quarta-feira, 15 de abril de 2009

Relembrando a Epopeia de 1977/78 contra o Manchester United


A época de 1977/78 marcou, a meu ver, o nascimento do F.C. Porto europeu. Depois de termos eliminado o Colónia (2-2 na Alemanha e 1-0 em Coimbra – por interdição das Antas) calhou-nos na 2ª eliminatória da Taça das Taças nada mais, nada menos, que o Manchester United, jogos ainda aqui recentemente evocados pelo meu estimado confrade José Correia. É pelo facto de novamente estarmos em posição de eliminarmos os “red devils” que me ocorreram estas linhas.

Em contraste com a sua situação actual, em 1977 o Manchester United encontrava-se num interregno e numa longa travessia do deserto. O interregno era entre os longos “reinados” dos treinadores escoceses Sir Matt Busby (1945-1969) e Sir Alex Ferguson (1986- ) e a travessia do deserto entre dois títulos de campeão inglês separados por 26 anos (1967/1993). Pelo meio o clube experimentara uma passagem de uma época pela 2ª divisão (1974/75).

Na época de 1977/78 o treinador era Dave Sexton, um londrino cujo currículo incluía uma Taça das Taças com o Chelsea (frente ao Real Madrid em 1971, numa final que teve desempate) e um fantástico 2º lugar com o Queen’s Park Rangers no campeonato inglês em 1975/76, a apenas 1 ponto do Liverpool. Curiosamente, tanto no Chelsea como no Manchester United, Sexton sucedera ao nosso conhecido Tommy Docherty, treinador do F.C. Porto aquando dos famosos 4 golos do Lemos ao Benfica (1970/71). O seu estilo era, contudo, considerado demasiado cauteloso para os pergaminhos de futebol atacante da agremiação de Old Trafford. Estaria no clube até 1981.

Naquela equipa do Manchester United não havia propriamente grandes vedetas, mas mesmo assim salientavam-se os extremos Steve Coppell (actualmente treinador do Reading) e Gordon Hill, ambos internacionais ingleses, o defesa-central e capitão Martin Buchan, internacional escocês, e o guarda-redes Alex Stepney, o único dos campeões europeus de 1968 ainda no clube.

Quanto ao F.C. Porto, estava no último ano da sua própria travessia do deserto, já que viria a sagrar-se campeão nacional no fim daquela época, após 19 anos de jejum. O treinador era, como todos sabemos, o inigualável José Maria Pedroto (ia a escrever “carismático”, e não é que o Zé do Boné o não fosse, mas a palavra está um bocado desvalorizada de tanto usada), o qual, entre os seus inúmeros atributos, possuía uma certa arte e manha a jogar contra equipas inglesas. Tal fora amplamente demonstrado quando, ao serviço do Vitória de Setúbal, o Zé do Boné conseguira a eliminação na mesma época de dois conjuntos ingleses de topo na Taça UEFA – o Leeds e o Liverpool. E todos se recordavam ainda de um famoso empate em Wembley em 1974 (0-0) da selecção nacional, na altura por ele orientada, dia em que o saudoso Vítor Damas terá feito, possivelmente, a exibição mais memorável da sua carreira.

Para o F.C. Porto esta eliminatória centrou-se essencialmente em torno de dois jogadores: o brasileiro Duda (que Pedroto trouxera consigo de Setúbal), autor de 3 golos nas Antas (vitória por 4-0) e o velocíssimo extremo Seninho, marcador de dois golos “salvadores” em Old Trafford, onde perdemos por 5-2 (pela negativa salientou-se o lateral Murça, que em Old Trafford teve o infortúnio de marcar duas vezes na própria baliza, mas convém referir que fora o autor do golo da vitória contra o Colónia em Coimbra).

Depois da fantástica vitória nas Antas poucas dúvidas havia acerca da passagem da eliminatória, mas o jogo de Old Trafford não correu nada bem. O primeiro golo do United aconteceu bem cedo (se a memória me não atraiçoa, resultou de um deficiente pontapé-de-baliza do Fonseca que o ponta-de-lança Stuart Pearson aproveitou, passando a bola ao autor do golo, Steve Coppell) mas o Seninho sossegou-nos, quando, servido em profundidade pelo Octávio (vocês sabem de quem eu estou a falar) se esgueirou por ali fora e empatou o jogo. O Manchester United chegaria aos 4-1 ainda com mais de vinte minutos para jogar, mas de novo o Seninho nos tranquilizaria; o 5-2 foi um dos auto-golos do saudoso Alfredo Murça.

Enfim, no Porto fizemos um dos nossos melhores jogos de sempre na Europa e em Old Trafford levámos um banho essencialmente no resultado, já que três dos golos que sofremos eram evitáveis.

Para a história: nos quartos-de-final haveríamos de defrontar o, na altura, poderoso Anderlecht e por aí ficaríamos (1-0 nas Antas e 0-3 em Bruxelas).

Nesta 2ª mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões 2008/09 o que se pede aos nossos jogadores é que estejam à altura dos seus precursores de 1977/78 e 2003/04. Não há duas sem três.

E, já agora: que é feito do Seninho e do Duda?

(nas fotos: estátua de Sir Matt Busby em Old Trafford, Dave Sexton, e retrato de José Maria Pedroto)

6 comentários:

  1. se bem me lembro, na altura o seninho revelou que tinha instruções do treinador pra não se cansar muito (não recuar a ajudar o meio campo, por exemplo) e assim poder aproveitar a sua velocidade nos contra-ataques (foi desse modo que marcou os dois golos).

    tb gostava de saber o que é feito desses dois (Duda e Seninho)

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  2. Esse jogo nunca há-de me sair da memória: foi o primeiro jogo europeu que vi no nosso querido estádio das Antas. No dia seguinte era o herói da escola, porque tinha estado lá :) Infelizmente não vi depois o jogo com o Anderlecht, mas se não me engano jogámos em casa depois de termos levado 3 secos em Bruxelas, portanto já não havia muito a fazer.
    Logo à noite vai correr bem, mesmo sem o Duda no campo nem o Prof. no banco. Estou confiante que vai ser a maior noite europeia do Dragão até à data. Mas se não for a vida continua, e esta equipa já fez o bastante para alimentar o nosso orgulho.
    Um abraço

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  3. Contra o Anderlecht jogámos primeiro em casa. O jogo foi interrompido devido ao mau tempo e repetido 24 horas depois. Foi em Março de 1978, mês particularmente chuvoso no Porto, mesmo para os padrões pluviométricos da Invicta. Houve cheia do Douro nesse mês, aliás.

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  4. e na 2ª mão, na Bélgica, lembro-me de um golo de livre mto bem marcado, acho que pelo Resenbrink (ou lá como se escreve o nome do tipo, grande jogador).

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  5. Rob Rensenbrink, sim, famoso internacional holandês.

    Quanto à cheia, acho que fiz confusão: houve cheias do Douro em Novembro de 1978 e Fevereiro de 1979. Mas Março de 1978 foi um mês muito chuvoso também.

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  6. Que choveu imenso não tenho a mínima dúvida: deixei o carro perto do estádio mas não tive coragem de nele entrar após o jogo pois as minhas roupas tinham litros de água e eu não quis alagar a viatura! Assim... vim a pé até casa com a água por todos os lados.
    E como hoje tem chovido imenso... quem sabe se não será uma indicação que vamos ganhar???

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