quarta-feira, 17 de abril de 2013

Que se lixe a taça!


Há muito mais comentários quando o FCP perde. E alguns não são nada meigos. O  lado positivo da contestação:  se qualquer derrota nos dói tanto,  isso só pode  significar que sentimos o clube com paixão; o lado negativo: que essa paixão abra um leque muita alargado de acusações, algumas demasiado extremadas, o que retira a razoabilidade que deve constar da crítica, quando se avalia um jogo,  que não perde essa condição de jogo,  só porque uma das equipas é a nossa.  Além disso, quem contesta e propõe  cenários alternativos não tem como provar a sua evidência. Demais, há um exagero no modo: o “grito”, ainda que por escrito, não torna o comentário mais pertinente ou corajoso, mas  entendo-o  na hora da perda. Porém, o “luto cerrado” deve ser aliviado naturalmente para que a memória possa escrutinar os acontecimentos  com serenidade.
 
Foi o que procurei fazer. Comecemos pela primeira parte em que estivemos bem por cima do SCB, que jogou muito pouco e fez da luta a sua arma. É verdade: combateu-se  mais do que se jogou, mas era difícil sair desse registo porque o adversário tinha apostado tudo nesse estilo  e só o mudaria se marcássemos,  o que não aconteceu, porque o golo é o mais difícil no futebol  e também porque confirmamos algumas debilidades, que cresceram com a perda de confiança,  em consequência da má condição física da equipa,  que um plantel curto em qualidade, obviamente não consegue disfarçar. Essa dificuldade multiplicou-se por imprudência própria e méritos alheios e teve em  Mossoró a execução sublime que lhe valeu ser escolhido como o MVP da jogo.  Um bom mergulho, uma grande penalidade e uma expulsão a fechar a primeira parte.  Não podia ter sido pior.
 
Na segunda parte houve vontade, faltaram as soluções. O SCB geriu bem e o FCP não conseguiu disfarçar a falta de um elemento. A condição física, insisto,  não é a melhor e quando os resultados não acompanham a ambição da equipa e dos artistas,   o futebol ressente-se e não corresponde. Não fomos capazes de criar grandes problemas ao SCB e estes tiveram caminho aberto para o contra ataque que não soubemos estancar. Mas houve, nesse período, alguma raiva que contrastou com o aparente conformismo da primeira parte. Não posso deixar de reconhecer que os jogadores, nesse período, deram tudo.  Faltou capacidade de organização ao FCP para jogar com 10 elementos. Nesse particular, acho que VP não foi capaz de montar a equipa e passar a mensagem. É minha convicção que deveríamos ter jogado com as linhas mais juntas:  Defour estacionou demasiado na ala, James perdeu-se entre a ala e a posição 10 e quando entrou Atsu, nem ele terá percebido bem que papel lhe tinha sido destinado, pois andou autenticamente perdido.
 
Ainda que James não estivesse a jogar bem, longe disso, não entendo que tenha saído por troca com Atsu.  Em função dessa troca,  o “trabalho”  de construção ficou muito centrado no labor de Fernando e Moutinho (que melhorou no segundo tempo), uma vez que os alas e os laterais raramente conseguiram esticar o jogo. Kelvin tentou agitar, mas falta-lhe experiência.  Em suma, com dez não conseguimos disfarçar,  o que é muito mais difícil quando se está numa situação de desvantagem, diga-se. Mas os jogadores deram o litro.
 
Li que se tivéssemos optado jogar com apenas três defesas, talvez o milagre acontecesse com  uma  divisão de tarefas de excelência,  ainda que não se disponha de  gente capaz para o desempenho da missão. Além do mais, na prática estivemos nessa situação demasiadas vezes:  os laterais subiam e não recuperavam,  o Fernando e o Moutinho estiveram demasiado envolvidos nas tarefas atacantes, os alas não estão rotinados na cobertura e o SCB continuou a jogar no contra golpe confortavelmente aproveitando-se  das avenidas que se iam abrindo,  nesse frenesim atacante construído ao ritmo da pressa e do pouco talento. Insisto: a equipa jogou pouco próxima para dividir o esforço e o vai vem que uma situação destas exige. Faltou ao FCP ser mais equipa, ter mais alternativas e os jogadores mais disponíveis ao sacrifício.
Sábado há mais. Atirar a toalha ao chão é que seria imperdoável. Há muito ainda a ganhar. Que se lixe a taça.

6 comentários:

Duarte disse...

Que se lixem as taças, que se lixe a Champions e, com um jeitinho, que se lixe também o campeonato.

"Além disso, quem contesta e propõe cenários alternativos não tem como provar a sua evidência."

Claro que não, mas a ver por aí andávamos sempre na mesma: com o mesmo treinador e com os mesmos jogadores. Quais eram as garantias de que Mourinho faria melhor do que Octávio? Ou, num cenário menos extremado, quais eram as garantias de que AVB faria melhor do que Jesualdo? As coisas estão mal, jogamos mal, mas como ninguém sabe se um futuro alternativo será melhor, mantemos tudo como está, ou seja: mal.

