As más temporadas são aquelas de que nos temos de lembrar sempre. Para que não se repitam. A complacência é a maior inimiga daqueles que querem reinar muito tempo. No Dragão sabem isso melhor do que ninguém. Contava Bill Paisley, mítico treinador do Liverpool, que ele também tinha estado nos anos difíceis do Liverpool. "Um ano acabamos em segundo", dizia entre gargalhadas. Mas tinha razão. Nos seus tempos de jogadores e fisioterapeuta viveu anos de segunda divisão com o histórico clube de Merseyside. A glória e o inferno caminham sempre demasiado perto.
O FC Porto tem vivido 30 anos únicos. Dificilmente se vão repetir. Pelo menos trinta mais.
Cabe a quem gere o clube, aos sócios e adeptos que vão guiar o futuro, ter isso em consciência. Somos uma geração mal habituada porque vencemos mais do que perdemos e fazê-mo-lo com uma regularidade espantosa. Muitos dos que estão na direcção do clube estiveram nesses momentos. Outros tantos partiram ou perderam voz. Nenhuma equipa dura para sempre no topo. É impossível. O melhor que se pode fazer é continuar a lutar e evitar que estas épocas se tornem em algo regular. Vão ser cada vez mais frequentes. Mas não serão necessariamente o caminho para um longo deserto. Só se a caravela, que se desviou de curso, se afaste demasiado e acabe perdida no meio do Oceano. Este ano podemos e devemos medi-lo sobre diversos pontos de vista porque solucionar só um dos muitos problemas que tivemos será manifestamente insuficiente se querem continuar a ser competitivos nos próximos cinco ou dez anos.
PLANTEL
Entre os adeptos há a teoria de que este plantel é pior que o dos últimos anos e a oposta, de que é um bom plantel. Não creio que seja nem uma coisa não outra. É um plantel caro. Isso sem dúvida. Mas não necessariamente melhor. Que se pague mais dinheiro por jogadores que antes seriam contratados por metade do valor não faz das opções à disposição necessariamente melhores. O plantel que a SAD quis ter e que o anterior treinador aceitou é desequilibrado. É inexperiente. Falta-lhe liderança. Falta-lhe coerência. E faltam-lhe opções para posições determinantes a um nível que condiga com as aspirações do clube. O erro na concepção do plantel de 2013/14 partiu do mitico minuto Kelvin. Um título caído do céu depois de um sprint final de loucos fez a SAD acreditar que tudo era possível. E permitiu a desvalorização da equipa, deixando sair o jogador que equilibrava todo o cosmos em campo. Sem Moutinho - e mais grave, sem um jogador substituto para Moutinho - o FC Porto perdeu muito. A saída de James também não foi compensada à Porto. Desde há muito tempo que Pinto da Costa - e muito bem - tinha por hábito contratar o sucessor de um jogador com saída anunciada na época anterior para permitir a transição. Com James e Quintero não o fez e o colombiano não teve o tempo que teve James para adaptar-se e encontrar o seu ritmo.
A época arrancou com um overbooking de centrais e médios interiores e uma escassez atroz de alternativas nas alas, tanto na defesa como no meio campo. Os laterais e os extremos foram esgotados até à exaustão e só quando chegou Quaresma é que se percebeu o que podia ter sido esta equipa com um jogador top na ala durante todo o ano. Jogador que, por certo, Quaresma não é. Para o micro-cosmos "liga portuguesa" serve mas se o FC Porto quer ser uma potência como já foi não há muito tempo, não o vai conseguir com um futebolista que nunca triunfou em clubes exigentes e que faz do futebol um exercício estéril de egocentrismo. Esse erro inicial (a saída de Iturbe, a falta de um extremo, de laterais que rendessem Danilo e Alex Sandro) foi pago ao longo dos meses. Mas apesar de haver muitas opções na medular, a qualidade era pior. Fernando não tinha alternativa. Defour, Carlos Eduardo e Herrera nunca foram jogadores ao nível de Moutinho e Lucho jogou meio ano fora do lugar até que se fartou de ser visto como o bode expiatório da incompetência alheia. Izmailov desapareceu do radar sem dar noticias e Josué e Licá demonstraram que nem todos os jogadores que fazem uma razoável temporada merecem jogar no Dragão. Olhando, cruamente, para o plantel do FC Porto deste ano em comparação com os últimos anos há mais nomes, mas a média da qualidade decaiu claramente. Sobretudo o que há é demasiados projectos de jogadores. Inexperiencia (como a de Reyes e Herrera, com consequências nos jogos europeus), jovens demasiado ambiciosos e com a cabeça noutras paragens e muitos futebolistas que precisam de aprender a enganar-se e que não têm tempo se ao lado não há lideres. Porque não há. A saída de Lucho e a lesão de Helton deixa evidente uma situação de desnorte. Nem Quaresma, nem Varela nem muito menos Mangala são lideres para um clube como o FC Porto. E Fernando, num caso mal gerido desde o primeiro dia, está mais preocupado consigo mesmo do que com a possibilidade de exercer esse papel. Em suma, uma equipa com muitas opções mas mal distribuídas e preparadas estava fadado a gerar problemas de difícil solução.
