quarta-feira, 16 de outubro de 2013

FC Porto, o novo Real Madrid?

Em 2009 todos descobrimos a lua. Não viajamos até lá. Ela veio até nós sob a forma do Barcelona treinado por Guardiola. Era uma equipa que enchia qualquer medida futebolística possível. Uma equipa agressiva mas elegante. Uma equipa com uma qualidade individual impressionante mas que funcionava como colectivo. Uma equipa onde os baixinhos (Xavi, Iniesta, Messi) jogavam com os raçudos (Etoo, Pedro, Touré, Puyol), com os inteligentes (Pique, Busquets, Henry) sem que qualquer um de nós fosse capaz de os excluir das outras características principais. Provavelmente tivemos a sorte de ver uma das grandes equipas da história do futebol moderno. Mais, tivemos a sorte de que o nosso FC Porto fosse comparado, lá fora, com essa máquina de futebol.

Historicamente o FCP sempre se associou ao FC Barcelona.
Clubes de segundas cidades, burguesas, mercantis, marítimas, rebeldes contra o poder do centralismo e, também é preciso dizê-lo, clubes que viveram as suas maiores secas desportivas de forma similar (durante os anos 60 e quase todos os 70) e que renasceram nos anos 80 para tornarem-se na maior força desportiva do seu país. O FCP com um presidente, o FC Barcelona com um ideólogo chamado Johan Cruyff. Ambos ganhamos provas europeias desde então (mais que o respectivo rival), ambos ganhamos ligas (mais que o respectivo rival) e ambos ganhamos a admiração do Mundo. Nós por sermos o eterno underdog sobrevivente na elite europeia, capaz de encontrar pérolas no meio do Amazonas e transformá-los em diamantes, e eles por serem os herdeiros dessa escola danubiana mítica. Para qualquer portista era um motivo de orgulho a comparação. A associação de futebol de posse, de qualidade técnica e táctica, de gestão desportiva com o Barça seguia os mesmos padrões que a comparação Real Madrid-Benfica dos anos 50 e 60, ambas equipas alimentadas pela máquina estatal, habituadas a ser o símbolo da propaganda de regime ditatoriais e com duas grandes gerações que coincidiram no tempo e espaço.

Nos anos AVB e VP a comparação permaneceu.
O Barcelona de 2013 já não é o mesmo de 2009. A própria evolução de Guardiola introduziu matizes importantes. Messi passou a ser o falso-nove, a equipa passou a jogar mais em função do génio argentino e a procura de alternativas estancou com o modelo original. Com o passar dos anos a agressividade e o pressing na hora da recuperação que tinham sido marca de identidade do primeiro Pep Team tornou o Barcelona uma equipa mais previsível, salva recorrentemente pelo génio superlativo de alguns dos melhores futebolistas da história. O FCP, que com AVB teve um ano similar ao do primeiro Pep Team, seguiu um trajecto similar. No nosso caso o problema foi a falta de opções condicionada pelo mercado e pelo desejo de jogadores importantes em sair. Sem Belluschi e Guarin o ritmo do meio-campo seria sempre diferente. Sem Hulk e Falcao a eficácia ofensiva baixaria sempre com o tempo. Com Varela a cair de forma, James a nunca explodir verdadeiramente e com Fucile, Rolando e Alvaro Pereira em quarentena (primeiro) e fora de contas (depois) o processo obrigou a uma reconstrução durante dois anos que interrompeu a ascensão da qualidade de jogo. Mas a matriz permaneceu, mesmo nesses momentos, a mesma.
O 4-3-3 era inegociável, a segurança defensiva o primeiro passo para o sucesso (como foi com Pep) e o controlo de jogo a obrigatoriedade máxima para quem subia em campo. É certo que o ritmo de jogo era vitima das opções e tinha baixado muitas rotações. As transições eram mais lentas, a agressividade esfumou-se e a qualidade individual também. Mas quem tinha visto jogar os homens de AVB reconhecia o mesmo padrão com VP da mesma forma que entre as diferenças que existem entre Guardiola, Vilanova e Martino não impedem que o Barcelona continua a ser o Barcelona.



Agora podem dizer o mesmo?
Não!

Desde Agosto que a matriz dos últimos três anos foi abandonada por completo.
É o direito legitimo de qualquer treinador escolhido pela direcção de impor o seu estilo e modelo de jogo. Se o faz, imagino que seja de acordo com quem o contrata que é quem responde aos sócios e accionistas. Eles são conscientes do que custou criar essa matriz, do que significa manter um modelo ao largo dos anos a nível de estabilidade futebolista e de gestão de balneário. Se aprovam a mudança - não só do desenho táctico mas dos princípios básicos do jogo - saberão porque o fazem. Mas agora na Europa ninguém se lembraria de associar este FC Porto ao Barcelona. Como muito poderiam fazer uma comparação que é, para muitos portistas, odiosa: com o Real Madrid.
A equipa da capital espanhola é reconhecida mundialmente por não ter modelo de jogo. Vive para onde o vento sopra. A cada presidente e treinador que chega tudo muda. O importante são os jogadores, quanto mais mediáticos e caros, melhor. Bale custa 100 milhões, logo vale mais que Ozil que só custou 15, pensam muitos adeptos e dirigentes do clube espanhol. Com o esquema de jogo é o mesmo. Não há um modelo desde o fim da Quinta del Buitre, nos anos 80. A táctica muda, os princípios mudam, os jogadores mudam, os treinadores mudam. As vitórias só aparecem porque o valor individual e o dinheiro metido no plantel assim o ditam. De futebol, muito pouco.
Actualmente em Portugal passamos pelo mesmo cenário. O FC Porto ganha muitos jogos porque é o FC Porto. Não porque jogue bem, não porque tenha um padrão de jogo, não porque saiba o que faz. Ganha-o simplesmente porque Jackson é o melhor avançado da liga, porque Lucho coxo é melhor que a maioria dos médios do campeonato. Porque Mangala-Otamendi ainda é uma dupla que supera qualquer outra. Porque os frangos ocasionais de Helton não empalidecem comparados com os de Artur, Eduardo e Patricio. Porque ganhar no Dragão é impossível e defender com dez homens dentro da área nos jogos fora nem sempre resulta. Ganhamos por inércia da mesma forma que o Real Madrid ganha muitos dos seus jogos. Não pela qualidade do projecto que PF tenha a apresentar. E isso é, sobretudo, o mais preocupante.

