segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Estrangular o futebol dos pequenos

A FIFA revelou nesta sexta-feira que o comité do organismo para o futebol, liderado por Michel Platini, presidente da UEFA, solicitou “a criação de regulamentos que proíbam a propriedade por parte de terceiros” dos passes dos jogadores.

Esta notícia vinha publicada na edição online do PÚBLICO de Sábado. E não surpreende ninguém.

Michel Platini é uma figura que divide opiniões como dirigente (menos como futebolista). É, sobretudo, um excelente político com máscara de figura desportiva. Cresceu ao lado de Sepp Blatter, nesse antro de mafiosos que é a FIFA. Foi o seu homem forte na luta contra Johansson, um dos amigos mais íntimos de Pinto da Costa e da maioria dos homens do G14, e venceu. A partir de então a sua atitude com os clubes que entravam nesse grupo foi fria, distante e tensa em muitos casos. Salvo casos pontuais, como o Barcelona, que se afastaram do modelo original para aproximar-se da sua gestão presidencial, os clubes do G14 tiveram dificuldades com a UEFA nos últimos oito anos. O FC Porto, um dos que mais. Tivemos de sofrer as ameaças do francês, sem nenhum critério legal, e seguramente que Platini não se esquece do que teve de suar para vencer os azuis e brancos na polémica final de Basileia.


A gestão de Platini de devolver o futebol aos adeptos tem tido aspectos positivos.
Na sua luta contra os grandes, apostou num novo formato de Champions League que abre mais a porta à fase final a clubes campeões nacionais dos seus modestos países, ao livrarem-se de disputar o play-off final com os quartos ingleses, espanhóis  alemães e terceiros das ligas portuguesas, italianas ou francesas. Com gestos como esse (e o Euro 2008 e 2012, e as finais europeias que começam a chegar ao leste do continente), assegurou os votos para a reeleição e vendeu a ideia de ser um presidente dos mais fracos. Mas  como negociador nato que é, nunca se afastou em demasia dos países grandes. Não é por acaso que Londres recebe duas finais da Champions em três anos. Que Munique, Madrid, Paris e Moscovo tenham sido eleitas antes. Que os milhões da Champions sejam cada vez mais para cada vez menos e que o dinheiro investido na Europe League - a liga dos pobres - seja cada vez mais insignificante.

Platini quer chegar à FIFA e quer chegar com o apoio dos grandes. Precisa de sentir-se respaldado pela ECA, pela elite do futebol europeu e não apenas pelos clubes de países pequenos e sem expressão mundial. Por isso a nova medida vem apenas confirmar a sua deriva política. Acabar com a co-propriedade, algo que já existe nas ligas inglesa e francesa, é uma estocada de morte na ambição de muitos desses clubes. Os portugueses, por exemplo.

Com a situação actual de mercado, é cada vez mais difícil aos clubes como o FC Porto competirem com os milhões dos históricos do continente e com as novas fortunas do leste. A co-propriedade tornou-se numa ferramenta possível para comprar jogadores incomportáveis a preço total e também para aliviar o passivo quando a necessidade de cash flow se tornava iminente e aparecia um fundo qualquer para comprar uma pequena parte do passe de um jogador promissor. Sem esse mecanismo, não se enganem, não existia futebol profissional em Portugal. E em muitos países do Mediterrâneo. Em Itália a co-propriedade entre clubes é habitual desde os anos 90. Em Espanha, a esmagadora maioria dos clubes não detém o 100% do passe dos seus melhores atletas. Falar da Grécia, Chipre, Turquia, países eslavos e centro-europeus é apenas repetir a mesma história. A co-propriedade permite-lhes manter o pulso sem asfixiar-se (ainda mais) financeiramente. Sem ela, a Superliga europeia torna-se inevitável.

A missão de Platini nos últimos anos como presidente da UEFA é abrir caminho para essa realidade.
Abolir a co-propriedade significa dar aos clubes ingleses, alemães, russos, ucranianos e à elite espanhola, francesa e italiana, o domínio exclusivo e absoluto do futebol europeu. Deixa de haver margem de manobra para qualquer desafio externo. O FC Porto, como tantos outros, desapareceria entre o passivo acumulado e a venda dos seus activos para não acabar. Sem jogadores top não há performances top, não há ameaça, não há vitórias ao PSG, não há gestas como 2004. Não há nada.