EQUIPA TÉCNICA
Vitor Pereira tinha as horas contadas em Março. O titulo no último suspiro deu-lhe um colchão emocional e colocou a SAD contra a parede mas as cartas estavam já há muito na mesa. O seu mandato nunca foi consensual (talvez porque lhe foram tirando armas que AVB teve direito sem o reforçar condignamente em posições chave) e seria difícil aguentar a exigência de um terceiro ano. Até aí estou de acordo com a posição tomada pela SAD. Mas para trocar um técnico bicampeão português por Paulo Fonseca, mais valia ter esperado. Por um milagre.
Pinto da Costa acredita que encontra génios debaixo das calçadas da Sé. Pensou que Paulo Fonseca era um novo Mourinho. Saiu-lhe um Quinito II. E saiu-lhe cedo. Desde Agosto que era evidente que o erro de casting era sério. Mas foi-se perpetuando no tempo custando muito ao clube. Paulo Fonseca tentou jogar em 4-2-3-1 numa equipa feita e pensada para um 4-3-3. Fez com que jogadores que estavam tacticamente brilhantemente preparados parecessem futebolistas de distritais. Não acertou com um onze, inventou tudo o que lhe era possível e nunca soube dar a mão à palmatória. Insistiu no erro até ao fim e acho que saiu do clube sem perceber o que fez mal. Luis Castro, por muito competente que seja, também não tem o status necessário, nem o know-how, para dirigir um candidato perene ao título e ao que caía no colo. O FC Porto tem um modelo de jogo consensual, inteligente e uma política de evolução de jogadores que casa bem com um esquema disciplinado e que permite uma ligeira margem de erro quando os jogadores certos estão nas suas posições. Este ano isso não sucedeu, as debilidades individuais foram expostas em excesso e a moral do colectivo voou cedo para não voltar. A derrota em Sevilla, mais do que por questões arbitrais, deixou claro que o mal feito em Agosto só poderia ser corregido com tempo. Até Mourinho perdeu no seu primeiro meio ano nas Antas jogos que jamais voltaria a perder. O problema com a escolha de Paulo Fonseca está tanto no homem como no perfil. Em lugar de optar por técnicos de perfil alto, consagrados, excelentes gestores de homens e desenhos tácticos, procura-se exportar treinadores com pedigree como se faz com jogadores. Os milagres não acontecem todos os anos. Em trinta anos, Pinto da Costa conseguiu isso três vezes. Um por década. Está claro que há que esperar pelo próximo algum tempo. Mas se o perfil de futuro continuar a ser o mesmo é provável que os problemas se repitam. Se a aposta for conservadora, uma "jesualidização" sob a forma de Fernando Santos (a minha aposta pessoal, a contra-gosto), o fosso com os adeptos aumentará. Dificil decisão.
INSTITUIÇÃO
O FC Porto perdeu esta época muito em campo. E também perdeu fora dele.
