«O nó do problema reside na incapacidade demonstrada pelos nossos governantes – de Soares a Passos, passando por Cavaco, Guterres, Durão, Lopes e Sócrates – em sequer verem que o pecado original está na estratégia de concentrar todos os recursos na capital, na esperança que essa locomotiva reboque o resto do país, o que nunca acontecerá porque Lisboa já há muito que está desengatada das outras carruagens do comboio português.
Quando se está no Terreiro do Paço perde-se a perspectiva do resto do país, que passa ao estatuto secundário de paisagem (ou província). O resultado é o acentuar das desigualdades internas.
Quem olha para o país de fora de Lisboa já percebeu que a chave para o desenvolvimento consiste em repensar tudo e apostar numa cobertura equilibrada do território nacional.»
Jorge Fiel (JN, 27/12/2011)
«Na distribuição de recursos e de benesses, quem está próximo do Terreiro do Paço tem sempre direito a um maior quinhão; quem está próximo consegue influenciar as decisões; quem está perto consegue obter os cargos que, depois, determinarão os destinos do país, acentuando os desequilíbrios. (…) Foi assim sempre ao longo da história, tem sido assim desde o 25 de Abril. (…)
Para isso contribuiu, também, muita da classe política do Norte, que resulta desse modelo, e que sabe que a sua carreira depende, em larga medida, da sua subjugação aos interesses da capital. Tudo isso só é possível porque o Porto, em vez de se fazer voz diferente, e de representar o resto do país, também se imaginou capital. E, falhado esse processo inexequível, que morreu com o fracasso da regionalização, embrenhou-se em querelas, deixou-se ficar pelo queixume surdo, e não cuidou de se unir para fazer frente à afronta. Só assim se compreende que não se reconheça o papel único e motivador de instituições como o FC Porto. Só assim se entende que um putativo candidato à câmara da cidade critique o Metro do Porto. Só assim se percebe que a população, e em particular a sua elite, não exerça o poder que tem à sua disposição. Numa civilização em que o consumo é rei, estou à espera do dia em que um banco que faz a aquisição de outro, que era do Porto, e que obriga os seus trabalhadores portuenses a migrarem para a capital como alternativa ao despedimento, veja os portuenses acorrerem aos seus balcões para levantarem os seus depósitos. Quando isso acontecer, o dragão da cidade cantará de galo e, acredito, ninguém o calará.»
Rui Moreira (JN, 01/01/2012)
Os textos anteriores são extratos de crónicas recentes de Jorge Fiel e Rui Moreira, publicadas no Jornal de Notícias.
Com a “morte” por asfixia (financeira) do Comércio do Porto e do Primeiro de Janeiro, e os projetos ainda imberbes do Porto Canal e do semanário Grande Porto, o JN transformou-se numa espécie de aldeia gaulesa da comunicação social, sendo um dos últimos redutos onde ainda são denunciados os abusos centralistas e se podem ler cronistas desalinhados dos cânones ditados pela capital do ex-Império.
Contudo, se o JN se tornar demasiado incómodo, corre o risco de ser esmagado pelo poder imperial de Olissipo. Por exemplo, seria interessante que fosse divulgado o montante gasto em publicidade no ano passado, nomeadamente pelo Estado e ex-empresas do Estado (PT, EDP, …), em cada um dos jornais diários generalistas. Além disso, é sabido que Joaquim Oliveira (o dono do JN) vive em Lisboa, gosta de jogar golfe e tem interesses que vão muito para além dos jornais…
Sobram os consumidores, conforme salientou Rui Moreira no final da sua crónica de ontem. Somos nós, com as nossas decisões (escolha de um canal, compra de um jornal, etc.), que podemos ser a “poção mágica”, que dá força e ajuda o JN (e o Porto Canal e o Grande Porto) a resistir às “legiões imperiais”.
Quando se está no Terreiro do Paço perde-se a perspectiva do resto do país, que passa ao estatuto secundário de paisagem (ou província). O resultado é o acentuar das desigualdades internas.
Quem olha para o país de fora de Lisboa já percebeu que a chave para o desenvolvimento consiste em repensar tudo e apostar numa cobertura equilibrada do território nacional.»
Jorge Fiel (JN, 27/12/2011)
«Na distribuição de recursos e de benesses, quem está próximo do Terreiro do Paço tem sempre direito a um maior quinhão; quem está próximo consegue influenciar as decisões; quem está perto consegue obter os cargos que, depois, determinarão os destinos do país, acentuando os desequilíbrios. (…) Foi assim sempre ao longo da história, tem sido assim desde o 25 de Abril. (…)
Para isso contribuiu, também, muita da classe política do Norte, que resulta desse modelo, e que sabe que a sua carreira depende, em larga medida, da sua subjugação aos interesses da capital. Tudo isso só é possível porque o Porto, em vez de se fazer voz diferente, e de representar o resto do país, também se imaginou capital. E, falhado esse processo inexequível, que morreu com o fracasso da regionalização, embrenhou-se em querelas, deixou-se ficar pelo queixume surdo, e não cuidou de se unir para fazer frente à afronta. Só assim se compreende que não se reconheça o papel único e motivador de instituições como o FC Porto. Só assim se entende que um putativo candidato à câmara da cidade critique o Metro do Porto. Só assim se percebe que a população, e em particular a sua elite, não exerça o poder que tem à sua disposição. Numa civilização em que o consumo é rei, estou à espera do dia em que um banco que faz a aquisição de outro, que era do Porto, e que obriga os seus trabalhadores portuenses a migrarem para a capital como alternativa ao despedimento, veja os portuenses acorrerem aos seus balcões para levantarem os seus depósitos. Quando isso acontecer, o dragão da cidade cantará de galo e, acredito, ninguém o calará.»
