Venho desta vez abordar a questão da eventual existência de algumas imperfeições do modelo (ou do sistema ou da táctica, como preferirem, para não suscitar qualquer melindre a especialistas na matéria como o Prof. Jesualdo Ferreira) da equipa do FC Porto. Faço, porém, a salvaguarda de ser um leigo confesso neste tipo de assunto. Considero, então, que o modelo de jogo da nossa equipa enferma dos seguintes defeitos:
● Não saber gerir o trade-off entre as transições rápidas e a posse de bola. Isto é bem visível quando concede deliberadamente o domínio do jogo ao adversário, quando tal é desaconselhável (lembro que o Mourinho iniciou esta prática no FC Porto, mas com duração curta e controlada, apenas para a equipa poder descansar uns minutos).
Sabemos que Jesualdo Ferreira "privilegia as transições rápidas", mas isso não deve significar o desprezo pela posse de bola. Os jogos mais difíceis, como o são os da Liga dos Campeões, exigem que depois de obtido o golo se “esconda a bola” (no léxico Lobista) tornando o jogo mais lento e permitindo à equipa descansar na sua posse. Este comportamento poderia ser cultivado e melhorado, da mesma forma que o foi o das transições rápidas.
Utilizar exclusivamente um modelo de transições é algo que não me agrada por manter sempre o ritmo elevado e permitir que o adversário consiga partir o jogo ficando as linhas defesa e ataque muito afastadas.
Actualmente vemos o FC Porto controlar o jogo durante alguns períodos por contraponto de um FC Porto de Mourinho (ah, sempre este fantasma…) que conseguia combinar nas doses certas a velocidade das transições com a posse para assim controlar o jogo do princípio ao fim. Além disso, para que o modelo puro de transições rápidas funcione é necessário mais qualidade individual para desequilibrar no ataque. Era com os esteios Quaresma e Bosingwa que se desenvolvia o modelo nas faixas, o que é completamente diferente do que ter nas laterais Mariano e Rodriguez. Isto já foi bem visível nos poucos jogos que realizámos esta época.
Esta ideia veio a propósito do jogo do Dragão contra o Fenerbahçe, em que a equipa se apanhou a vencer 2-0 e não foi capaz, nem pareceu querer e isso é que já me parece mais grave, fazer circular a bola para retirar ímpeto ao adversário e controlar o jogo.
● Defender bolas paradas à zona. Quando o fazemos contra equipas inglesas é a "morte do artista" (o Liverpool aproveitou bem no ano passado, o Arsenal vai agradecer e aproveitar). Os treinadores adversários acabam por fazer desmoronar essa estratégia como um castelo de cartas. Quique Flores já o fez na Luz, mandando os jogadores marcar cantos curtos e com passes para a entrada da área. No jogo com o Fenerbahçe, Aragonês fez o mesmo. A equipa perde a noção do posicionamento e abre brechas defensivas.
Além disso este "sistema" impede uma transição mais rápida para o ataque porque a maioria dos jogadores estão fixos dentro da área. Já reparei que só há transições rápidas quando o Helton consegue agarrar a bola porque tem uma visão ampla do posicionamento dos colegas, às vezes rápidas demais e tem de esperar que os colegas ocupem os seus postos. Sempre que outro jogador do FC Porto recupera a bola a transição é mais lenta e com mais circulação horizontal.
● A incapacidade de utilização de um dos principais sistemas tácticos: o 4-4-2.
Esta incapacidade é válida para os jogos internos contra o Sporting como para os jogos na Liga dos Campeões onde, para vencer, é quase obrigatório saber usar também este sistema. As tareias recentes que a equipa de Alvalade nos tem impingido demonstram claramente que este FC Porto não sabe jogar em 4-4-2. Talvez porque sempre que o tentou fê-lo com adaptações (por exemplo Marek Cech e Mariano foram adaptados a médios quando um era lateral e o outro extremo).
Se nas épocas anteriores as opções para povoar o meio campo não eram muitas, esta época temos jogadores em quantidade e qualidade para jogar em 4-4-2. Entre Fernando, Pele, Bolatti, Meireles, Lucho, Guarín, Tomás Costa e até Cristian Rodriguez temos opções suficientes para encontrar um quarteto eficaz para o meio campo. E não vão faltar oportunidades.
