Vencer na Luz
tornou-se praticamente uma obrigação. Um empate – como sucedeu em 2015 – dará sempre
alguma esperança correndo o risco de prolongar a agonia desnecessariamente.
Quem viu o jogo em Setúbal percebe perfeitamente o que nos espera. O Benfica
vai somar todos os pontos que necessite, da forma que seja necessária e contra
quem seja necessária. Os que pensam que Alvalade pode provocar uma hecatombe é
não conhecer nem o Sporting, nem o estado actual quase esquizofrénico naquele
balneário e a história recente de ambos duelos. A isso há ainda que somar que
viajar ao Funchal e a Guimarães, duas deslocações altamente complicadas onde
não vai haver jokers e ajudas extras. Isso faz do jogo da Luz o santo gral da
temporada.
Ironicamente este
FC Porto está muito mais formatado para vencer na Luz do que propriamente para
triunfar nos campos em que tropeçou. O modelo de Conceição necessita de espaço
e na Luz haverá bastante espaço. Se o jogo da primeira volta deu pistas (e eram
tanto outro Porto, muito mais dinâmico, e outro Benfica, muito menos em forma)
é que o Porto de Conceição sabe os pontos a explorar e sabe como lá chegar. O
problema, no caso da Luz, não será tanto o modelo de jogo como noutros casos,
mas sim de mentalidade e condição física.
O último mês
deixou claro que houve um claro abaixamento fisico do plantel. Por um lado as
lesões – um record de lesões musculares que há que explorar a fundo à
posteriori com quem de direito – quebraram o ritmo competitivo de muitos
jogadores que estavam em forma, sobretudo no caso de Soares e Aboubakar. Por
outro a sobre-explotação de futebolistas como Brahimi acaba por ter
consequências e contar com o melhor jogador do plantel num estado de forma em
que está era previsivel desde há vários meses. Brahimi, historicamente, é um
jogador que se apaga nos últimos meses do ano mas com este modelo de pressão
alta e maior verticalidade o desgaste é superior e o resultado está à vista.
Num plantel efectivamente curto houve pouca margem para fazer gestão mas não é
menos certo que em muitos jogos resolvidos Brahimi foi um jogador raramente
poupado cedo. Partindo ainda para mais do principio que Oliver não conta e
Otávio além das lesões é um jogador de altos e baixos, é dificil imaginar que a
criatividade venha de outro lado no terreno de jogo. E com Brahimi assim é de
esperar, sobretudo, menos criação e mais verticalidade. E essa verticalidade
podia ser até uma boa opção não fosse o caso de que o Porto tem provavelmente o
avançado que mais oportunidades necessita para anotar (Aboubakar) e um jogador,
Soares, que teve dois meses bons de competição em sete. Na ausência previsivel
de Marega e o hábito de Conceição de procurar um Marega II, a verticalidade vai
procurar explorar o plano de sempre com caras novas.
Ricardo é o
candidato principal a extremo direito (a ausência de Corona e o facto de
Hernani não ser um futebolista profissional, ajuda) com Maxi a ocupar a posição
de lateral. O modelo já foi testado vezes suficientes para entender que é algo
que o técnico não vê com mais olhos, procurando um jogo mais interior de
Brahimi na associação com Oliveira e Herrera, deixando a Telles todo o
corredor. O problema é que neste estado de forma actual, integrar a Herrera e
Oliveira a responsabilidade absoluta do meio-campo é um convite ao desastre.
Herrera, que tem sido fundamental em 2018, tem perdido influência no jogo
porque o estado de forma, físico e animico,
actual de Oliveira o obriga constantemente a realizar correções em
campo. Danilo fará mais falta do que nunca e face esse cenário, podia
ponderar-se uma mudança de esquema, uma aposta no 4-3-3 com Reyes como pivot
defensivo (ou Oliver a reforçar o miolo) que garantisse controlo e menos
vertigem. Tendo em conta a mentalidade de Conceição, a dinâmica actual e a
necessidade de ganhar sim ou sim é complicado antecipar que o técnico vai mudar
agora. Morrer com as botas postas e o esquema preferencial na cabeça do
treinador faz todo o sentido e no final será provavelmente o resultado a ditar
a razão das escolhas de Conceição.
No entanto,
talvez até mais que o físico, o trabalho fundamental desta semana do técnico
com o plantel tem de ser a nível mental. Chegamos a um ponto onde ficou claro
que o Porto, este Porto, tem um deficit de títulos e vitórias importantes nos
últimos quatro anos e os nervos, a tremideira de cruzar a ponte, como diria o
mestre Pedroto, faz-se sentir. É um balneário sem referências, com poucos
ganhadores com títulos na sua carreira e nenhum deles com a camisola do clube.
Do outro lado está uma equipa habituada a ganhar em piloto automático (como nós
sabemos) mas em duelos directos isso habitualmente faz toda a diferença. No
último mês, depois do golpe na mesa que foi a segunda parte contra o Estoril e
a vitória contra o Sporting, aos jogadores (e ao treinador) entrou a vertigem,
entrou o medo e entrou a insegurança, resultado da falta dessa cultura de
vitória. Dessa cultura à Porto alimentada durante tantas décadas. Mais do que o
443, mais do que o estado fisico, Conceição terá de recordar todos os seus
brilhantes triunfos como jogador e injectar essas memórias, esse à vontade e
querer, nos jogadores para subirem ao relvado da Luz sem complexos, sem medos e
com a atitude desafiante e determinante que separa os “candidatos a” dos “campeões”.
Se esse trabalho não for feito será muito dificil que o resultado final seja
positivo.
Depois da Luz,
segundo o resultado, a época fica em suspenso. Portanto nem vale a pena pensar
sequer nisso. Há três pontos para ganhar e só três pontos para ganhar. Três
pontos a ganhar à Porto. Três pontos mentalizados à Porto. Três pontos. Não há
mais. Não há menos. Que venha o apito inicial.
1 comentário:
"O último mês deixou claro que houve um claro abaixamento fisico do plantel. "
Ser saco de pancada desde Janeiro tem destas coisas, com os adversários a aproveitar para apontarem às pernas com impunidade.
"No entanto, talvez até mais que o físico, o trabalho fundamental desta semana do técnico com o plantel tem de ser a nível mental."
Pois, infelizmente confirma-se que títulos, só com trabalho a nível legal. Se for necessário mais um fora de jogo único no mundo, ele virá.
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