O Clube cresceu e afirmou-se em dois jogos diferentes mas complementares. Desde há algum tempo para cá, a instituição está calada. Não defende o Clube como o fazia e muito bem, quando era preciso. Uma que outra entrevista insossa, um processo a um portista reconhecido por um fait-diver, e alguns comunicados não são suficientes para defender os interesses do clube face a uma mais do que evidente aliança de Benfica e Sporting, muito parecida como aquela que precipitou o Verão Quente de 1980. Parece evidente que o crescimento leonino vem de mãos dadas com uma politica calculada de queixas para colocar o FC Porto isolado dos centros do poder, com a anuência do Benfica que está disposto a deixar o Sporting a voltar a ter algum protagonismo mediático e institucional, sempre que seja á custa do FC Porto. É o que tem sucedido. Do Dragão só se ouve silêncio.
O Clube não consegue colocar homens influentes em posições como a presidência da Liga. Tem um presidente da Federação claramente hostil e um conselho de arbitragem que segue pelo mesmo caminho. E ao contrário da política guerreira e de ataque dos melhores anos do melhor presidente que o clube já teve (e terá), temos que suportar esse afastamento progressivo que só serve para danificar a imagem do Clube. O FC Porto precisa reforços em campo, no banco mas também nas posições de poder. Lamentavelmente a situação não vai mudar tão cedo. Pinto da Costa é finito nem que seja porque é humano. Tarde ou cedo acabará por retirar-se. Poderá fazê-lo, como merece, pelo seu pé, salvo que aconteça alguma fatalidade. E quando sair o clube vai ser uma velha viúva milionária com muitos pretendentes interessados, alguns até que aparecem em cena amando a outras cores, sejam vermelhas ou verdes. O pior que pode passar é uma guerra civil interna mas sem um sucessor ungido (como acredito que Pinto da Costa não vai fazer) e com facções já a batalhar, neste momento, por protagonismo, é a defesa colectiva exterior do Clube quem perde.
ARBITRAGENS E RESULTADOS
O FC Porto sofreu um péssimo ano arbitral na pele. Foi prejudicado claramente no campo do Estoril, Belenenses, Sporting e Nacional. O facto de ter jogado bastante mal nos quatro encontros permite-nos uma análise mais fria. Mas os factos são esses. Na Europa também pagou o preço de uma arbitragem habilidosa nas duas mãos contra o Sevilla. Mas ninguém cai por 4-1 por causa, exclusivamente dos árbitros. Houve erros que custaram pontos importantes - muito por culpa dessa falta de peso institucional tanto dentro como fora, onde desde o Apito Dourado a influência do Porto é mínima - mas a maioria dos resultados da época foram merecidos. A péssima fase de grupos da Champions League e as prestações cinzentas contra o Frankfurt, na primeira parte em San Paolo e em Nérvion, são consequência de tudo o que disse antes. Na liga o FC Porto perdeu pontos por culpa própria, na maioria das ocasiões, e com alguma ajuda alheia noutras. Ainda que pese - especialmente porque o plantel do Sporting é o que é - a posição no campeonato adequa-se perfeitamente ao que foi feito, a eliminatória europeia é uma consequência natural na falta de competitividade e ordem da equipa e o duplo duelo contra um Benfica que está, claramente melhor, servirá apenas de consolo moral. Pela primeira vez em muito tempo, os encarnados estão, claramente, á frente em todos os sentidos de jogo do que o FC Porto. E essa é a pior noticia do ano.
VISÃO A CURTO PRAZO vs VISÃO A MÉDIO PRAZO
Num Verão que se adivinha quente, a SAD do FC Porto tem duas opções. Buscar uma solução imediata a um ano grave ou pensar a médio prazo. Foram feitas coisas boas este ano. Contratar jovens com potencial e do mercado nacional (o próximo a caminho parece ser o Ricardo Horta) é uma linha interessante. Aproveitar as sinergias com a equipa B também o será. Mas esses jovens não vão ser capazes de dar um passo em frente sem estarem devidamente acompanhados. O Clube pode emular o que fez em 2010, contratando o experiente Moutinho, não vendendo as estrelas da companhia (apenas dois jogadores em fim-de-ciclo) e apostando tudo em recuperar o ceptro. Mas há dinheiro para isso depois de tantos negócios excessivamente caros, de tantas comissões e do risco de falhar a Champions League, outra vez?
