Desde 2008, pelo menos, que os atuais dirigentes do SL Benfica vinham pressionando a Olivedesportos, em relação ao valor que a empresa de Joaquim Oliveira pagava pelos direitos televisivos.
Um exemplo dessa pressão foi uma entrevista que Domingos Soares Oliveira deu ao jornal PÚBLICO, publicada em 17 de outubro de 2008, na qual o Administrador da Benfica SAD afirmou que o valor justo pelos direitos televisivos do SLB seria 40 milhões de euros.
Um ano e meio depois, no dia 30 de março de 2010, numa entrevista à SIC conduzida por Miguel Sousa Tavares, Luís Filipe Vieira, em resposta a uma pergunta acerca da (re)negociação dos direitos televisivos, afirmou que “o dobro [16 milhões de euros] de hoje [8 milhões de euros] é muito pouco”.
De acordo com uma estratégia negocial e comunicacional muito clara, Domingos Soares Oliveira desdobrou-se em entrevistas, onde repetiu, vezes sem conta, que o SL Benfica pretendia encaixar 40 milhões de euros por época com os direitos televisivos. Era este o valor base de negociação.
E mais, em jeito de aviso, informou que havia vários operadores interessados e que a Olivedesportos (na realidade, a PPTV – Publicidade de Portugal e Televisão, SA), se quisesse manter os direitos televisivos dos encarnados (a empresa de Joaquim Oliveira detinha o direito de preferência até à época 2015/2016), a renovação contratual teria de passar por um valor não inferior a 40 milhões de euros/ano.
No dia 3 de Maio de 2011, para aumentar a pressão sobre Joaquim Oliveira, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD informou o mercado que “o empresário Miguel Pais do Amaral e esta Sociedade têm mantido conversas preliminares sobre os direitos televisivos dos jogos de futebol da equipa sénior do Benfica relativos às épocas 2013/2014 e seguintes”.
No dia 17 de agosto de 2011, a comunicação social anunciou, com pompa e circunstância, que o SL Benfica tinha alcançado o seu objetivo e que iria vender (o acordo estava iminente), por 40 milhões de euros por ano, os direitos televisivos à Balloonsphere, uma empresa detida maioritariamente por Miguel Pais do Amaral.
O EXPRESSO contou, detalhadamente, todos os passos deste (quase) acordo.
Contudo, os 40 milhões/ano de Miguel Pais do Amaral eram milhões da treta e, sete meses depois, em 6 de Março de 2012, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD emitiu um novo comunicado, a informar o mercado que tinha rejeitado uma proposta da Olivedesportos, SA, para “aquisição dos direitos de comunicação audiovisual” para “o período de 1 de Julho de 2013 a 30 de Junho de 2018 (5 épocas)” por um “valor global de 111 milhões de euros”.
Ou seja, feitas as continhas, a Olivedesportos ofereceu um valor médio 22,2 milhões por época (valor líquido e garantido).
Como, afinal, entre os “inúmeros” interessados em adquirir os “valiosíssimos” direitos televisivos do SLB, ninguém ofereceu mais do que a Olivedesportos, em 25 de Outubro de 2012, a Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD emitiu mais um comunicado, informando o mercado que iria “assegurar a transmissão dos referidos direitos pelos seus próprios meios, ou seja, através da Benfica TV”.
Após o entusiasmo inicial, com a curva de crescimento dos subscritores a ter uma progressão logarítmica (até estabilizar um pouco acima dos 300 mil), e tendo sido conhecido há alguns dias os valores das receitas e custos, já se pode fazer uma primeira avaliação desta “experiência inovadora”.
Ora, de acordo com os insuspeitos Maisfutebol, Record, Correio da Manhã e PÚBLICO (nenhum deles pertence a Joaquim Oliveira), a receita líquida da Benfica TV, entre 1 de Julho de 2013 e 30 de Junho de 2014, foi de… 17,1 milhões de euros!
Sim, porque aos 28,1 milhões de euros da receita bruta da Benfica TV é preciso subtrair os custos (cerca de 11 milhões de euros).
Mais. Em principio, a receita bruta da Benfica TV não advém, apenas, das mensalidades dos atuais subscritores deste canal premium. Embora não tenha visto isso referido nos artigos dos jornais, os 28,1 milhões de receita bruta da Benfica TV (no exercício 2013/2014) deverão, também, contabilizar o valor angariado em publicidade e os valores recebidos da PT, NOS, ZAP, Cabovisão e Vodafone para o canal ser emitido nestas plataformas.
