"Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal"
Pedro Passos Coelho, 23 de Julho 2012, durante um jantar do grupo parlamentar do PSD na Assembleia da República
Foi muito polémica a poupança de diversos dos habituais titulares (Helton, Danilo, Alex Sandro, Lucho, Moutinho, Varela e Jackson Martinez) decidida por Vítor Pereira no último SC Braga x FC Porto (2-1), para os oitavos-de-final da Taça de Portugal.
Contudo, apenas 13 dias antes, para os 1/16 avos da mesma competição, o FC Porto tinha ido à Madeira jogar contra o Nacional com praticamente o mesmo onze inicial. A propósito, relembro os onze jogadores que alinharam de início no Nacional x FC Porto (0-3), disputado no dia 17 Novembro de 2012:
Fabiano, Miguel Lopes, Abdoulaye, Otamendi, Mangala, Defour, Castro, Lucho, Iturbe, Kléber e Atsu.
Ou seja, comparando os onzes do FC Porto nestes dois jogos para a Taça de Portugal (ambos deslocações que, à partida, se anteviam difíceis), só houve duas diferenças: Fernando e James entraram no onze inicial de Braga, saindo Lucho e Iturbe.
E, claro, houve também diferenças substanciais no resultado final dos dois jogos e, consequentemente, nas críticas à decisão do treinador.
Mas, faz algum sentido o FC Porto poupar 5, 6, 7 ou mais jogadores habitualmente titulares em jogos da Taça de Portugal, contra adversários como o Nacional ou o SC Braga?
Claro que é discutível, mas Vítor Pereira não é o primeiro (e suspeito que não será o último) treinador do FC Porto a fazer este tipo de gestão do plantel.
Recordo precisamente uma outra deslocação a Braga, para a meia-final da Taça de Portugal, realizado no dia 16 Março de 2004, em que o FC Porto de Mourinho foi disputar com a equipa orientada por Jesualdo Ferreira, uma vaga na Final da Taça de Portugal 2003/04.
Relativamente aquele que podia ser considerado o onze titular da altura, José Mourinho fez cinco alterações:
- Nuno em vez de Vítor Baía (que foi para o banco);
- Ricardo Costa fez dupla com Ricardo Carvalho em vez de Jorge Costa (que nem sequer foi para o banco, onde quem se sentou foi Pedro Emanuel);
- Alenitchev em vez de Pedro Mendes ou Carlos Alberto (ambos haveriam de ser titulares na Final de Gelsenkirchen, mas neste jogo em Braga nem entraram em campo);
- Maciel em vez do Ninja ou de Carlos Alberto (dependendo do modelo de jogo adoptado por Mourinho);
- Jankauskas em vez de McCarthy.
Apesar de ter jogado com várias segundas e até terceiras escolhas, como eram os casos de Ricardo Costa e Maciel (um dos grandes flops das contratações feitas na era-Mourinho), o FC Porto ganhou por 3-1 e o herói do jogo foi o “rapaz alto e loiro” – Jankauskas –, o qual fez uma belíssima exibição e marcou os 3 golos dos dragões.
Admito perfeitamente ter uma perspectiva muito minoritária entre os adeptos portistas mas, na minha opinião, a Taça de Portugal é uma competição simbólica do centralismo (a final é obrigatoriamente disputada no decrépito e “helénico” Estádio Nacional) e da parolice que existe em Portugal (é tão giro ver a malta que se desloca à capital, de garrafão na mão, a fazer piqueniques na mata do Jamor…) e, também por isso, interessa-me essencialmente quando enfrentamos o clube do regime - o slb.
Se gosto que o FC Porto ganhe a Taça de Portugal?
Claro que gosto, principalmente quando não ganhamos o campeonato porque, nesse caso, serve de (pequena) consolação.
Ora, se em relação à Taça de Portugal compreendo (e na maioria das situações estou de acordo) que os treinadores do FC Porto poupem vários dos habituais titulares, na Taça da Liga ainda mais.
Na realidade, para um clube com o historial do FC Porto, cujas prioridades fundamentais (a nível desportivo e financeiro) são vencer o campeonato e atingir os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, para que serve esta aberração…, perdão, competição?
Para aumentar a notoriedade do clube a nível interno?
Não.
Para a SAD efetuar um encaixe financeiro relevante?
Não, e esta época ainda menos, visto a Taça da Liga ter ficado sem patrocinador e a Olivedesportos ter rompido o contrato que existia com a Liga.
Para enriquecer o currículo?
Compreendo que, por razões várias, o slb e a comunicação social que lhe é afeta procurem valorizar esta competição; compreendo que ganhar esta prova seja relevante para os clubes pequenos ou médios do nosso campeonato; mas algum portista, que tenha vivido as vitórias alcançadas nos últimos 30 anos, acha que é uma Taça da Liga que enriquece o currículo do FC Porto?
Então, para um clube como o FC Porto (que, lamentavelmente, é obrigado a participar), para que serve a “Taça Lucílio Baptista”?
Na minha opinião, para rodar os jogadores menos utilizados e, eventualmente, dar oportunidades a alguns jogadores da equipa B.
É isso que espero que Vítor Pereira faça no Nacional x FC Porto de amanhã (que, de tão "importante" que é, nem sequer vai ter transmissão televisiva...).
"Se algum dia o FC Porto tiver de perder umas taças em Portugal para salvaguardar a integridade física dos jogadores com mais minutos nas pernas e aumentar as hipóteses de sucesso noutras competições, como se diz, que se lixem as Taças, o que interessa é Campeonato e a Liga dos Campeões"
José Correia, 18 de Dezembro 2012