sexta-feira, 9 de junho de 2017

Sérgio Conceição, que esperar?

Formalizado o acordo com Sérgio Conceição, chega a hora de entender o que se pode esperar do novo treinador do FC Porto, o sétimo treinador que orienta a equipa depois do último título oficial conquistado. O antigo lateral e extremo direito do clube sucede assim a uma lista que inclui Paulo Fonseca, Luis Castro, Julen Lopetegui, Rui Barros, José Peseiro e Nuno Espirito Santo. 

Está claro que Conceição não era a primeira opção do clube, algo facilmente comprovável pelo facto de há menos de um mês o técnico ter renovado com o Nantes, reforçando um forte laço de compromisso com o clube francês. Tivesse já tido conhecimento do interesse do FC Porto seguramente não teria colocado a sua assinatura nessa renovação para sair, semanas depois, custando ao clube uma indemnização em forma de dois jogadores da equipa B. Falhado o processo Marco Silva, sem grandes alternativas no mercado de técnicos dispostos a queimarem a sua carreira num banco que já foi de sonho e hoje é uma cadeira de electrocussão, chega então um homem que já teve uma passagem consolidada pela liga portuguesa em clubes de perfil médio alto como são o Braga e o Vitória e que, desde Dezembro, tem uma melhor carta de apresentação do que alguma vez poderia ter Marco Silva. Recordamos que ambos começaram 2017 a treinar equipas na linha de água do seu respectivo campeonato. Silva desceu de divisão, Conceição levou o Nantes ás portas da Europa alcançando o melhor resultado em dez anos na história do clube. A reter!

Conceição é um pragmático como técnico, reflexo do que era como jogador. 
Todos nos lembramos daquele lateral de projecção ofensiva que se curtiu no Felgueiras de Jorge Jesus e que explodiu no FC Porto de António Oliveira, passando mais tarde para extremo, antes de passar para Itália onde viveu a época dourada da Lazio antes de voltar ainda ao Porto, com Mourinho, para ser campeão europeu em 2004. Durante esse período como jogador foi sempre vertical, directo, frontal e raçudo, traços que tem repetido como técnico. Não vive colado a um sistema táctico e isso é positivo. Nuno Espirito Santo, sem ir mais longe, chegou no ano passado a prometer que ia respeitar o 4-3-3 histórico do FC Porto para acabar perdido num desenho táctico que só ele parecia entender. Lopetegui, por outro lado, nunca quis sair do seu 4-3-3 mesmo quando era evidente que a equipa pedia variantes. Ter um treinador ambicioso e flexivel tacticamente é sempre importante num cenário de incerteza com o futuro do plantel. A sua matriz de jogo é portanto um reflexo do material de trabalho que tem e isso garantirá sempre uma abordagem realista, algo que o projecto necessita claramente. 
Até ao presente Conceição não tem títulos para apresentar nem jogos memoráveis das suas equipas a nível táctico mas o que tem é uma clara mensagem de trabalho e de preparação consciente de cada jogo dentro das suas particularidades, podendo portanto ser altamente provável que a equipe oscile entre o seu habitual 4-3-3, o 4-4-2 ou o 4-2-3-1, modelos que usou em distintos momentos da época em cada um dos seus três projectos mais significativos como técnico. 

Paralelamente à dimensão táctica, Sérgio é inevitavelmente um técnico com um discurso pro-activo, muito distante da figura quase patética de Nuno Espirito Santo e do autismo de Lopetegui. Conceição não precisa de desenhos nem de sacar frases feitas como "Somos Porto" para reforçar a sua união emocional com o clube e com os adeptos. A sua liderança é verbal e frontal, um discurso para os adeptos, para os rivais e também para dentro, para a motivação colectiva e individual dentro dos elementos do plantel uma vez que é um reflexo daquilo que foi jogador e como se tem visto em várias experiências recentes, ser um treinador com um passado de futebolista de elite não deixa de ser um reforço para a mentalidade grupal. Está claro que vai herdar um plantel com fome de títulos e dentro da sua dimensão de discurso tem tudo para transformar a ânsia de comer com a consecução dos objectivos traçados.