Pessoalmente sou contra o modelo da co-propriedade. Absolutamente contra a entrada de fundos e empresários, muitas vezes para lavar dinheiro, no futebol gerido por um clube independente.
Mas também sou contra os salários praticados de forma infame pelos donos da pasta árabes e russos. Também sou contra a Lei Bosman, tal como está actualmente, e sou contra o modelo de distribuição de lucro das provas europeias desenhado pela UEFA.
Ou se é contra tudo ou a favor de tudo. Por um lado, se tudo isto fosse revisto, o futebol voltaria a ser mais igualitário  mais justo, mais divertido. Mas aos grandes isso não lhes interessa nada. O caminho é o oposto, aumentar ainda mais os desafios aos pequenos, roubando-lhes os melhores jogadores sem limite (mesmo que seja para preencher o banco), pagando-lhes fortunas impensáveis, ficando com números impensáveis de pagamentos por parte da UEFA e do império televisivo que vive à sua sombra. Acabar com a co-propriedade é só facilitar que os James, Jackson, Moutinho, Alex Sandro, Fernando, Danilo sejam suplentes do PSG ou do Shaktar em vez de serem jogadores do FC Porto.

É mais um golpe baixo e sujo, mais uma jogada muito bem pensada por parte da elite europeia. A tornar-se real - e ninguém duvida que Platini tem o poder necessário para lográ-lo - poderia ser também o fim do FC Porto como um potentado europeu. E talvez o fim do profissionalismo, tal como o conhecemos, do futebol do sul da Europa. Estejam atentos!

30 comentários:

Zé Luís disse...

Ó Miguel, como é que consegues meter tudo no mesmo saco? Contra isto e aquilo, a favor disto e daquilo, contra o poder do capital e contra o fair-play financeiro que se pretende implementar. O problema são os magnatas que põem dinheiro aqui e ali? Então o Sporting também não ia arranjar russos? E o Benfica chineses? O Porto não pode piscar o olho a árabes? Que oportunidades têm os outros que não têm os tugas?

Isto é uma cabala ou mixórdia de grelos com nabos (parece tudo igual e, contudo...) O PLatini quer ir para a FIFA aniquilando a UEFA? A sério? Alarga a base de campeões na Champions e quer empobrecer os clubes? Vai pedir contas a PSG e Real Madrid e beneficia os mais fortes? Não é um bocado cedo para dizer isso, além de compulsivamente "contra" só porque sim? Então o engrandecimento da Champions, para dar mais dinheiro, é à custa do empequenecimento geral?
Que comprimidos andas a tomar?

(até tenho evitado comentar o que seja em qualquer lado, mas agora não resisti, apesar de logo no início perceber o que vinha aí. Mas a cada um a sua)

DC disse...

Estou completamente em desacordo com este texto. O fim das co-propriedades com empresários (muito diferente do que acontece em Itália), vem prejudicar sim, os empresários e companhia que anda a roubar autenticamente os clubes.
Se o Porto deixa de poder comprar alguns jogadores tão caros, também se calhar deixará de pagar em comissões o que podia gastar em mais 2 jogadores.
E se calhar assim vão acabar aqueles negócios em que vendemos a um fundo dum paraíso fiscal uma percentagem do passe do Moutinho ou Fucile e passado 3 meses vamos lá comprar essa percentagem por mais dinheiro (alguém tem duvida que isto é para encher os bolsos a alguém?).

Antes das co-propriedades o Porto já era grande e continuará a sê-lo. Baía, Jorge Costa, Carvalho, Deco, Derlei, McCarthy, etc, etc, etc não vieram em co-propriedade. E presentemente o Atsu ou o Abdoulaye também não, só para exemplificar como um bom scouting pode descobrir excelentes jogadores sem andar a encher bolsos a oportunistas e mafiosos.

Anónimo disse...

Caro Miguel,
entendo o teu ponto de vista mas acho que a medida acaba por ser positiva. Eu até ia mais longe: acabava com o actual modelo e apenas permitia que o "passe" dos jogadores apenas pudesse ter 2 opções de posse:
- o Clube com 100%
- o proprio jogador com 100% (free agent).
Assim acabavam as negociatas entre empresarios e jogadores comprados às prestações que apenas servem por encarecer os mesmos e, aí sim, asfixiam os clubes.
As compras teriam que ser SEMPRE entre clubes ou entre Clube-Jogador, cortando com o "intermediário".
O papel do empresário seria o que sempre deveria ser.... conselheiro do joagdor e não parte interessada do mesmo.

Aprecio muito o modelo da NBA ou da NFL... lá o fairplay financeiro é levado a sério e o modelo de "drafting" por exepmlo, é, pelo menos, uma boa tentativa de nivelar as competições.