Se Fernando, Mangala e Jackson eventualmente saírem, a resposta terá de ser outra, a pensar numa recuperação a médio prazo em que os jovens jogadores tenham um par de épocas para se afirmarem, sendo reforçados, progressivamente, pelo mesmo modelo de jogadores que nos fez chegar onde estamos. Jogadores como Zahovic, como Derlei, como Drulovic, como Kostadinov, Deco, Jardel, Lisandro, Lucho ou McCarhty que sem terem sido excessivamente caros deram um plus de qualidade ao colectivo. Para isso urge procurar novos mercados, fugir da tentação de pagar cada vez mais caro e sobretudo, aceitar um modelo de gestão onde o treinador tenha uma palavra a dizer.
HOW THE MIGHTY FALL
Comecei este texto com o Liverpool. Não foi casualidade. Quando Shankly chegou ao clube, a final dos anos cinquenta, o "Pool" estava na II Divisão. Quando Pinto da Costa e Pedroto chegaram ao Porto, o clube estava a viver o seu maior deserto, acabando alguns anos fora do top quatro. Durante vinte e trinta anos, respectivamente, os dois clubes dominaram a sua liga nacional e brilharam na Europa. Depois, no caso dos Reds, veio um longo e penoso deserto. Cabe ao FC Porto estar atento a esse (E tantos outros exemplos que a história nos dá) caso para ter atenção ao futuro que nos espera. É preciso pensar no amanhã e no depois. É preciso que quem gere o Clube pense nele primeiro. Que os jogadores que fiquem e os que cheguem sejam escolhidos a dedo e para algo mais do que serem vendidos com margem de lucro. E que o próximo homem a sentar-se na "cadeira de sonho" seja mais do que uma flamante promessa ou um veterano amigo do Presidente sem nada nas mangas. É preciso tomar decisões dificeis. É nestes momentos que se vê a alma do Dragão. Os adeptos estão, seguramente, todos com o Clube e esperam. A um sinal de que isto é uma curva apertada e não um abismo!
Miguel
ResponderEliminarIsto é o que eu chamo uma análise bem esgalhada. Alguns apontamentos:
PULSO DO DRAGÃO – Não vejo ninguém da SAD com capacidade para liderar o projeto da sua reconversão, muito menos um acionista que tem andado muito pelas televisões.
PLANTEL – É hora de pegar na vassoura e começar tudo de novo. Dois ou três que se aproveitam andam a estragar-se com a companhia dos outros.
EDUIPA TÉCNICA – Nem pensar em soluções sequer parecidas com as de Quinito ou Octávio. Duas vezes teve graça, mais não.
INSTITUIÇÃO – Perdeu-se em 2 anos o prestígio de 3 décadas. Os dois Circos da Segunda Circular estão à socapa a tentar tudo para anexar um Circo mais pequeno. O Trio BSB vai aparecer de novo na Ribalta. Tudo o que se passa (não passa na TSF) passa-se na Capital. Lembro-me bem das manigâncias do Trio nos anos 60.
Não consigo pensar na SAD sem pensar no Clube, esse sim, a verdadeira referência dos Portistas. Se é difícil encontrar um presidente para a SAD, imagino o que será para o Clube. Não gostaria que fosse um oportunista bem-falante e muito menos um descendente.
ARBITRAGENS E RESULTADOS – Uns são consequência dos outros. Ao contrário do que propagandeia uma comunicação social corrupta, não mandamos em nada nem em ninguém. Os outros é que mandam em nós e empurram-nos para baixo.
VISÃO A MÉDIO E CURTO PRAZO – A solução é remendar e alicerçar uma equipa a partir quase do zero. Não gostaria de esquecer o binómio Clube/SAD nem ignorar as modalidades.
HOW THE MIGHTY FALL – Res non verba (atos e não palavras). Mãos à obra. Mas como este artigo do Miguel. Com cabeça, tronco e membros.
Abraço para todos os Portistas
A visão a médio e longo prazo já anda a ser prometida desde 2006, altura em que foi apresentado o projecto 'Visão 611' encabeçado por... Luis Castro. De então para cá poucos ou nenhum foram os jovens da 'cantera' que triunfaram na equipa A. Os impactos de uma contracção nos proveitos recorrentes já deveriam ter sido acautelados com uma política de investimentos de maior retorno desportivo. O modelo de negócio está a falhar na vertente desportiva e, tendo em conta o relatório e contas semestrais, também está a falhar na vertente financeira. A saída de Angelino Ferreira não é um bom sinal.