Eu quero que o FC Porto tenha um modelo que seja válido hoje, com PF, e amanhã com o treinador X.
Para isso é preciso duas coisas.
Ter a direcção decidida a apostar fielmente nesse modelo de jogo (em vez de se preocupar tanto com modelos de negócio, que não é o mesmo) e contratar sempre treinadores e jogadores para cumprir esse preceito colectivo como tem feito o Barcelona (noutra escala, obviamente) ou então apostar como há muito defendo num nome sério para o banco. Num nome consagrado, com uma cultura futebolística suficientemente alta para manejar distintas situações e saber o que está a fazer, sem parecer um puto de olhar perdido. Falou-se muito em Pellegrini, um treinador que cumpre esse preceito, mas entendo que entre o Dragão e o City of Manchester, o dinheiro tenha falado mais alto. Mas o chileno não é o único dentro desse grupo de treinadores que sabem muito de futebol e colocam sempre as suas equipas a jogar muito bem e de forma coerente. A SAD prefere-os inexperientes, jovens e ambiciosos e está no seu direito. Acertou duas vezes. Mas se o faz, pelo menos que tenha o cuidado de escolher nomes que se enquadrem numa ideia colectiva que faça parte do nosso próprio ADN. De alguém que saiba onde vai entrar, que rotinas há que saber manter, que processos há que assimilar e que estruturas são fundamentais para manter o equilíbrio.



Em quatro meses a estabilidade defensiva de três anos desapareceu.
A organização na construção de jogo também. A equipa é mais vertical mas menos coerente. Os jogadores estão perdidos porque os que já cá estavam tinham rotinas bem treinadas que agora não podem por em prática e os novos ainda não entenderam o que se lhes pede.
Provavelmente todos eles gostariam de jogar como no ano de AVB, e os adeptos também não se importariam de rever esses jogos no presente. Mas para chegar aí não basta apenas ter opções individuais (e este plantel tem mais opções que o dos últimos dois anos). É fundamental ter alguém que siga um modelo, que seja fiel ao nosso ADN.

Em Madrid, Carlo Ancelotti - um treinador de títulos, onde é que já ouvi isso - não sabe a que joga. Nem ele nem ninguém. E a sua equipa é penosa. Em Barcelona, chegado do outro lado do Atlântico e sem experiência europeia, Tata Martino herdou uma ideia que apenas tem de gerir e controlar. Ás vezes é mais dificil não mexer do que inventar. PF tem, como Ancelotti, procurado inventar. Sem sucesso. Tem sido salvo pelos jogadores e pela inércia mas isso não durará para sempre quando for a doer. Talvez devesse ter sido mais humilde, como Martino, e procurar ver o bom naquilo que o precede antes de procurar melhorar a máquina já montada e oleada. Tem tempo para isso? Tem. Mas precisa de saber dar um passo atrás. Devolver aos jogadores a confiança nos processos de jogo perdidos (e isto vai muito mais longe do que só recuar Fernando e voltar ao 4-3-3) e a partir de aí procurar introduzir novas variantes que nos façam mais imprevisíveis e, portanto, mais fortes. Caso contrário até podemos ser Tetracampeões, vencer a Taça de Portugal e a Taça da Liga. Muitos adeptos irão para as ruas celebrar. Mas teríamos ganho por motivos que, mais tarde ou mais cedo, vão-se revelar mais um problema do que uma solução!

35 comentários:

Pedro Albuquerque disse...

"Em quatro meses a estabilidade defensiva de três anos desapareceu.
A organização na construção de jogo também. A equipa é mais vertical mas menos coerente. Os jogadores estão perdidos porque os que já cá estavam tinham rotinas bem treinadas que agora não podem por em prática e os novos ainda não entenderam o que se lhes pede."

Isto mais do que tacticamente, julgo que a explicação vem do facto do treinador deixa-los fazer o que eles querem dentro do campo até um certo limite.
As conversas que o Treinador mantêm com os jogadores aceitando ouvir sugestões dos mesmos, leva a uma certa falta de rigidez táctica dentro de campo. Principalmente quando a equipa se vê a ganhar.

Deco disse...

um texto bom de se ler. não concordo com algumas coisas mas é a sua visão e aceita-se.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Sinta-se livre de discordar e debater em quê Deco ;-)!

Miguel Lourenço Pereira disse...

Pedro,

Hoje em dia se um treinador deixa os jogadores fazerem o que querem e isso se transforma em erros de marcação recorrentes, faltas de linhas de passe, ataque descoordenado e atabalhoado, e esse fenómeno sucede em dois jogos, sem que seja devidamente corregido, então não é um treinador de elite!

.:GM:. disse...

Muitas vezes em desacordo com o Miguel, mas neste caso em pleno acordo. E eu que nunca tenho paciência para ler longos textos, devo admitir que este me cativou.

Parece-me que PF quis impor-se, quis demarcar-se dos anteriores e ao fazê-lo abandonou a humildade necessária para dar seguimento a um trabalho que apesar de várias vezes criticado tinha dado alguns frutos positivos. O ano passado criticava-se o jogo sonolento e as poucas oportunidades da equipa mas toda a gente elogiava a posse de bola - inconsequente dizia-se - mas que não permitia grandes aventuras aos nossos adversários. Exigia-se mais acutilância e criatividade ofensivas. Este ano foi-nos prometido tudo isso. Criatividade, futebol ofensivo e vertical. Na realidade não se vê nada, e tal como mencionou no seu comentário, perdeu-se a estabilidade defensiva, mas acima de tudo perdeu-se o controlo do jogo, a posse de bola e a serenidade que caracterizava a equipa. Este ano, com excepção da pontuação no campeonato, tem sido tudo mau demais.

