlo anti-doping. Gostaria, contudo, que me fosse explicado o comportamento do jovem e talentoso Carlos Manuel que me pareceu, estranhamente, de cabeça perdida e que, na minha frente e nas barbas do fiscal de linha, agrediu Lima Pereira. O circo voltou a descer à cidade. O futebol é uma selva e vou sair dela”.
Mas voltando a César Correia, e já depois de largar o apito (não sei se durante a sua carreira terá recebido algum dourado ou de outras cores…), continuou ligado à arbitragem fora dos relvados.
Um dos serviços que prestou, presumivelmente como colaborador do slb (de quem haveria de ser?), foi o de acompanhar árbitros estrangeiros quando estes vinham arbitrar jogos à Luz, tendo sido visto com Marcel Van Langenhove na casa de diversão nocturna 'Elefante Branco', após o célebre slb x Marselha (o da mão de Vata).
Também a Liga de Clubes requisitou os bons serviços de César Correia, o qual, entre 2001 e 2009, presidiu à Comissão de Análise da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (comissão de avaliação de juízes e observadores).
Após ter deixado estas funções, Cruz dos Santos, um dos veteranos jornalistas de A Bola, dedicou-lhe um texto sentido, do qual extraio a seguinte parte:
«Foi no dia 30 de Junho de 1959 que o algarvio César da Luz Dias Correia, então com 24 anos de idade, fez exame para árbitro de futebol. Ficou aprovado, fez longa e bonita carreira, ganhou paixão pela arbitragem, viu-se por ela chamado para diversos cargos, colheu várias distinções (…).
Como árbitro, César Correia não terá chegado tão longe quanto podia, porque nunca foi de “vida social”, preferiu sempre a tranquilidade de S. Brás de Alportel. Mas, mesmo assim, bem pode orgulhar-se de, numa carreira de 23 anos, ter feito os últimos nove no escalão de internacional.»
E pronto, assim se escreveu, e escreve, a história do futebol português.
16 comentários:
Nããããããão. Ai meu Deus.
A verdade desportiva dos tempos áureos do mais melhor clube de lisboa a ser posta em causa?
Então o clube impoluto (lol) afinal tem na sua história casos destes? Do que esta gente é capaz de dizer.
Obrigado e parabéns.
Um trabalho jornalístico(penso que o José Correia nem jornalista é) simples, lógico e de conclusões óbvias mas nunca ninguém, neste país carregado de "jornaleiros", tinha antes reparado.
Ele há coisas... que estão à vista de todos mas que não convém que se vejam.
Azar. Há quem veja e quem chame a atenção dos outros e só é pena que o Reflexão Portista não tenha mais capacidade de abrangência e que este meritório trabalho não seja mais difundido. Merecia ser lido num jornal nacional.
Para todos os da minha geração, isto que o José Correia aqui relata são apenas "trocos" em relação ao muito do que se passou.
São tantos os episódios...
Deixo mais um para exemplo: A célebre "finalíssima" da Taça de Portugal, entre FCP e SCP, roubada de forma escandalosa por um árbitro (Porém Luís ?), que no dia seguinte ao jogo, embarcou com a equipa leonina rumo à China, onde esse clube foi fazer uma digressão de fim de época!! ! Onde estavam as procuradoras Morgados e os lutadores da verdade desportiva da época??
Caros Amigos do RP: que nunca se cansem de vir até aqui recordar esses roubos para que os mais novos possam compreender porque existiu um "apito dourado" e não podem existir apitos verdes ou encarnados!
Tendo "apenas" 34 anos não vivi nada disto. Mas o excelente Reportv sobre Pedroto por acaso tinha essa famosa cena da agressão do Carlos Manuel com o fiscal de linha a olhar. Eram de facto outros tempos que infelizmente são apagados e silenciados.
E que bonito era a união dos 3 lisboetas. Ser adepto do Porto nessa altura devia ser ainda mais fantástico.
Não foi o Porém Luís, caro HULK 11M, mas sim o Mário Luís,o qual adquiriu a alcunha de "o chinês" por causa dessa viagem.
Abraço.