Um Abraço
JP

Miguel Lourenço Pereira disse...

Zé Luis,

Não sei quais são, mas de certeza que não estão caducados ;-)!

A política da UEFA nos últimos anos tem mudado radicalmente daquela aplicada por Platini nos primeiros anos. Parece-me evidente. O Fair Play Financeiro, como explicam bem no Swiss Ramble, um bom blog que estuda as finanças dos clubes, tem formas de ser contornadas que os grandes investidores começam a encontrar. Acabarão por levar adiante clubes médios altos à primeira infracção mas duvido que os Real, Barça, City ou Utd sejam punidos realmente.

Que o Platini quer ser presidente da FIFA parece que também não é segredo e que o quer ser com o apoio dos clubes grandes também não, apesar de até há pouco ter sustentado a sua presidência precisamente nas federações médias e pequenas. Ou talvez sou só eu a imaginar que o Euro 2008 e 2012 e a transferência da Supertaça Europeia para Praga, entre outras medidas, é casualidade pura.

Eu repito o que disse, estou contra o sistema actual de co-propriedade. CONTRA!
Mas também estou contra outras medidas que beneficiam os clubes grandes e abrem o foço ainda mais, seja numa esfera nacional - como a negociação de contratos televisivos - seja no plano europeu. E esta medida, nos primeiros anos, vai permitir isso mesmo, abrir o fosso entre os clubes que subsistem desta forma e se mantêm competitivos a nível europeu e os que não precisam disso para ganhar.

A isso Zé, chama-se desvirtuar a competição. Nada mais!

um abraço

Miguel Lourenço Pereira disse...

DC,

Se calhar vou ter de me repetir em cada comentário, mas não faz mal: eu estou contra o modelo actual, abomino a ideia da co-propriedade e o dinheiro que se paga em comissões a empresários e fundos fantasmas. Deixemos isso claro.

Mas como digo no texto e no comentário anterior, não se trata de estar a favor ou contra, trata-se de entender que esta medida tem como principal objectivo beneficiar os clubes grandes do futebol europeu, livrá-los da concorrência directa de clubes médios, com meios mais modestos, como é o nosso caso, e permitir contratar jogadores que nós só podemos ter dessa forma, com maior facilidade.

O FC Porto foi, é e será sempre grande mas a dinâmica do mercado altera-se. Para seres grande hoje, para vencer a Europe League em 2011, foi fundamental o modelo de co-propriedade. Senão quem tinha dinheiro para pagar e ter, ao mesmo tempo, Hulk, James, Moutinho e Falcao? Quem poderia ter o plantel actual, com Danilo, Alex, James, Jackson ou Moutinho? É impossível face à realidade financeira do futebol português.

O futuro está na formação, já perdi a conta ás vezes que o disse, mas os Ba, Atsu e companhia precisam de tempo e não o têm se tiverem de pegar na equipa ás costas já. Eu sei que o modelo de co-propriedade é nefasto, mas enquanto a UEFA não aplicar o modelo 6+5 que limite a compra de estrangeiros para encher o banco, não aplicar de forma realista o Fair Play Financeiro e não alterar o rendimento gerado pelas provas europeias, esta medida só vai abrir ainda mais o buraco que já existe.

Contra o PSG vencemos, sem esses jogadores que citei teriamos ganho? Não me parece e a eles também não, por isso estão por detrás de medidas como esta.

um abraço

Miguel Lourenço Pereira disse...

JP,

Faço minhas as minhas palavras anteriores.
Concordo plenamente com tudo isso e lembro que os empresários ficam com dinheiro de todos. Na Premier League, há uns anos, um estudo declarou que forma pagos a agentes mais de 110 milhões de libras em comissões. Não é só aqui. Mas os grandes clubes europeus não têm jogadores em co-propriedade, isto não lhes afecta.

Eu não tenho culpa do meu clube pertencer a uma liga manhosa, sem direitos televisivos lógicos, sem receitas publicitárias de jeito, que perde todos os anos os melhores jogadores porque o Zenith, o City, o PSG ou o Desportivo de Turim possam ter 20 jogadores estrangeiros a serem pagos principescamente porque a UEFA não se atreve a meter com eles e obrigá-los a usar 6 jogadores formados no país/clube, a ter um tecto salarial lógico que nivele a competição e a distribuir os direitos das provas europeias de uma forma mais lógica para todos. Esse é o problema!

abraço

DC disse...

