Atlanta, 2 de Agosto de 1996, Final dos 10 mil metros.
Ao entrar para a última das 25 voltas ao estádio olímpico, Fernanda Ribeiro tinha 20 metros de atraso em relação à chinesa Wang Junxia (recordista mundial da distância). O sonho do ouro olímpico parecia perdido, mas os últimos 200 metros da Fernanda foram absolutamente extraordinários e na recta final ultrapassou a “chinesa voadora” conquistando a medalha de ouro com o tempo de 31:01.63 (bateu o recorde olímpico e nacional).
No final da prova Fernanda diria: "Tinha prometido que lutaria até cair para o lado, só me faltou acabar de gatas. A partir do terceiro quilómetro comecei a sentir dores no tendão de Aquiles, cerrei os dentes, sofri, mas eu, pelo sonho de ser campeã olímpica, estava preparada para ir até... morrer! Só apanhei um pequeno susto quando vi a Wang, a chinesa do sangue de tartaruga, a isolar-se, a 400 metros do final. Mas nessa altura pensei que ainda não estava vencida...foi quando pensei na promessa de ir a Fátima a pé."
Em Atlanta, Fernanda Ribeiro fechou um ciclo de ouro até hoje inigualável por qualquer outro atleta português: Campeã Europeia em 1994 (Helsínquia), Mundial em 1995 (Gotemburgo) e Olímpica dos 10 mil metros.
Quatro anos depois, a 30 de Setembro de 2000, nas Olimpíadas de Sydney, Fernanda Ribeiro voltou a disputar a final dos 10000 metros. Apesar de ter feito um excelente tempo - 30:22.88 - e de ter batido o seu recorde nacional, “apenas” conquistou a medalha de bronze, atrás das etíopes Derartu Tulu e Gete Wami, mas à frente de atletas como Paula Radcliffe, Tegla Loroupe e Sonia O’Sullivan.
Maria Fernanda Moreira Ribeiro nasceu a 23 de Junho de 1969 em Novelas, Penafiel e durante a sua longa carreira reuniu um palmarés notável, quer a nível nacional, quer internacional.
Principais destaques do seu Palmarés Nacional:
1980
2ª na Meia-maratona da Nazaré, a 4 segundos de Rosa Mota (com apenas 11 anos!)
1982
Campeã Nacional de Júniores em Corta-Mato (com idade de Iniciada de 1º ano!)
1985
Campeã Nacional de 3000 metros (9:17.96)
1989
Campeã Nacional de 1500 metros (4:21.40)
1990
Campeã Nacional de 1500 metros (4:13.80)
1992
Campeã Nacional de 10000 metros (32:22.70)
1993
Campeã Nacional de 3000 metros (9:02.92)
1995
Campeã Nacional de 1500 metros (4:16.89)
Recorde Nacional dos 5000 metros, em Hechtel (14:36.45)
1996
Campeã Nacional de Corta-Mato
Campeã Nacional de 10000 metros (31:33.51)
1997
Campeã Nacional de Corta-Mato
1998
Campeã Nacional de Corta-Mato
Campeã Nacional de Estrada
Recorde Nacional dos 10000 metros, em Lisboa (30:48.06)
Campeã Nacional de 1500 metros (4:22.27)
1999
Campeã Nacional de Corta-Mato
2002
Campeã Nacional de Corta-Mato
2004
Campeã Nacional de 5000 metros
2008
Campeã Nacional de 10000 metros (32.07,54)
Principais destaques do Palmarés Internacional:
1987
Campeã Europeia de Júniores em 3000 metros, Birmingham (8:56.33)
1988
Vice Campeã do Mundo Júnior em 3000 metros, Sudbury (9:15.33)
Estreia nos Jogos Olímpicos (em Seoul’88) com apenas 19 anos
1994
- Medalha de ouro colectiva no Mundial de Corta-Mato em Budapeste
- Medalha de ouro nos 3000 metros em Pista Coberta, Europeu de Paris (8:50.47)
- Medalha de prata nos 10000 metros, Taça do Mundo em Londres (31:04.25)
- Medalha de ouro nos 10000 metros, Campeonato da Europa em Helsínquia (31:08.75)