Abel Pereira disse...

Só tenho visto a 1ª parte de alguns jogos, mas através dos comentários dos participantes nas páginas afectas ao FCP fiquei a saber que PF faz sempre uma substituição ao 88'. O que me pareceu imediatamente incompreensível, inaceitável. A única explicação que encontro é que a estratégia não está na substituição em si, mas sim em não esgotar as substituições para superar dificuldades que o adversário possa provocar com receio de que algum jogador se lesione e a equipa se veja forçada a jogar com 10 unidades: medo é a razão para tal comportamento. É o mesmo medo que o leva a escolher não os melhores, mas sim os jogadores que lhe dão mais garantias, como afirmou antes do jogo com o Atlético de Madrid... Por isso as substituições são feitas apenas em caso de lesão ou cansaço dos elementos em campo, e jamais para alterar o rumo dos acontecimentos . Daí que o cariz da parte final dos jogos do FCP se ter vindo a repetir de modo inalterável... O artigo retrata cabalmente, segundo o que me tem sido dado ver, a situação da equipa do FCP.
Saudações portistas!
Abel Pereira.

Fernando B. disse...

Muito bom este texto, mesmo tendo num ou outro caso um ponto de vista diferente. Gosto de refletir, gosto do jogo em si, mesmo sendo adepto a 200% !

Agora aquela da substituição aos 88', (Ghilas por 2 ou 3 xxx), tira-me do sério... Dizem ser à moda do Paços Ferreira, mas não...aquilo é Pinhalnovense, por amor de Deus...

miguel87 disse...

Excelente artigo, como portista e adepto culé concordo com tudo quase a 100%.
Digo mais: sigo desde 2008/09 praticamente todos os jogos do Barça, e no período Guardiola só vi 3 equipas a colocarem sérios entraves ao jogo do Barça: Real de Mourinho, o Valencia em 2 jogos de 2011/12 e o Porto de VP na supertaça europeia.

António Teixeira disse...

Caro Miguel,

Não sabia que aqui escrevia, mas enquanto lia o texto, fui-me apercebendo do autor (principalmente, pela referência ao Danúbio :D).

Concordando nas comparações, e apesar de já por diversas vezes me ter manifestado contra o treinador, ainda que a quente, existem também sinais de que o Porto pode ser forte e pode manter os mesmos princípios e um modelo muito semelhante (é certo que com dinâmicas e um sistema diferente). Já vimos, em certos jogos, um Porto de muita qualidade: destaco o jogo contra o Marítimo, a primeira parte contra o Atlético e, principalmente, a primeira parte contra o Guimarães. O jogo contra o Paços foi, a espaços, bom. De resto, já se sabe. Agora, a questão é: existe alguma atenuante que esteja a impossibilitar o Paulo Fonseca de meter a equipa a jogar como quer, ou é assim que ele quer que a equipa jogue?

Podem existir atenuantes, como é claro: inadaptação, normal aliás, de alguns jogadores que podem cumprir funções chave (como por exemplo o Quintero a nível de jogo posicional ou movimentação, o Herrera...); podem, até, verificar-se situações que obrigam o treinador a optar por um bloco mais baixo ou por cortar a profundidade com a linha defensiva. A verdade é que, e por mais que digam que é um clube pequeno, o Paços jogava bem, e jogava neste modelo. Os comportamentos são, creio eu, muito semelhantes. E atenção que os princípios eram idênticos.
Lá está, existem opções más, pelo menos a meu ver: a questão, ou melhor, a eterna questão Varela; as substituições do Ghilas; o baixar o bloco. Mas, será que, e com a excepção da questão do argelino, não existem razões fortes que levaram o treinador a tomar essas opções?
Vamos ver. Dar mais um pouco de tempo e ver como evolui o modelo. Até podemos estar na presença de algo muito bom. Sinceramente, acho que a equipa vai dar uma resposta muito forte com o Sporting, e espero não estar enganado.

PS - Sou um leigo e não percebo nada de táctica, corrija-me se estiver errado no que disse.

Cumprimentos,
António Teixeira

Pedro Albuquerque disse...

Eu diria melhor:
Qualquer equipa do Mourinho (Inter, Chelsea e Real a partir da 2ª época)

Doscas disse...

Excelente artigo! O que eu continuo sem perceber é porque é que se criticava tanto o VP! OK, não era AVB, era mais receoso. Mas este PF é um medricas! E, sem dúvida, está a anos-luz de VP...

meirelesportuense disse...

Não concordo com a ideia central do artigo em causa.
O Porto sofre de um problema que os Clubes maiores como o Barcelona, Manchester, Real ou Bayern não sofrem, tem que vender passes para poder fazer face às suas despesas, rotação de jogadores e manter um plantel equilibrado e motivado...Todos os anos o Clube vende por duas grandes ordens de razão:
1-Porque tem necessidade de gerar constantemente novas receitas.
2-Porque tem que dar satisfação a muitos dos super-egos que existem no plantel.
Todas as épocas isto se repete.
Portanto a questão principal destas dificuldades constantemente renovadas reside aí e está em saber escolher os substitutos dos que se vão embora, de forma a manter qualidade e continuar a conquistar títulos...
Paulo Fonseca pode ter sido um tiro falhado como me pareceu ter acontecido com Vítor Pereira, até porque não é fácil encontrar técnicos jovens e baratos de valor em Portugal.
Acho-o uma pessoa simpática e que merecia triunfar mas isso não se compadece com ter ou não efectiva capacidade para o conseguir.
Para além disso o plantel tem mais soluções mas de menor qualidade.
Iturbe deveria ter ficado.Dos jovens parecia ser o mais rodado e motivado.
A equipa B tem alguns valores, mas são muito reduzidos.Quantidade não é qualidade.
Muitos duvidavam do Abdoulaye, foi emprestado e afirma-se no Guimarães.
Deve ser muito difícil gerir tantos interesses.

