terça-feira, 5 de agosto de 2008

A cotação das acções da FC Porto, SAD

A cotação da FC Porto – Futebol SAD mantém a tendência negativa dos últimos tempos tendo encerrado a sessão de 31 de Julho de 2008 a valer 1,33 euros cada acção. Recorde-se que em 30 de Maio cada acção valia 1,56 euros, o que significa que o valor de mercado da sociedade sofreu uma queda de 15% em apenas 2 meses. No entanto, esta descida não está relacionada com os problemas surgidos nos últimos meses relativamente à participação ou não do FC Porto na Champions League da próxima temporada. Aparentemente os investidores não foram influenciados pelo ruído criado. O problema da desvalorização acentuada é generalizado a todo o índice PSI-Geral onde as acções do FC Porto estão incluídas. É uma tendência do mercado accionista como um todo como podemos ver no gráfico seguinte, em que a prestação da SAD está fortemente correlacionada com a tendência do PSI-Geral:

Fonte: Bloomberg
A FC Porto, SAD desvalorizou no último ano cerca de 42% enquanto o índice PSI-Geral desvalorizou cerca de 35% para o mesmo período.

Se compararmos a prestação bolsista do FC Porto com a dos outros dois clubes cotados podemos concluir que durante a maior parte do ano as acções do SLB lideraram as quedas (como não poderia deixar de ser!) e acabaram por desvalorizar 40% no mesmo período. As acções do SCP acabaram a desvalorizar também 40% no último ano e estiveram durante largos períodos com desvalorizações superiores às do FC Porto. No que diz respeito a quedas acentuadas ninguém se fica a rir. Em apenas um ano os três grandes perderam quase metade do seu valor em bolsa. O gráfico seguinte ilustra esta descrição:

Fonte: Bloomberg

O caso do SLB pode considerar-se de maior gravidade dado que foi uma sociedade que entrou em bolsa há pouco tempo, com um preço inicial de 5 euros por acção, entrando logo em queda acentuada não valendo de nada, a médio prazo, a bondosa OPA lançada por Joe Berardo que ofereceu, recorde-se 3,5 euros por acção. Mais tarde, e como não podia deixar de ser no clube que um dia Artur Jorge apelidou de “Circo”, surgiu uma OPA alternativa liderada por um grupo de chineses que “chegariam a Portugal nos próximos dias” e que acabaram por nunca chegar (onde é que eu já ouvi histórias destas relacionadas com este clube?) pela mão do empresário Vasco Pereira Coutinho que quando questionado pela CMVM lavou as mãos e alertou para “possível especulação”. Nessa altura houve grande volatilidade nos títulos benfiquistas associada a movimentos especulativos o que motivou a abertura de um inquérito por parte da entidade reguladora, a CMVM, cujas conclusões até hoje desconheço. Pois a verdade é que nem com OPA’s fantasma o SLB recuperou dessa queda e hoje vai transaccionando a cerca de 2 euros por acção.

Podemos tentar perceber o que motiva uma tendência tão negativa e de longo prazo das acções do FC Porto. O comportamento bolsista dos títulos pode depender de diversos factores como a expectativa de crescimento das receitas, o valor dos dividendos a distribuir, a taxa de crescimento desses dividendos, a taxa de retorno exigida pelo investidor e até a qualidade da informação financeira disponibilizada. A verdade é que nenhum dos clubes portugueses cotados se pode dar ao luxo de distribuir dividendos aos accionistas dado que vivem no limite da obtenção de receita adicional e se debatem constantemente com a luta pelo emagrecimento dos custos (com a nossa SAD à cabeça dessa luta, de forma bastante enérgica!).

A qualidade da informação financeira que os clubes disponibilizam ao mercado pode fazer com que os investidores se sintam mais seguros em investir em determinado título. Além de ser uma condição básica para a eficiência do mercado, é cada vez maior a importância dada às obrigações impostas às empresas cotadas em bolsa relativamente à produção e divulgação de informação financeira adequada. E, neste aspecto, convenhamos que, das três, a SAD do FC Porto é a que tem sido a mais coerente e a que mais tem cumprido, transmitindo aos investidores maior transparência.

Apesar disso, as acções do FC Porto, SAD são um título com pouca liquidez, cuja desvalorização foi constante desde a entrada em bolsa e nem a contratação de uma empresa financeira para assegurar liquidez e valorização (pelo menos foi essa a promessa do Dr. Fernando Gomes) resultou.