Recordo-me de isso e muito mais mas não quero estar a bater em mortos.
PORTO PORTO PORTO
Caro José Correia,
muito obrigado por esta bela licao de história muitíssimo interessante para os adeptos mais novos como eu que, felizmente, só conhecem o Porto esmagador e hegemoníaco dos últimos 25 anos.
Os outros podem autointitular-se do que bem entenderem, mas eu que vivo no estrangeiro, sei bem qual é o único clube Portugues que é respeitado e admirado por essa Europa fora.
Abraco e continuacao do excelente trabalho.
Que grande categoria de post, Zé.
Excelente texto José Correira! Já tinha lido o texto do ABoronha e com 33 anos confesso que desconhecia estas pérolas do passado...
Todos ao Dragão, que hoje joga o nosso PORTO
Cumprimentos!
Alexandre Burmester disse...
Não foi o Porém Luís, caro HULK 11M, mas sim o Mário Luís,o qual adquiriu a alcunha de "o chinês" por causa dessa viagem.
Nessa viagem à China foram os dois, o Porém Luís (AF Leiria) e o Mário Luís (AF Santarém).
Esta história foi contada nos primórdios do 'Reflexão Portista', em 19/03/2008, numa altura em que andei, durante umas semanas, a publicar o 'Dicionário do Sistema' (ficou muito incompleto).
Pode ser relida em:
http://reflexaoportista.blogspot.com/2008/03/dicionario-sistema-mario-luis.html
Agradeço os elogios ao texto que publiquei, mas o importante é não deixarmos que se branqueie, ou reescreva, a história do futebol português.
A visão que a comunicação social lisboeta tenta propagar, de que os "bons", os bacteriologicamente puros, estão na capital e que os "maus" são os malandros do Norte, além de falsa é muito perigosa.
Enquanto houver 'Reflexão Portista', irei continuar a denunciar e a relembrar aquilo que outros tentam esconder.
José Correia: excedeu-se!!!!
Extraordinário "apanhado" e extraordinário post. Parabéns.
Com os devidos créditos, vou copiar para o meu blogue, mais, vou divulgar por e-mail para todos os meus contactos Dragões.
Na realidade, este "boneco" demosntra de forma fiel aquilo que alguém apelidou, "fazer as coisas pelo outro lado"...
Magnífico, extraordinário e ....
Um abraço!
Aqui ha uns tempos um blog publicou uma sequencia de textos sobre o Calabote.
Acho que seria interessante juntarem-se historias deste tipo e manter um arquivo vivo a lembrar como funcionava e ainda funciona o sistema.
Sendo verdade que o Benfica tem largos milhoes de adeptos e obvio que num pais da dimensao de Portugal a sua influencia impregne toda a estrutura desportive, politica e social portuguesa. Isto cria desiquilibrios obvios a favor do Benfica e seria importante que o peso dessas influencias fosse reconhecido e reduzido oficialmente.
Jorge disse...
Aqui há uns tempos um blog publicou uma sequência de textos sobre o Calabote.
Não terá lido esses textos aqui, no 'Reflexão Portista'?
Ver:
http://reflexaoportista.blogspot.com/2009/03/o-caso-calabote-x.html
Hulk o gajo mais fraco que já vi jogar no dragão, e o que merece mais atenção por toda a gente, nunca me enganou, esse gajo vale zero, marca grandes golos, claro, a rematar mais de 20 vezes à baliza alguma terá forçosamente de entrar. Vendam esse gajo, ele não vale 5 milhões, 100 milhões é paródia.
Cesar da LUZ!Percebem?Cesar da LUZ!!!
Então?Querem que faça um desenho?
Cesar da Luz,Valente da Luz,Lucilio da Luz!
E que tal Nuno Luz para completar o ramalhete?
Já sei!O nuno não é árbitro!Ainda bem...
Tambem temos um free picks "picks= a porcos em amaricano" que de certeza tambem é da luz!
Agora vou apagar o candeeiro!Boa noite!
Obrigado pela lição de história. Nunca a esquecerei. Farei a minha parte e vou divulgá-la, garanto.
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