1995
- Medalha de ouro nos 5000 metros, Taça da Europa em Basileia (15:24.48)
- Recorde Mundial dos 5000 metros
- Medalha de ouro nos 10000 metros, Campeonato do Mundo em Gotemburgo (31:04.99)
- Medalha de prata nos 5000 metros, Campeonato do Mundo em Gotemburgo (14:48.54)
1996
- Recorde Europeu de 2000 metros em pista coberta (5:37.34)
- Medalha de ouro nos 3000 metros em Pista Coberta, Europeu de Estocolmo (8:39.49)
- Medalha de ouro nos 10000 metros nos Jogos Olímpicos de Atlanta (31:01.63)
1997
- Medalha de bronze nos 3000 metros em Pista Coberta, Europeu de Paris (8:49.79)
- Medalha de ouro nos 5000 metros, Taça da Europa em Dublin (15:41.34)
- Medalha de prata nos 10000 metros, Campeonato do Mundo em Atenas (31:39.15)
- Medalha de bronze nos 5000 metros, Campeonato do Mundo em Atenas (14:58.85)
1998
- Medalha de prata nos 3000 metros em Pista Coberta, Europeu de Valência (8:51.42)
- Medalha de ouro colectiva e 4ª individual no Europeu de Corta-Mato em Ferrara
- Medalha de prata nos 10000 metros, Campeonato da Europa em Budapeste (31:32.42)
1999
Medalha de ouro nos 5000 metros, Taça da Europa em Telavive (15:24.64)
2000
Medalha de bronze nos 10000 metros nos Jogos Olímpicos de Sidney (30:22.88)
Fernanda Ribeiro correu de azul-e-branco durante 20 anos, divididos por dois períodos de 10, primeiro entre 1982 e 92 e depois de 1994 a 2004. Pelo meio competiu durante dois anos pelo Maratona Clube da Maia. Em 2004 tornou-se atleta dos espanhóis do Valência Terra i Mar.
Aos 39 anos e com quase 29 anos (!) de carreira – que ainda não terminou –, Fernanda Ribeiro conquistou 14 medalhas entre Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo e da Europa, seniores e júniores.
Fernanda Ribeiro no atletismo, Henrique Calado no hipismo, João Rebelo no tiro com Armas de Caça e Duarte Bello na Vela são os portugueses que mais vezes participaram nos Jogos Olímpicos: cinco participações cada.
Apesar de ter um enorme palmarés, que faz dela o(a) atleta português mais medalhado de sempre em campeonatos da Europa, do Mundo e Jogos Olímpicos, nos quais conta com cinco participações (1988, 1992, 1996, 2000 e 2004), Fernanda Ribeiro tem um reconhecimento na comunicação social e nas entidades públicas portuguesas muito inferior a, por exemplo, Carlos Lopes ou Rosa Mota.
Porquê?
Será por ter sido atleta do FC Porto durante muitos anos e ter sido como atleta dos dragões que atingiu o topo da sua carreira?
Será o ódio ao FC Porto o causador de tamanha cegueira? Temo bem que sim.
Por tudo que representa e conquistou, mas também por causa desta falta de reconhecimento público, tenho muita pena que a Fernanda tenha saído do FC Porto.
Ela merecia, nós (adeptos) merecíamos, que a Fernanda tivesse terminado a sua carreira de azul-e-branco vestida.
Para quando uma grande homenagem do FC Porto à melhor atleta portuguesa de sempre?
P.S. O palmarés da Fernanda Ribeiro é extremamente vasto e optei por não colocar as inúmeras vitórias que conquistou em meetings da IAAF (International Association of Athletics Federations). Contudo, é muito provável que em termos do seu palmarés nacional, me falhem alguns títulos de campeã nacional que a Fernanda tenha conquistado. Agradeço, por isso, às pessoas que detectarem essas falhas ou incorrecções que me avisem.
