quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O 4-2-3-1 de Paulo Fonseca... (III Parte)

Concluídas as duas primeiras jornadas do campeonato está na altura de revisitar os excelentes artigos do Miguel Lourenço Pereira de 12 e 13 de Agosto, aqui no Reflexão Portista, sobre o esquema táctico 4-2-3-1 do treinador Paulo Fonseca:

O 4-2-3-1 de Paulo Fonseca...entender o conceito! (I Parte)
O 4-2-3-1 de Paulo Fonseca...entender o conceito! (II Parte)

O FC Porto apresentou-se com a mesma equipa titular nas duas partidas da Liga: Helton, Danilo, Mangala, Otamendi, Alex Sandro, Fernando, Defour, Lucho, Josué, Jackson e Licá, o que significa que Paulo Fonseca encontrou um "onze base", tendo em conta que o titular Varela, lesionado, foi substituído por Josué.

Nos referidos artigos o Miguel descreveu os princípios básicos do novo esquema táctico relativamente ao conhecido 4-3-3: (i) a criação do conceito de número 10, Lucho, (ii) a mudança do conceito defensivo, de um jogador fixo de marcação para a divisão de tarefas entre dois jogadores, Fernando e Defour e (iii) o maior espaçamento de linhas para a obtenção de um futebol mais vertical. Além disso chamou a atenção para os principais defeitos e virtudes do 4-2-3-1: "este modelo, na teoria, coloca um homem extra no ataque, o tal 10, e portanto, mais poder de fogo. Mas ao não ter um dos dois médios mais recuados com um papel fixo, como tampão, corre o risco de haver uma atrapalhação na movimentação do miolo e a equipa ficar mais frágil no momento da perda de bola. (…) [o adversário pode] lançar um passe a rasgar entre-linhas, os dois médios estão em linha (ou muito próximos disso), ligeiramente afastados da defesa e é nesse espaço que surge o rival".


No primeiro jogo, em Setúbal, a equipa acusou falta de entrosamento e permitiu vários lances perigosos aos sadinos, incluindo o do golo, sendo que o perigo foi aparecendo de situações que o Miguel previra: o "duplo pivot" estava em linha e sem uma noção clara de quem deveria marcar e foram surgindo passes para as costas da nossa defesa. Por outro lado a articulação entre os jogadores das linhas ofensivas não foi a melhor, o que gerou mais dificuldades de penetração na defesa contrária e criação de lances de perigo. Lucho não conseguiu ser o número 10, Defour não foi box-to-box e Fernando não foi… Fernando. Valeu Quintero, que substituiu Defour, e mal entrou mandou uma bomba para resolver o jogo.


No segundo jogo, na estreia da equipa esta época no Dragão, tudo foi diferente. O FC Porto submeteu o Marítimo a forte pressão desde o início, com um futebol rápido, alegre e mais vertical. Na vertente defensiva Mangala e Otamendi estiveram muito bem na antecipação e na anulação das investidas do adversário e o "duplo pivot" Fernando-Defour funcionou bem, o primeiro libertando-se do seu típico jogo de recuperação e varrimento e o segundo conseguindo ser um box-to-box mais influente. Não foi Moutinho, mas esteve no campo todo. Vi pela primeira vez o Fernando a avançar no terreno com a bola controlada e a procurar linhas de passe, fazendo-o com maior à vontade e segurança que em partidas anteriores. Contrariamente ao que afirmou o Miguel, parece-me agora que o Fernando poderá ser um dos mais beneficiados com este estilo de jogo porque terá mais bola e terá de pensar mais o jogo, o que o tornará num jogador mais valioso. Às suas características de trinco puro, poderá juntar características de distribuidor e tornar-se um médio mais completo.

Apesar da boa exibição e dos golos achei que a equipa, pelas características de Licá e Josué, que não são extremos puros, afunilou demasiado o jogo, tendo abusado do jogo interior, perdendo profundidade. Poderá, eventualmente, ser ideia do treinador usar momentaneamente os laterais Danilo e Alex Sandro como extremos, com o apoio e as dobras do "duplo pivot" em caso de perda de bola e (principalmente) Licá como segundo ponta-de-lança, dando ao Lucho tempo e liberdade para deambular no meio campo e no ataque.


A este esquema sobram ainda Herrera e Quintero – que deverão competir com Defour e Lucho, respectivamente, por um lugar no "onze" – e Carlos Eduardo como alternativas para o meio campo e Kelvin e Iturbe como jokers para os lugares de extremo. Ghilas deverá ser a alternativa a Jackson Martinez dado que, em jogos oficiais, creio que não foram experimentados simultaneamente.

À pergunta final do Miguel, "será este o modelo ideal para esta época?", respondo, para já, com um sim porque a equipa tem dado sinais de que o consegue assimilar e o plantel tem variadas opções e de grande qualidade para substituir ou complementar os jogadores que neste momento integram o "onze base". Tanto o “duplo pivot” como a defesa, na generalidade, estiveram bem melhor no jogo contra o Marítimo. Que a equipa e o treinador continuem a evoluir e a proporcionar bons espectáculos de futebol (com vitórias!).
 