FucKerO disse...

Artigo para se dizer o que as pessoas querem ouvir. A matriz do Mourinho era a mesma do Fernandez? a matriz do Fernandez era a mesma do Co Adriaanse? a matriz do Co Adriaanse era a mesma do Jesualdo? a matriz do Jesualdo era a mesma do AVB?

Não somos o Real Madrid ou o Barcelona que pode contratar qualquer jogador ou treinador do mundo, por isso temos que trabalhar com o que podemos.

Outra falha grave é que se ignorar por completo o facto de termos perdido 2 jogadores de classe mundial do onze.. que foram substituídos pelo defour e pelo licá. Achar que a equipa não se iria ressentir ou que era possível manter exactamente a mesma matriz é surreal.

É incorrecto colocar todas as culpas no treinador e ignorar o enorme erro da Sad (avançar para 1 época com Licá e varela para extremos?) .

Deixem as pessoas trabalhar e parem de meter pregos no caixão quando ainda tão pouco da época decorreu.

José Rodrigues disse...

No ponto fundamental do artigo (mas não em alguns detalhes, como a análise que faz ao que tem acontecido no FCP na última década), concordo com o Miguel... i.e. nas linhas gerais, das duas uma:

Ou 1) se aposta num treinador com um CV q imponha muito respeito e nesse caso está-se mais aberto à possibilidade dele mudar de forma mais radical a forma de jogar da equipa; ou entao 2) aposta-se num «Zé Ninguém» (como temos feito quase sistematicamente nos últimos 15 anos) e nesse caso dar alguma continuidade à forma de jogar da equipa e construir o seu trabalho com base nos alicerces do treinador anterior, ainda que imprimindo a sua marca pessoal num ou noutro aspecto.

O único ponto comum que defendo é que tanto num como no outro caso seja o treinador a ter a principal palavra nas contratações, e não a Direção (ainda que sendo a decisão tão consensual quanto possível).

Claro que, como já foi dito, cabe ao treinador extrair o melhor dos jogadores q tem, influenciando em alguma medida a sua táctica e forma de jogar, e o facto de vendermos 2 titulares todas as épocas introduz algumas condicionantes ao trabalho do treinador. Penso que o mais sensato quase sempre é ficar-se pelo meio caminho, i.e. nem tentando a toda a força impôr uma táctica e forma de jogar a jogadores que não estão talhados para isso; nem abdicar completamente das suas (treinador) ideias andando ao sabor do vento (i.e. dos jogadores), até pq o mercado para alguma coisa serve.

Sendo assim eu esperava q PF pegasse na herança de VP e a ajustasse de forma a gerar mais acutilância, dinâmica e criatividade no ataque. No entanto parece ter enveredado (para já) por uma remodelação mais radical q não me convence de todo. Ainda é muito cedo para tirar conclusões, mas tenho receio de que venhamos a testemunhar na realidade um ditado inglês que fala em «throwing the baby away along with the bathwater»...

Miguel Lourenço Pereira disse...

Meirelesportuense,

Naturalmente que a comparação parte de principios de jogo mais do que gestão desportiva. Também nunca ninguém quis dizer que o FCP jogava como o Barcelona como reflexo de uma aposta cuidada na formação.

Tacticamente o FCP priveligiou desde os anos 90 uma matriz, o 4-3-3. Salvo casos pontuais, esse foi o modelo base. O mesmo tem sucedido com o Barcelona que, ocasionalmente, chegou a jogar noutro modelo mas que é, essencialmente, uma equipa de 4-3-3. E esse padrão existe desde os infantis aos seniores. Mas também existe noutro plano. No da escolha de jogadores e na de treinadores.

Ter uma matriz de jogo não é apenas dizer que se deva jogar sempre assim. Eu sou a favor de planos b), c) e d). Mas que a politica desportiva do clube deve ter essa orientação para capitalizar nos anos de experiência ganhos.

Das poucas vezes que mudamos o registo, demo-nos mal, basta ver o caso europeu de Adriaanse, as tentativas de Fernandez e até mesmo de Octávio. Só Mourinho, que fez um primeiro ano em 4-3-3 e depois apresentou um plano alternativo para os jogos de máxima exigência em 4-4-2 losango, conseguiu ter essa duplicidade. Mas Mourinho era um génio, aquela geração excepcional e tudo foi feito a partir da base original e de forma progressiva.

Se o FCP vende figuras e compra alterações, deve pensá-lo de acordo com a sua matriz. É a SAD quem elige o treinador e não o contrário. É a SAD quem elige os jogadores neste clube, não ao contrário. Portanto a cada cara nova que chegue ela deve vir pensada em prosseguir o trabalho feito.

Se temos uma matriz em 4-3-3 e a SAD não contrata extremos num plantel que já andava escasso deles e ainda por cima contrata um treinador com uma visão muito diferente da matriz base, então é normal que existam sérios problemas!

Miguel Lourenço Pereira disse...

FucKerO,

Se tem por hábito passar por aqui já devia saber que se há alguém que raramente escreve o que as pessoas querem ouvir sou eu.

No comentário anterior deixou claras as diferenças de performance quando houve metamorfoses na mesma matriz base. De todos os treinadores citados, Co e Fernandez foram os únicos que não seguiram o 4-3-3 base e o resultado foi evidente. Mourinho realizou uma mudança progressiva mas a partir da mesma base e Jesualdo aplicou o seu conceito de jogo à matriz e não o inverso.

