sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Champions League, apuramento obrigatório

Não há que enganar. Não há que por paninhos quentes. O FC Porto teve, no sorteio, um grupo bastante acessível. Um grupo onde é favorito absoluto a passar como segundo classificado. É-o por prestigio, por qualidade do plantel, por investimento e porque nos confrontos mais recentes com o rival directo - o Dinamo Kiev - sempre demonstramos estar um degrau por cima. Futebol é futebol, lá diria Boskov, e tudo pode acontecer. Desde ir ganhar o grupo a Stamford Bridge - afinal, não se ganhou a um Bayern Munich que é bem melhor que este Chelsea? - como acabar em último. Só o desenrolar dos acontecimentos dirão se o que parece á partida realmente o é no final. Mas no papel e na planificação, que é disso que se trata agora, fugir do papel de favorito a passar é fazer um fraco favor às ambições do clube.

O FC Porto tem de se apurar para os oitavos de final por muitos motivos. 
O desportivo, naturalmente, é o mais relevante. Reforça o estatuto do clube a nivel internacional, repetindo a presença nos melhores 16 da Europa (depois, logo se vê!), o que por sua vez é um iman para jogadores que entram e uma plataforma de exposição para jogadores que saiem.

Também é extremamente relevante a nivel desportivo. Com o aumento dos prémios de jogo, seguir até à segunda fase é garantir um encaixe superior aos 30 milhões de euros - que pode ser maior se o Benfica, que também teve um grupo acessivel, não se qualifique porque significa que o marketing pool se reduz ao Porto para a ronda seguinte o que já começou por ser positivo com a eliminação do Sporting deixando para já 4 milhões fixos mais os 12 que estão garantidos por participar na fase de grupos - o que por sua vez é fundamental para as contas do clube. Neste momento a Champions League permite um encaixe fixo de 16 milhões (o mesmo que podemos sacar como mais valias de uma grande venda) que se pode quase dobrar com receitas, prémios de vitórias e de empates.

O orçamento exige a entrada de dinheiro - está sempre preparado a contar com os oitavos de finais desde Gelsenkirchen - e sem Jacksons, Danilos e Sandros para vender no próximo defeso (e com a possivel compra de Tello e de uma percentagem do passe de Brahimi na calha) os ingressos têm de vir de alternativas. A época passada demonstrou que uma boa campanha na Champions pode valer mais do que uma grande venda.

E claro, depois está em jogo uma questão fundamental que é a politica desportiva e institucional do clube que aponta - com toda a lógica - cada vez mais baterias á Champions do que a um campeonato que é mais facilmente viciável e que dá pouca repercursão a nivel mundial. No ano passado, se falarem de futebol português, quem se lembra do título do Benfica em comparação com a vitória sobre o Bayern no Dragão? Pois, ninguém.

O grupo, por si mesmo, é perfeitamente acessivel, com as suas óbvias rasteiras. Isto é a Champions League não o torneio onde Jorge Jesus se move - e continuará a mover-se porque não dá para mais - como peixe na água, a Europa League essa especie de terceira divisão europeia. Nunca é fácil ir á Ucrânia - um pais em guerra, ainda que Kiev seja uma zona tranquila, e com horários diferentes de jogo que podem afectar a preparação da equipa durante a semana (que o jogo anteceda o duelo com o Benfica não ajuda nada, claro) e jogar em Israel também é um problema por tudo o que envolve medir-se num ambiente de máxima tensão a todos os niveis. Viagens á Suécia ou Belgica seriam muito mais interessantes mas, em contrapartida, não vamos ter de apanhar um voo de sete horas para ir à fronteira com a China. Menos mal. 

Entre os rivais está clara a hierarquia do grupo. 
O Chelsea é o máximo favorito. Apenas e só porque é o Chelsea. Não que estejam a jogar particularmente bem (levam desde Janeiro neste ritmo pastelento e aborrecido) nem que sejam um bicho-papão. O FC Porto demonstrou, aliás, que pode ganhar a rivais teoricamente melhores quando faz tudo bem (olá Bayern!), mas para isso é mesmo importante fazer tudo bem e o jogo no Dragão terá de ser imaculado. Que o último duelo seja em Londres pode ser favorável se o trabalho de casa estiver feito ou um problema se for preciso somar pontos de última de hora. Convém por tanto não facilitar nos cinco jogos anteriores. O Chelsea deve e pode ganhar o grupo com uma perna atrás das costas. Tem o plantel para isso, as individualidades e tem o melhor treinador. Não é o nosso rival directo nem a nossa maior preocupação. O que mais vai interessar ver é a sua regularidade. Que os londrinos não percam pontos surpreendentes contra israelitas e ucranianos pode ser chave. Não há nada pior que uma derrota do Chelsea em Kiev ou Israel para complicar as contas e obrigar-nos a ser perfeitos nos quatro jogos restantes.

