Surge este artigo na sequência de uma discussão havida no I Encontro da Bluegosfera sobre que entidades pagam e que entidades recebem, e o quê, no universo FC Porto, relativamente à construção e exploração do Estádio do Dragão.
O artigo visa a divulgação de informação que ajude ao esclarecimento das relações e dos fluxos estabelecidos entre as empresas do Grupo FC Porto. A informação a seguir reproduzida é pública e provém (em grande parte) de um Seminário da APE (Associação Portuguesa de Estádios) subordinado ao tema “Gestão de Estádios” que terá tido lugar no Estádio do Dragão em Outubro de 2010 e que contou com a participação do Dr. Fernando Gomes,então Presidente da Liga de Clubes, que certamente terá um conhecimento profundo do projecto do Dragão.
Do slide acima, constante da apresentação do Dr. Fernando Gomes, podemos concluir que o FC Porto fez um acordo com o Estado, um acordo com uma empresa imobiliária, recebeu um empréstimo intercalar dos Bancos, cedeu terrenos à Euroantas e contratou a construção do Estádio com empresas do sector. Presume-se que numa segunda fase a Euroantas terá contratado com os Bancos um empréstimo de médio e longo prazo que, juntamente com o valor dos terrenos e dos subsídios do Estado terão somado os 125 milhões de euros que custou a infra-estrutura.
O mapa acima descreve as origens e as aplicações dos fundos obtidos para a construção do Estádio. Não foi possível obter o detalhe dos montantes das rubricas descritas em aplicações de fundos.
O slide relativo ao modelo de exploração, que também consta da referida apresentação do Dr. Fernando Gomes, exibe a Euroantas como a entidade central neste processo. Foi esta sociedade que assumiu a dívida aos Bancos financiadores e é a esta que cabem no final as receitas de Corporate Hospitality (venda dos camarotes e tribuna do Estádio) mais (ou menos) o défice (ou o excedente) para fazer face ao serviço da dívida. As 3 restantes entidades, Porto SAD, Porto Estádio e Porto Comercial, têm funções muito específicas de forma a isolar a entidade que suporta o serviço da dívida – Euroantas – dos riscos de negócio que ela não controla. A Porto SAD é responsável pelo aporte de fundos deficitários (ou obtenção de fundos excedentários), a Porto Estádio é responsável pela conservação e manutenção da infra-estrutura e a Porto Comercial é responsável pela comercialização dos camarotes e tribuna do Estádio.
Segue-se transcrição de um resumo (que é parte integrante da referida apresentação) do acordo existente entre estas sociedades:
Acordo Empresarial
1. Entidade proprietária (Clube / EuroAntas)
- Cede a exploração do Estádio (Espaço Multifuncional / Espaço Desportivo)
- Paga o Serviço da Dívida (empréstimo de MLP)
2. Entidade exploradora (Porto Estádio)
- Gere todo o Espaço Multifuncional
- Assegura toda a manutenção corrente do Estádio
- Centraliza a respectiva exploração dos espaços Desportivos
- Organiza eventos – desportivos e outros
3. Entidade utilizadora (FC Porto SAD)
- Utiliza o Espaço Desportivo (em regime de Cedência de Exploração semi-exclusiva
- Assegura os fundos necessários à entidade exploradora (em caso de insuficiência de fundos)
O Relatório e Contas Consolidado da FC Porto SAD relativo ao 1º Trimestre do exercício 2011/2012 revela, no entanto, que o actual “modelo operativo do Grupo Futebol Clube do Porto, baseado na transferência de proveitos relacionados com as rendas de espaços inseridos no Estádio Dragão para o Clube”, terá de ser alterado de acordo com o “plano de acções para reduzir progressivamente a dívida” de 12,8 M€ do Clube à SAD. Além desta medida foram tomadas outras como “a revisão da política de preços e redistribuição interna das receitas de quotização dos associados entre o Clube e a FC Porto, SAD e a racionalização orçamental a médio prazo das modalidades sob a gestão do Clube”.
Esta questão já foi abordada no Reflexão Portista, em Dezembro de 2011. O FC Porto acaba por assumir que o modelo operativo preconizado para o Grupo se revelou desajustado (retirando demasiada receita ao Clube para dar à SAD) e toma agora medidas correctivas, com a necessária “aprovação das instituições financeiras”. Espera-se que estas medidas permitam ao Clube a obtenção de receita suficiente para liquidar a dívida (e os respectivos juros) à FC Porto SAD e ainda que aquele consiga atingir o desejado equilíbrio orçamental.
Excelente clarificacao, Nuno.
ResponderEliminarDito isto, acrescento alguns dados importantes (sugiro q edites o artigo para inserir os q considerares mais relevantes, mas e' contigo):
1) Duracao do emprestimo
A resposta e' 15 anos (e esta' implicito num dos graficos, mas de forma bastante discreta por isso nao me admirava q o pessoal nao reparasse), ou seja, o estadio fica totalmente pago em 2018. Ja' so' faltam 6 anos...
