O FCP acaba de celebrar uma extensão de contrato por 5 anos com a Olivedesportos, passando a receber 10,4 milhões €/ano contra 8 milhões €/ano anteriormente. Isto traduz-se num aumento de 28%, o que à primeira vista é muito bom.
Ao mesmo tempo estes valores são ligeiramente superiores ao que os rivais da 2a circular usufruem neste momento, o que só confirma o bom negócio.
No entanto, isto traduz-se também num aumento de 5%/ano, pouco acima da inflação. Mas mais do que isso, verifico que, comparativamente falando, as receitas são baixas no panorama europeu.
Os 10 clubes mais ricos da Europa (que em média têm menos adeptos que o FCP) receberam em 06/07 em média 70 milhões €/ano, ou seja 7 vezes mais do que o FCP vai passar a receber até 2015. E a tendência é para um forte aumento nos próximos anos.
Se é verdade que esses clubes são na maioria oriundos de mercados bastante mais vastos que o português, isto é só a ponta do icebergue; olhemos para as receitas totais dos clubes da I Liga dos maiores países da Europa.
Em Inglaterra os clubes recebem no total cerca de 1100 milhões €/ano pelos direitos de transmissão de jogos do campeonato, vendidos em 3 pacotes: 290 milhões pelos direitos para o estrangeiro, 190 pelos direitos para a Internet e telemóveis, e o restante (cerca de 600 milhões) pelos direitos para as Ilhas Britânicas. E em 2010 estes valores serão mais uma vez renegociados (quase certamente para cima).
Em Portugal, os clubes recebem no total cerca de 40 milhões €/ano. Ou seja, 27 vezes menos.
As receitas no resto da Europa são mais baixas mas não deixam de se traduzir em diferenças que o tamanho do mercado não justifica. Na própria Grécia (mercado semelhante ao português) as receitas são bastante mais altas, apesar do custo para o consumidor (i.e. a subscrição dos canais televisivos) até ser mais baixo do que o custo de subscrição da Sport TV.
E ao contrário da Grécia, nós até temos um mercado razoavelmente apetecível no estrangeiro, começando pelos países de expressão portuguesa mas não só (ainda recentemente me surpreendi ao ver a transmissão integral de um Guimarães - Leixões no lobby do aeroporto de Abu Dhabi).
Olhando ainda para isto noutra perspectiva, é fácil de concluir que a margem de lucro de Joaquim Oliveira neste negócio é obscenamente de várias dezenas de pontos percentuais, além de que têm crescido bastante mais rapidamente do que o que pagam aos clubes (número de subscritores, vendas ao estrangeiro, internet).
Enquanto a Olivedesportos paga uns 40 milhões /ano aos clubes pela transmissão dos jogos do campeonato - de longe a principal razão para a adesão de subscritores - só em subscrições a Sport TV deverá encaixar mais de 80 milhões / ano.
Que pasa?
Parece-me que há uma certa tendência do mercado para um monopólio natural, mas isso também se passa em muitos outros mercados no estrangeiro onde os clubes recebem uma fatia bem maior do "bolo" (Escócia, Grécia, Bélgica, Holanda), logo não explica tudo.
Além de que existem alternativas: se um FCP se quisesse dar ao trabalho podia entrar em acordo com um canal existente (por ex Porto Canal) para a transmissão dos jogos em pay-per-view por cabo e por Internet, o que poderia facilmente ultrapassar os 10 milhões €/ano em lucro (a um preço/jogo de 3 € e com uns 300mil subscritores teríamos quase 15 milhões €/ano de receitas, excluindo os custos de operação - relativamente baixos para um canal existente - mas excluindo também a revenda para o estrangeiro).
Penso que um factor determinante (para o FCP mas também para os restantes clubes da I Liga) é as relações demasiado próximas e históricas com Joaquim Oliveira, que entre outras coisas é accionista de referência de diversas SADs, começando pela SAD do FCP. Este factor é muito específico a Portugal e penso que explica em boa parte porque razão Joaquim Oliveira consegue fazer lucros tão obscenos com os direitos televisivos.
Concluindo, penso que o tamanho do mercado limita o potencial de receitas (nunca chegaremos perto de um grande clube inglês ou espanhol, longe disso), mas penso que querendo a SAD do FCP (e dos outros grandes) facilmente conseguiria chegar a receitas de 15 milhões €/ano. E isto sem precisar de se sujeitar a todos os caprichos da Sport TV, começando pelos jogos a horas e dias impróprios.
