Obviamente, fiquei muito feliz por juntar mais um “título” ao meu palmarés, que começou com Yustrich e foi continuado por muitos outros brilhantes protagonistas. O que ocorria por excepção, apenas 5 vezes antes de 1974, passou a ocorrer com frequência, acima dos 50%, depois daquela data. Há uma clara relação causa/efeito com o sistema democrático, mas importa neste comentário falar da minha experiência e de como vivi os êxitos do meu clube.
As vitórias deixam-me sempre um doce sabor a felicidade, antecedidas por uma grande ansiedade que se disfarça na relação de vizinhança com quem troco impressões e pormenores tácticos, e por um momento de brutal explosão quando se consuma. O meu grito junta-se a milhares de outros que nos acompanham nesse instante único de euforia colectiva. Quando o estádio irrompe nesse uníssono berro, expulsando a última dúvida que restava, sinto uma enorme alegria, um paixão sem limites, um misto de satisfação e orgulho, felicidade e regozijo, que me deixa rouco, e me põe aos saltos como tantos, num abraço invisível que nos une. O sufoco foge e deixa de me ocupar, por alguns dias.
Mimetizámos esse belo gesto que os jogadores partilham quando sofrem, lutam ou vencem: um gesto de companheirismo admirável nos atletas. Em casa, quando assistimos pela TV aos jogos, estamos normalmente acompanhados por familiares. Os efeitos são semelhantes, embora a uma escala menor. Hoje, um pouco mais gasto, o nível de ansiedade (antes dos jogos) aumentou de forma substantiva, enquanto a vitória é saboreada rápida e efusivamente, para dar lugar a uma serenidade repousante. As dores no peito deixam de inquietar, passam as dores de barriga e os desatinos intestinais e apetece-me comer. Fico em profunda paz. Estou de bem comigo e não quero mal ao mundo. Deito-me e não adormeço rapidamente. Rebobino o filme da vitória, revejo os acontecimentos, ensaio para mim palavras de apreço e admiração aos heróis e alguns recados aos espantosos comentadores do costume. Adormeço devagarinho: custa-me abandonar o sonho vivido. Aconteceu-me algo de semelhante, no último Domingo.
A rua junta(va) o povo. A Avenida dos Aliados foi eleita pelos portistas como local privilegiado para o recital popular. Fiz parte desse imenso grupo, também. Desses momentos, o que mais recordo – vá-se lá saber porquê – foi a enorme festa, que foi feita de uma forma incrivelmente espontânea, em 25 de Abril 1984, depois do FCP vencer o Aberdeen na Escócia e carimbar um lugar na final das Taças das Taças. Um jogo ensombrado por um nevoeiro fantasmagórico e com um golo fantástico de Vermelhinho, um enorme chapéu de aba larga. Firmou-se, nessa noite, a aparição do FCP europeu. A liberdade foi mais alegremente livre nessa noite.
Mas, nem sempre a rua pontua momentos importantes. Nem é preciso. A vitória do FCP, na época passada, por 3-1 sobre o SLB, foi das mais importantes que obtivemos. Os campeonatos são importantes, mas nem só de campeonatos vivem os campeões. Nesse jogo, os campeões fomos nós todos, adeptos e equipa. Houve uma profunda comunhão naquela raiva sentida que não permite rendições. O FCP recuperou naquele jogo alguma alma perdida nas facilidades das épocas anteriores. Aburguesou-se e não nos podemos dar a esse luxo.
AVB foi o mestre deste campeonato e o grande artífice da vitória. Soube dividir os louros e aprender com os erros. Anunciou que os últimos 5 jogos decidiriam o campeão e quem era o melhor. O FCP dobrou a vantagem pontual e já é campeão. E o melhor, como os números comprovam. A formação é um processo contínuo e acho que AVB é muito exigente e não vai adormecer sobre os louros conquistados. Este campeonato (ainda) vai ter novos episódios, a Liga Europeia é uma prova que podemos ganhar e há uma meia final da Taça para jogar. Há muito jogo e o compromisso é ganhar.
O apagão da Luz foi ouro sobre azul. A respeitável direcção do SLB não poderia ter agido melhor. Nem Rui Gomes da Silva pior. Este campeonato jamais será esquecido pelo belo efeito que a falta de luz e a subida das águas produziram. Da época das catacumbas para a época das trevas, uma transição coerente. O apagão foi giro, os repuxos refrescantes e a música excitante. Como esquecer? O SLB fez história da única maneira que sabe.
Hoje dormi pela primeira vez este ano de janela aberta e quando acordei, ao contrario do que se passou nestes ultimos dias, o céu estava encoberto... uma clara relação causa/efeito?
ResponderEliminarOh David Duarte obrigado por ter inaugurado a grelha de comentários.
ResponderEliminarÉ um prazer ler e reler o que escreve. Volte sempre.
Então David?!
ResponderEliminarO ceu encoberto incomoda-te?
Não consegues ver as estrelas é, filho?...
Deixa lá, viste-as no Domingo à noite...
Grande Ribeiro DeepBlue: LOL!
ResponderEliminarJá não me ria de um comentário com esta genuína satisfação desde há muito.
Obrigado por este pedaço de satisfação plena.
Bem hajam.
depois do "Ribeiro", fica (muito) difícil escrever seja lá o que for. ;)
ResponderEliminara todos os títulos, soberbo o comentário dele ;)
saudações desportivas mas sempre pentacampeãs! ;)
Miguel (penta1975) | Tomo I
Excelente artigo.
ResponderEliminar"O SLB fez história da única maneira que sabe" - brilhante final!!
Quem anda à chuva...
ResponderEliminar...precisa dum chuço.
ResponderEliminarAcho que não foram só os fusíveis do Estádio Sem Luz que pifaram, David.
Estás bem, rapaz?
dormi pela primeira vez este ano de janela aberta e quando acordei, ao contrario do que se passou nestes ultimos dias, o céu estava encoberto...
ResponderEliminarufa!!!q susto!!!pensei q te tinha entrado 1 meloeiro no quarto!!!
amo chuva negativa relvosa
http://www.dn.pt/desporto/interior.aspx?content_id=1826092
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