Jackson não está em co-propriedade, por exemplo.
Falcao também não veio em co-propriedade tal como Moutinho (o negócio com o Sporting é diferente).
E quanto à sua pergunta digo-lhe, sim podíamos perfeitamente ter no plantel Hulk, James, Moutinho e Falcao sem as co-propriedades.
Se formos a ver os preços pagos inicialmente por esses jogadores (5,5 por Hulk por 50%, 5 por 70% de James, 10 por Moutinho e 3 por Falcao) veríamos que para o Porto ter comprado a totalidade desses jogadores teria que gastar cerca de 30 milhões de euros.
Assim, acabou por gastar só com o Hulk 20 e tal milhões. Se formos a ver o que se pagou em comissões sempre que se comprava mais um bocadinho do passe, só o Hulk deve ter chegado aos 30 milhões.
E se formos buscar os negócios anteriores de Lisandro, Lucho, etc veríamos que o Porto teria muito mais lucro se tivesse sempre comprado a totalidade dos passes em vez de percentagens.

Único problema, obviamente, é que para isso seria necessário talvez mais dinheiro em caixa do que tínhamos, mas entre andar a comprar bocadinhos dos passes cada vez mais caros e pedir empréstimos para efectuar uma compra não vejo porque não optar pelos empréstimos. E se formos a ser justos, com o dinheiro que entrou no tempo da saída de Mourinho e companhia para o Chelsea, havia dinheiro para todas estas transacções pela totalidade do passe.

E já agora, porque não optar por pagamentos faseados (à Zenit) em vez de compras de percentagens?
É que quem ganha com isto são sempre os mesmos, os empresários!

Miguel, percebo que diga que o Porto perde competitividade com esta medida, mas não concordo. Com uma gestão mais séria, com um combate aos interesses dos empresários, o Porto só ganha com isto.
Se tiver dados e tempo, contabilize quanto dinheiro o Porto perdeu com estas compras de percentagens e respectivas comissões. Não valia a pena o risco de comprar a totalidade do passe?

Dany disse...

Só estamos a ver o caso dos "grandes" nacionais... Então e os pequenos? Acham justo termos Hulk, James, Ramirez, Garay, Van Wolfs, et.,etc... quando os Moreirenses, Paços de Ferreira, Guimarães, etc. não têm acesso a estas negociatas??? ACHO MUITO BEM que se acabe com esta chucha de empresários e clubes "grandes" nacionais, pois assim deixamos de olhar para o problema apenas para cima, para os verdadeiramente grandes europeus. Internamente seria mais justo! Quanto aos "jogadores-promessa", se fossem para "os bancos do Real, Barça, M.Unt, etc., haviam de sobrar muitos com qualidade e vontade de mostrar serviço cá. E o nosso scouting é melhor que o deles... Dizem que este "futuro" modelo é injusto para os menos grandes e periféricos, e que benificia os poderosos, ao que eu pergunto: E como é hoje? Quem é que ganha as grandes competições? Não são sempre os mesmos (com umas excepções que continuarão de 10 em 10 anos). O actual modelo está PODRE, e agora sim, clubes como o SCP, que os bons (razoáveis) jogadores só têm 5 a 20% do passe, estão tramados pois não podem vender ninguém, pois nada ganharão com isso, e se tivessem 100% (mesmo que 2 ou 3 jogadores não tivessem cá) seria melhor para eles. Mas percebo a "resistência à mudança", está no nosso ADN... Abraços

Miguel Lourenço Pereira disse...

DC,

Eu sei que não estão. Não é esse o ponto.
Um clube como o FCP perde muito dinheiro com os empresários, com os fundos e com as vendas e recompras de jogadores. Isso é certo e contra essa realidade estou totalmente contra. Por isso defendo a aposta no mercado interno e na formação, onde o papel do empresário é sempre menos influente. Aí estamos, creio, todos de acordo.

Mas a realidade é que há um passivo muito sério. Que há uma ficha salarial no plantel significativa para uma liga que dá muito pouco lucro. Todo o dinheiro que permite manter a nave a flutuar vem da Champions e vem da compra-venda de jogadores. Essa realidade tem sido a nossa nos últimos 8 anos mais do que nunca. E esses jogadores são controlados por empresários, por fundos, pertencem a mercados onde essas figuras imperam, directa ou indirectamente. E não é só no Brasil.