Do Maccabi não há muito a dizer. São uma equipa organizada tacticamente, defendem bem, têm um ataque lento e previsivel onde pontifica a figura do seu máximo goleador - um jogador a ter em conta e que carregou a equipa ás costas na eliminatória contra o Basel - como ameaça. São um rival perfeitamente acessivel, dos mais fáceis do pote 4 mas não vale pensar em facilitar. Foi em Israel que o Benfica se começou a enterrar aqui há uns anos e não perder mais do que dois pontos fora (nem vou por em consideração não ganhar em casa) nos jogos contra os outros rivais pode ser a chave do apuramento. 

Já o Dinamo é um clube que traz sempre boas recordações. Em 1987 eram os máximos favoritos a ganhar a Taça dos Campeões Europeus e levaram uma lição de bola a dobrar. Desde então nunca nos colocaram demasiados problemas. São o campeão ucraniano sim, mas uns furos abaixo do melhor Shaktar de há uns anos. Ganharam a liga sobretudo porque o Shaktar não podia jogar em casa o que transformou o campeonato num torneio desfigurado. Têm um jovem treinador ambicioso - Sergei Rebrov - e estamos por saber se seguram o seu unico jogador de classe, Andrei Yarmolenko, até ao próximo dia 31. Se o perderem, são uma equipa, no seu todo, perfeitamente banal. Caso contrário ganham em verticalidade e golo. Não deixam, no entanto, de ser um rival perfeitamente acessivel para a nossa melhor versão, inferior ao Basel, Bilbao, Shaktar ou Zenit da passada temporada desde logo. Tenho inclusive - e isso é apenas uma percepção muito pessoal - que se tivessem de disputar o Play-Off, tinham ficado pelo caminho. Devemos estar alertas, sim, mas não assustados.

Perante este cenário, sem bichos papões nem rivais incómodos como podiam ter sido o Sevilla, o Wolfsburg ou o Lyon, equipas com outro pedigree e planteis de superior qualidade que fariam da luta pelo apuramento algo mais complexo, a obrigatoriedade é manter os niveis de concentração ao máximo e ter o apuramento resolvido à quinta jornada. Já sabemos que este campeonato está ao nosso alcance e que se vão perder muitos mais pontos do que noutros anos - o que permitirá mais escorregões que o que tem sido habitual - pelo que é importante que a SAD defina a sua prioridade absoluta em passar a fase de grupos até Novembro. Qualquer atraso pontual no campeonato parece recuperável mas não seguir para a segunda fase pode ter consequências muito mais sérias tanto no prestigio como na conta bancária do clube. Lopetegui deu a sua melhor cara na Champions League e por isso as sensações, à partida, são positivas. Cabe ao treinador basco voltar a cumprir com o que se espera de um plantel que investiu bastante com os Casillas, Imbulas, Osvaldos ou laterais uruguaios para noites europeias como as que nos esperam. Os sinais são positivos, Que role o hino!


11 comentários:

Pedro ramos disse...

Eu nao espero nada deste grupo. Com a nossa qualidade individual a roçar a mediocridade, com excepçao de 2/3 jogadores, podemos perfeitamente ficar em último lugar do grupo. Temos ainda a agravante de ter de readquirir os mecanismos e processos de equipa devido a tantas e tantas saídas daqueles que realmente faziam a diferença.

michael disse...

que role o hino sem dúvida, mas champions é champions, e nao vejo obrigacoes de nada.
todos os jogos sao de dificuldade e exigencia máxima e só quem lá anda é que sabe como sao difíceis!

José Lopes disse...

Os jogos na Ucrânia não são num horário diferente. Na Rússia sim (e certamente no Cazaquistão também).

