Após ter finalmente arranjado algum tempo para consultar o R&C de
12/13 (e do 1o trimestre de 13/14), aqui ficam as primeiras impressões que daí retirei sobre a saúde
financeira da SAD.
Antes de mais, para o adepto comum foi surpreendente e uma desilusão que o
lucro tenha sido de apenas 20M€ após as vendas (no período em causa) de A.
Pereira, Hulk, J. Moutinho e James num total de 120M€ (brutos). No entanto para
quem seguir estas coisas com alguma atenção não houve enorme surpresa, já que:
1)
Uma
coisa é uma venda bruta e outra muito diferente é as mais-valias daí resultantes
(digamos, de uma forma muito grosseira e para simplificar, «lucro»), que é o
que interessa para a demonstração de resultados – e para isso há que descontar
o custo (amortizado) do passe, a % do passe que não detemos, e comissões de
intermediação (e por vezes direitos de formação)
2)
A
gestão corrente da SAD tem um défice crónico considerável, já que as despesas
«normais» são consideravelmente mais elevadas do que as receitas «normais».
Gosto de começar por olhar para o indicador-mor da evolução da saúde estrutural da
SAD (que basicamente nos diz até que
ponto estamos dependentes das vendas): quais
seriam os resultados se não tivéssemos feito mais-valias? Ora bem, se
formos a ver as coisas por esse prisma estamos um bocadinho melhor do que um
ano antes: -56M€ vs -65M€ um ano antes. Menos mau.
Continuamos no entanto numa situação complicada, e por várias razões (já
agora, a média na última década para esse indicador tem andado pelos -30M€,
pelo que ultimamente temos andado muito mais dependentes de grandes vendas).
1)
Repare-se
que nas 4 grandes vendas acima mencionadas (num total de 120M€) as mais-valias
foram 76M€ no total, ou seja 63% do valor bruto da venda. Supondo que teremos +-
o mesmo rácio nas próximas grandes vendas, seria preciso fazer mais ou menos
90M€ brutos em vendas até 30 de Junho para não fazermos prejuízo em 13/14, o
que não me parece minimamente provável.
2)
Parece-me
que o potencial do plantel actual para fazer mais-valias é claramente mais
baixo do que há um ano (mesmo especulando que um ou outro se vai valorizar ainda
muito, como por ex um Quintero entre outros). Primeiro porque o custo de muitos
dos jogadores foi elevado (vários deles avaliados aquando da compra em 10M€ ou
perto disso, alguns até mais), segundo porque só detemos parte do passe de
alguns dos mais valiosos (por ex Mangala 57%, Quintero 50%, Iturbe 45% - e já
agora o mais provável é que Fernando acabe por sair a custo zero se não for
vendido no Natal); e terceiro porque parece-me que
desportivamente o top 5 de jogadores pura e simplesmente não vale o mesmo que o
top 5 de há uns 2 anos atrás.
3)
Se
por um lado as receitas de TV vão aumentar este ano alguns milhões, por outro
lado outras receitas têm tendência a descer este ano - como bilheteira,
merchandising e LC - fazendo com que as receitas no total (excluindo
mais-valias) se mantenham mais ou menos estáveis; isto enquanto as despesas não
param de aumentar, ainda que de forma mais suave que nos anos anteriores.
4) Ainda por cima, parece-me que ofertas como as do Zenit ou Mónaco por Hulk e Moutinho/James são cada vez mais a excepção e não a regra, ainda por cima com as regras de Fair Play financeiro da UEFA a entrar em força.
O outro indicador «top line» que me interessa (e que mais interessa à SAD
na gestão corrente) é o saldo de curto
prazo entre activos e passivos, i.e. a diferença entre o que temos a pagar
nos próximos 12 meses e o que temos a receber no mesmo período em função dos
compromissos assumidos.
A 1 de Outubro esse saldo era de 59M€ negativos – exactamente o mesmo que
um ano antes. Esse «buraco» terá que ser coberto como de costume com um misto
de:
a)
Primeiras
prestações de eventuais vendas de jogadores,
b)
receitas
de LC/LE não orçamentadas (que este ano certamente não vão chegar a 15M€, já
excluindo o prémio de presença na fase de grupos que já estava previsto) tal
como de bilheteira,
c)
e
novos empréstimos (a taxa de juro média dos que andamos a pagar, já agora, anda
nos 8.5%).
Parece-me por essa perspectiva que a situação está bastante apertada, mas
longe de desesperada. Parece-me extremamente provável que em grande parte teremos que recorrer a novos empréstimos, de uma ou
outra forma (i.e. bancário, obrigacionista ou terceiros).
Para este artigo não ficar demasiado longo, deixo para
um segundo artigo as impressões sobre dados mais detalhados do R&C.
Caro José Rodrigues
ResponderEliminarAnálise perfeita. As contas do 1º trimestre, normalmente são difíceis de projectar e esta época não acredito muito nas vendas. Por outro lado a ausência da LC pode ser fatal para o resultado em Junho.
Abraço
Continuamos a gastar o que não temos por conta daquilo que esperamos vir a ter.
ResponderEliminarNa minha opinião, estamos numa "camisa de forças" em que temos a nossa dívida toda garantida pelas receitas ditas correntes e um déficit crónico elevado coberto por eventuais mais valias que podem ou não ser suficientes e que têm que existir ano após ano.
Se esta fosse uma empresa "normal" eu diria que era um cenário insustentável a curto/médio prazo.