ResponderEliminarQuanto ao afastamento do FC Porto dos centros de poder, nomeadamente Liga e Arbitragem, foi uma opção consciente desde o surgimento do apito dourado.
Fantástica crónica. Parabéns!
ResponderEliminarSaudações Portistas
Excelente post!
ResponderEliminarEm relação ao plantel, já aqui (e não só) tenho dito que não temos jogadores, no ataque, que façam a diferença em termos de velocidade, e que não temos jogadores que façam a diferença na hora da finalização (exceptuando o Jackson e, por vezes, o Quaresma). Ontem viu-se perfeitamente isso. Necessitávamos de marcar golos e, mesmo a jogar contra 10, passávamos a bola para o lado, para trás e repetíamos... Parece que só temos jogadores para fazer posse de bola, e fazendo-a mal, acabando por perdê-la facilmente (sendo desarmados ou "entregando-a" aos adversários).
Reparem no nosso rival, o SLB. Do meio-campo para a frente qualquer jogador tem talento para marcar golos: Enzo, Gaitan, Cardozo, Lima, Rodrigo, Markovic, Sálvio - e não me recordo de mais jogadores. Agora reparem nos nossos marcadores, exceptuando o Jackson e o Quaresma, quem mais é que tem capacidade para resolver jogos?
O Defour? Parece que não pode com a bola. O Carlos Eduardo? Ainda ontem, na 1ª parte, em frente da baliza (perto da meia lua da grande área) e à vontade, chutou a bola para a bandeirola de canto. E não são só estes que não sabem finalizar. Quer-me parecer que o esquema de jogo é só passar a bola para o ponta de lança e esperar que ele resolva...
E quantos jogadores colocamos dentro da área? Poucos, muito poucos... e quando lá estão são do mais inofensivo que há.
O nosso lateral direito é um médio, e é lá que gosta de jogar. Estão à espera do quê para o colocarem lá? De que nos vale ter um Quintero? Se à sua volta os jogadores estão distantes e não abrem linhas de passe, o que é que esse talento faz com a bola?
Os nossos extremos... São lentos, ainda assim, o único que ainda consegue progredir com a bola nos pés, mesmo que sem velocidade, é o Quaresma. cada vez que o Varela, por exemplo, rouba a bola ao adversário, é apanhado pelo adversário... e o que é que acontece? Ou perde a bola, ou volta para trás e passa a bola (para trás ou para o lado). E nos cruzamentos? 0! Quando chegam à linha, normalmente com a defesa bem colocada na área e com um (ou dois) adversários a marcarem o portador da bola, cruzam... a bola ou vai muito alta ou baixa de mais (e os adversários cortam a jogada). É certo que, às vezes, se marcam golos com passes vindos dessas posições.Quero aqui frisar é que chegamos sempre à linha final com muitos jogadores adversários a defender a baliza e a preencher as linhas de passe.
Velocidade da equipa: Lenta, lentinha. Quem está a ver os jogos percebe perfeitamente o que é que se vai fazer com a bola: para quem se vai passar, quem é que se vai desmarcar, etc. É tudo muito lento e denunciado.
4-3-3: Já estou farto desta estratégia. Não temos jogadores para ela (há dois anos para cá). Ao ver o jogo do AT. Madrid vs Barcelona, lembrei-me do FCP do Mourinho, pois a nossa estratégia era parecida com a do AT. Madrid; equipa bem ligada e fechada, explorando muito bem os contra ataques. A estratégia da nossa equipa, ultimamente, é para a frente, deixando imenso espaço nas costas dos defesas, e completamente desligada nos seus sectores - parece-me sempre que estamos em inferioridade numérica, seja no ataque, no meio campo ou defesa. Gostava que estivessem com atenção a essas situações (posso estar enganado).
Ganhar ao FCP é muito fácil. Basta deixarem o FCP ter bola e chegar ao meio do meio campo adversário. Aos adversários, basta defenderem com todos os jogadores (ou quase todos), aproveitar as perdas de bola, fazer contra ataques e, pronto, é meio caminho andado para vencerem. E ficamos sempre com a sensação de que controlámos o jogo...