Só que para tal possivelmente teriam que se chatear com Joaquim de Oliveira, e muitos não querem e/ou não podem sujeitar-se a isso... entretanto vamo-nos contentando com um aumento razoável pouco superior à inflação, o que afinal de contas até já nem é mau de todo.
Joaquim de Oliveira usa da sua influência que tem na esmagadora maioria dos Clubes, para retirar beneficios para os seus negocios. A entrada nas diversas SAD´S foi uma questão de "compromisso" em troca do grande favor, garantir-lhe as transmissões televisivas.
ResponderEliminarAlem disso não raras vezes a Olivedesportos tem adiantado receitas dos contratos assinados com alguns Clubes, para que estes possam fazer face aos seus problemas de tesouraria.
Tudo isto leva que os Clubes acabem por ficar refens de Joaquim de Oliveira e garantir-lhe uma quase exclusividade neste mercado televisivo. Basicamente a Olivedesportos tem quase todos os clubes na mão.
Honestamente, e concordando, qual de nós não faria o mesmo ?
ResponderEliminarA facturação da SportTV em subscrições andará acima dos 120 milhões (recentemente foi divulgado que tinha 513 mil subscritores, por isso é só fazer as contas).
ResponderEliminarMas o maior mistério é quanto ganha a Olivedesportos na venda dos jogos para fora de Portugal? Há tempos apareceu no Blog da Bola o seguinte n.º: "recebe cerca de 2 milhões de euros de cada
um dos 70 países para onde exporta os jogos". E por aqui sim, acho que os clubes podiam pedir mais.
Embora ache que a evolução dos direitos televisivos tem sido interessante para o FCP e que este é um bom contracto, o facto de este novo contracto ter sido anunciado com 1 ano de antecedência do fim do contrato anterior, e num ano em que há concurso para a TDT e para um 5º canal generalista (a que o grupo do Oliveira vai concorrer) não é certamente um mero acaso.
É bem observado, João Saraiva mas às vezes mais vale um pásssaro na mão que dois a voar...quantas decisões accionistas erradas não foram tomadas porque a Sonae ia comprar a PT ? Não é fácil fazer futurologia.
ResponderEliminarEu não crítico a venda dos direitos, como já escrevi, acho que se trata de uma boa evolução e não tínhamos mais ninguém a quem vender (se calhar a única crítica que faço é a extensão, acho que estes actos deveriam estar mais ligados à duração dos mandatos das administrações, ou seja até 2011). A minha observação foi mais para salientar um aspecto "político" que pode ter pesado na decisão deste acordo e de ser nesta altura.
ResponderEliminarps: no meu comentário anterior, onde está "contracto" deve-se ler-se obviamente "contrato" (às vezes parece que o teclado tem vontade própria - e é o que dá clicar 'publicar' sem reler).
"Honestamente, e concordando, qual de nós não faria o mesmo ?"
ResponderEliminarEu estou convencido q o FCP já passou essa fase de necessidade há muito.
Neste momento e conhecendo as contas da SAD razoavelmente bem, não me parece q tenhamos qq necessidade para favores do J Oliveira (por ex adiantamentos de receitas).
De resto a gratidão é um sentimento nobre, mas parece-me que a haver dívidas de gratidão já a pagamos toda e com ALTOS juros...não devemos nada a J Oliveira.
Suspeito pois que há neste momento da parte da SAD algo mais do q isso, como amizades e ligações históricas q levam a q não haja uma verdadeira perspectiva de "business" nas negociações de contratos televisivos.
Se outros (começando possivelmente pelos outros dois grandes e acima de tudo os mais pequenos) estão mais "amarrados", o problema é deles e só deles.
«Suspeito pois que há neste momento da parte da SAD algo mais do q isso, como amizades e ligações históricas q levam a q não haja uma verdadeira perspectiva de "business" nas negociações de contratos televisivos.»
ResponderEliminarNão me custa concordar com esta afirmação do Zé Rodrigues.
A questão que levanto é outra.
Se não fizessemos este contrato com a Olivedesportos, que vai render à SAD 10,4 milhões €/ano, qual era a alternativa?