Ninguém disse que somos o Real Madrid ou o Barcelona. Tem de ler o artigo outra vez. O que digo é que se fomos tão bem comparados com o Barcelona foi por ter uma matriz similar e uma fidelidade a ela, ao contrário do Real que não tem nada parecido. E esse é o caminho que estamos a seguir com este desnorte. Podemos ter os treinadores e jogadores de acordo com o nosso nível, são escolhas da SAD. O sucesso ou insucesso das mesmas só a eles corresponde.

Não se ignora sequer termos perdido jogadores-chave. Pelo contrário. É uma realidade presente no texto. Simplesmente se indica que nem o treinador nem a SAD quiseram reforçar o plantel com soluções para manter a matriz viável, criando overbookings em determinadas posições e carências noutras.

Os pregos no caixão nunca os mete um adepto, um jornalista, um analista. Metem-nos sempre os profissionais com as suas ações. No FCP assim tem sido. Se o PF tiver de meter-se dentro de um caixão será por exclusiva responsabilidade sua e daqueles que o escolheram.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Zé,

Não é a primeira vez que venho defendendo publicamente a opção 1 do teu raciocinio. Acho que o salto qualitativo que nos falta dar, sobretudo na Europa, parte dessa opção de ir atrás de treinadores de low profile em vez de homens mais experimentados nesse tipo de jogos.

De qualquer das formas entendo a ideia da SAD no ponto 2. Manter um projecto coerente e debaixo de controlo. O problema é que com o PF - como aconteceu com o Adriaanse, o Fernandez, o Octávio e o Del Neri - o homem escolhido não está a seguir a matriz. De nenhuma maneira.

Desconheço se o faz de forma voluntária, apoiado pela SAD ou até instigado por ela. Essa resposta só o PF e a SAD podem dar. Mas o resultado dos exemplos anteriores não foi, propriamente, o melhor. Todos procuraram mudar uma matriz estabelecida e todos se deram mal. Ou um treinador tem muita força e talento para impor-se à estrutura (caso Mourinho, o AVB podia tê-lo feito mas nunca o saberemos) ou então deve seguir o trabalho anterior. Não se tem visto nem uma coisa nem outra e o pior que se pode passar é essa eterna indecisão de um pé na Europa e outro em África!

Miguel Lourenço Pereira disse...

António,

Um modelo 4-3-3 e um modelo 4-2-3-1 não podem ser semelhantes porque nos papeis mais importantes a função é radicalmente diferente.

Alterar o trabalho do pivot ou alterar o conceito do 10 como segundo avançado são as matrizes individuais do 4-2-3-1 e propiciam um desiquilibrio defensivo que o 4-3-3 base não concede. De aí os grandes problemas defensivos que temos tido - amplificados pela constante subida dos laterais sem cobertura dos interiores - em comparação com os anos do 4-3-3 de AVB/VP.

Cabe ao treinador tem esses factores em consideração e se é consciente de que o plantel é muito diferente e exige uma adaptação de peças futuras importantes, motivo maior para manter a base que já é familiar aos que ficaram (Fernando, Defour, Lucho como triângulo estável do meio-campo, Varela/Jackson/X como figuras de ataque) e progressivamente ir integrando variantes e outras alternativas.

O que PF fez foi desrespeitar todo o passado recente do FCP, querer começar do zero e com isso colocar ao mesmo nível os novos e aqueles com experiência mas que foram forçados a aprender novas rotinas desde o zero.

Quanto ao pensamento final, não é essa a questão. O FCP pode ganhar 3-0 ao Sporting e jogar mal e continuar com os mesmos problemas e pode perder esse jogo e jogar muito bem. Continuar a avaliar o sucesso/insucesso de um plano apenas pelos resultados imediatos é o primeiro passo para hipotecar o futuro!

um abraço

António Teixeira disse...

Caro Miguel,

Mas é claro que são diferentes. Ainda assim ele pode imprimir dinâmicas que façam a equipa ter comportamentos muito semelhantes. Agora, sou da sua opinião; mais, eu digo que o Paulo Fonseca só teria de meter Quinteros e Josués, procurar que o Defour e o Herrera crescessem e a equipa seria logo muito mais forte a atacar (sem desvalorizar o Moutinho e o Vitor Pereira). Mas como disse, para já, o caminho não parece o melhor. Mas vamos dar-lhe mais tempo. Digo que é necessário dar uma boa resposta principalmente pela motivação percebe? Ainda para mais com dois Zenits no calendário, que devemos ganhar para fechar já a classificação e aí trabalhar melhor; uma vitória com o Sporting e uma vitória cá e empate/vitória no Zenit seriam muito importantes, e davam espaço para respirar.
De resto, eu também gostava que se tivesse mantido o modelo, ainda que os princípios pareçam os mesmos. Mas olhe, se formos a ver, e podemos falar daqui a algum tempo, talvez nem o Barça o mantenha no médio prazo.

Cumprimentos,
António Teixeira

Miguel Lourenço Pereira disse...

António,

O Barça mantém o modelo há 30 anos, com momentos muito pontuais de variações. 30 anos é muito tempo. Nem ambiciono tanto. O que não entendo é que em 3 meses o trabalho de 3 anos de destruia sem que, em troca, apareça algo distinto que valha a pena!

Mário Faria disse...

