sábado, 3 de março de 2018

Oito vitórias...

Não quero saber de tropeções alheios e estou preparado para aceitar tropeções próprios, mesmo no pior cenário. O que sei, apenas e só, é que o FC Porto está matematicamente a oito vitórias de ser campeão nacional. Podem ser 7+1 empate na Luz, podem ser 6+2 empates do Benfica, podem ser até 5+6 pontos perdidos do Benfica em tantos jogos. Tanto me faz. Este Porto vive jogo a jogo e é assim que tem de continuar a viver nos próximos dois meses. São oito triunfos para fechar em casa, com os Dragões, frente ao Feirense, um título que ontem ficou, mais uma vez, claro que tem tons azuis e brancos já escritos. Tudo pode passar até Maio mas nenhuma equipa tem sido melhor, mais competente e mais querido vencer que o FCP de Conceição. Mesmo numa noite de escasso mérito futebolistico tudo o resto fez a diferença e além de atirar o Sporting para fora da luta, praticamente, logrou-se reforçar uma sensação de invencibilidade emocional que nestes momentos conta mais do que tudo.

Há duas formas de olhar para o Clássico de ontem no Dragão mas apenas uma conclusão: o Porto tem sido sempre melhor, no cômputo geral, nos duelos com todas as equipas nacionais este ano. É o quarto duelo com os leões - falta um, igualmente importante porque a Dobradinha pode e deve ser objectivo - e uma vez mais ficou claro que o Sporting nunca conseguiu ser superior. Foi melhor, em momentos do jogo, mas superior nunca. Nunca o tem sido como não foi o Benfica no jogo do campeonato nem qualquer outra equipa. Num torneio claramente nivelado por baixo em talento individual e colectivo o Porto tem sabido fazer das suas fraquezas forças e entendido a natureza cada vez mais evidente do futebol luso, para o bem e para o mal. O que nos leva a ver o duelo de ontem de duas perspectivas diferentes mas forçosamente complementares.



Por um lado não se pode dizer que tenha sido um bom jogo. Foi emocionante, tenso mas fraco. O Porto jogou pouco e durante alguns momentos do choque foi superado. É uma equipa que lhe custa muito, muito controlar os jogos, parar os jogos, adormecer os jogos. Vive na vertigem. Conceição foi apresentado e já se sabia da sua boca que era homem de preferir o 1-0 ao 4-3 e que o 4-3-3 era um modelo historicamente ligado ao clube com o que se identificava. Não procurou nem uma coisa nem outra todos estes meses, para o bem e para o mal. A equipa joga, quase sempre, um 442 ou 424 de peito aberto exposto no meio-campo e demasiado dependente da velocidade das transições, e apesar de ter uma boa defesa permite aos rivais mais oportunidades do que seria desejável. Quando esses rivais têm nível - leia-se Liverpool ou até mesmo o caso do Bessiktas - pode sofrer e muito a ousadia. Quando em causa está o nivel médio do futebol português actual a coisa muda de figura. Conceição não inventou nada. Em 2009 Jesus chegou ao Benfica com essa mentalidade. Excluindo (se é que isso é possível) factores extra-desportivos, aquele seu onze era o que Conceição procura hoje mas com uma qualidade individual muito superior á que dispomos e sempre com jokers para momentos de aperto que já conhecemos. Mas durante uma década o futebol português converteu-se nisso. O 433 inteligente de Vitor Pereira salvou-se por um milagre mas as restantes equipas campeãs sempre procuraram modelos similares e Conceição, inteligentemente, fez o mesmo. O que isso provoca são jogos como os de Portimão, na maioria dos casos, o que dá os números ofensivos que nos levam aos dias de Robson, mas também jogos como ontem, contra rivais de outro nível, onde se sofre muito porque não há rotinas de posse e não há uma coesão táctica no meio-campo que permita respirar. Também essa exigência fisica constante tem dois efeitos colaterais importantes. Exilia a jogadores inteligentes e influentes mas sem esse ritmo - caso de Oliver Torres mas, como se depreende das palavras de Conceição, do próprio Paciência - e leva ao limite do desgaste físico os habituais titulares. O histórico de lesões musculares de este ano não pode surpreender quando se exige tanto fisicamente aos jogadores que não param em nenhum momento e que são apenas humanas. Marega foi a última vitima, um jogador que nem sequer foi alvo de rotação mesmo quando a equipa vencia com tranquilidade vários jogos, e o melhor exemplo dessa cultura. Com dois meses pela frente ainda e o lote de lesionados a tender a aumentar progressivamente á medida que o cansaço sobe esse será um importante ponto a gerir.