Isso obriga a que o FCP negoceie com estas pessoas e são eles, muitas vezes, que não quer vender o passe a 100%. Não é do seu interesse. Se o tiverem de fazer, asseguro-te que vão subir o valor porque perdem a margem de manobra de negociação. E pelos bons jogadores haverá sempre alguém que pague, sim ou sim. Em vez de pagar 8 pelo 80%, acabará por ter de pagar 12 pelo 100%. Vai ser assim, já o é em Inglaterra onde os preços dos jogadores estão constantemente inflacionados.

Isso o que vai obrigar o clube a fazer é comprar menos, reduzir ao máximo a sua margem. Em vez de ter 5 jogadores top, terás 2, máximo 3. Como foi antes de 2004, com a diferença de que aí eram tudo jogadores do mercado interno e da formação. O mercado interno desaparece progressivamente e a formação também. Até os dois voltarem a existir, não tens absolutamente nada nas mãos.

É ilusório pensar que os jogadores que vieram a percentagens é só fazer as contas para calcular o preço final. Porque não seria igual. Da mesma forma que os empresários que trabalham com os fundos continuarão a cobrar comissões e cobrarão mais ainda porque perdem a margem de lucro fácil que estão a ter. E depois há a falta do cash flow. Esses fundos têm salvo muitas equipas recomprando percentagens de passe com cash flow que paga salários, que mantém os clubes vivos, incluindo o nosso. Essa é a dura realidade.

Quanto aos pagamentos faseados, eles existem, mas o clube que negoceia tem de os querer e os clubes onde nós vamos são como nós, mas em pequeno, precisam do dinheiro para viver e querem-no logo. E nós, quando necessitamos vender, desesperados, aceitamos tudo o que nos dão e por isso aceitamos pagamentos faseados. Isso acontece e acontecerá sempre porque temos uma base financeira débil como é inevitável na nossa liga.

O FCP com esta medida não perde só competitividade a médio prazo. Perde também uma das muletas com que se mantém de pé financeiramente. E sem jogadores de calibre perderá rapidamente a segunda, o dinheiro da Champions, porque não passas a fase de grupos só com o Castro, Defour, Atsu, Iturbe, Kleber e Ba. E sem as muletas cai. E temos um problema bem mais sério.

É preciso ser realistas, ainda que a ideia, na sua base, me pareça totalmente justa. Mas como digo, esta e outras, que só prejudicam os grandes, e por isso vão ficando na gaveta!

DC disse...

Miguel, de acordo em quase tudo. Mas o que você disse representa muitos dos defeitos da gestão do Porto nos últimos anos que se traduzem no sufoco financeiro actual.
Há muitos clubes que pura e simplesmente não negoceiam com empresários (Barcelona por exemplo), há muitos clubes que quando se falam em comissões pura e simplesmente abortam os negócios.
O Porto está numa situação aflitiva ao nível de cash-flow muito por causa disso e daí o apresentar-se normalmente numa posição mais frágil ao negociar, tendo que inclusivamente cometer o acto ridículo de pagar comissões não só para comprar mas também para vender.

A gestão do Porto tem muitos elogios a receber, ao nível de títulos, ao nível do scouting, etc, etc, etc, mas há também defeitos a corrigir e para mim o principal é esta relação com empresários e fundos.
E portanto, não considero que esta medida vá tirar competitividade ao Porto, vai sim, na minha opinião, obrigar a gestão a fazer abordagens diferentes. Se o jogador X tem um empresário mafioso, há no mercado o jogador Y, Z... Como se vê por exemplo no caso Iturbe-Atsu, não é a imprensa que faz um jogador. O scouting do Porto tem competência para descobrir grandes jogadores sem ter que se ajoelhar perante a máfia dos empresários.
Eu penso que com esta medida haverá muito mais transparência no futebol e haverá muito mafioso a deixar de viver à nossa custa, os adeptos.
Mas obviamente espero que esta medida seja acompanhada por outras medidas relativas ao fair-play financeiro.

Silva Pereira disse...

Boa noite,

parece-me que muitos autores dos comentários não compreenderam ou então não leram com atenção.

Eu estou de acordo com o texto o seu autor demonstrou ser conhecedor e pertinência. continue assim, pois são textos com ideias que são importantes para se compreender os interesses dos poderosos.

Eu escrevi na altura da queixa dos vermelhuscos ao mafioso do Platini, que um dia iriam ter o pagamento, ora nem de propósito temos os clubes do regime sobre a alçada da UEFA, agora já não batem palmas com o bateram no ano passado da queixinha do M City.

Esta gentinha ainada não percebeu que há 2 pesos e 2 medidas.

Cumprimentos

Cumprimentos

José Correia disse...