Inevitavelmente Sérgio será também julgado por títulos e para isso dependerá inevitavelmente do plantel à sua disposição. Fernando Gomes deixou cair recentemente que a culpa do estado actual das finanças do clube é de NES pela exigência em manter vários titulares - afinal a culpa é sempre do treinador no FC Porto - e portanto parece óbvio, mais depois da confirmação das sanções da UEFA, que muitas pedras chave vão sair. Quem ficará, quem chegará e como será o plantel, dentro do equilíbrio necessário, ditará muito da sua própria ambição de trabalho. Sem ovos não há omeletes e ainda que o FC Porto tenha ganho um título com Sebas, Liedsons, Izmailovs e Kelvins o certo é que nesse plantel havia também Jackson, Fernando ou Moutinho. A necessidade de apostar na formação, em jogadores do perfil baixo que terão de dar um passo em frente no clube são, ironicamente, também reflexo da própria ascensão de um técnico que foi campeão de juniores antes de ser campeão de seniores. Transmitir essa fome e os valores do clube encontra reflexo na sua própria mensagem e atitude pro-activa. 

Resta portanto saber como vai poder Sérgio Conceição lidar com essa nova realidade dentro do que é a sua primeira grande etapa como treinador principal e como uma etapa de preparação de meia dúzia de anos se transformará em ferramenta útil dentro do seu processo de afirmação como o novo leme do Dragão. Para o final fica a mensagem dada pelo próprio Conceição no seu discurso de apresentação. Acreditemos pois!   

"Muito obrigado ao presidente, às pessoas do FC Porto e aos portistas que acreditam e aos não acreditam. Estarei aqui para provar que posso dar-lhes alegrias. Estou plenamente consciente. Trabalhar ao mais alto nível é conquistar títulos"  

6 comentários:

nuno disse...

Acho que é o Homem certo...

Agora têm de lhe dar os ovos senão não pode fazer a omolete...

Com ele pelo menos os jogadores vão dar tudo em campo, certo Herrera?

Buck Naked disse...

A mensagem foi boa.
Falta agora saber que ovos vai ter SC para fazer a omelete. Se o FCP fosse efectivamente gerido como empresa o que aconteceria a uma administração que incorre nas restrições que se lhe apresentam para os próximos 3 anos? Obviamente que os acionistas/ donos da empresa teriam de os demitir. Que se passa no FCP ( que é dos sócios) ? Assobia se para o lado. E não há um esclarecimento, absolutamente nada! Meus amigos, as intenções e atitude do SC podem ser as melhores mas para mim é claro que ou os adversários baixam muito a qualidade ou vai ser um milagre sermos campeões. E enquanto tudo correr bem...o pior é que SC ao primeiro desaire vai ser pressionado pela comunicação social sempre ávida de sangue. E não vai ser bonito. Os portistas que se preparem . Vai ser uma época de enorme desgaste e para mim a chave do sucesso passará acima de tudo pelo plantel que conseguiremos reunir e pelo controle emocional que SC venha a demonstrar. Porque capacidade de liderança é vontade não lhe faltam

Luís Vieira disse...

Não me entusiasma. Preferia o Paulo Sousa, de longe. Não lhe conheço o trabalho no Nantes, para além dos resultados, mas o que vi no Braga e no Vitória é desolador. Defender com raça e sair no contra-ataque. Futebol de equipa pequena, pobrezinho. O Nuno trazia os mesmos predicados e foi o que se viu. A diferença está no discurso e na intempestividade. Já não vamos ter um intelectual de pacotilha, manso, a dar homilias nas conferências de imprensa. Mas também incorremos no risco de expulsões frequentes, quando se pede cabeça e frieza, num momento difícil da história recente do clube. Sem dinheiro para aventuras, o plantel também não será melhor que o dos rivais, certamente, por isso, o pessimismo persiste. Só um milagre do Simeone português...

Tiago Alves disse...

Miguel, só um pequeno reparo: Sérgio Conceição não foi campeão europeu pelo FC Porto, por já ter actuado nessa época pela Lazio na fase de grupos. Por essa razão, não pôde ser inscrito em Janeiro.

miguel87 disse...

Exacto, e também não foi lateral convertido a extremo, mas o contrário; só que no ano que voltou ao Porto foi o mesmo em que Capucho foi contratado e o Oliveira jogou muitas vezes com 3 centrais, colocando CS na ala direita.

Josef K. disse...

O Nantes contratou o Ranieri.
Porra... Acho que eles é que deviam pagar-nos e não o contrário!
É triste um treinador preferir um clube francês de meio da tabela do que o FCP.
Mais triste ainda é ter a impressão que nem tentamos contratá-lo.
Seja uma coisa ou a outra ou as duas, é sintomático.
Vou alongar acender umas velas à Nossa Senhora dos Aflitos...