De facto ontem o Porto foi superior mas não foi uma grande equipa. Raramente houve triangulações, saídas a jogar em colectivo, trocas de bola largas. Não. Houve precipitação - sobretudo na linha defensiva, sempre nervosa a aliviar bolas que a segunda linha do Sporting quase sempre recuperava por superioridade númerica - e pouca paciência. Os golos nasceram de um lance de bola parada mal defendido e de dois momentos de grande inteligência individual, de Maxi Pereira que viu Herrera só, com tempo para colocar um centro tenso e perfeito, e também de Gonçalo, que soube colocar a bola no momento certo e no local certo para que Brahimi, com a frieza das estrelas, acabasse com a malapata de não anotar em jogos grandes. Houve ainda três oportunidades - um lance confuso na área que Marega não aproveitou, o remate sem força mas com intenção que antecedeu a lesão do maliano a uma saída de Rui Patricio e a brilhante corrida de Dalot que terminou com um disparo precipitado de Paciência - mas fora isso a produção ofensiva foi escassa e defensivamente a equipa mostrou-se insegura em muitos momentos, cedendo faltas desnecessárias - sobretudo Felipe - e permitiu um golo que deixa louco qualquer treinador. Pela perda da bola em zona central (Brahimi), porque nem Oliveira nem Herrera souberam apertar Ruiz e porque entre dois centrais demasiado espaçados, Leão soube encontrar com comodida o espaço para disparar sem pensar e colocar a bola debaixo das pernas de Casillas (que pareceu Baía em alguns momentos ontem, para o bem e para o mal) num remate que surpreendeu o espanhol, que mais tarde se resserciu brilhantemente com uma defesa espectacular a Montero. Entre essa defesa e o remate isolado de Leão (fosse Dost e seria outra conversa seguramente) e não se pode dizer que o Sporting não tenha gerado ocasiões suficientes para merecer mais. Mostrou querer mais em muitos momentos e foi um digno rival, mas também ficou vivo demasiado tempo porque, inexplicavelmente, Conceição continua a acreditar em Corona. O mexicano vai seguramente entrar na história como um dos piores investimentos do clube. Um jogador que toma sempre mal a decisão que tem de tomar, seja no passe, no controlo ou no remate. Esforçado mas trapalhão, rápido mas sem aproveitar os metros que ganha e sobretudo incapaz de ser pro-activo no passe ou no remate, Corona só contribuiu com os seus erros a fazer um jogo que devia ter sido controlado num encontro de carrinhos de choque. O jogo pedia claramente Oliver mas a lesão de Marega levou Conceição a colocar Reyes (antes já Aboubakar, ainda sem ritmo claramente, rendeu Gonçalo) e a meter-se ainda para mais atrás e a expor-se a um ultimo ataque desesperado dos leões. Um ataque que o próprio Dragão ajudou a suster numa noite de ambiente incrivel.