Negociar com outra entidade?
OK. Quem?
"A questão que levanto é outra.
ResponderEliminarSe não fizessemos este contrato com a Olivedesportos, que vai render à SAD 10,4 milhões €/ano, qual era a alternativa?"
No artigo apresentei uma alternativa a estudar: penso q há vários canais de Cabo a q nos podíamos associar (e podíamos até mesmo disponibilizar jogos via Internet), cobrando as transmissões aos utentes em pay-per-view (i.e. x euros/jogo, a la carte).
Quanto aos canais generalistas (q não sei se foi investigado a sério ou não, mas não me admirava muito q não tenha sido), eles têm uma desvantagem competitiva em relação à Sport TV: só fazem dinheiro através de publicidade, não têm subscrições para financiar isto.
Uma ajuda a um negócio com esses canais seria o pay-per-view, mas tecnicamente é capaz de ser difícil a um canal de sinal aberto implementar isto (não sei), já através de cabo é fácil de se fazer hoje em dia (como se vê nos filmes q se pode comprar individualmente na TV Cabo).
E finalmente nada impede q estudássemos uma solução mista, como os clubes ingleses utilizaram: separar os direitos para transmissão interna, para transmissão para o estrangeiro e para os media (Internet, telemóveis).
Já agora... passa-se a ideia em público de q não há alternativas. Ora eu pergunto então se na Escócia, na Grécia ou na Holanda há mais alternativas... no entanto conseguem encaixar bastante mais dinheiro, e não é por o mercado ser maior.
Ainda sobre o ponto anterior... não sei quantos utentes tem a TV Cabo, mas terá certamente perto de 1 milhão.
ResponderEliminarEntre estes, não acham que conseguiríamos vender jogos a 3 euros/jogo a uns 300mil, em média, com um preço mais alto para as recepções a slb e SCP (digamos 5 euros ou até mais)?
Temos os portistas, mas temos também os cafés e outros lugares públicos, e até os próprios lampiões e lagartos estariam dispostos a ver alguns jogos do FCP no Dragão, principalmente aqueles em q a sua equipa lá vai.
Além disso não conseguiríamos vender mais uns 100mil pela Internet (com cada vez mais portistas por esse mundo fora)?
E não conseguiríamos (através de intermediário) revender os direitos para outros países por vários milhões/ano?
Isso daria algum trabalho, mas não tanto como isso. E só a ameaça de o fazer colocaria o J Oliveira em atenção, aumentando a parada.
Q fique claro q não critico o negócio feito (embora não goste muito da duração, preferia apenas 3 anos), supseito apenas q deve haver condições para se conseguir ainda melhor se se colocar as amizades com J Oliveira de parte, tratando a Olivedesportos como qualquer outro parceiro negocial.
«cobrando as transmissões aos utentes em pay-per-view (i.e. x euros/jogo, a la carte)»
ResponderEliminarTenho dúvidas que o mercado português esteja suficientemente maduro para uma solução deste tipo.
Lembro-me de, há uns anos atrás, a TV Cabo ter experimentado um espaço/horário com a programação a ser da responsabilidade de Sporting e FC Porto. Foi um enorme fiasco.
Veremos o que vai dar o Benfica canal, cujo arranque foi anunciado para o final deste ano.
«nada impede q estudássemos uma solução mista, como os clubes ingleses utilizaram: separar os direitos para transmissão interna, para transmissão para o estrangeiro e para os media (Internet, telemóveis)»
ResponderEliminarDe acordo, mas isto teria de ser gerido por quem percebesse do negócio, tivesse os contactos e, claro, tivesse acesso às infra-estruturas tecnológicas para transmissão dos conteúdos.
Em Portugal, tirando a Olivedesportos, quem mais corresponde a este perfil?
"Entre estes, não acham que conseguiríamos vender jogos a 3 euros/jogo a uns 300mil, em média, com um preço mais alto para as recepções a slb e SCP (digamos 5 euros ou até mais)?"
ResponderEliminarSinceramente acho que não. Mas também achei que no Dragão as assistências seriam +- iguais às Antas (e enganei-me redondamente)
Exclente análise e réplicas do José Rodrigues.
ResponderEliminarMas, caro amigo, não são só as ligações afectivas e históricas. São necessidades de facto (tesouraria) que ainda recentemente houve que resolver...