Em resumo: No seu primeiro ano completo (traduzido no Relatório e Contas do Exercício 2013/2014), a receita líquida da Benfica TV é 5 milhões de euros inferior à proposta que a Olivedesportos fez em 2012 e corresponde a menos de metade dos 40 milhões de euros que os dirigentes do SL Benfica diziam ser o valor justo de mercado e definiram como fasquia mínima.
Vendo as coisas por este prisma - financeiro - a opção do SL Benfica em transmitir, na Benfica TV, os seus jogos, não é (ainda) uma “aposta ganha” e muito menos o apregoado enorme “sucesso”!
Quanto ao “facto” (há quem chame factos à propaganda…) da SportTv não se aguentar sem os jogos do SL Benfica é algo que está por comprovar.
Na realidade, já passaram 16 meses (desde Julho de 2013) e a pré-anunciada “morte” da SportTv que, segundo alguns, iria acontecer após deixar de ter os direitos de transmissão dos jogos do SL Benfica em casa (para o campeonato), parece ter sido uma noticia manifestamente exagerada…
P.S. Para quem não sabe, em 8 de Abril de 2011, a Futebol Clube do Porto - Futebol, SAD comunicou ao mercado ter fechado um novo contrato de cedência de direitos televisivos com a PPTV, até ao termo da época desportiva 2017/2018, no valor global de 82,8 milhões de euros. Ou seja, um valor médio de 20,5 milhões de euros/ano, pelos direitos televisivos de cada uma das quatro épocas (de 2014/15 a 2017/18) abrangidas pelo prolongamento do contrato embora, na realidade, o valor irá ser menor, porque parte foi pago antecipadamente nos últimos dois anos (em 2012/2013 e 2013/2014).
A BTV pode-se considerar um sucesso, na medida em que apenas os assinantes, e alguns telespectadores menos desatentos, vão constatando as realizações manhosas, que escamoteiam erros graves de arbitragem, e que tem contribuído sobremaneira para uma actual falsa posição na tabela classificativa. É de lhes tirar o chapéu. Chapeaux...
ResponderEliminarna realidade, o valor irá ser menor, porque parte foi pago antecipadamente nos últimos dois anos (em 2012/2013 e 2013/2014).
ResponderEliminar___________________
É público que também o Benfica iria na prática receber menos que os 22.2 milhões/ano pois parte do valor iria ser pago em 2012/2013 e nas restantes épocas o valor iria ter um aumento progressivo, logo a análise parte de uma premissa errada.
Cumprimentos.
"...a análise parte de uma premissa errada"
EliminarO que está errado é a sua conclusão.
Vejamos...
1) A Olivedesportos tinha os direitos televisivos dos jogos em casa do SLB no campeonato até 30 de Junho de 2013;
2) A Olivedesportos ofereceu ao SLB, 111 milhões de euros pelos direitos televisivos do período entre 1 de Julho de 2013 a 30 de Junho de 2018, o que corresponde a um valor médio de 22,2 milhões para cada uma dessas cinco épocas.
3) Se a Olivedesportos estava disposta a antecipar o pagamento de parte dos 111 milhões de euros, então, como é óbvio, tornava a sua proposta ainda melhor para o SLB (quem me dera receber em 2014 parte dos rendimentos a que só terei direito em 2016, 2017 ou 2018).
Os factos que apresenta estão correctos, mas quando diz que "a receita líquida da Benfica TV é 5 milhões de euros inferior à proposta que a Olivedesportos fez em 2012" já é incorrecto pois o valor seria progressivo, ou seja, não iriam entrar 22.2 milhões de euros esta época. No fundo é um pormenor pois os 111 milhões iriam ser pagos mais cedo ou mais tarde.
EliminarAs contas relativas ao sucesso/fracasso do projecto também são bastante simples: se até até 2018 o canal gerar mais/menos de 111 milhões de receitas líquidas será um sucesso/fracasso. Ficam a faltar mais 94 milhões portanto.
Dito isto na primeira as receitas líquidas do canal já ultrapassaram por uns milhões os dois maiores contratos da SportTv.
Cumprimentos.
"...a receita líquida da Benfica TV é 5 milhões de euros inferior à proposta que a Olivedesportos fez em 2012..."
EliminarSe quisermos ser rigorosos na comparação com a proposta da Olivedesportos, às receitas liquidas que a Benfica TV teve no exercício 2013/2014, deveriam ser descontadas as receitas liquidas provenientes dos contratos com a PT, NOS, ZAP, Cabovisão e Vodafone para o canal ser emitido nestas plataformas, porque era uma receita que a Benfica TV já tinha ANTES do dia 1 de Julho de 2013.