Grande Fernanda Ribeiro!
ResponderEliminarPor tudo o que fez pelo atletismo nacional bem merece uma referência aqui no blog, numa altura em que entram em cena as provas de atletismo nos jogos olímpicos de Beijing 2008.
Não há actualmente figuras como a Fernanda Ribeiro no atletismo nacional. É pena. E por isso, também, toda a sua carreira merece ser louvada.
Apesar de tudo acho que o FC Porto lhe presta anualmente tributo numa prova de atletismo organizada no Dragão.
Tinha uma noção dos êxitos de FR, mas após leitura deste post, fiquei surpreendido com a imensidade dos mesmos.
ResponderEliminarComo e muito bem diz o José Correia, não entendo como o clube a deixou sair, e como não foi capaz de fazer um esforço para manter atleta um exemplo para aqueles que começam, mas por outro lado percebo,mas não aprovo porque o clube vive do futebol e cada vez mais difícil manter o ecletismo no clube.
Quem tantas vitorias, e tantas alegrias nos proporcionou deveriam ter sempre a porta aberta para transmitir aos mais novos o que é ser atleta do nosso clube, todos nos sabemos que diferente de todos os outros, e penso que não nos devemos dar ao luxo de desperdiçar os símbolos do passado.
Aqui falamos de FR, mas eu falo também nos casos do Rodolfo e JMagalhaes no futebol.
Relativamente ao reconhecimento tanto por parte da CS, como das entidades deste Pais, estou completamente de acordo que tal só acontece por ter vestido de azul e branco.
Os critérios não são uniformes, alteram-se conforme as camisolas, o grande problema é que quem cala consente.
Aqui, como em muitas outras coisas, o clube deveria se indignar com o tratamento dado pela instituições deste Pais, exigir igualdade de tratamento, e não falo dos jornais da lampionlandia, porque desses, a dose é sempre a mesma.
Casos do Presidente da Republica, de Camara, dos diversos organismo federativos, deveriam ter vergonha do seu comportamento, mas como não o têm o clube, deveria os fazer corar de vergonha, e de lhes apontar o dedo.
O reconhecimento, não acontece única e exclusivamente porque quando cometeram as diversas proezas que engrandeceram o desporto português eram atletas daquele clube, que mais não é por muito que lhe custe o emblema da muy nobre y sempre leal cidade invicta do Porto.
p.s. diz-se que somos superiores a todo isto, mas não nos podemos esquecer que são as vitorias e o seu reconhecimento publico que fazem aumentar o prestigio,e consequentemente os adeptos e as receitas.
E todos sabemos como somos mais reconhecidos no exterior que no próprio Pais.
Peço desculpa pelo off topic, mas esta merda enoja-me.
Urtigao disse: «não entendo como o clube a deixou sair, e como não foi capaz de fazer um esforço para manter atleta um exemplo para aqueles que começam, mas por outro lado percebo,mas não aprovo porque o clube vive do futebol e cada vez mais difícil manter o ecletismo no clube»
ResponderEliminarEu compreendo que o ecletismo do FC Porto não pode ser sustentado pela sociedade desportiva que gere o Futebol, mas o contrário também tem de ser verdade.
Por exemplo, para mim é muito questionável que 80% das receitas de quotização sejam destinadas ao Futebol, ficando todas as restantes modalidades com 20% para distribuir entre si.
Outra possibilidade, seria propor aos sócios um aumento de 1 euro na quotização mensal, sendo esse acréscimo destinado às modalidades de alta competição - Atletismo, Natação, Basquetebol, Hóquei em Patins e Andebol.
1 euro por mês parece pouco, mas se partirmos de uma base de 80 mil sócios pagantes, seria cerca de 1 milhão de euros por ano. Não é muito, mas seria uma ajuda.