2) Quanto e' q esse emprestimo nos esta' a custar anualmente (capital + juros)?
A resposta e' perto de 3,5 milhoes de euros/ano, pelo q vi no R&C.
3) Ate' quando dura o actual contrato da Porto Estadio (detida pelo clube) com a SAD?
Resposta: ate' 2033 (i.e. continua por 15 anos depois do estadio estar pago).
4) Quanto e' q a SAD vai pagar de renda ao clube (indiretamente) nos 15 anos seguintes depois do estadio estar pago ?
Sem ter a certeza absoluta, pelo q li a ideia e' q a renda ao longo dos 30 anos de contrato se "aproxime de uma renda linear", ou seja, seja mais ou menos constante, o q quer dizer q o clube continue a receber mais de 3 milhoes/ano (uma "injeccao" no orcamento estando o estadio pago).
Dito isto, pelo q li parte dessa renda ja' foi adiantada pela SAD em 2003, nomeadamente 15 milhoes (1/3). Quer isso dizer q o dinheiro "vivo" injectado na Porto Estadio (pertenca do clube) a partir de 2018 sera' de uns 2 milhoes/ano.
5) Mas afinal de contas quanto e' q a SAD tem "encaixado" na pratica depois de transferir a renda anual?
E' uma optima pergunta :-)
Parece-me q e' muito mais complicado do que simplesmente olhar para os resultados da Porto Estadio (q consistiram num prejuizo de 280mil euros em 10/11), ou para o excedente declarado depois de pago o servico do Project Finance (lucro de 50mil em 10/111).
Dificil de dizer com certezas, porque ha' bastante engenharia financeira como o Nuno aludiu num dos graficos, e acima de tudo penso q eles tem flexibilidade consideravel onde reflectir ao certo certos custos, havendo criatividade...(como por exemplo "custos com pessoal")... ate' pq provavelmente pode ajudar na questao dos impostos, imagino eu.
O excedente do servico da divida na ultima epoca foi de 50mil euros (inferior a epocas anteriores, presumo q por subida dos juros; na epoca anterior tinha sido 1,3 milhoes), mas a isto ha' q acrescentar o saldo entre TODOS os custos e receitas de exploracao do estadio (por ex a comissao anual de 1,3 milhoes cobrada 'a Euroantas pela gestao do Corporate Business; FSE em corporate hospitality, servicos da Porto Comercial, custos com pessoal, etc etc).
Elementos destas contas aparecem em sitios diferentes no R&C, e mesmo em empresas diferentes (SAD, Porto Comercial e Porto Estadio) e podem estar em certa medida "mascarados". O meu palpite e' q tudo destilado a SAD faca um pequeno lucro q varia de ano para ano e ira' ate' uns 2 milhoes) ja' depois de pagar a renda anual, lucro q tera' sido maior em anos anteriores.
Mas pode ser q haja aqui alguem melhor informado q possa esclarecer isso.
Ja' agora, tudo o q escrevi no comentario acima nao e' resultado de qualquer informacao privilegiada: (quase) tudo esta' escarrapachado no R&C anual consolidado da SAD de 10/11, para quem estiver verdadeiramente interessado no tema.
ResponderEliminarCaros amigos
ResponderEliminarO artigo de Nuno Nunes é excelente, bem como os comentários e questões levantadas por José Rodrigues, nomeadamente: “quanto é que a SAD tem encaixado…”. De facto, é difícil saber, visto não estar detalhada na rubrica Corporate Hospitality. Só na presença física dos documentos, se poderá chegar a uma conclusão
Podem verificar no último RC (3º Trimestre) apresentado http://www.fcporto.pt/IncFCP/PDF/Investor_Relations/RelatoriosContas/ir_RelatorioContas3S11Consolidado_310512.pdf
que os Proveitos subiram por via das receitas do Corporate Hospitality (pág. 7) (a parte excedente da que vai para a EuroAntas). Quanto ao aumento dos custos com o pessoal está explicado (pág. 10): “Esta subida deve-se exclusivamente ao acréscimo dos custos para fazer face aos compromissos contratuais com os atletas”.
No meu entender a política seguida este ano com várias contratações e a renovação dos contratos aos melhores atletas com os consequente "prémios" e aumentos salariais, fez disparar os Custos. Como não houve "vendas" até ao final do exercício (30 de Junho), prevejo um resultado péssimo no RC anual, a apresentar lá para finais de Setembro.
Como foi evidenciado no Encontro, todas estas questões foram despoletadas pela extinção (já aflorada há um ano) do Basquetebol profissional. Além disso, uma política muito fechada, não só da parte da SAD, mas principalmente do clube, provoca a insatisfação dos sócios e deve ser rapidamente corrigida.
Abraço