PF já foi jogador profissional e será mais aberto para uma maior proximidade com os atletas e a um tipo de gestão mais amigável, evitando ao máximo as zonas de conflito. Nada a opor, se tiver o cuidado e a sensibilidade de não permitir que essa proximidade caia no nacional porreirismo, porque o treinador é pago para se incomodar e os conflitos são para resolver. O comando técnico cabe-lhe por inteiro e não deve permitir intromissões e partilhas na hora de decisão. Não tenho dados concretos para uma avaliação definitiva do trabalho levado a cabo e não vejo qualquer semelhança do FCP com o RM no modelo de jogo e nas características dos jogadores em presença. Nem quanto às aquisições andamos lá perto, no valor e na oportunidade da contratação dos novos jogadores.
Não passo um atestado de estupidez e incompetência ao PF. Mudar o modelo seria descabido e um passo que não vislumbrei ter dado, embora reconheça que tem ideias diferentes na dinâmica que pretende implementar na equipa. Acho que o desejo de maior verticalidade é muito bem vinda e não vejo que tenha qualquer incompatibilidade com o jogo em posse. Querer um homem do meio campo mais próximo de Jackson também me parece bem. Uma espécie de 10 disfarçado. Estrategicamente não vejo que isso constitua uma desvantagem. Dois pivots também não, desde que os jogadores assimilem as rotinas, se complementem e o façam de forma equilibrada. E todo esse saber, decorre muito da capacidade dos jogadores.
Não percebi ainda as substituições excessivamente tardias e é minha opinião que PF não respondeu de forma convincente quando José Mota, em desvantagem numérica, partiu o jogo e optou por um futebol directo com muita correria e duelos físicos, e com o AM quando Simeone lhe bloqueou a subida dos laterais. Outro aspecto que me parece dever ser valorizado é o facto de PF privilegiar o jogo interior em detrimento de um jogo mais aberto pelas alas, esses sim, mais vocacionados para esticar o jogo e o verticalizar. Mas isso, sou eu a dizer.
Finalmente, não percebo essa da matriz do jogo, quando foi implementada e por quem ?

Miguel Lourenço Pereira disse...

Mário,

"não vejo qualquer semelhança do FCP com o RM no modelo de jogo e nas características dos jogadores em presença. Nem quanto às aquisições andamos lá perto, no valor e na oportunidade da contratação dos novos jogadores. "

Não se trata disso, como já expliquei acima a outro comentário. Da mesma forma que não se tratava disso quando se comparava o FCP com o Barcelona. A comparação com o Real Madrid existe em duas linhas bastante evidentes. Por um lado o abandono de uma matriz colectiva de jogo por uma abordagem independente, sem rumo e sem norte. A segunda, por uma ausência absoluta de conceitos tácticos base no decorrer dos jogos que fazem com quem, tal como sucede com o Real Madrid na sua liga (e aí a comparação é inevitável porque nós e o Benfica somos o Real Madrid e o Barcelona da liga portuguesa em orçamento, importância e planteis) a vitórias atrapalhadas como consequência mais do valor individual dos jogadores e do abismo que existe com os rivais do que propriamente por mérito próprio.

Quanto à matriz de jogo, é só olhar para trás.
A nível de conceitos de posse, de cultura técnica forjada em equipas tacticamente hábeis a defender e capazes de trabalhar em conjunto os processos ofensivos data do regresso de Pedroto. A nível de desenho táctico em campo da passagem da etapa final de Robson para Oliveira, momento a partir do qual o 4-3-3 se estabeleceu como o modelo base tendo sido alterado apenas pontualmente com sucesso por Mourinho (o 4-4-2 losango de 2003-04) e sem esse sucesso por Octávio, Fernandez e Adriaanse, treinadores cuja abordagem se afastava da matriz principal sem conseguir implementar uma alternativa lógica e bem sucedida!

Bluesky disse...

Creio que PF vive o dilema da"responsabilidade" de treinar uma equipa que além de jogar sempre para ganhar, tambem tem que dar espectaculo, o que é totalmente diferente de ganhar com o Paços nem que em todos os jogos se meta o autocarro á frente da baliza.
Não sei se é um principio de Peter que afecta PF, mas que me está a fazer lembrar Quinito, está!!!!

Jardineiro disse...

gostei muito do artigo mas tenho que discordar em alguns pontos.
não creio que o fcp tenha alguma vez enveredado pelo caminho do real madrid. quero dizer, nunca assentamos propriamente a nossa filosofia futebolística no "jogador" (quero dizer individualidades que fazem a diferença), sempre fomos um clube de "equipa" (quero dizer de táctica e modelo de jogo). ou, pelo menos, espero que saibamos que as nossas maiores vitórias vieram daí, do jogo de equipa.
concordo depois e absolutamente, quando diz que o 4-3-3 teve uma grande influência e importância no nosso sucesso, ou não tivesse sido precisamente a táctica escolhida (por quem? terá sido robson?) para implementar e aperfeiçoar. até à delícia de 2003 e 2004. entretanto e como refere, também já tinha sido esse sistema que nos deu a hegemonia dos anos 90. um 4-3-3 mais feio, mais directo, mais resultadista, mais "bola pro jardel", mas ainda assim um grande 4-3-3. pra mim, o pior dos que resultaram até foi o do jesualdo. 4-3-3 e futebol directo, lá com as transições rápidas. detestava.
ombro a ombro connosco :-) também o Barcelona aperfeiçoava o seu, com a vantagem de poder contratar jogadores de eleição para o executar, nem que fosse só com 12 anos de idade... e realmente atingiu aquele grau de perfeição que o tornava imbatível, absolutamente imbatível. creio que foi o primeiro 4-3-3 puro a ganhar a champions (como bem diz, mourinho alterava a equipa para 4-4-2 para os jogos mais "duros" - os jogos da champions) e a frustração dos jogadores do manchester na final desse ano, dizia tudo.
ora o 4-3-3 pode estar um pouco esgotado devido precisamente á qualidade do 4-3-3 do Barcelona e do que isso implicou de estudo de "tácticas" que melhor o defrontem. o mourinho é capaz de ter inventado umas 50, só ele - mas isto agora tudo se sabe e se transmite muito mais depressa (diz que é os computadores). e essa é uma das razões porque eu até vi com bons olhos experimentarmos outra táctica.

dito isto, não estamos a jogar um cú. vejo fogachos, alguns momentos muito bons mas sempre muito curtos. vejo-nos sem capacidade de recuperação da bola, mas também não sei se é porque estava habituado a termos sempre a bola, mas se é pra jogar sem bola, não se podem falhar tantos golos nem tantos passes de saída em contra-ataque!! estou nervoso...
e estou um bocado triste, como a maioria, porque fiquei relativamente entusiasmado com as contratações e como era o ano da final na Luz e tal...
o PF não tem culpa? pois não, nem eu tenho de ser do Futebol Clube do Porto.
e ele ganha bem pra me aturar :-D
saudações portistas!

meirelesportuense disse...