A cotação das acções transmite, teoricamente, o valor de mercado de uma sociedade. A queda verificada no valor das acções do FC Porto, SAD faz com que o valor de mercado da sociedade seja hoje muito inferior ao valor de liquidação dos seus activos. Isto sugere uma análise crítica à capitalização bolsista como real representação do valor da empresa, tendo em conta a dispersão do capital, a liquidez dos títulos e a informação.

Uma saída de bolsa por parte do FC Porto seria uma operação com custos elevados mas poderá ser uma possibilidade a considerar no caso dos títulos manterem a tendência negativa nos próximos tempos.

7 comentários:

  1. Excelente post.

    Também penso que o FC Porto tem de rever a sua presença na bolsa.

    Voltei de férias e irei fazer algumas mudanças no blog:

    legionofdragons.blogspot.com

    Abraço!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Existe por cá uma regra semelhante à da bolsa de Londres, segundo a qual um accionista com mais de x % do capital (em Londres, creio que um pouco mais de 70%)pode retirar a empresa de cotação? E, se sim, qual a percentagem por cá exigida? A saída de bolsa obrigaria, portanto, o clube a adquirir as acções necessárias ao atingimento desse patamar mínimo. Creio que seria a esses custos, essencialmente, que te referias. Estou certo?

    Por outro lado, eu acho que é um perigo manter-se a cotação em bolsa com as acções a valores tão baixos, pois isso é um convite a uma OPA hostil. E não creio que a "golden share" do clube fizesse algum eventual comprador hesitar muito. É que essa golden share só dá poder de veto em matérias como cessação de actividade, fusão, etc., e não sobre assuntos de gestão corrente.

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  4. "E não creio que a "golden share" do clube fizesse algum eventual comprador hesitar muito."
    Nunca ouvi da existência de direitos "golden share" por parte do FCP na Futebol-SAD. Pensava que não existiam.
    Mas sei que o FCP tem 40% das acções. E que existe uma % muito significativa espalhada por pequeníssimos subscritores que deteem as acções por amor... Logo, penso ser muito dificil qualquer investidor adquirir os 50,01%.
    Mas.... que a questão é pertinente e preocupante... lá isso é!
    Mas sabem o que me preocupa mais nesta SAD??? São os seus prejuízos acumulados!! Que a podem levar rapidamente à insolvência!
    É urgente mudar de política! Tem-se desbaratado as receitas extraordinárias obtidas ultimamente, com verbas pagas com passes de dezenas de jogadores que não servem para nada e com ordenados de jogadores espalhados pelos mais diversos clubes!
    Isso é que é preocupante!
    Quanto à cotação das acções, dou os parabéns pelo excelente trabalho de análise, mas... não vejo nehuma razão para que as acções do SCP e do SLB estejam cotadas a um valor superior às da FCP-Futebol SAD!
    Será que alguém poderá analisar essas razões?

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  5. Bom post Nunes. Na minha opinião, se as acções passarem a barreira do euro, penso que a SAD vai entrar em campo e retirar a sociedade do PSI-20, tanto mais como disse o Alexandre, estariamos demasiado vulneráveis a uma eventual OPA.

    Por outro lado, será que uma eventual retirada (e a respectiva aquisição de títulos) seria prejudiciais/perigosas para a saúde financeira da SAD? É que contrair um novo empréstimo para esse fim, podia ser demasiado pesado para a nossa já não muito famosa tesouraria.

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  6. A SAD do FCP vale neste momento, a preços de mercado, cerca de 20 milhões de Euros.

    Ou seja, o capital q não está nas mãos do FCP clube (60%) vale cerca de 12 milhões de Euros. Ou seja, uma bagatela (muito menos do q o passe de um único jogador, o Quaresma).

    Isto só por si indica q as acções da SAD são tudo menos um investimento financeiro (até pq a liquidez em bolsa atinge valores ridiculamente baixos). A cotação em bolsa é pois uma autêntica charada.

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  7. «A saída de bolsa obrigaria, portanto, o clube a adquirir as acções necessárias ao atingimento desse patamar mínimo.»

    Relativamente à hipótese traçada pelo Alexandre, suponho que para retirar a FCP SAD da Bolsa, a FCP SAD (ou o FC Porto clube) teriam de lançar uma OPA sobre a totalidade do capital.

    Penso que este cenário estará completamente fora das perspectivas da Administração da FCP SAD. Contudo, se decidissem avançar neste sentido, não acredito que, por exemplo, os irmãos Oliveira aceitassem vender os seus mais de 20% de acções pelo valor actual.

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