Lendo o texto do artigo e depois os comentários adicionais, parece-me que o Miguel Lourenço Pereira está a fazer uma análise fria e bastante realista da situação.

Guardem o link deste artigo e voltem cá daqui a uns meses.

Alexandre Burmester disse...

Basicamente, nesta questão da propriedade conjunta dos passes dos futebolistas, o que interessa não é saber se ela beneficia os pobres, os remediados ou os ricos, o mesmo se dizendo da sua eventual abolição. O que interessa, de facto, é que haja transparência nos negócios do futebol e que sejam impedidas situações de potencial conflito de interesse.

Não nutro qualquer simpatia - bem pelo contrário - por Michel Platini mas, neste caso, acho que devemos dar-lhe o benefício da dúvida e não procurarmos adivinhar o que lhe vai na cabeça.

José Rodrigues disse...

Quanto ao impacto disto no FCP, cá eu acho que "The jury is still out"...

Miguel, não é liquido que o FCP fique impedido de ter 3 grandes jogadores ao mesmo tempo; é q mesmo com esta medida isso ainda será possível se se cortar em contratações secundarias, onde gastamos balurdios todos os anos.

Miguel Lourenço Pereira disse...

@DC,

Acho que estão a confundir conceitos. Esta legislação não acabará com os empresários como intermediários nem com as comissões. Acaba com a co-propriedade com empresários e fundos, que é bem diferente.

Muitos dos jogadores, para não dizer todos, chegam e continuarão a chegar com altas comissões porque é a natureza do negócio, tanto por culpa deles como da SAD que entra no jogo. Já critiquei muitas vezes a SAD por isso, não é segredo, mas não é isso que me preocupa agora mesmo.

E continuo a dizer, eu sou a favor da medida, sim, mas acompanhada de outras que não impeçam o desnivelar definitivo da balança desportiva.

um abraço

Miguel Lourenço Pereira disse...

@Dany,

Repetindo-me, pela enésima vez, eu não sou contra a medida. São contra a sua adopção sem o auxilio de outras medidas que mantenham a competição nivelada.

Sempre houve e haverá diferenças entre clubes, orçamentos, massa de adeptos, ligas, etc. Mas mudar as regras do jogo para prejudicar uma parte em favor de outra é algo bem diferente. Em Portugal todos os clubes podem contratar jogadores em co-propriedade. Mas nem todos os clubes podem comprar 100% de passes por ausência de cash flow, para manter-se competitivos quando os rivais o podem fazer com muitos mais recursos.

Se a lei do 6+5 fosse real, por exemplo, isso obrigava os clubes a apostar forçosamente na formação e isso diminuiria o volume de transacções no mercado, permitira a muitos clubes a manter os seus jogadores mais tempo, pelo menos num espectro nacional, e a necessidade de ir constantemente à procura de novos jogadores seria menor. As duas medidas em conjunto fazem sentido, seja na proporção Barcelona-Porto como na de Porto-Moreirense. Uma, em solitário, é exclusiva e perigosa.

E não se engane, o modelo do Sporting é um caso extremo, mas nós também temos telhados de vidro. Muitos telhados de vidro e muitos problemas que se triplicariam com esta medida. E as coisas, antes de melhorar, iriam ficar negras, muito negras!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Silva Pereira,

Platini é um homem que não esquece. Para o bem e para o mal!

um abraço

Miguel Lourenço Pereira disse...

@Alexandre,

Estamos de acordo na essência, discordamos apenas da dupla vara de medir da iniciativa.

um abraço

Miguel Lourenço Pereira disse...

Zé,

Não, sem dúvida que não, mas com a massa salarial e com a ausência de cash flow, duvido que o FC Porto possa pagar 3 grandes jogadores de 10 milhões de euros a pronto (uma média aceitável) e ao mesmo tempo manter um plantel medianamente competitivo sem ter uma cantera de jeito (que pelo andar da carruagem não me parece que seja para os próximos 2 anos que vamos ter muitas novidades) que ajuda a custear esse investimento.

Acredito que o modelo pré-Bosman, com três ou quatro bons jogadores de fora de qualidade e uma aposta forte na formação tem de ser o futuro de clubes como o FC Porto - aliados a uma aposta no mercado interno, para o futuro 6+5 - mas não vejo a curto/médio prazo, condições para ter isso e ao mesmo tempo ambicionar somar pontos e dinheiro na Champions League.

As provas domésticas não me preocupam porque quando cair isto, cairá para todos, o problema é geral, preocupa-me o fosso com o resto da Europa.

um abraço

D.Pedro disse...

