quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Sob Suspeição


A arbitragem está sempre sob suspeição. Não admira: a profissão é difícil, as paixões são tudo menos moderadas, os interesses são mais que muitos e tem a TV a controlar cada apitadela cometida no acto de arbitrar, de todos os ângulos, com linhas e ao ralenti. Nada escapa ao big brother.

Os árbitros julgam os lances, a opinião pública e publicada, os comentaristas encartados e a gente cá do meu bairro não fala de outra coisa senão do Pedro Proença, a maior parte das vezes para desancar no homem.

O Luís do Café e o Zé da Frutaria pegaram-se e já falavam grosso um com o outro, de forma desvairada, nunca vista. Felizmente que no auge da discussão entrou a Svetlana, a cujo sortilégio ninguém escapa: todos se calam, muitos se babam. Aproximou-se dos dois homens possessos e com o seu lindo sorriso a juntar-se à bela silhueta que o generoso decote denunciava, disse: “Oh Luís deixa lá, o que tu queres é colinho!”. O Pinto ficou meio amarelo, sabe-se lá porquê, o Zé riu-se e a paz voltou.

Depois deste caso da vida real que teve um final feliz a que o escriba assistiu, retomo o tema.

Fez o Proença um caminho seguro até internacional, ganhando grande parte da notoriedade porque o FCP – nas épocas de JM – nunca ganhou qualquer jogo apitado por ele, salvo a Super Taça com a União de Leiria, creio. Quem consegue travar o FCP, pode sempre aspirar a uma carreira de sucesso. Lucílio e Bruno já tinham trilhado caminho semelhante, com algumas arbitragens inesquecíveis.

Proença apitou e marcou uma grande penalidade ao SLB: tramou-se. Uma ida para a jarra (já confirmada) e lá vai a carreira sofrer um tropeção inesperado. O SLB prejudicado nesse lance – tanto quanto beneficiado num outro do mesmo tipo – vai tirar os dividendos e apresentar a factura. O clube do regime tudo fará para que as diferentes instituições que gerem o futebol não esqueçam o seu estatuto. E não esquecerão porque a nossa incansável comunicação social não o permitirá, a bem da Nação.


Mas, este é um mal generalizado. É árbitro, logo é suspeito. E, se os árbitros erram e algumas vezes de forma grosseira, é justo reconhecer que o adepto só espera (exige) é que não seja o seu clube o prejudicado pelo erro. Quando é, está o caldo entornado: o árbitro e a mãezinha dele não são poupados. Quando se é beneficiado há sempre um bom motivo para o perceber. A condescendência é maior e tudo se explica pelas melhores razões.

Por isso, e no caso especial da arbitragem acho que a SAD tem agido bem ao privilegiar o silêncio.
As conversas, os comentários centralizam-se quase sempre não na arbitragem mas num pequeno conjunto de lances seleccionados, e neste caso do FCP-SLB um erro (dito com influência) passou a valer por todo o trabalho do árbitro, como se mais incidentes não tivessem ocorrido. Esta é uma forma de manipulação e pressão que o “ofendido” se serve para memória e benefícios futuros. Essa praxis é conhecida: o que eles querem é colinho!

Das arbitragens a que assisti a que me deixou mais furioso foi a do FCP-Trofense. Não é possível que um árbitro facilite e avalize o anti-jogo permanente e que haja jogadores no campo que usem e abusem de artimanhas para que o crime compense, com a bênção do árbitro. Isso é que não é tolerável e deveria ser corrigido, com carácter de urgência. Mas, sobre isso pouco se fala e pouco parece interessar. Nem os catedráticos tomam o tema como importante. Não é televisivo, não vale choro, não dá colinho, logo não interessa e se for no Dragão bem haja a quem o fizer.

Fotos: Record

6 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo, está muito conseguido. E também Parabéns por ser posto a nu aquilo que se passa no futebol Português, que é os da segunda circular, só chamam à atenção o que lhos interessa e todos os outros órgãos "oficiais e oficiosos" vão atrás deles.

    Cumprimentos e continuação de bom "trabalho"

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  2. "O clube do regime tudo fará para que as diferentes instituições que gerem o futebol não esqueçam o seu estatuto."

    Nem mais. Eu diria que o clube do regime manipula a seu bel-prazer indivíduos-chave nas instituições que gerem o futebol e nos meios de comunicação social e com isso vai assegurando a manutenção do estatuto.

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  3. que se lixe o Proença, onde pára essa Svetlana? ;)

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  4. Certinho e na justa medida, Mário Faria.

    Também me revoltou a arbitragem do Trofense, não só pelo antijogo maspelo golo anulado sem se saber porquê (a não ser o pascácio da rtp que falou da tentativa de jogar com a mão).

    Os "lances seleccionados" segundo critérios ínvios nem contemplam, as mais das vezes, o critério disciplinar do árbitro. Lembre-se a barbaridade do jogo da Luz, nem digo do cachaço ao liner, mas as expulsões perdoadas a Katsouranis (no penálti), a NUno Gomes e Carlos Martins por entradas violentíssimas. Uma má condução do jogo pode piorar tudo. Mas não conta para as estatísticas dos penáltis ou golo em linha de fora de jogo "bons" ou "maus".

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  5. Pinto da Costa não vai a julgamento no "caso da fruta"

    http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1142929

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  6. Eu não percebo é como é que não há tomates para profissionalizar a arbitragem, sob uma (ou mais) entidades independentes (empresas prestadoras de serviço) reguladas por um organismo autónomo, retirando-a assim das unhas negras da federação e liga.

    Gosta-se pouco da transparência em Portugal.

    Atenção que profissionalizar e autonomizar não quer dizer que vão deixar de existir erros e problemas. Quer dizer que os erros e os problemas passam a estar mais expostos e sujeitos a repercussões mais graves do que aquelas agora vigentes. Penso eu de que.

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