Não me parece que o PF esteja a mudar o estilo da equipa por querer impor outra estratégia ou o seu estilo, parece-me antes que ainda não sabe bem a que deve adoptar definitivamente.
Anda ainda em experiências.
Com algum cuidado, mas em experiências.
Parece-me, reafirmo isso, boa pessoa, nada parecido com Octávio, Del Nery ou Adriansen...Fernandez também me pareceu boa pessoa.
Octávio é um BRONCOxicoEsperto que quiz oferecer o Jardel ao Sporting para depois ter por lá a porta aberta, Del Nery foi uma "incógnita de muletas" e Adriansen um teórico de táticas completamente diferentes da nossa.
O que é verdade é que o Porto tem poucos apoios financeiros e assenta todo o seu equilíbrio financeiro e estratégico na valorização dos seus activos...E isso reduz muito a sua capacidade de acção relativamente a por exemplo o XLB...Se o Porto tivesse todo o apoio que o XLB tem, então bem podiam estes, tirar o "cavalinho da chuva" por muitos e bons anos.
Não esqueçam esta realidade.

António Teixeira disse...

Caro Miguel,

Mas a questão é que ainda é cedo para dizer se há uma mudança assim tão grande. Salvo erro, o Pep em Munique joga em 4231... Corrija-me se estiver equivocado.
Como digo, desde que os princípios de jogo sejam os mesmos, não me importo de alterar o sistema (não o modelo claro está). E não ajuízo definitivamente sobre o trabalho dele porque como disse alguém infra, a meu ver acertadamente, ele ainda está a experimentar. Repare no modelo do Paços, que tinha bola, que pressionava; o próprio treinador já admitiu que o ídolo é o Wenger e a equipa que mais gosta de ver o Barça. Lá está, voltamos à questão dos condicionamentos e, neste caso contextuais: dada a operacionalização deste novo sistema, com novas dinâmicas, o treinador poderá optar, propositadamente, em baixar linhas a determinado momento, a criar maior distância entre sectores. Não concordo que seja o caminho a seguir para chegar a um resultado que, ainda que não seja definitivo, seja o que traduz um modelo e uma identidade bem definidos. Mas pode ser um dos caminhos. Para algo distinto (ainda que com poucas diferenças) que valha a pena. Eu compreendo a apreensão e, de certo modo, a revolta do Miguel. Eu também me sinto assim. Mas podemos ficar surpreendidos.
Sobre o Barça, os sinais parecem de mudança. Porque podem apostar no 433 como sistema, e mudas os princípios de jogo. Se será transversal ou não, ainda não sei. Agora que, com esta gestão, se tem apostado muito na mudança, até pelo técnico e política de contratações para a equipa B, isso penso ser inegável. Aliás, parece que certos elementos começam a mandar mais no clube do que deveriam. Parece, também, que o Rossel está ai como o Vieira está ali em baixo. Penso até que já havíamos falado disto. É só uma leitura, poderá não estar certa, mas que há sinais, isso há.

Cumprimentos,
António Teixeira

kassote disse...

Concordo em grande parte com o texto...
E acrescento: a falta de coesão defensiva, que deve ao parar de pressionar o adversário deve-se à maneira mais "vertical" como se ataca. os jogadores não são máquinas e, com VP a forma paciente de atacar que sempre foi criticada (não por mim) permitia que os jogadores com bola "descansassem" e que pudessem reagir imediatamente à perda, pressionando logo o adversário. Agora, se a equipa com bola ataca rapidamente exige que os jogadores se movimentem em velocidade maior, diminuindo a disponibilidade fisica no momento da perda. Por isso se diz que o Porto até começa bem e depois baixa o bloco, insinuando debilidades fisicas na equipa. a equipa nao é debil fisicamente, apenas é composta por jogadores humanos e como tal nenhum deles consegue manter ritmo alto durante tanto tempo consecutivo...
Ou acham que o Barça de Guardiola reuperava a bola em 5 segundos se nao atacasse com aquela paciencia em que os jogadores, embora moveis, se deslocavam a ritmo baixo para dar linhas de passe constantes? Se atacassem verticalmente e a ritmo alto nunca conseguiriam pressionar daquela maneira.
Ainda vamos todos sentir saudades do VP. basta chegar a altura do 1º jogo com o 5LB (em que com VP eles "nem cócegas nos faziam")
é a minha opinião.
Cumprimentos a todos.

kassote disse...

Concordo em grande parte com o texto...
E acrescento: a falta de coesão defensiva, que deve ao parar de pressionar o adversário deve-se à maneira mais "vertical" como se ataca. os jogadores não são máquinas e, com VP a forma paciente de atacar que sempre foi criticada (não por mim) permitia que os jogadores com bola "descansassem" e que pudessem reagir imediatamente à perda, pressionando logo o adversário. Agora, se a equipa com bola ataca rapidamente exige que os jogadores se movimentem em velocidade maior, diminuindo a disponibilidade fisica no momento da perda. Por isso se diz que o Porto até começa bem e depois baixa o bloco, insinuando debilidades fisicas na equipa. a equipa nao é debil fisicamente, apenas é composta por jogadores humanos e como tal nenhum deles consegue manter ritmo alto durante tanto tempo consecutivo...
Ou acham que o Barça de Guardiola reuperava a bola em 5 segundos se nao atacasse com aquela paciencia em que os jogadores, embora moveis, se deslocavam a ritmo baixo para dar linhas de passe constantes? Se atacassem verticalmente e a ritmo alto nunca conseguiriam pressionar daquela maneira.
Ainda vamos todos sentir saudades do VP. basta chegar a altura do 1º jogo com o 5LB (em que com VP eles "nem cócegas nos faziam")
é a minha opinião.
Cumprimentos a todos.