Quanto ao resto, já não tenho grande paciência para Chelsea ou Dínamo, já são confrontos a mais, prefiro caras (e cores) novas. Espero no mínimo um empate no primeiro jogo e depois a coisa deve encarreirar...

João disse...

30 milhões pelo acesso aos oitavos? Importa-se de elaborar?

Miguel Lourenço Pereira disse...

João,

O FC Porto já recebeu 12 milhões por tomar parte na fase de grupos. Com a ausência do Sporting vai receber um Market Pool televisivo maior do que o previsto, valores que rondam os 4 milhões de euros. Só nesses dois pontos estão 16 milhões de euros.

Logo estão os prémios por vitória (1,5 milhões de euros) e por empate. A equipa precisa de conseguir entre 9 e 12 pontos de média para apurar-se como segundo (estamos a falar de 4 vitórias=6 milhões ou 3 vitórias e um empate=5 milhões) pelo que no final da fase de grupos, o segundo lugar por resultado pode dar origem a um valor total de 20 ou 21 milhões de euros.

A partir de aí está o bonus de 10 milhões de euros por chegar aos Oitavos que perfila um valor total de 30 milhões. Logo, nos oitavos, o Market Pool pode aumentar (se o Benfica for eliminado) bem como os prémios por vitória e apuramento. Chegar aos quartos de final, com os novos valores de prémios, pode ampliar em mais de 15 milhões esse valor entre prémio vitória, apuramento e Market Pool.

Ou seja, para o FC Porto ficar-se pela fase de grupos como terceiro estamos a falar de um rendimento de 16 a 18 milhões de euros fixo. Apurar-se como segundo significa um valor fixo de 30 milhões e apurar-se como primeiro de 34 milhões de euros. Alcançar os quartos-de-final pode ampliar esse valor para perto dos 45 milhões de euros.

Miguel Lourenço Pereira disse...

Os jogos no Cazaquistão serão disputados às 16h00 hora continental (15h00 portuguesas) pela diferença horária. Na Rússia ás 18h00 e na Ucrânia, efectivamente, á hora habitual.

João disse...

Estava a tentar perceber onde foram aumentados os prémios, (pelos vistos all across the board) porque se bem me recordo na época passada fizemos à volta de 24M€. É uma diferença brutal.

Não se está a contar bilheteira aqui?

miguel.ca disse...

O mais dificil para mim hoje em dia é posicionar o Porto em termos de ranking pontual, isto é, 5 minutos antes de cada jogo o expectro do resultado final desse mesmo jogo é uma enorme incógnita porque a possibilidade de sermos Porto, fazermos jus ao nosso nome e arrancarmos uma exibição como a que fizemos contra o Bayern no Dragão é exactamente igual à possibilidade de sermos uma miséria e fazermos uma exibição como a que fizemos contra o Bayern em Munique.
"Partantos", como diria o mestre da chicla, a questão da Champs, assim como a liga e taças vai depender para que lado Lopetegui vira o interruptor. Só ha duas posições... 1: Somos Porto ou 2: somos pouco mais que banais-não alimentar esperanças.

tiago disse...

Uma boa participação na champions faz esquecer os titulos nacionais? Acho que não. A nossa vitória da primeira mão foi facilmente esquecida pela humilhação do jogo lá (5-0 na primeira parte). disso não mes esqueço eu
No ano de Villa Boas o Benfica chegou aos quartos de final da champions.alguem se lembra disso?

Paulo Marques disse...

No ano do Vilas Boas o SLB perdeu a semi-final da liga Europa para o Braga.
Mas sim, os quartos valem muito mais do que as competições internas viciadas.

Quid disse...

Antes de mais, uma crítica (pela positiva). Posts, textos demasiado grandes não se conseguem ler e perdem interesse. É a minha opinião.

Agora, sobre o tema, eu até vou mais longe. Não há que pôr paninhos quentes. Apuramento obrigatório e favoritos a passar no 1º lugar. Sim, em 1º porque o Chelsea não é nenhum bicho papão. Se fosse o Bayern, o Farsa, o R. Madrid, ainda vá que não vá. Agora 'este' actual Chelsea não mete medo a ninguém. Se até os cepos do Cepo-rting os colocou em sentido na época passada!!

Ganhamos cá e empatamos lá em Londres!!!