"Comecemos pela primeira parte em que estivemos bem por cima do SCB, que jogou muito pouco e fez da luta a sua arma. É verdade: combateu-se mais do que se jogou, mas era difícil sair desse registo porque o adversário tinha apostado tudo nesse estilo e só o mudaria se marcássemos"

O Braga adopta sempre esse estilo contra os grandes, tal como 99.9% das equipas portuguesas. Ao que parece, ainda não nos apercebemos disso. Na primeira parte estivemos por cima do Braga, materializando (como já é habitual) o domínio em muita posse de bola e em praticamente nenhumas oportunidades de golo.

"que um plantel curto em qualidade, obviamente não consegue disfarçar. "

Pois, no ano passado o problema era o ponta de lança e sem ele era impossível pedir mais e melhor futebol, mesmo que contássemos com o melhor marcador da época anterior e que todas as outras posições estivessem preenchidas. Ah pois, mas no ano passado andava tudo amuado, por isso para este ano toca a despachar as "madalenas" e a contratar um bom ponta de lança. Afinal tinha sido só por estes dois factores que se assistiram aos problemas a que assistiram na época passada. Só que as coisas não estão assim tão diferentes este ano, mesmo com um goleador de qualidade e sem os contrariados a boicotar.

Resta-nos o consolo de não perdermos desde Barcelos. Vendo bem, para aqueles que adoram dados estatísticos e estão-se nas tintas para as variáveis existentes e para as interpretações (diferenças de época, maior ou menor competitividade interna, etc) que deles possam ser feitas, este Porto até tem um trajecto mais positivo no campeonato do que nos dois anos de Mourinho.

Quanto ao não atirar a toalha ao chão, concordo plenamente. Nunca fez o nosso género desistir. É uma coisa intrínseca à maioria dos portistas, mesmo que entre si possam existir leituras díspares da situação do clube.

Anónimo disse...

"Comecemos pela primeira parte em que estivemos bem por cima do SCB, que jogou muito pouco e fez da luta a sua arma. É verdade: combateu-se mais do que se jogou, mas era difícil sair desse registo porque o adversário tinha apostado tudo nesse estilo e só o mudaria se marcássemos"

Este paragrafo ilustra bem aquilo que durante anos foi o ADN do FCP. Não fosse isto e muitos dos titulos alcançados durante estes 30 anos, principalmente mais ou menos até a meados da década de 90 não tinham sido alcançados.

Anónimo disse...

A quebra física teria de ser prevista pois o ritmo de jogo que o FCP colocava em campo era de tal modo elevado e constante que a factura teria de se repercutir mais à frente na época, como agora se verifica. A meu ver, para que esta quebra não fosse tão grave conforme se tem notado, teria sido importante o seguinte:
1ª - em Dezembro e Janeiro, ter-se contratado mais 3 jogadores (D,M,A), que estivessem bem fisicamente ( apoiei a descisão de se ir buscar o Izmailov e Liedson desde que em boas condições físicas ) ; 2ª - o modelo de jogo deveria alternar em 4-3-3 por 4-4-2 mediante as exigências dos jogos. Apesar do branqueamento que a Com.Social faz das arbitragens tendenciosas que falseiam resultados, penso que a determinada altura, os jogadores deveriam ser mais humildes, evitando comentários nas redes sociais ( do dar o salto ), situação essa que só enfraquece um grupo que ser quer unido,esquecendo-se que estão no FCP.

José Rodrigues disse...

Nos jogos que restam esta epoca (campeonato) so' a vitoria interessa.

E sendo assim, a prioridade absoluta reside em criar muitas e boas oportunidades de golo; muitissimo mais do q CONTROLAR o jogo (posse de bola esteril), porque isso muitas vezes acaba por resultar num empate.

Ora ha' razoes para receio: o treinador insiste em jogadores que privilegiam a posse de bola mas têm pouca criatividade e acutilancia ofensiva; e o banco parece mostrar ter poucas solucoes ofensivas, comecando pelos reforcos de Inverno que parecem ser pouco mais do q figuras de corpo presente.

Bem, a ver vamos.

Anónimo disse...

off topic (mas importante falar): Benfica prepara-se para comprar steven vitoria e sporting para comprar Josué.
Inacreditável, dois jogadores das camadas jovens do Porto.

Anónimo disse...

Desde há alguns meses que eu não tenho feito comentários. E provavelmente vou continuar calado até ao final da época. Mas não posso deixar de recordar o seguinte: o VP ganhou o jogo do campeonato em Braga e na semana a seguir foi eliminado da taça de portugal pelo SCBraga. Ganhou o jogo do campeonato no dragão e perdeu a taça na semana a seguir para o SCBraga. Para além do adversário, o que foi comum? As trocas de jogadores. De uma semana para a outra decidiu trocar alguns jogadores e o resultado está a vista.

Dragãovenenoso