"...se até até 2018 o canal gerar mais/menos de 111 milhões de receitas líquidas será um sucesso/fracasso"
EliminarUma coisa é certa, nunca mais ouvi um dirigente do SL Benfica falar em valores (receitas líquidas) de 40 milhões de euros por ano.
É (era) a velha mania das grandezas...
Estes valores serão certamente corrigidos, quem sabe em que sentido?...Na minha opinião haverá um decréscimo, porque numa primeira fase fruto do entusiasmo e de uma certa euforia as adesões sobem, para depois estabilizarem ou descerem e a estabilização dependerá muito do que o Benfica fizer em campo. Uma coisa é certa 22 Milhões limpos sem trabalhinho nenhum sempre é melhor -penso eu- que 17 Milhões limpos com muito trabalhinho à mistura...Para além dos contratos estabelecidos -com colaboradores por exemplo- não se conformarem muito com o sucesso ou ainda pior com o insucesso...
ResponderEliminarFalta saber como vão os assinantes responder quando o slb não ganhar o campeonato, e se não conseguirem renovar o contrato com a EPL.
ResponderEliminarDepende, podem partir a televisão, a cabeça da mulher, a cabeça do Cabeçudo ou deixarem de pagar a TVCabo...Sob um ponto de vista prático, se calhar, talvez a última -ou a segunda?- Via seja a mais provável.
EliminarPois eu diria (baseado em simples contas de mercearia - são as melhores) sem engenharias, malabarismos, manipulações, deturpações financeiras... que o lucro limpo, liquido não foi de 17, mas sim, apenas de 13 milhões. E isto num ano bom em que venceram 3 Canecos.
ResponderEliminarNum ano mau... certamente que o lucro descerá para os tais 8 milhões. E daí que hoje, o RS, essa ratazana cataventos já fale em aborto da BTV!!!
Cumptos MP
P.S. - E digo isto hoje, pois é claro que vem aí novidades para todos os clubes a nível dos direitos televisivos. Pois nem a Sport Tv iria aguentar a pagar os tais 20 milhões ano aos clubes grandes.
"...o lucro limpo, liquido não foi de 17, mas sim, apenas de 13 milhões"
EliminarÉ possível que os números reais, imputáveis às subscrições do canal premium Benfica TV, sejam esses.
É uma questão de saber qual foi a receita liquida que a Benfica TV teve em 2012/2013 e subtrair ao valor da receita liquida em 2013/2014.
Recordo, conforme já escrevi no texto do artigo e num comentário anterior, que ANTES do dia 1 de Julho de 2013, a Benfica TV já tinha receitas provenientes dos contratos com a PT, NOS, ZAP, Cabovisão e Vodafone para o canal ser emitido nestas plataformas.
EliminarAcima da questão financeira que foi aqui analisada está a pertinência das perguntas/inquietações que irei agora colocar: Até que ponto existe idoneidade e legalidade para um clube, neste caso o benfica, poder transmitir os seus em casa no canal e exclusivo, sendo o campeonato organizado pela Liga à qual pertencem os clubes profissionais? Poderá o Benfica transmitir outros jogos da Liga Profissional (de outros clubes) sem gerar conflitos de interesse, manipulação ou subversão da dita verdade desportiva? Está um clube acima de uma organização como a liga de clubes, onde o benfica é mais um e compete no seu campeonato? Parece que sim, o benfica está acima de tudo, da lei, dos humanos, de deus!
ResponderEliminar"Poderá o Benfica transmitir outros jogos da Liga Profissional (de outros clubes) sem gerar conflitos de interesse, manipulação ou subversão da dita verdade desportiva?"
EliminarÉ uma boa questão, que nunca preocupou Mário Figueiredo. Vamos ver se preocupa Luís Duque (duvido).
"Acima da questão financeira que foi aqui analisada..."
ResponderEliminarPenso que a estratégia do SL Benfica é fazer evoluir a Benfica TV para uma 2ª SportTv.
O 1º passo foi a compra dos direitos da Premier League.
O 2º passo foi esconder o nome e símbolo do SLB e transformar (na aparência) a "Benfica TV" na "BTV".
O 3º passo deverá ser vender até 49% do capital da Benfica TV a outras entidades (PT? ZAP? Media Capital? Cofina?), mantendo o SLB o domínio do canal, mas injectando capital, promovendo sinergias e dando-lhe uma maior aparência de canal de desporto "isento".