O Málaga chega ao Porto para disputar umas das mais igualadas eliminatórias dos Oitavos de Final da Champions League. São duas equipas com uma filosofia similar, futebol ofensivo, apoiada numa cultura de posse, com individualidades capazes de desequilibrar em qualquer momento e que equipam de azul e branco. Os espanhóis são estreantes nesta fase da competição e até à última ronda, partilhavam com o FC Porto a liderança na fase de grupos como a melhor equipa em prova. Apuraram-se com uma inesperada autoridade num grupo onde estavam os milhões do Zenit e a história do AC Milan depois de uma pré-eliminatória que passaram a duras penas. São uma equipa com mais recursos do que pode aparentar à primeira vista, e com um problema existencial muito importante. Para o ano, façam o que fizerem, não estarão nas provas europeias.
Vitimas da primeira onda de suspensões com vista à aplicação do Financial Fair Play, os malaguenhos sabem que façam o que fizerem na prova e na liga espanhola, para o ano não há Europa, nem milhões. Na liga espanhol têm feito uma temporada de altíssimo nível, similar ao ano passado, oscilando sempre entre o quarto e o quinto posto mas a uma distância curta do 3º lugar, ocupado pelo Real Madrid. Desde que a equipa soube da suspensão da UEFA (apesar de terem naturalmente recorrida da decisão) a liga deixou de ser uma prioridade. O clube sabe que tem de acabar nos sete primeiros lugares (a suspensão é para o 1º ano que se qualifiquem para as provas europeias, se o Málaga ficar fora das provas matematicamente a suspensão passaria para o ano seguinte, caso se qualificassem) mas deixou de pisar o acelerador. Na Copa del Rey foi eliminado pelo Barcelona nos Quartos de Final, mas não só teve o futuro campeão espanhol contra as cordas nos dois jogos, como foi provavelmente a única equipa que discutiu, olhos nos olhos, um jogo directamente com o Barça esta época. E perdeu apenas a eliminatória nos últimos dez minutos de um confronto de 180 minutos.
Agora chegam ao Porto para lutar na terceira frente, a mais importante.
Triunfar na Champions significa, sobretudo, revalorizar o plantel que, em Junho, seguramente, será reorganizado para que o clube possa pagar as dividas que tem em atraso. Há quatro ou cinco jogadores com mercado e que podem permitir um encaixe à volta dos 80 milhões de euros e não há nada melhor que a prova rainha do futebol europeu para servir de
passerelle Nós sabemos bem como funciona. Por isso mesmo jogar bem e vencer o FC Porto é algo mais importante do que possa parecer à primeira vista para uma equipa que, futebolisticamente, não fica nada a dever ao FC Porto e que conta com um guarda-redes em estado de graça, um médio criativo digno sucessor da magia de Iniesta e um treinador que sabe preparar os jogos como poucos.
Analisamos o Málaga zona por zona:
Baliza: É o líder do prémio Zamora, troféu entregue em Espanha ao guarda-redes menos batido. E tem demonstrado, semana após semana, porque é um dos pilares do sucesso da equipa. Apesar de algum erro pontual, Willy Caballero é um seguro de vida e um osso duro de roer para o ataque dos dragões. Bom posicionamento, ágil, bom entre os postes, relegou para o banco o mais experiente Kameni.
Laterais: Monreal saiu em Janeiro para o Arsenal, mas o Málaga tem um leque de laterais de bom nível, tanto a nível ofensivo como no trabalho mais defensivo. O lado esquerdo é monopolizado por portugueses. Do recém-chegado Antunes ao veterano Duda, é por aí que a equipa gosta mais de atacar, tendo algumas vezes utilizado o lesionado (não jogará) Eliseu a partir dessa posição para ganhar superioridade no ataque. Pelo lado direito joga Jesus Gamez, um lateral mais defensivo mas bastante bom tacticamente.
Centrais: Pode ser a área mais débil da equipa. O argentino Demichelis e o uruguaio Lugano podem ser os titulares, apesar de que o uruguaio tem a concorrência directa de Sérgio Sanchez e Wellington, que jogaram a maior parte dos jogos da fase de grupos. No banco está ainda o norte-americano Onyewu, jogador que dificilmente será primeira opção para Pellegrini e que deixa claro que esta zona está mais longe da qualidade média do plantel do que qualquer outra.
Médios Defensivos: Ignacio Camacho começou a despontar na cantera do Atlético de Madrid e foi uma das primeiras contratações do sheik Al Thani, quando este se fez cargo do clube em 2011. É um jogador com um excelente sentido posicional, muito trabalhador e com um óptimo remate de meia distância. Ao seu lado deverá jogar, no apoio, o francês Toulalan, um dos elementos fundamentais na grande campanha europeia dos espanhóis na primeira fase. Pellegrino pode também procurar utilizar o chileno Iturra, um maratonista trabalhador para perseguir incansavelmente Moutinho por todo o terreno, soltando Camacho para uma missão mais ofensiva no apoio ao ataque, ou lançando Baptista ou Portillo no ataque no seu lugar.
Extremos: Uma das grandes surpresas da temporada foi sem dúvida a segunda juventude de Joaquin. O extremo que despontou há uma década no Bétis e passou pelo Valência vive uma segunda juventude, com golos, assistências e momentos deliciosos que trazem magia e imprevisibilidade ao jogo ofensivo do Málaga. É o dono do corredor direito e será um osso duro de roer para Alex Sandro, obrigando-o a ter cuidado com as subidas no terreno. Do lado esquerdo não está o titular habitual, Eliseu, pelo que Pellegrini pode apostar por jogar com Duda ou lançar o rápido Portillo ou o feroz Julio "la bestia" Baptista.
Médio Ofensivo: A estrela da equipa, um dos melhores jogadores jovens do futebol mundial, líder e figura deste Málaga. Isco não precisa de apresentações, é o sucessor natural de Andrés Iniesta e em Málaga sabem que em Junho terá assinado por um clube de primeira linha do futebol europeu (acabou de renovar o contrato ampliando a cláusula de rescisão para 35 milhões de euros). Tem ordem para deambular pelo terreno, puxar Fernando da sua posição, criar superioridade no miolo ou associar-se com o tridente ofensivo. Tirar Isco do jogo é meio encontro ganho. O seu suplente, o brasileiro Lucas Piazon, emprestado pelo Chelsea, não deve jogar.
Avançados: Depois de vender Buonanotte, o ataque do Málaga ficou definitivamente entregue aos golos de Saviola, bem nosso conhecido, e do veterano paraguaio Roque Santa Cruz. Dois jogadores perigosos, que precisam de pouco espaço para deixar a sua marca. Também pode entrar Seba Fernandez, um jogador polivalente que se mexe bem em todas as posições do ataque, ou o jovem Fabrice, essencial na fase preliminar. Julio Baptista começou a ter minutos nas últimas semanas e pode ser opção apesar de que não esteja nas melhores condições físicas, pelo menos para a primeira mão.
Treinador: É um dos melhores técnicos da liga espanhola. Fez milagres com o Villareal e repetiu-os com o Málaga. Esqueçam a época num Real Madrid marcado pela precoce eliminação na Copa del Rey - até porque os números realizados foram brutais a todos os níveis - Pellegrini é um técnico que sabe manejar um balneário, com um brilhante conhecimento táctico e capaz de preparar os jogos até à exaustão. É uma hipótese para o Manchester City na próxima época e também joga muito do seu prestigio internacional nesta eliminatória.