Bom, tinha mais para dizer, mas fico por aqui, pois estou sempre a bater nas mesmas teclas, e também não adianta dizer nada - muitos destes problemas estão à vista.
Miguel Angêlo,
EliminarVP conseguiu equilibrar esse défice de opções de ataque que o Benfica sempre teve desde que juntou Cardozo, Lima, Saviola primeiro e depois Gaitan, Salvio, Markovic e Rodrigo, com uma organização táctica impecável. Sem isso somos frágeis porque defendemos mal e continuamos a atacar mal.
Desde que se foi Hulk e Falcao que o FC Porto ataca com um jogador na área e pouco mais. É muito pouco!
Na "mouche".
EliminarEu vejo esta crónica como se fora um pensamento positivo e sem medo.E de facto parece cada vez mais evidente que o Porto tem que recuperar a sua visão estratégica anterior:-Plantel consistente com uma permanência média de 3/4 anos por cada geração de jogadores e abolição -pelo menos parcial- da estratégia de "montra" constante de valores para comercializar na Europa.
ResponderEliminar-Não podemos ter na equipa jogadores com o corpo no Porto e a cabeça noutros lugares, não rendem e apenas se desvalorizam.
Meirelesportuense,
EliminarÉ exactamente isso, um pensamento positivo porque somos o FC Porto. Somos um clube que foi asfixiado pelo poder centralista de um país que só pensava vermelho e nos últimos trinta anos demos cartas. Cabe a nós, e só a nós, garantir que não voltamos atrás no tempo. Para isso é preciso olhar para trás, para o que fizemos bem, e reproduzir no futuro a versão adaptada aos novos tempos do que fez o FCP uma potência europeia.
Se o fizemos uma vez, podemos fazer outra.
1- Plantel- Nem tanto à terra nem tanto ao mar como muitos adeptos gritam aos quatro ventos. Existem posiçoes claramente deficitárias (embora algumas podessem ser compensadas com a equipa b, como os laterais, mas talvez devido à instabilidade da época isso nunca foi uma opçao), mas existem algumas alternativas bem interessantes.
ResponderEliminarO que nunca se percebeu desde o inicio foi a insistencia em gastos para posiçoes já bem preenchidas para depois supostamente nao haver dinheiro para atacar as posiçoes carenciadas.
2- Equipa técnica- Continuo a pensar que era muito dificil aguentar VP uma 3º época, considerando tudo o que se passou nas 2 em que ele esteve como treinador principal.
A escolha de PF pareceu sempre ser em cima da hora, até porque com a conquista do título, transpareceu haver indecisao quanto ao rumo que se deveria seguir, havendo inclusivamente noticias de que o Porto tentou última hora Pellegrini, ou seja, nao parece ter sido uma decisao assim tao ponderada e planeada como noutras ocasioes, limitando-se a ir buscar a maior surpresa da época anterior.
3- Visao curto prazo vs visao médio prazo- O que se tem verificado nos últimos anos é a procura por novos mercados aceitando pagar mais nesses novos mercados o que é um bocado incompreensivel. Eu nao percebendo nada de compra e venda de jogadores pergunto: pelos valores que se dispenderam para comprar Herrera e Reyes nao seriamos capaz de comprar promessas europeias com muito menos riscos? Qual é a vantagem de procuramos novos mercados, com o risco que isso acarreta, para depois pagarmos ainda mais pelas promessas desses mercados do que muitas vezes vemos aqui ao lado na europa?
Por outro lado a minha esperança na formaçao é muito reduzida só se de repente começamos a saber contratar grandes promessas estrangeiras a tuta e meia para reforçar os escaloes de formaçao, porque neste momento em matéria de formaçao, em Portugal, já poucos clubes conseguem ser piores que o nosso.
4- Instituiçao- Limito-me a dizer o óbvio: o clube só existe quando a equipa de futebol joga e isso afasta os adeptos.
Ao contrário da opiniao de PC, tenho pena que ele próprio nao queira que a sua obra se prolongue. Se me perdoarem o delito de opiniao, parece que quer que sintam a sua falta. Quando se ama um clube e a obra que se deixa, deseja-se e tenta-se que ele fique em maos capazes e trabalha-se para isso.