Dito tudo isso, e sabendo que este modelo é o que nos trouxe aqui e a dois meses dificilmente será alterado - outra coisa é o futuro mais distante - não podemos terminar sem deixar de prestar a devida vénia ao trabalho de Conceição. Em Agosto a imensa maioria dos adeptos - portistas muitos, eu inclusive - temiam o pior. Outro ano de seca, mau futebol, jogadores sem nível, entrega mas sem resultados. O plantel era curto e escasso de talento. E Conceição era um enigma. Dizer que o Porto seria lider e disputaria um Clássico decisivo com seis titulares inesperados naquele mês é dizer muito. O Porto foi a jogo com um miudo da equipa B (que futuro terá Dalot se quiser e lhe deixarem na SAD), um dispensado chamado Maxi, um Oliveira que muitos nem se lembravam que existia. Com um hiper-questionado Herrera, com um emprestado repescado com um grande histórico de lesões como Gonçalo e com a epitome de todas as criticas como era Marega. Seis de cinco. E todos eles foram determinantes na vitória. O certo é que este plantel é um milagre com pernas e isso deve-se ao jogador e ao trabalho táctico e emocional de Sérgio Conceição e jamais pode ser ignorado. Sem um cêntimo para gastar, com toda a imaginação do mundo, a cada problema o técnico tem encontrado solução. Sem Danilo há mês e meio Oliveira deu um passo em frente. Sem Telles lançou-se sem medo Dalot e um Maxi com um pé na China aguentou bem a ausência de Ricardo. Casillas voltou merecidamente a marcar diferenças e Herrera, que sofre quando se exige jogar em posse, encontrou neste modelo o paraíso. Soares, perdido completamente em Dezembro agora parece fundamental e Marega vai deixar saudades este mês - quem diria - mas seguramente terá também alternativa milagrosa. Não há, na memória recente, uma história mais bonita que a de este plantel do FC Porto e da forma como está a superar qualquer sonho e expectativa. Todos os adeptos merecem celebrar o título mas, por primeira vez em muito tempo, atrevo-me a dizer que mais do que nós, este título merecem, antes que todos, esses jogadores e essa equipa técnica.

Oito vitórias amigos. Oito...

6 comentários:

LAFOI_93520 disse...

Caro MLP, boa noite.
Uma das melhores e mais clarividentes análises que tenho lido sobre o nosso FCP. Excelente, gostei bastante.
1 grande abç e continue a prestar estes bons serviços a todos nós, Portistas.
Viva o FCPorto.
Luís Oliveira

vidente mor disse...

tudo isso e verdade, se ontem em vez do sportinh estivesse o liverpool ou do genero tinhamos levado outra vez 3 ou 4. Com equipas da mesma igualha nao podemos jogar neste frenesim constante, para SC nao existe meio campo. JA AGORA OS LAMPIOES AVIARAM 5 AO MARITIMO E EM 26 MINUTOS JA ESTAVA TREA A ZERO, SERA QUE NINGUEM INVESTIGA, NAO APARECE UMA DENUNCIA ANONIMA, SERA QUE OS JOGADORES DO MARITIMO NAO ESTARIAM ADORMECIDOS COM QUALQUER COISINHA RELUZENTE?

eumargotdasilva disse...

muito bem, Miguel...desta vez, bem pensado e bem escrito

Pedro M. disse...

Bem traduzido o que todos nós sentimos e sofremos. Por eles e por nós, juntos havemos de conseguir estas oito vitórias.
Saudações Portistas!

Luís Negroni disse...

Cada dia que passa lá surge mais um tentáculo do polvo, só não vê quem não quer, que lfv é o maior mafioso português de sempre e este slb de vieira é uma associação hipermafiosa como nunca existiu outra em Portugal. Por isso é que me custava bastante ler as loas algo ingénuas que MLP tecia a este slb até aqui há 2 ou 3 anos atrás. Agora e de há uns tempos pra cá, escreve coisas que fazem sentido e que vão na linha do que toda a gente vê: slb de vieira = bandidagem.

miguel.ca disse...

Conforme o Vidente Mor lembrou aqui e bem, algo de muito grave se passou no Marítimo após a goleada do fifica já que Fábio Pacheco ficou proibido de se treinar com a equipa e de frequentar instalações do clube.
Não tenho ouvido falar disto nos programas da tv mas parece-me evidente que temos aqui mais uma intervenção divina do patriarcado da catedral na busca de resultados que permitam não só que se mantenham na luta pelo penta da vergonha como elevem a moral da equipa e a faça acreditar de que são tão bons quanto o Porto.
Mas o Estoril é que merece investigação, mesmo depois de comerem 6 do Braga...
Investigue-se.