«Considerando que:
(a) Se mostra oportuna a aquisição, pela Sociedade ao Futebol Clube do Porto, de acções representativas de até 50% do capital social da sociedade EuroAntas – Promoção e Gestão de Empreendimentos Imobiliários, S.A., sociedade cujo principal activo é o Estádio do Dragão;»
Fonte: Futebol Clube do Porto – Futebol, SAD, em “Propostas a apresentar em Assembleia Geral extraordinária [da SAD], a realizar em 2 de Outubro de 2014”
Numa altura em que a SAD considera oportuno que o Clube abdique (lhe venda) 50% do Estádio do Dragão (formalmente, irá vender 50% do capital social EuroAntas), vale a pena recordar o que foi o sonho, a dedicação e o esforço, de sucessivas gerações de portistas, para que o Futebol Clube do Porto tivesse um estádio seu.
Hoje em dia pode parecer estranho mas, durante quase meio século, desde a refundação em 1906, até à inauguração do Estádio das Antas em 1952, o Futebol Clube do Porto não teve um estádio próprio e teve de andar com a “casa às costas”.
O Campo da Rainha, situado na rua do mesmo nome, atual Rua de Antero de Quental, foi um dos primeiros locais utilizados pelo Futebol Clube do Porto para disputar os seus jogos Foi lá que, a 15 de Dezembro de 1908, se realizou o primeiro jogo internacional conhecido da história do Futebol Clube do Porto, contra o Fortuna Football Club de Vigo.
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Campo da Rainha |
A construção de uma fábrica nestes terrenos, que pertenciam à Companhia Hortícola Portuense, obrigou, em 1912, o clube a mudar os seus jogos para a Constituição.
O primeiro grande evento no Campo da Constituição foi um torneio internacional, disputado entre 26 de Janeiro e 2 de Fevereiro de 1913, tendo contado com a presença do FC Porto, SL Benfica, Oporto Cricket Club e Real de Vigo.
Pela utilização do Campo da Constituição, o Futebol Clube do Porto tinha de pagar um aluguer (350 escudos por ano).
À medida que o Futebol Clube do Porto ganhava títulos e se foi afirmando como o clube Nº1 da cidade e um dos principais clubes nacionais, o número de adeptos foi crescendo e o Campo da Constituição revelava-se insuficiente para as necessidades. Assim sendo, entre a família portista foi germinando o sonho de construir um estádio que fosse seu.
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Campo da Constituição |
Em 14 de Setembro de 1933, realizou-se uma Assembleia Geral histórica do Futebol Clube do Porto, da qual viria a emergir uma Comissão Pró-Campo, com o objetivo de escolher um terreno que tivesse “capacidade para nele ser construído um verdadeiro Estádio que comporte, no futuro, 50 mil pessoas” e que nele se pudessem “construir amplas bancadas, campo relvado, uma ampla pista para atletismo, piscina, ginásio, etc.”.
Mas os tempos não eram fáceis. Sem ter um estádio próprio, e perante a impossibilidade de ampliação ou de realizar obras significativas no Campo da Constituição, a Direcção do Futebol Clube do Porto optou, durante vários anos, pelo aluguer de espaços pertencentes a outros clubes da cidade.
Uma das “soluções” encontradas foi o Campo do Ameal, para cuja utilização o Futebol Clube do Porto estabeleceu um acordo com o Sport Progresso.
Contudo, após desinteligências com o Sport Progresso, os principais jogos do Futebol Clube do Porto passaram a ser realizados no Estádio do Lima (por exemplo, foi lá que, em 1948, se jogou o célebre FC Porto x Arsenal) mas, para além de uma verba significativa pelo aluguer, a utilização do Estádio do Lima implicava ainda o pagamento ao proprietário – o Académico FC – de parte das receitas obtidas.
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Estádio do Lima |
Por tudo isto, o desígnio para que o Futebol Clube do Porto tivesse um estádio seu nunca foi abandonado. Assim, na procura de meios para dar seguimento à Assembleia Geral de 1933, em 1937 foram emitidas 15 mil obrigações de 30 escudos cada, com um juro anual de 5%.
Em 1942, o Futebol Clube do Porto adquiriu, por 240 contos (1 conto = 1000 escudos = 5 euros), um terreno de 65000 m2 na zona da Vilarinha, perto do local onde se situa agora o Parque da Cidade, destinados à construção do tão sonhado estádio.
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Planta dos terrenos da Vilarinha |
Contudo, algumas figuras de peso dentro do clube não viam com bons olhos a opção de construir a futura casa do Futebol Clube do Porto num local muito desviado do centro da cidade e, perante a forte polémica que se instalou, em 1946 a Comissão Pró-Campo demitiu-se.
Entretanto, com o final da II Guerra Mundial, os terrenos da Vilarinha sofreram uma grande valorização e a sua venda permitiu à Direção do Futebol Clube do Porto, presidida por Cesário Bonito, a aquisição de um outro terreno, com 48000 m2, integrado na Quinta de Salgueiros (zona das Antas), por 1440 contos.
O projecto do novo estádio foi concebido durante o ano de 1949, da responsabilidade do arquitecto Oldemiro Carneiro, estando a obra a cargo do engenheiro Miguel Resende.
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Estudos do Estádio das Antas |
Foi já com Miguel Pereira à frente dos destinos do clube que, a 16 de Janeiro de 1950, o Futebol Clube do Porto deu início às obras de aterragem e terraplanagem do futuro Estádio das Antas (o sócio número um, José Bacelar, pagou do seu bolso o primeiro dia de obras, no valor de 675 escudos).
Apesar do apoio de figuras proeminentes, como Afonso Pinto de Magalhães, o facto é que o dinheiro não abundava. Por isso, foram organizados vários Cortejos dos Materiais, em que a população (particularmente os portistas) contribuía com ofertas, que iam desde cal, pedra, cimento, areia, madeira, saibro, tijolos e paralelepípedos, a bens alimentares, como carne, vinho e pão.
O custo do estádio rondou os 7500 contos, conseguidos, em boa parte, à custa desses cortejos e também de vários sorteios e outras iniciativas.
A 28 de Maio de 1952, na presidência de Urgel Horta, o sonho concretizou-se.
A nova casa dos portistas, o majestoso Estádio das Antas, foi finalmente inaugurado, na presença de 50 mil pessoas (e muitas mais ficaram da parte de fora), as quais pagaram um bilhete de 20 escudos para terem esse privilégio.
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Estádio das Antas, inauguração, vista aérea |
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Estádio das Antas, inauguração, relvado |
62 anos depois, é bom que os sócios do Futebol Clube do Porto se recordem destes tempos e, em consciência, decidam, numa próxima Assembleia Geral (que, suponho, o Clube irá convocar), se concordam que o Futebol Clube do Porto aliene 50% do Estádio do Dragão a uma empresa (a FC Porto SAD) na qual o Clube é minoritário.
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(continua)