Quem viu a entrevista de Jorge Nuno Pinto da Costa ao Porto Canal ficou - além das saudades de ouvir outro PdC, guerreiro e implacável como aquele que todos aprendemos a admirar a pés juntos pela defesa dos interesses do Clube sobre todas as coisas - a saber que houve tentativas de compra do FC Porto.
O Presidente mencionou dois exemplos, um magnate russo e Peter Lim, o parceiro de negócios de Jorge Mendes que acabou por adquirir o Valência. Segundo Pinto da Costa, as duas ofertas foram rejeitadas porque "Enquanto estiver aqui, ninguém vai comprar o FC Porto".
Parece-me uma frase bonita, de capa de jornal. No entanto, além de ser mentira, deixa muitas dúvidas sobre o que será o FC Porto quando ele não "estiver aqui". As contas são simples de fazer.
Ao contrário do SL Benfica e do Sporting CP, o FC Porto não criou uma SGPS que fosse detentora de pelo menos 11% do capital de acções da SAD a juntar aos 40% do clube (o máximo permitido por lei) que garanta sempre a maioria absoluta em qualquer toma de decisões. Benfica e Sporting fizeram-no e assim garantiram que o clube só poderá ser vendido se os seus sócios assim o quiserem, com a alienação de acções da SGPS a outra entidade. Mas no FC Porto o clube limitou-se a ficar com 40%. Pinto da Costa tem pouco mais de 2%. Os restantes pertencem, sobretudo aos irmãos Oliveira - cada qual com a sua dose - e á construtora espanhola Sacyr Vallermoso. São eles - juntos - os maiores accionistas da FC Porto SAD. Se os três se juntassem (ou, eventualmente, se alguém adquirisse as acções dos três), o FC Porto clube ficaria em minoria na tomada de decisão caso se revelasse incapaz de adquirir os 3% de Pinto da Costa e os o8% restantes de sócios minoritários.
Ora, se um accionista angolano, russo, de Singapura ou de Alcabideche quiser comprar o clube, o "enquanto eu aqui estiver" de Pinto da Costa vale zero. Pode, não duvido, valer-se da sua amizade e influência com os Oliveira para garantir que isso não suceda. Acredito piamente que assim é. O que nos leva a outro problema, um que Pinto da Costa, por muito grande que seja, jamais será capaz de resolver porque, para nosso mal, não é imortal. Quando ele não estiver, quando essa influência que possa ter sobre os Oliveiras desaparecer, que segurança tem o FC Porto clube de que a FC Porto SAD - que controla, já sabemos, toda a parcela económica e desportiva ligada ao futebol bem como 50% do estádio, caso a próxima AG rectificar a ideia do próprio Pinto da Costa - não cai em mãos de fora, sem que os sócios tenham uma palavra a dizer.
Pinto da Costa foi a melhor coisa que podia ter passado ao FC Porto. A melhor, sobretudo, porque soube sobreviver ao legado de Pedroto e fazê-lo ainda mais grande. Durante décadas deu tudo pelo Clube. Aproveito a sua entrevista e deixo-lhe um desafio, não só como sócio 25331 mas, sobretudo, como portista: tome as medidas necessárias para garantir que a FC Porto SAD nunca deixará de pertencer ao FC Porto e aos seus sócios, esteja ele ou não aqui.
Na conjuntura actual, mais do que não vender um jogador importante, do que ganhar uma terceira Champions League ou de ultrapassar o SL Benfica em total de titulos, era o maior (e último grande) serviço que podia fazer ao Clube. Garantir que a sua herança continuará viva para lá do seu mandato, do seu tempo de vida, através do Clube que ajudou a fazer parte da elite do futebol europeu e nas mãos de quem sempre o apoiou!
4 comentários:
Confesso que nao vejo muito interesse num take-over contra os dirigentes actuais ou futuros do clube, o contrário já é possivel e provável. Os sócios? Normalmente vao seguindo os dirigentes que elegem...
Miguel:
Não concordando com tudo o que disse, concordo com o apelo que faz a Pinto da Costa e espero que ele seja receptivo a uma solução que dê segurança no futuro.
Entendam o meu intuito, apenas pretendo ser devidamente esclarecido. E se me sentir sem dúvidas, podem acreditar que tomarei uma posição clara.
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