Jogar em transições rápidas é de longe a melhor opção dadas as características dos jogadores do Porto. Os avançados são rápidos e os médios têm boa visão de jogo.
ResponderEliminarFazer uma circulação de bola mais pausada presume que o Porto tem jogadores capazes de fazer a diferença entre um amontoado de defesas, o que não me parece ser o caso. Seriam necessários jogadores com boa capacidade de drible e fisicamente fortes. No plantel do porto só Guarín e Hulk correspondem a esses requisitos.
Quando Jesualdo implementou a defesa das bolas paradas à zona no Porto eu fiquei muito céptico. Mas não posso discutir contra resultados. Deste o exemplo dos jogos contra o Liverpool porque aparentemente não há outros. Pelo menos não me recordo de golos sofridos nessas situações durante a época passada. Os reds tiveram 10 cantos a favor no jogo em Anfield.
Por falar no jogo da Luz: o facto de o SLB defender homem-a-homem nas bolas paradas é um dos motivos para haverem tantas faltas e cotoveladas naquelas situações.
Em relação à transição ofensiva a partir dos cantos creio que isso é devido ao facto de ficarem 2 jogadores nos postes e portanto menos jogadores para saírem rápido para o contra-ataque.
Gostava que os fanáticos pelo 4-4-2 me expliquem como se eu fosse um miúdo de 4 anos: Se o 4-4-2 é o melhor sistema porque é que há 3 anos o Barça conseguiu ser campeão europeu a jogar em 4-3-3? Porque é que o Mourinho gastou 18M€ no Robben, 31M€ no Shawn Wright-Phillips, 21M€ no Malouda, 13M€ no Mancini, 24M€ no Quaresma para jogar em 4-3-3?
Porque é que esta época o 4-3-3 do Barça ganhou por 3-1 ao 4-4-2 do Sporting?
Este artigo não revela qualquer fanatismo por um sistema de 4-4-2. Limito-me a fazer uma observação crítica ao facto desta equipa do FC Porto não saber jogar nesse sistema. E para ser competitivo numa prova como a Liga dos Campeões é obrigatório saber TAMBÉM jogar em 4-4-2.
ResponderEliminarQuanto ao Mourinho, as aquisições que fez serviram de facto para mudar o seu modelo de jogo, essencialmente para atacar a Liga dos Campeões que perdera no ano anterior, precisamente a jogar em 4-4-2. Arriscou passar a jogar de forma a que os adversários ingleses se encaixassem melhor do que com o estilo Continental com que os surpreendeu quando chegou a Inglaterra. E... deu-se mal. Tanto na Liga Inglesa como na CL.
Pode afirmar-se que Duff e Robben eram melhores que Kalou e Wright-Phillips, mas a verdade é que Mourinho não mais conseguiu aquele equilíbrio entre a posse e as transições que tornava cínicas e dominadoras as suas equipas.
Bom post, claro que as opiniões e os gostos são senpre subjectivos e cada um pode meter a sua colherada.
ResponderEliminarMais tarde dou a minha opinião mais extensa sobre o tema.
http://legionofdragons.blogspot.com
Abraço
«incapacidade de utilização de um dos principais sistemas tácticos: o 4-4-2»
ResponderEliminarPenso que esta época há melhores condições para o treinador do FC Porto optar por este sistema.
De certo modo, foi assim que o FC Porto iniciou o jogo da Luz, com um meio campo em losango formado por:
- Fernando (vertice mais recuado)
- Tomás Costa (vertice direito, fundamental no apoio defensivo a Sapunaru)
- Raul Meireles (vertice esquerdo)
- Lucho (vertice mais adiantado)
Na frente jogou uma dupla rápida e muito combativa: Rodriguez e Lisandro
A não ser que haja lesionados, estou convencido que no jogo com o Arsenal o Jesualdo irá repetir o onze da Luz.
Não há modelos perfeitos, como diria La Palice ; mais importante que modelo é a dinâmica da equipa, como diria o não menos notável Octávio Machado.
