terça-feira, 7 de agosto de 2012
A operação Glazer no Manchester United
Malcolm Glazer é o dono do Manchester United (o clube mais valioso do mundo) desde 2005 e está há mais de um ano a tentar colocar no mercado uma IPO (Initial Public Offering), i.e., uma operação pública de venda de acções representativas do capital. O roadshow inicial pressupunha a cotação do “Man United” nas bolsas de Hong-Kong e Singapura. O plano, a Agosto de 2011, seria encaixar um valor próximo de 1 bilião de USD com a colocação de 25% a 30% das acções no mercado. No entanto, Glazer teve de abandonar esses planos devido à escassez na procura dos títulos.
Agora, a família Glazer volta à carga e já se decidiu pelo lançamento de uma IPO, desta vez na NYSE (bolsa de Nova Iorque). O Clube anunciou que pretende colocar 16,7 milhões de acções por um preço unitário entre 16 e 20 USD. Se o preço final se fixar num valor médio do intervalo divulgado a oferta pública poderá render cerca de 300 milhões USD. No final do passado mês de Julho a operação foi adiada devido à “volatilidade do mercado”.
Se a operação for concluída com sucesso, o United pretende usar o valor bruto a encaixar, de cerca 150 milhões de USD, no abate de Dívida Líquida (“Net Debt”), avaliada em 425 milhões GBP no último período reportado. Os restantes 50% ficarão para a família Glazer!
Resta dizer que o sindicato bancário que suporta esta operação é composto por Jefferies, Credit Suisse, JPMorgan Chase, Bank of America e Deutsche Bank entre outros, num total de 13 bancos.
A relação dos donos do United com os fãs nunca foi fácil (para mais detalhes, consulte este blog). Os Glazer eram donos da equipa de futebol americano Tampa Bay Buccaneers e em 2005 atravessaram o Atlântico para, numa operação alavancada (“leveraged buy-out”), adquirirem um dos clubes mais famosos de Inglaterra (para não dizer o mais famoso, não venha o parceiro de blogue Alexandre Burmester desmentir-me!).
Na operação de 2005, diga-se que os Glazer tentaram pagar “com o pêlo do próprio cão”, i.e., endividaram-se para comprar o United e depois meteram a dívida no Balanço do próprio United que, assim, está a amortizar e a pagar juros da dívida contraída pelos novos donos. O dinheiro saído do Clube para este propósito estava, a 31 de Dezembro de 2011, estimado em 500 milhões GBP (números em detalhe, aqui).
Dir-me-ão que a operação de compra pelos Glazer ocorreu num mercado regulado e é perfeitamente legítima. Correcto. No entanto – e simplificando os pressupostos – acredito que os sócios e adeptos do FC Porto não iriam achar muita piada se, por exemplo, o RP criasse uma sociedade Reflexão Portista Finance LLC, se endividasse e posteriormente comprasse a FC Porto SAD para depois passar essa dívida para o Balanço da SAD para ser esta a pagá-la.
[Nota: os estatutos do FC Porto teriam de ser alterados para que acontecesse uma situação semelhante à do clube inglês]
Fonte: Financial Times
«endividaram-se para comprar o United e depois meteram a dívida no Balanço do próprio United que, assim, está a amortizar e a pagar juros da dívida contraída pelos novos donos»
ResponderEliminarAcho incrível que isto seja possível mas, pelos vistos, foi e é legal.
«o RP criasse uma sociedade Reflexão Portista Finance LLC, se endividasse e posteriormente comprasse a FC Porto SAD para depois passar essa dívida para o Balanço da SAD para ser esta a pagá-la»
ResponderEliminarIndependentemente dos estatutos da SAD, em Portugal este "problema" não se coloca. Ao contrário do Man Utd, as SAD's portuguesas são todas cronicamente deficitárias e, portanto, não geram receitas para este tipo de operações.
"Ao contrário do Man Utd, as SAD's portuguesas são todas cronicamente deficitárias e, portanto, não geram receitas para este tipo de operações"
ResponderEliminarEu nao diria isso tao rapido... :-)
Por duas razoes:
1) Hipoteticamente falando a FCP SAD custaria uma pechincha, portanto com um endividamento modesto.
'A cotacao actual, esta' avaliada NA TOTALIDADE num punhado de milhoes de euros (cerca de 5). Mesmo ao valor nominal das accoes, nao vale mais q 75 milhoes de euros, na totalidade (ou se preferirem, 45 milhoes pelos 60% q o clube nao detem).
2) A FCP SAD so' e' cronicamente deficitaria pq decide re-investir o dinheiro todo das vendas de jogadores. Um dono mais preocupado com o dinheiro a curto prazo do q com os titulos poderia perfeitamente decidir apertar o cinto nas contratacoes por uns tempos (criando portanto um lucro jeitoso), mesmo q como eventual consequencia o FCP andasse a lutar pelo 2o ou 3o lugar por uns poucos anos.
Alias, presumindo q 50 milhoes chegava para convencer os Oliveiras e os pequenos accionistas a vender os seus 60% da SAD (o q duvido, mas suponhamos), num par de anos de lucro facilmente se pagava a "compra" da SAD (ou da sua maioria) num LBO.
Dito isto nao estou preocupado com um take-over hostil por causa da "golden share" de 40% do clube e dos estatutos, e tambem pq uma boa parte dos accionistas minoritarios dificilmente vendem as suas accoes (nao sendo investidores normais).
Claro que esta operação dos Glazer, que transformou o Manchester United de um clube com um reduzido passivo num clube altamente endividado, só foi possível por não só o clube estar cotado em bolsa, como a maioria do capital estar disseminada.
ResponderEliminarSendo todos os clubes ingleses empresas desde o advento do futebol profissional no século XIX, a moda da cotação em bolsa é relativamente recente - e mesmo assim a maioria deles não está aí cotada.
PS Nuno: podes descrever o Man. Utd. como o mais famoso clube inglês: acho que poucos contestariam tal descrição!;-)
Boa tarde,
ResponderEliminarMeu caro José Rodrigues 8permita-me que o trate assim) quando diz que todas as SAD’s são cronicamente todas deficitárias deve estar a referir-se aos resultados operacionais, pois que normalmente o FCP e ultimamente o SLB apresentam resultados positivos. Obviamente que neste negócio é mais ou menos fácil apresentar resultados positivos, visto que o imobilizado das SAD’ s é um “bem” intangível e assim facilmente se valoriza (no balanço) o problema normalmente está na Tesouraria.
Cumprimentos