A que propósito é que uma notícia sobre as ex-SCUTs surge num blogue como o ‘Reflexão Portista’?
A capa do JN de ontem e a notícia em si, remetem para dois aspectos que têm muito a ver com o país que temos, com algumas polémicas do futebol português e com o modo como a comunicação social escolhe temas e selecciona destaques.
I. Notícias, títulos e destaques
«Auto-estrada da exportação mais cara que Lisboa-Cascais»
«Preço por km entre Aveiro e Vilar Formoso é o triplo da A5»
O tema “SCUTs” foi e continua a ser objecto de tratamento jornalístico. Contudo, alguém acredita que seria possível uma capa destas, com este título e subtítulo, num dos jornais feito na capital (Correio da Manhã, Diário de Notícias, Público, Expresso ou Sol)?
E algum dia esta notícia seria apresentada desta maneira, destacando uma escandalosa diferença de custos por quilómetro a favor dos mais ricos, se a peça fosse preparada pelas redacções de Lisboa da RTP, SIC ou TVI?
Parece um contra-senso, mas desde que Portugal aderiu à UE (na altura CEE) em 1985, a macrocefalia da capital não tem parado de aumentar e tem sido acompanhada de uma visão e propaganda dos media cada vez mais Lisboa-cêntrica. Por isso, e para denunciar as discriminações e os abusos que se vão cometendo, é fundamental haver um JN, bem como, projectos jornalísticos como o do semanário Grande Porto, ou um canal televisivo como o Porto Canal. O problema é que os órgãos de comunicação social só se aguentam se tiverem compradores/audiência e publicidade, algo que cada vez está mais concentrado, ou é decidido, na capital…
II. O Norte e o Sul
Primeiro Pedroto e depois Pinto da Costa foram acusados pelos media da capital de serem incendiários e de, com a suas intervenções públicas, contribuírem para dividir o país em Norte e Sul.
É falso, é completamente falso. Se alguém, no discurso, divide o país em Norte e Sul são precisamente os protagonistas da capital e alguns exemplos da linguagem e tipo de expressões utilizadas são elucidativos.
Ao contrário e em sentido oposto ao que se ouve em Lisboa, no Porto, ninguém se refere à A1 como “auto-estrada do Sul”.
No Porto, ninguém trata os alentejanos, ou os algarvios, como “as pessoas do Sul”.
No Porto, ninguém diz que vai “rumar ao Sul” quando tem de se deslocar a Lisboa.
As verdadeiras divisões que existem em Portugal, resultantes das assimetrias que sucessivas políticas centralistas foram cavando, é a divisão entre o litoral povoado e o interior desertificado, bem como, a divisão entre um eixo Lisboa-Cascais cada vez mais rico e o resto do país cada vez mais pobre. E é neste contexto que a notícia do JN tem mais relevância porque, corajosamente, volta a pôr o dedo na ferida.
Na A25, um veículo ligeiro pagará 9 cêntimos por quilómetro, “apenas” o triplo do que é suportado por um veículo idêntico na A5, a auto-estrada que liga Lisboa a Cascais. Isto é aceitável?
E para quem não sabe, a A25 não passa no Porto, nem sequer na região Norte (*). É uma auto-estrada que percorre a Beira Litoral e a Beira Alta, entre Aveiro e Vilar Formoso, sendo a principal via rodoviária usada para a exportação de produtos fabricados no Centro e no Norte do país.
Sofrendo na pele as consequências das politicas centralistas, não consigo encontrar explicação para que a esmagadora maioria das populações que vivem no interior do país seja adepta do slb ou do SCP, mas deve ser uma espécie de Síndrome de Estocolmo.
(*) Considerando a região Norte como sendo formada pelos distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança.
A capa do JN de ontem e a notícia em si, remetem para dois aspectos que têm muito a ver com o país que temos, com algumas polémicas do futebol português e com o modo como a comunicação social escolhe temas e selecciona destaques.
I. Notícias, títulos e destaques
«Auto-estrada da exportação mais cara que Lisboa-Cascais»
«Preço por km entre Aveiro e Vilar Formoso é o triplo da A5»
O tema “SCUTs” foi e continua a ser objecto de tratamento jornalístico. Contudo, alguém acredita que seria possível uma capa destas, com este título e subtítulo, num dos jornais feito na capital (Correio da Manhã, Diário de Notícias, Público, Expresso ou Sol)?
E algum dia esta notícia seria apresentada desta maneira, destacando uma escandalosa diferença de custos por quilómetro a favor dos mais ricos, se a peça fosse preparada pelas redacções de Lisboa da RTP, SIC ou TVI?