PS. Obviamente nao vou fazer consideraçoes sobre o trabalho de LC. Tem de ser obviamente um treinador de transiçao, nao quero acreditar que somos o Sporting e ter um "Sá Pinto" no meu clube.
PS2. Estamos limitados a um novo PF como Marco Silva ou uma aposta conservadora como Fernado Santos? Isso é acreditar que o clube pura e simplesmente já nao existe, apenas e só um supermercado de jogadores. A ver no futuro.
Pedro,
Eliminar1- É o que defende. A qualidade média piorou, há opções a mais para algumas posições e a menos para outras e a B, que devia ter oferecido mais soluções, foi ostracizada.
2- Não acredito que o Pellegrini alguma vez quisesse ter vindo para o FCP quando teve sempre ofertas em Inglaterra e Espanha mas um treinador do seu perfil faz falta. O que não se pode é ir atrás desse modelo e acabar com um Paulo Fonseca ou Marco Silva. É incongruente, no minimo.
3 - Sem dúvida. Exemplos fáceis? Reyes vs Paulo Oliveira, Herrera vs Jordy Clasie, jogadores muito mais baratos e com uma projeção futura similar. O que há fora da Europa, a rodos, é um submercado paralelo onde alguns clubes se sentem muito cómodos.
4 - De acordo.
PS2: Não vejo, neste momento, uma terceira via viável.
Peço desculpa pela insistencia, mas gostaria de saber o porquê de nao ver uma 3º opçao viável para treinador. Porquê que pensa nao ser possivel a contrataçao de um bom treinador europeu?
EliminarPensa que o clube nao é suficientemente atractivo para um treinador da classe média-alta a nível europeu ou pensa que a Sad tem obrigatóriamente de ter um "boneco" como treinador que terá de aceitar o plantel como lhe entregam sem reclamar?
Ps. Esqueci-me de dizer que espero que nao se lembrem do mercado brasileiro para arranjar novo treinador.
Treinador: Armin Veh
EliminarPedro,
EliminarA história do clube na era PdC assim o determina.
Só houve três estrangeiros escolhidos a dedo por Pinto da Costa na era pós-Robson (que era tudo menos um desconhecido e, aliás, veio já de um clube português) e todos eles eram as suas versões do Paulo Fonseca nos seus paises, capazes de brilharetes com equipas pequenas (Celta, Chievo, AZ) que depois não tiveram continuidade absolutamente nenhuma. Em nenhum momento, salvo com Ivic que era um homem rodado e com Robson, Pinto da Costa quis ao leme do clube um treinador estrangeiro com estatuto.
Não acredito que no crepúsculo do seu reinado o vá fazer!
Assino por baixo. Obrigado Miguel por trazeres lucidez ao meu pensamento, quero dizer, obrigado por dizeres o que penso de uma maneira muito mais esclarecida do que eu conseguiria.
ResponderEliminarAbraços.
Hugo
Excelente análise!
ResponderEliminarPermita-me que acrescente o seguinte:
- Para além dos jogos que indicou, na Luz também fomos prejudicados.
- Tanto falam no Apito Dourado e, segundo julgo saber, a única escuta em que um presidente de clube escolhe objectivamente um árbitro é o Vieira. Não lhes mandamos isso à cara, de cada vez que nos atacam, porquê?
- É esta política de comunicação que precisamos?
Saudações Portistas
Iur,
EliminarNa Luz houve erros contra e a favor do FCP. Não quero pensar o que teria sido o ano se depois do penalty claro do Mangala não assinalado o Benfica não tivesse marcado no canto seguinte. Como raramente perdoam uma dessas ao Porto, especialmente na Luz, acho dificil sentir que saimos de lá prejudicados pelo árbitro. Fomos sim, prejudicados pela decisão de ter ido a jogo com o Paulo Fonseca dando ao Benfica a força animica e moral que precisam na semana em que o Eusébio finou!
Prepara-se uma revolução para a próxima época diz OJOGO, mas quando olho para as possíveis entradas que falam e as prováveis saídas ainda fico mais preocupado! Sai Fernando e entra Ghazzal é com estas trocas parecidas á saída de Moutinho e entrada do Herrera ou Josué ou então James por Licá que vamos lá? Não augura nada de bom!
