sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Memórias olímpicas

Esta coisa das expectativas goradas, dos Portugueses, nos jogos olímpicos é coisa velha mas de 4 em 4 anos parece que é sempre pior desta vez. Desde os "laqueios psicológicos" do Fernando Mamede que me lembro destas polémicas, mas para as cores azuis e branca o mais marcante de todos foi protagonizado em Seul - 1988.

Eram os anos dourados do meio-fundo Português, e havia um homem que vestia de azul e branco, José Regalo de seu nome, que dominou toda uma época de 5000 - ganhou os mais importantes 'meetings' europeus e a final do Grande Prémio da IAAF.


Partiu para Seul como o maior candidato ao ouro nos 5000, mas já em Seul rebentou a bomba: ele, o António Pinto e mais alguns atletas do atletismo do FC Porto assinaram pelo ben7ica.

E tudo começou por causa de um jogador do Guimarães, um tal de Ademir que ficou depois conhecido por Ademir Alcântara, que estava a ser pretendido pelo FC Porto e pelos encarnados, e se havia um acordo de "cavalheiros" entre os clubes, ele começou aí a ser quebrado, continuou com a contratação da equipa de atletismo rumo ao sul e acabou na contratação do Rui Águas e do Dito rumo ao norte. O tal de Ademir acabou também por rumar ao sul, mas tal como já tinha acontecido uns anos antes com a novela Sousa/Pacheco vs Futre, acabou o FC Porto a retirar o maior proveito desportivo destas disputas.

Mas voltando ao José Regalo, se partiu para Seul com o apoio portista, esse apoio esfumou-se pela "traição", e acabou aí a sua carreira (embora ainda tenha corrido mais 13 anos).

Nas meias finais dos 5000 a 4 voltas do fim embrulhou-se com outros atletas e ficou sem a sapatilha, continuou a corrida, apurou-se no último lugar, mas acabou com o pé queimado pelo tartan.

Na final acabaria por desistir, e embora tivesse a "desculpa" do pé queimado, sempre afirmou que pior que o pé estava o físico e a mente: "Foi, realmente, uma grande decepção. Mas continuo a afirmar hoje o que disse na altura. Não há desculpas a dar. O problema no pé pode ter prejudicado um pouco mas o determinante foi o cansaço físico e psicológico com que cheguei à final olímpica"

A partir daí foram 13 anos de lesões, tendões de Aquiles, roturas, contraturas, operações e coisas que tais, é caso para dizer que o Delane Vieira deve ter feito um bom trabalho ;-)

2 comentários:

  1. As expectativas portuguesas são fruto das frustrações que têm tido, quer no seu dia-a-dia, quer desportivamente. Culpa de todos: da comunicação social, dos responsáveis olímpicos e até de alguns atletas. É caso para dizer que estão bem uns para os outros, as declarações dos atletas mostra o espelho do povo, manhoso, preguiçoso e quer que as coisas apareçam do céu sem trabalhar. É injusto que as pessoas ponham todos os atletas olímpicos no mesmo saco. Aqueles que se queixaram dos árbitros, do ambiente, da égua que estava histérica, e até aquela que disse não ter feitio para os JO devem ser criticados, mas não podemos por no mesmo saco.

    Portugal consegue a melhor participação de sempre nos JO. Os portugueses não gostam de desporto, gostam de clubes de futebol, emocionamos-nos com os 2ºs e 4ºs lugares de uma selecção de futebol que ganha milhares por representar Portugal, emocionamos com os do raguébi que levam cabazadas de todo o tamanho mas cantam o hino como ninguém e depois juntamos no mesmo saco atletas com declarações infelizes com atletas que tiveram azar, ou outros atletas que conseguíram bater recordes nacionais e europeus. Que país de (tristes) contrastes.

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  2. Vasco Pulido Valente gosta demasiado dele e do que escreve. Porém, vale quase sempre a pena ler, e algumas vezes reler. Aproveito para transcrever parte do que hoje escreve sobre o tema. Ainda que excessivo (como costume), aí vai parte do que o que homem refere a propósito dos JO :
    "Falta acrescentar o mais desagradável : os Jogos não aperfeiçoam o corpo, nem o espírito. O corpo é sistematicamente deformado a benefício dos resultados. Há modalidades que produzem monstros: montes de músculo ou de gordura; esqueletos a que se pendurou um torso e umas pernas; máquinas concebidas para meia dúzia de gestos, sem beleza e sem uso. De resto, quanto ao espírito, e já para não mencionar as pré-adolescentes da ginástica (um verdadeiro abuso de menores), basta lembrar aquele nadador que ganhou, aos 21, uma medalha para que se tinha preparado 15 anos.
    Não se imagina nada de mais triste. O ideal olímpico acabou num horror sem alívio".
    Polémico, obviamente. Dá que pensar.

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