Parece um contra-senso, mas desde que Portugal aderiu à UE (na altura CEE) em 1985, a macrocefalia da capital não tem parado de aumentar e tem sido acompanhada de uma visão e propaganda dos media cada vez mais Lisboa-cêntrica. Por isso, e para denunciar as discriminações e os abusos que se vão cometendo, é fundamental haver um JN, bem como, projectos jornalísticos como o do semanário Grande Porto, ou um canal televisivo como o Porto Canal. O problema é que os órgãos de comunicação social só se aguentam se tiverem compradores/audiência e publicidade, algo que cada vez está mais concentrado, ou é decidido, na capital…
II. O Norte e o Sul
Primeiro Pedroto e depois Pinto da Costa foram acusados pelos media da capital de serem incendiários e de, com a suas intervenções públicas, contribuírem para dividir o país em Norte e Sul.
É falso, é completamente falso. Se alguém, no discurso, divide o país em Norte e Sul são precisamente os protagonistas da capital e alguns exemplos da linguagem e tipo de expressões utilizadas são elucidativos.
Ao contrário e em sentido oposto ao que se ouve em Lisboa, no Porto, ninguém se refere à A1 como “auto-estrada do Sul”.
No Porto, ninguém trata os alentejanos, ou os algarvios, como “as pessoas do Sul”.
No Porto, ninguém diz que vai “rumar ao Sul” quando tem de se deslocar a Lisboa.
As verdadeiras divisões que existem em Portugal, resultantes das assimetrias que sucessivas políticas centralistas foram cavando, é a divisão entre o litoral povoado e o interior desertificado, bem como, a divisão entre um eixo Lisboa-Cascais cada vez mais rico e o resto do país cada vez mais pobre. E é neste contexto que a notícia do JN tem mais relevância porque, corajosamente, volta a pôr o dedo na ferida.
Na A25, um veículo ligeiro pagará 9 cêntimos por quilómetro, “apenas” o triplo do que é suportado por um veículo idêntico na A5, a auto-estrada que liga Lisboa a Cascais. Isto é aceitável?
E para quem não sabe, a A25 não passa no Porto, nem sequer na região Norte (*). É uma auto-estrada que percorre a Beira Litoral e a Beira Alta, entre Aveiro e Vilar Formoso, sendo a principal via rodoviária usada para a exportação de produtos fabricados no Centro e no Norte do país.
Sofrendo na pele as consequências das politicas centralistas, não consigo encontrar explicação para que a esmagadora maioria das populações que vivem no interior do país seja adepta do slb ou do SCP, mas deve ser uma espécie de Síndrome de Estocolmo.
(*) Considerando a região Norte como sendo formada pelos distritos do Porto, Braga, Viana do Castelo, Vila Real e Bragança.
eu até posso concordar com a crítica, nomeadamente devido ao rendimento médio do eixo lisboa-cascais, à importância estratégica da a25 e ao facto de não haver alternativas viáveis, mas:
ResponderEliminarnão será importante também o facto de a a5 ter para aí 4 vezes mais carros e ter sido mais barata de construir? é que nem tudo é corrupção, às vezes há é mais aspectos que se devem ter em conta...
só a dizer, para alimentar a discussão...
cumprimentos,
Zemis disse...
ResponderEliminaro facto de a a5 ter para aí 4 vezes mais carros e ter sido mais barata de construir
Que raio de argumento é este?
E, já agora, o custo das portagens na A1 (pago, na esmagadora maioria, pelas pessoas que vivem a norte de Lisboa e que têm de se deslocar à capital para tratar de todo o tipo de assuntos), deveria ser drasticamente reduzido, porque esta auto-estrada já está mais do que paga, é isso?
Zemis disse...
ResponderEliminaré que nem tudo é corrupção
Mas alguém falou em corrupção?
O que está em causa são decisões politicas.
O que está em causa são medidas, tomadas por decisores políticos, que há décadas contribuem para agravar as assimetrias de um país chamado Portugal.
E quando chegar às assimetrias das políticas entre ricos e pobres é que começa a chegar a algum lado...
ResponderEliminarParece-me evidente que portagens elevadas na autoestrada das exportações é romanticamente idiota, mas vamos ter que levar com esse nível de realidade mais uns bons anos.
Devem esperar que passem a ir pelo TGV ou pelo aeroporto de Beja...
O numero de pessoas a utilizar a autoestrada e um argumento nao so valido como importante.
ResponderEliminarE perfeitamente aceitavel que o custo de uma autoestrada seja pago pelas pessoas que a utilizam. Quanto maior o numero de utilizadores ou o custo total da obra, menor o custo por utilizador.
Bom, se o número de utilizadores deve influenciar o preço de uma auto-estrada, porque não aplicar o mesmo princípio aos rendimentos dos utilizadores? É que, por qualquer razão que eu desconheço e não consigo descortinar - deve ser por ter nascido na província - em Lisboa paga-se 20% e mais em salários, pelo mesmo trabalho, que em qualquer outra zona do país.
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