ResponderEliminarBob Paisley, Miguel, e não Bill, como por lapso escreveste.
ResponderEliminarBob Paisley e Bill Shankly tinham "cultura Liverpool", como José Maria Pedroto tinha "cultura FC Porto". Os três contribuíram também muito para essas culturas. Mas exemplos desses cada vez mais rareiam.
José Maria Pedroto só teve no FC Porto três dignos sucessores, no sentido em que eram treinadores que lideravam em vez de serem liderados: Artur Jorge, Bobby Robson e José Mourinho.
Alexandre,
EliminarObrigado, falha imperdoável para quem gosta tanto do homem como eu. Sem dúvida que faz muita falta essa cultura no clube mas é consequência de uma liderança unipessoal que centra em si todo o poder de decisão!
Muito bem escrito. Excelente análise. Bem ponderada. Mas falta algo muito importante. O imponderável! Nós somos Porto. Somos o povo mais forte. Não são balelas.
ResponderEliminarCompletamente de acordo. Excelente "estado da arte" portista.
ResponderEliminarSó duas notas laterais, reforlçando o que é dito: a questão do plantel está muito bem analisada e, na minha opinião, é correcta. Porém, ainda por cima este ano, comparativamente com planetis como o do Sporting e do Estoril (mais equilibradoi, mas, individualmente, nada, nada melhores). Portanto, dizer-se que o plantel é mau, tout court, é um erro. Não é (cer a comparação com o Sporting e o Estoril)...
A imagem da "viuva negra" é boa. Porém, temo que seja viuva pobre...
Na Luz, ainda com 0-0, inventaram 2 foras de jogo para impedir que o FCP se acercasse da baliza de Oblak. Na Luz, Jackson seguia isolado para fazer golo e o árbitro parou o jogo. Na Luz o árbitro perdoou a expulsão do Matic. Na Luz o árbitro expulsou o Danilo quando o Garay é que era expulso, na Luz Quaresma sofre mesmo penalty, seria o 2º a favor do FCP e que o árbitro não quis marcar. Na Luz, nunca que o FCP perderia o jogo com um árbitro imparcial. Na Luz o SLB somou 3 pontos indevidos. Na Luz o SLB foi levado ao colo. Hoje não estaríamos a 15 pontos do 1º lugar... estaríamos a 6/7 pontos, com muitas hipóteses ainda de poder lutar pelo Título.
ResponderEliminarE foi assim na Luz, na Alvaláxia, no Estoril.. independentemente do FCP jogar pouco, jogar mal, este ano o Campeonato já estava decidido antecipadamente.
ResponderEliminarAs forças do Regime, do Poder estabelecido não iriam permitir que o FCP fosse Tetra!
Pulso muito bem tomado ao paciente, concordo com quase tudo o que foi dito. Alguns apontamentos/ressalvas: 1. Correndo o risco de chover no molhado, dizer que o Quaresma é "um futebolista que nunca triunfou em clubes exigentes" é negar a exigência ao FCP, clube onde o Quaresma claramente triunfou. 2. A saída do Vítor Pereira foi mais ou menos inevitável, o problema esteve na escolha do substituto. Se o planeamento tivesse sido ajuizado, o Leonardo Jardim estaria contratado antes de ingressar no Sporting. 3. Os perfis Marco Silva/Fernando Santos não são inexoráveis. Há margem de manobra para recorrer aos serviços de treinadores estrangeiros de reconhecida qualidade (Laudrup, Rijkaard, Juande Ramos, Rudi Garcia, etc.). Basta destinar os milhões de um sul-americano inflacionado para garantir um bom treinador e não um tiro no escuro. 4. Por muito que insista (lembro-me da defesa isolada e pungente que fez no pós-jogo), o Porto foi prejudicado na Luz, não obstante a má exibição (em linha com a do opositor, que se limitou a ser eficaz). 5. É curioso o paralelismo com o Liverpool, numa altura em que ressurge como potencial vencedor da Premier League, numa época bem acima das expectativas (perdoem-me a falta de patriotismo, mas estou como o Lineker: o Gerrard merece levantar pela primeira vez o troféu de campeão - foram emocionantes as imagens que protagonizou no fim do jogo com o City).
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