Mário Faria disse...

Provavelmente não tenho os conhecimentos do Miguel em função do acompanhamento que faz (sem ironia) sobre a história do futebol, mas segui de perto e ao vivo as caminhadas do FCP no tempo de JMP. Confirmo que o FCP jogava um futebol atractivo e predominantemente de ataque. Mas os registos eram bem diferentes quando jogávamos em casa ou fora de portas. O FCP na época de 1977/78 em 30 jogos somou 22 vitórias, 7 empates e uma derrota (com o Estoril), marcou 81 golos e sofreu 21, chegando ao fim do campeonato em igualdade de pontos com o SLB, invicto nessa época. Diria que salvo empate (em casa) com o SLB que ”decidiu” o campeonato, os restantes resultados negativos foram obtidos fora das Antas. Isso para dizer que o FCP era mais contido nessa fúria goleadora, porque as saídas a Lisboa eram complicadas e os outros adversários da época jogavam um futebol directo, com muitos duelos individuais que exigiam mais músculo que talento. Não raramente, jogávamos com um meio campo reforçado e onde cabiam no meio campo jogadores como Octácvio, Rodolfo, Celso e Duda, sendo que o primeiro era de longe o mais criativo. JNP era um pragmático e não brincava em serviço: não mudava a estrutura, apenas a enquadrava com os jogadores que lhe pareciam mais úteis em relação aos adversários e às circunstâncias do momento.
Nota:
Com a memória algo ferrugenta, alguns dados acima foram extraídos da colecção de Alfredo Barbosa: de 1893 a 2003 – Campeões.

Miguel Lourenço Pereira disse...

António,

Não tenho nenhuma sensação de revolta. Era algo que suspeitava quando a SAD, em vez de eleger um treinador consagrado ou manter o modelo voltou a procurar repetir o truque do coelho na cartola. Repito, o PF ainda pode ganhar todos os titulos nacionais, mas isso não significa que o faça jogando bem. Quantas vezes se criticou ao Jesualdo o ganhar mal enquanto se celebravam titulos'

O juizo que faço do trabalho do PF é o que vejo. Depois de amanhã pode ser diferente mas hoje é o que se vê e nem sou adivinho nem tenho capacidade para influenciar quem quer que seja. E vejo-o perdido. Com vontade de mudar mas sem saber bem o quê vão-se perdendo coisas positivas e ganhando-se maus hábitos.

Em Munique o Pep joga em 4-1-4-1, que é substancialmente diferente do 4-2-3-1, a começar porque há um médio defensivo claro (ultimamente tem sido o Lahm, mais à frente será seguramente o Thiago ou o Kroos), que está muito mais próximo do 4-3-3 que o 4-2-3-1, que era o modelo do ano passado do próprio Bayern.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Jardineiro,

Como já disse em cima, a comparação com o Real não é o modelo de negócio nem a compra de estrelas da mesma forma que a comparação com o Barça não era o modelo de cantera e jogadores nacionais. Estamos a falar de sistema de jogo.

O do Barça é um modelo sólido e trabalhado, o do RM um modelo que não existe como tal, que vai ao sabor da corrente e onde os jogos são decididos muitas vezes pelo valor individual superior do plantel face aos seus rivais. É isso que, este ano, temos encontrado.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Não avalio questões profissionais desde pontos de vista pessoais.

Eu não me importo que o meu treinador seja um filho-da-pt se for um grande treinador. E lá por ser boa pessoa não quer dizer que deva ter mais crédito que outros. O PF pode ser a melhor pessoa do mundo, não o conheço, mas como treinador anda literalmente à nora e a fazer experiencias em Outubro quando, para isso, está a pré-época. Aliás, uma pré-época onde não perdeu um só jogador importante porque as vendas foram feitas antes de Julho. O que já de por si é indicativo de que teve muito mais tempo para por em prática as suas ideias do que outros treinadores do passado recente.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Naturalmente Mário, os modelos vão-se aperfeiçoando com o tempo e seguramente ao longo de todos estes anos jogou-se melhor e pior, mesmo com excelentes treinadores e bons planteis. Mas a cultura de jogo tem sido quase sempre a mesma, sobretudo nos jogos em casa, e com o crescimento colectivo da instituição passou a ser nota também nos jogos fora e na Europa!

António Teixeira disse...

Caro Miguel, terá razão, com certeza, na questão do Pep. E tem, também, quando prefere o 433, pelo menos a meu ver.
Eu compreendo que faça esse julgamento do treinador e, como já disse, eu também o fiz/faço em alturas mais emotivas (e não estou a dizer que o faz pelas mesmas razões, como aliás já referiu). Apenas digo que possam existir dificuldades de operacionalização que serão superadas, segundo quero crer. Não se engane, eu concordo basicamente consigo, mas há uma parte de mim que me leva a acreditar, compreende? É a emoção do futebol também.

Cumprimentos

meirelesportuense disse...

Eu sei que a qualidade humana não é muito valorizada especialmente nos tempos que correm, eu por outro lado valorizo-a muito porque sei que quem é má pessoa tarde ou cedo bate com a porta ou trai a causa de quem confiou nele apenas tendo em mente o proveito próprio...Também sei reconhecer que uma personalidade generosa não é suficiente para construir nada nos moldes actuais, a não ser poder contribuir para criar um ambiente positivo o que por si só não é mesmo nada mau, mas juntar a competência a um bom carácter para mim é absolutamente essencial...E era isso que eu contava -quando soube da sua contratação- e espero ainda encontrar, em Paulo Fonseca.