Rui Moreira (JN, 01/01/2012)
Os textos anteriores são extratos de crónicas recentes de Jorge Fiel e Rui Moreira, publicadas no Jornal de Notícias.
Com a “morte” por asfixia (financeira) do Comércio do Porto e do Primeiro de Janeiro, e os projetos ainda imberbes do Porto Canal e do semanário Grande Porto, o JN transformou-se numa espécie de aldeia gaulesa da comunicação social, sendo um dos últimos redutos onde ainda são denunciados os abusos centralistas e se podem ler cronistas desalinhados dos cânones ditados pela capital do ex-Império.
Contudo, se o JN se tornar demasiado incómodo, corre o risco de ser esmagado pelo poder imperial de Olissipo. Por exemplo, seria interessante que fosse divulgado o montante gasto em publicidade no ano passado, nomeadamente pelo Estado e ex-empresas do Estado (PT, EDP, …), em cada um dos jornais diários generalistas. Além disso, é sabido que Joaquim Oliveira (o dono do JN) vive em Lisboa, gosta de jogar golfe e tem interesses que vão muito para além dos jornais…
Sobram os consumidores, conforme salientou Rui Moreira no final da sua crónica de ontem. Somos nós, com as nossas decisões (escolha de um canal, compra de um jornal, etc.), que podemos ser a “poção mágica”, que dá força e ajuda o JN (e o Porto Canal e o Grande Porto) a resistir às “legiões imperiais”.
7 comentários:
Já há alguns anos, entre os jornalistas, corre o rumor que o JN pode mudar-se para Lisboa. Ou que pelo menos isso faz parte de um plano a médio prazo de J.Oliveira para concentrar todas, ou a maioria, das empresas do grupo debaixo de uma única sede.
O comentário de Rui Moreira parece-me merecedor de um vasto forward aos cidadãos do Porto e arredores.
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Desporto/Interior.aspx?content_id=2216389
Depois de terminar o ano a dar o Liverpool na liderança da Liga inglesa, a par do Chelsea!, começa o ano com mais um erro num título do online.
Esta Imprensa é uma vergonha, José Correia, mas cada um acredita no que quiser.
O JN está morto e apenas resiste em memória pelo que já foi. Não se impõe no seu círculo mais próximo, é irrelevante a nível nacional e definha com tudo o que está à volta dele.
A entrevista a PdC nem sequer teve um resumo escrito, ficou o vídeo para quem tivesse paciência de ouvir a banalidade anual do presidente.
Parece que o "preferido" do governo foi o .... lisboeta correio da manhã. Foi esta espécie de papel de embrulho de peixe que mais dinheiro recebeu do estado para publicidade...
O CM é o diário de maior tiragem em Portugal, KOSTA DE ALHABAITE, pelo que me parece normal ser o que mais publicidade estatal recebe.
@Zé Luís
Uma coisa são as deficiências dos jornais ou, se preferires, a falta de qualidade de alguns (muitos) jornalistas.
Outra coisa são as linhas editoriais, os destaques de 1ª página, a selecção das notícias ou a escolha dos comentadores. É neste aspecto que eu digo que o JN é uma espécie de aldeia gaulesa da comunicação social, principalmente desde que a nova Direcção (liderada por Manuel Tavares) assumiu as redeas do jornal.
Alexandre Burmester disse...
O CM é o diário de maior tiragem em Portugal, KOSTA DE ALHABAITE, pelo que me parece normal ser o que mais publicidade estatal recebe.
Será esse o critério? Se for, gostava de ter acesso aos números, quer das tiragens médias mensais, quer dos valores da publicidade.
Uma boa parte da publicidade de empresas estatais (ou empresas privadas de capital público) é feita por empresas de publicidade, através de concurso público.
A distribuição de meios, é feita igualmente através de empresas especializadas na definição da estratégia, negociação e compra de espaço e tempo nos media, igualmente através de concurso público.
São, regra geral, estas empresas que fazem o boneco, o story board, o jingle e estabelecem quais os media que vão receber a campanha, em que data, em que período horário, em que blocos publicitários e em que página.
Estas campanhas têm preços subsidiados nos canais públicos, e nos restantes meios decorre das negociações que as empresas de publicidade conseguem.
Obviamente que o preço, mais a quantidade de inserções, mais os ratings (retorno estimado da campanha), constituem os dados essenciais para a decidir a entidade que vai distribuir a campanha.
Poder haver batotice, convivi com ela, mas o ambiente tem vindo a purificar-se, tanto quanto julgo saber.
Esta tipo de campanhas (de uma boa parte delas, pelo menos) reclama ainda uma % do investimento nos meios locais : rádio e imprensa.
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