Desta vez estou de acordo com a analise MLP.
E estou como disse o JCorreia voltem cá daqui a uns meses....

Anónimo disse...

Encostar a cabeça a um delegado da Liga dá suspensão a Nolito

Tudo se passou no túnel de acesso aos balneários no último Académica-Benfica, a 23 de Setembro, ao que Bola Branca apurou. Avançado espanhol falha jogo com o Olhanense, no próximo sábado.in RR

Os tuneis...
Só um JOGO!!!!!!

Anónimo disse...

Ivkovic
"Mourinho deve sucesso ao FC Porto"

O ex-jogador do Sporting não tem dúvidas em relação à importância dos dragões na carreira de José Mourinho e destaca Pinto da Costa como "o melhor presidente do mundo".
Ivkovic, antigo guarda-redes do Sporting e atual treinador dos croatas do NK Lokomotiva, revelou, em entrevista ao jornal "Vecernji list", a admiração que tem por José Mourinho, considerando, no entanto, que o treinador português "só está entre os melhores devido ao FC Porto".

"José Mourinho é muito inteligente, não existe outro igual. O sucesso da sua carreira tem a ver com a forma como ele comunica com os jogadores e com o facto de ter trabalhado no FC Porto. Para mim o FC Porto é o melhor clube do mundo, está sempre a formar e vender novos jogadores e treinadores", começou por dizer. "José Mourinho nunca seria o treinador que é se não tivesse passado pelo FC Porto, clube que tem o presidente mas inteligente do mundo", sublinhou.

Ivkovic, que esteve em Alvalade de 1989 a 1993, depois de ter passado por Estoril, V. Setúbal, Estoril, Belenenses e Estrela da Amadora, destacou ainda o poder de negociação dos dragões e a "equipa que trabalha dia e noite para o clube".

"O FC porto é um clube com prioridades. Compra um jogador por 500 mil euros e vende-o por cinco milhões. É um clube com uma equipa dedicada, capaz de trabalhar dia e noite", concluiu -in OJOGO

DiLaurentis disse...

Em primeira instância, com essa medida, a UEFA pretende impedir que pessoas que não pertencem ao futebol ganhem muito dinheiro com o futebol.

A nível internacional, o FC Porto terá a competitividade que puder ter. Deal with it. A SAD que aposte seriamente na formação em vez deste negócio de entreter os meninos da mamã. Ou será que os jogadores da formação só interessarão quando puderem pagar milhões em comissões para "contratarem" miúdos que já lhes pertencem?

O famoso scouting que tenha capacidade para descobrir jogadores jovens baratos com potencial. Foi preciso 250 olheiros para descobrirem o Danilo no Santos por 18 milhões?

Para descobrir que no Barcelona há lá um tal de Messi não é preciso perceber muito de futebol. Qualquer palhaço percebe que o miúdo tem habilidade para jogar à bola.

Anónimo disse...

19/11/12
A frase do dia é do Porto Canal

"Em breve mesmo muito breve, haverá novidades quanto á emissão do Porto Canal na net. Sabemos que é dificil, mas pedimos mais um pouco de paciência, pois o site está a ser renovado e dentro em breve com muitas e boas novidades."
Porto Canal
blogue Portogal

Miguel Lourenço Pereira disse...

DiLaurentis,

Talvez a evolução do futebol actual lhe tenha escapado nos últimos anos. Os clubes grandes, os tubarões digamos, desde que ameaçados com a regra do 6+5, começaram a desenvolver a sua própria rede de olheiros para apanhar cada vez mais cedo os clubes que antes caíam no radar ou eram amamentados em clubes médios e pequenos, fazendo deles seus. Basta ver a formação de todos os grandes clubes europeus para confirmar essa realidade. Isso reduziu em muito a margem de manobra desses clubes. Uns apostaram por manter-se fieis a jogadores baratos e viram a progressão ralentizada. Outros quiseram manter-se competitivos e apostaram em ter boas equipas já com margem de lucro reduzida. É o nosso caso.

Eu não sou olheiro profissional e posso citar-lhe 100 jogadores jovens e acessiveis para o FCP contratar com potencial tremendo. Não é preciso ser olheiro para isso. Mas o preço médio desses jogadores disparou com a globalização e hoje ou os apanham com 13-15 anos ou começa a complicar-se a corrida. E para apanhar agora miudos e formá-los, sejam locais ou importados, temos de esperar duas gerações (10 anos) para ter uma boa equipa. É o que há, essa é a competitividade que se pode ter. Lide com isso, mas depois não venha encher caixas de comentários com lamúrias sobre se a SAD é isto ou aquilo, se o treinador é isto ou aquilo ou se os jogadores não valem nada ou estão verdinhos. Então vou-lhe pedir eu que lide com essa realidade.