ResponderEliminarNão confirmo nem nego que jogar em transições rápidas é de longe a melhor opção para o FCP. Com tantos jogadores sul americanos, não me parece – repito, não me parece pois não sou especialista – que se identifique com a idiossincrasia dominante dos jogadores do outro lado do Atlântico.
Não tendo o FCP defesas laterais muito rápidos, não vejo como fugir ao 4x3x3. E, esse, parece-me o melhor sistema para o campeonato caseiro. Mas para jogar na CL e fora de casa, tenho algumas dúvidas. Porquê ? porque frequentemente ficávamos em desvantagem no meio campo e porque Tarik e Quaresma marcavam pouco os seus opositores directos.
E o que aconteceu em vários jogos – nomeadamente com o SCP – quando JF introduziu alterações a equipa raramente foi capaz de se movimentar de forma confortável. E falhou, quase sempre. Provavelmente por falta de rotinas ou por não ter jogadores que soubessem render mais noutros registos tácticos.
Este ano, dá ideia que temos mais gente para o praticar.
Movimento é essa a questão : os jogadores precisam de espaço e têm de o saber conquistar. É esta capacidade de produzir e impedir o adversário de ter essa vantagem, é o busílis da questão.
Aprecio imenso a forma como o Arsenal se posiciona, ocupa e ganha espaços, ainda que contra defesas muito povoadas. E sabe fazê-lo em progressão e com todas as peças em movimento. Esse é o modelo que perfilho, mas como não fui eleito para treinador, vou dando o benefício da dúvida ao JF. Como todos nós, enquanto ganharmos.
Tendo as caracteristicas que o nosso campeonato tem, o 4-3-3 perfila-se como o sistema ideal para actuar nas partidas onde o FCP é em quase todas elas favorito e toma quase sempre a iniciativa do encontro.
ResponderEliminarO maior leque de opções existente no meio campo deste ano, faz-me crer que o FC Porto poderá evoluir o seu sistema para um 4-4-2 em ocasiões especiais e esporádicas. Já se viu na Luz um primeiro ensaio, em Londres poderá a voltar repetir-se.
A duvida pairava essencialmente nos jogadores com perfil adequado a ocupar as posições. Isso é algo vai sendo descodificado com o decorrer da época.
Lucho e Meireles transitam do ano transato, Fernando parece estar a garantir o lugar mais recuado do miolo do terreno e Tomás Costa vai ganhando pontos à concorrência.
Não vale a pena falar que o Porto jogou assim ou assado. Sou sócio do Porto há mais de 30 anos e as coisas são como são. É em jogos menos conseguidos que um lance ganha o jogo. Hoje, o LISBOETA Pedro Proença, nomeado pelo Presiente do CA que é SPORTINGUISTA, mostrou ao que ia. As graves faltas dos jogadores do Rio Ave passavem ao lado, mas as faltas dos jogadores do Porto eram para cartão. Depois pelo menos um inacreditável penalty, que em Alvalade seria normalmente marcado...
ResponderEliminarAliás, reparem, este ano só um tem entrada na Champions, depois é só ver que em dois jogos seguidos o Sporting já foi beneficiado em 2 golos que decidiram os jogos!
Não andem distraídos com os jogadores e com as tácticas: nestes lnces e pormenores é que se ganham muitos pontos e campeonatos. Enquanto os Dragões forem anjinhos são comidos de cebolada! Façamos pois ouvir a nossa voz e exijamos ao Clube uma tomada de posição! Antes que seja tarde.
Hoje ficámos a saber que o FC Porto joga em 4-3-3 sem ter extremos com qualidade para o fazer. O Mariano é um jogador deprimente e o Rodriguez é (ou tem sido) uma autêntica nulidade. Vai ser muito difícil revalidar o título este ano.
ResponderEliminarNão entendo como é que a sad do FC Porto foi tão decididamente exercer a opção de compra do Mariano. Em termos de construção ofensiva ele vale ZERO.
Porque é que o Jesualdo não dá logo a titularidade ao Hulk? Acaba sempre por chegar à conclusão que o Mariano é o elo mais fraco, por isso mais vale nem o colocar de início.