Curiosidades adicionais:
. Quase 50% da nossa dívida financeira está nas mãos do BES (45,5 milhões de euros) ; a outra grande fatia está nas mãos dos obrigacionistas
. Ainda nos falta receber 11 milhões do Falcão e 10 milhões do Hulk (também do Álvaro Pereira, Lisandro e Cissoko), estando estas verbas dadas como garantia a contratos de financiamento - logo, a uma taxa que duvido seja muito inferior a 10% (euribor+spread), estas vendas "custam-nos" +/- 2 milhões por ano
. As receitas de bilheteira, de patrocínio da Unicer, Nike e PT e da Champions estão dadas como garantia aos contratos de financiamento, sendo que apenas as primeiras vão para além desta época
Lembro-me de épocas em que tínhamos 2 bons centrais, um terceiro central dum nível aproximado e um quatro central das camadas jovens ou apenas promissor.
ResponderEliminarAgora vejo Otamendi, Maicon,Mangala, Reyes, Abdoulaye emprestado e Tiago Ferreira na equipa B. Há uns anos, antes dum certo novo-riquismo que atingiu o Porto, os centrais seriam certamente no máximo 3 do grupo Otamendi, Maicon, Mangala e Reyes com Aboulaye ou Tiago Ferreira de 4º central.
E com isto quero dizer que, na minha opinião, o caminho para o ajuste desta contas é a venda de jogadores do plantel sem necessariamente se ir ao mercado buscar uma alternativa.
Acho que deve sair ou Otamendi ou Mangala e o Tiago deve começar a funcionar como 4º central. Sim, o rapaz ainda demonstra muitas lacunas, mas desde quando é que deixamos de ter jogadores como Ricardo Silva, Lula e João Manuel Pinto no plantel? Passamos a ter que ter 4 centrais titulares e caros? O Real não tem um puto das camadas jovens como 4º central? O Barça idem?
Tiago Ferreira, André Silva, Tozé, Pedro Moreira, Victor Garcia, etc... têm valia para fazer o papel que outrora foi feito por jogadores como João Manuel Pinto, Ricardo Costa, Tiago, Pedro Mendes, entre muitos outros. Um plantel não são só jogadores de milhões, pode ser estrurado com 15 jogadores de topo e 10 jogadores promissores ou apenas razoáveis.
E isso permitir-nos-ia vendas e contenção de salários que penso que seriam significativas para estas contas.
DC,
EliminarEssa seria a gestão ideal de quem tem cabeça e sabe a situação financeira em que estamos envolvidos. O plantel oficial do FCP deveria incluir meia dúzia de jogadores que fizessem uma ponte constante com a B, não ter a esses seis jogadores presos à B, esperando por se alguém da A falha. Mas como sabemos bem que muitos dos nossos negócios envolvem terceiras partes, também sabemos que é mais atractivo efectuar uma compra ou venda do que manter esse espaço vazio para quem vem de baixo.
Imaginemos a situação dos laterais. Sem Fucile um jogador como o Victor Garcia (ou o Rafa) tem a oportunidade de, num determinado momento, agarrar um posto. Se todos os lugares estiverem sempre cobertos por jogadores bem pagos mas que não jogam, esse salto é impossível. O André Silva devia ser oficialmente o nosso 3º avançado. Quantas vezes foi convocado? O Tozé, o Pedro e o Tiago deviam entrar em convocatórias regulares se não houvesse um excesso de opções para os seus lugares. Ninguém lhes pede nem que sejam titulares nem que decidam jogos. Mas que estejam lá. Basta ver, por exemplo, casos como o de Januszj, o belga do Man Utd, que veio das reservas para ganhar dois jogos para a sua equipa em Outubro. No FCP seria impossível porque, como passa com o Kelvin ou o Tozé, nem convocado era.
Reduzir os gastos com o plantel e abrir espaço aos mais novos é fundamental para a nossa sustentabilidade. Quando mais tempo se tardar em ver isso - o que não significa a sportinguização do FCP - pior!
Ontem mais uma excelente exibição de Quiño, Tozé, Podstawski, Leandro Silva, Tiago e Reyes.
EliminarTozé só tinha que estar na 1a equipa. Próximo ano o caminho tem que ser a promoção definitiva de alguns destes putos para compensar as vendas.
Só nos últimos 10 anos VI o meu F C Porto ganhar 8 Campeontos, sem contar as Taças de Portugal, as Supertaças, a Liga dos Campeões, a Taça Uefa, a Liga Europa e a Taça Intercontinental.
ResponderEliminarIsso, não há dinheiro que pague!!!
E o FCP até pode fechar portas, ficar mais 12 anos nas cinzas que logo, logo voltaria a se levantar!!!
Para poder ombrear com os ' Grandes ' da Europa é claro que temos que pagar, que gastar...
Qual a dúvida?!
Aleziv,
EliminarUm pouco incongruente não é?
Cita triunfos europeus do FCP no ano em que menos se gastou para "poder ombrear com os grandes da Europa". Nos anos em que se gastou a valer ficou-se a ver navios. Curioso não é.
Nos anos noventa também viu oito títulos em dez anos, curioso para um clube que na altura gastava muito menos, tinha formação e mesmo assim chegou a uma meia-final europeia e dois quartos-de-final - algo muito parecido ao que fizemos pós 2004..ah não, melhor.
Ou seja, para o Aleziv, que se lixe o futuro do FCP, a sua sustentabilidade. Que se lixe se o clube fica sem dinheiro para pagar salários, o Aleziv só quer é ir em Maio à rua dar uns gritos. Adoro este portismo moderno que só vale pelos títulos que se conseguem juntar no cinto!