Urtigao disse: «Quem tantas vitorias, e tantas alegrias nos proporcionou deveriam ter sempre a porta aberta para transmitir aos mais novos o que é ser atleta do nosso clube, todos nos sabemos que diferente de todos os outros, e penso que não nos devemos dar ao luxo de desperdiçar os símbolos do passado»
ResponderEliminarNo futebol tem havido esse cuidado (André, João Pinto, Rui Barros, Baía, etc.), nas outras modalidades também (Franquelin no Hoquei, Resende no Andebol, Babo/Julio Matos no Basquetebol).
A grande excepção parece ser o Atletismo, quer com a Aurora Cunha, quer com a Fernanda Ribeiro.
Por exemplo, para mim é muito questionável que 80% das receitas de quotização sejam destinadas ao Futebol, ficando todas as restantes modalidades com 20% para distribuir entre si.
ResponderEliminarOutra possibilidade, seria propor aos sócios um aumento de 1 euro na quotização mensal, sendo esse acréscimo destinado às modalidades de alta competição - Atletismo, Natação, Basquetebol, Hóquei em Patins e Andebol.
1 euro por mês parece pouco, mas se partirmos de uma base de 80 mil sócios pagantes, seria cerca de 1 milhão de euros por ano. Não é muito, mas seria uma ajuda.
Concordo plenamente.
Sendo o futebol o maior produto do clube, aquele que consegue gerar a maior parte das receitas, compete-nos a nós associados a solicitação da alteração em AG para o aumento da % receitas provenientes das cotas para as modalidades amadoras, só assim poderemos nos tornar mais competitivos.
O grande problema é a que a direcção do clube, não lhe interessa perder as receitas do futebol, porque o ecletismo do clube nada lhes diz, não tivéssemos portistas, a dar a cara, por estas, muitas delas já tinham desaparecido.
E por certo não estaríamos anos aguardar uma construção de um pavilhão para que as modalidades amadoras, jogassem efectivamente em casa.
Eu até acho que a regra dos 80%-20% é uma boa regra, se fosse respeitada.
ResponderEliminarO problema é que das receitas das quotas o clube entrega à SAD 80% da mesma.
Só que depois as despesas referentes à parte administrativa da cobrança das quotas são incluídas a 100% nas contas do clube. Quando se esperaria que o clube só pagasse 20% e a SAD pagasse 80%.
Isto na prática implica que olhando para as mais valias (receita - despesa) o clube só fica com 10% das quotas e a SAD fica com 90%.
Por isso é que acho que o problema não está na fórmula, mas sim nestas "artimanhas".
João Saraiva disse: «O problema é que das receitas das quotas o clube entrega à SAD 80% da mesma.
ResponderEliminarSó que depois as despesas referentes à parte administrativa da cobrança das quotas são incluídas a 100% nas contas do clube. Quando se esperaria que o clube só pagasse 20% e a SAD pagasse 80%.»
Isto não é uma anedota?
Qualquer dia deixamos de ter clube e passamos apenas a ter uma sociedade desportiva do Futebol...
João Saraiva disse: «O problema é que das receitas das quotas o clube entrega à SAD 80% da mesma.
ResponderEliminarSó que depois as despesas referentes à parte administrativa da cobrança das quotas são incluídas a 100% nas contas do clube. Quando se esperaria que o clube só pagasse 20% e a SAD pagasse 80%.»
Obrigado pela informação.
Desconhecia totalmente a questão liquida da coisa..
Mas uma brincadeira made in $ad do nosso clube.
Afinal a $ad só existe devido ao clube FCPORTO.
E assim sendo o Presidente do clube deveria pugnar pelo aumento das receitas do clube, mas como ele tambem é do CA da $ad..encontra-se numa posição dificil.
Mais uma boa questão para ser levantada na AG do clube, efectivamente qual o valor bruto, e posterior tirando os "custos" liquido que entram nas diversas modalidades amadoras.