8 comentários:

Anónimo disse...

[OFF-TOPIC]: Para quando um artigo sobre a retirada dos relvados do melhor nº10 que alguma vez vestiu a camisola do FCP?

jotajota disse...

Tenho lido e ouvido sucessivas referências a Herrera e C. Eduardo como alternativas para o meio-campo. No entanto do trio que jogou pela equipa B na jornada passada, Herrera, C. Eduardo e T. Rodrigues, o que mais me agradou foi este último.
Tiago Rodrigues é o mais completo destes três médios. Excelente técnica, bom toque de bola, qualidade de passe, curto ou à distância, velocidade e facilidade de remate com os dois pés. Pode vir a ser, tal como o miúdo Ricardo, um caso sério a curto/médio prazo.
Correndo o risco que uma comparação deste tipo comporta,parece-me que T. Rodrigues tem bastantes semelhanças com Deco.

Bluesky disse...

O melhor sistema é aquele que... ganha!
Acho que discutir sistemas em equipas topo de gama, é como discutir o sexo dos anjos! Sendo a equipa evoluída tactica e tecnicamente, qualquer sistema se encaixa na perfeição, dependendo sempre da inspiração do momento (a jogada fantástica de Licá,), e da sorte do jogo. E depois por aquilo que tenho visto e compreendido, o FC PORTO não joga num 4-2-3-1 rigido. Fernando e Defour nunca estão lado a lado! Quando um sobe o outro fica.

DC disse...

jotajota eu tenho gostado do Tiago, agora do Tiago ao Deco vai um universo. Nunca, de certeza absoluta irá atingir um nível sequer semelhante ao do Deco, isso parece-me óbvio.

Também não concordo que seja mais completo do que o Herrera. Este, apesar de ainda estar pouco adaptado, tem claramente mais velocidade, drible e capacidade para progredir com bola.

Mas acho que o Tiago pode sim, um dia, ser uma solução muito interessante para o nosso plantel. Parece-me bem superior ao Castro, por exemplo. Faz-me lembrar o Tiago do Atlético de Madrid.

Anónimo disse...

Já referimos que este sistema pode ser vulnerável no meio campo, mas eu também creio que o processo de subida dos defesas laterais compromete a segurança pela dificuldade (ou falta de vontade) do Danilo/Alex em recuperar a posição após ataque. Há defesas que gostam mais de atacar que defender e estes são dois desses.

Esse atraso na recuperação dos laterais provoca que um dos elementos do duplo pivot tenha de cair na ala para compensar, ou então o central cai na ala e o elemento do pivot defensivo vai para central. Mas seja como for vai haver um buraco, quer seja na ala, no centro da defesa ou no meio campo. No anterior sistema não acontecia tanto pois apesar do jogo das compensações ser o mesmo havia mais homens no meio campo e não ficavam a faltar. Agora com um deles a 10 e mais perto do avançado, não entra nestas contas do processo defensivo da mesma forma.

Amphy

Anónimo disse...

E claro que neste jogo de compensações, um jogador como o Defour, com as suas características físicas não é o ideal para o fecho no centro da defesa. No fundo, do lado dele estaria limitado ao fecho na ala, sendo que ao demorar mais a chegar que o central acaba por dar mais espaço ao atacante.

Mas isto são só pormenores.

Joao Goncalves disse...

Parece-te mal...

O Tiago Rodrigues é mais completo ao Herrera e Carlos Eduardo no compto geral pois no especifico da posição, perda por quilómetros para qualquer um deles.

O Tiago é um médio completo nivelado pelo mediano enquanto que o Herrera é um jogador que enche o campo e sabe conduzir uma bola, um clássico 8 e o Carlos Eduardo é um jogador com uma capacidade técnica e visão de jogo muito acima da média, apesar de ser frágil ao contacto... O Tiago é um hibrido mediado de ambos.

Se ele pode chagar a algum lado e crescer muito? Pode é claro... até o Cishokho cresceu numa época mais que no resto da vida, mas não vai ser a jogar pelos B's que isso vai acontecer de certeza

Joaquim Lima disse...

Concordo que não é só na equipa B que o Tiago Rodrigues vai crescer, mas ajuda...

O Cishokho foi "obrigado" a jogar porque não tínhamos mais ninguém para a posição. Se tivéssemos um jogador como o Álvaro Pereira ou o Alex Sandro nos seus melhores níveis, o Cishokho não saía do banco.

É o que acontece com o Tiago Rodrigues. Pessoalmente, não me enche as medidas, mas é um facto que não é/está melhor que os jogadores habituais titulares.

Por último, acho que lhe é mais produtivo jogar pela B (pelo menos joga e sente o peso da camisola) do que ficar em casa ou na bancada a ver todos os jogos!