PS: Se fosse menos precipitado, saberia que Messi quando chegou a Barcelona tinha uma doença de crescimento de difícil cura e extremamente custosa. O Barcelona tinha os meios para pagar o tratamento e dar-lhe tempo, a maioria dos clubes não. Talvez por isso hoje Messi também esteja em Camp Nou e não a jogar noutro lado!

Mário Faria disse...

Acho que a transparência (ou a procura dela) não é um defeito.
Se vai resultar : tenho muitas dúvidas. Tal, porém, não deve contrariar a validação da regulamentação que vise uma clarificação desportivamente relevante.
Porém,creio que tal regulamentação não vá acabar com a intermediação e as respectivas comissões, nem vai promover de imediato (como se dependesse apenas da vontade e do saber) um aproveitamento da nossa formação a um nível semelhante ao que temos conseguido com a matéria prima que temos, vinda fora de portas.
Deixo ainda uma pergunta a quem sabe : o que pode impedir um clube de vender uma parte de um contrato feito para adquirir um jogador, sob a forma de empréstimo financeiro, que teria como contrapartida um determinado juro e a sua liquidação, após a obtenção de mais valias através da venda de parte dos seus activos ?

Silva Pereira disse...

Boa tarde,

Mais uma vez estou de acordo com o MLP (resposta DiLaurentis).Mesmo a política na aposta na juventude não é um risco segura, temos exemplos no nosso clube (2 jovens levados para Madrid) e no SCP, pois os empresários facilmente aliciam os pais e jogadores com contratos salariais muito mais generosos, agravado com a limitação dos contratos nessa idade.
O busílis da questão (os clubes poderosos não andam a dormir) está na massa salarial, não é possível competir com os clubes ingleses, alemães e franceses nesse campo sabendo-se que a conjuntura ainda se agrava com a questão dos impostos, comparem em Portugal o escalão máximo de IRS (54,5%) está nos 80000 € nesse países passa para valores superiores a 250 000€. Não sei se corresponde á verdade mas o que a imprensa publicou de que o MU oferecia 160 000€ por semana ao James será fácil compreender que é fácil aliciar os jogadores. Por isso esta política do Platini é mais uma situação a piorar as alternativas.
Se nada se fizer ir em breve a LC ficará tipo liga de Basquete EUA.
Cumprimentos

DiLaurentis disse...

MLP,

Em relação ao Messi, passou-lhe ao lado a óbvia ironia. Descobrir o Messi depois de receber a primeira Bola de Ouro é para gente que vê primeiro e ao longe tal como o nosso famoso scouting.

A realidade é o que é. Você é que está preocupado. Somos uns coitadinhos. Os grandes vão-nos roubar os jogadores todos: os nossos e os jovens que deveriam vir e afinal já não vêm. A UEFA é a grande vilã que nos quer tramar. Deixem-se de calimerices e adaptemo-nos à realidade seja ela qual for. Os administradores são pagos e muito bem pagos para encontrar soluções. O resto é para quem quiser ficar a lamentar-se do nosso triste fado.

Nuno Nunes disse...

Mário Faria disse...
"(...)o que pode impedir um clube de vender uma parte de um contrato feito para adquirir um jogador, sob a forma de empréstimo financeiro, que teria como contrapartida um determinado juro e a sua liquidação, após a obtenção de mais valias através da venda de parte dos seus activos?"

Não sou jurista mas parece-me que está aqui uma forma de resolver o problema, se a medida Platini avançar.
A sociedade poderá obter um empréstimo de uma entidade terceira, vencendo juros, dando como garantia o passe de um determinado jogador. A rentabilidade do investidor provém da taxa de juro a aplicar ou, eventualmente, de um success fee indexado ao valor de alienação do passe.

Miguel Lourenço Pereira disse...

DiLaurentis,

Está à vontade para achar precisamente isso. Também havia muitos lideres sindicais que diziam aos trabalhadores que a realidade era que a que havia e que se habituassem. Também havia muitos membros do movimento anti-esclavagista ou anti-sufragista que diziam exactamente o mesmo. A lenga-lenga do é o que é funciona muito bem para o status quo e para quem tem o poder nas mãos. Não funciona para ninguém mais.

Mas depois, como disse antes, façam o favor de não se queixar!