Nuno Espirito Santo é o novo treinador do FC Porto.
A sua eleição não surpreende. Há vários anos que faz parte da lista dos futuriveis do banco do Dragão. Pela sua relação com o clube - Nuno é portista, quis ser jogador do Porto muito antes de ter, finalmente, logrado sê-lo, e viveu momentos históricos com a camisola ao peito - mas também pela sua relação com Jorge Mendes e o seu perfil, tão caro a Pinto da Costa, de jovem treinador português promissor que não ganhou nada até chegar ao Porto. Um perfil não muito diferente de Paulo Fonseca, por exemplo.
É Nuno um treinador para o FCP?
Depende do que quer o FCP para os próximos dois anos. Acabaram os tempos das vacas gordas (a corda financeira está ao pescoço) e do paleio para simplórios de que até um macaco é campeão graças á estrutura. Hoje a estrutura não existe, há um reflexo dela, do que quis ser e representou mas joga de vermelho e tem ajuda extra. Hoje o que há é uma guerra de tronos entre três grupos á volta de um Presidente que promete estar apto para liderar este novo capitulo mas que perde mais tempo em gerir os egos de quem lhe quer suceder por osmose do que a preocupar-se em defender o clube de rivais externos (para atacar os rivais internos já está o Dragão Diario). Nesse contexto, Nuno chega a um clube em guerra civil interna - ele próprio representa essa luta - e sem titulos há três anos. No melhor dos cenários o FC Porto só poderá ganhar um titulo em Maio de 2017 já que nem a Supertaça irá disputar, algo que foi fundamental no ciclo Villas-Boas/Pereira, para por um exemplo. Nesse cenário um treinador com escassa experiência, zero resultados e com problemas de jogo e de gestão de balneários era a solução? Para Pinto da Costa, para o filho de Pinto da Costa e para Jorge Mendes, sim. Para o FCP? Provavelmente não.
O que é Nuno como treinador?
Um péssimo gestor de grupo, com problemas recorrentes com jogadores e que nunca saiu a bem de nenhum projecto. Aliás, só esteve em dois projectos e em ambos casos não foi por mérito próprio e sim pelo agente que o representa. Não é nenhum ataque a Nuno, o próprio confessou-o sem qualquer tipo de pudor. O Rio Ave é, em Portugal, o clube mais próximo a Mendes e foi aí que começou a sua aventura de dois anos. O Valencia, através de Peter Lim, parceiro de negócios de Mendes, é a sua ponte preferencial actual em Espanha (já foi o Zaragoza, o Deportivo e o Atlético de Madrid pre-Simeone) e a chegada de Nuno com a mudança de dono foi o reflexo dessa postura. Nuno é um dos melhores amigos de Mendes, um homem de confiança e um amigo fiel. E por isso Mendes tem-no sempre na sua lista de prioridades para colocar em distintos projectos. A sua relação de amizade é tal que há muitos rumores - de fontes diferentes mas a indicar o mesmo - que falam abertamente que o despedimento de Nuno do Valencia e a subsequente contratação de Gary Neville - comentador de TV e amigo pessoal de Lim com quem tem negócios no Salford City e em edifícios de Manchester como promotor imobiliário- foi uma jogada para enganar os adeptos, cansados do português, e os jogadores. Nuno, á distância, continuava a coordenar treinos, questões técnicas e trabalhava com Neville de forma directa e silenciosa. E por isso, quando o FCP o abordou em Janeiro - porque o abordou, como a outros cinco treinadores - rejeitou a oportunidade que agora abraça. No fundo, continuava a trabalhar, não para o Valencia mas para Mendes, algo que só cessou quando Neville foi finalmente substituído por Pako Ayerastan, que não quis prolongar a charada e assumiu o comando da equipa totalmente.
Tendo em conta os resultados do Valencia com Nuno e com Neville, não impressiona demasiado o curriculum. Um sexto lugar no primeiro ano com o Rio Ave - algo que não é feito histórico - uma presença na final da Taça e um quarto lugar em Espanha (nesse ano o Valencia tinha o terceiro maior orçamento e gastou mais que o Atlético de Madrid com o celebre pack de 15 milhões de jogadores do Academia Seixal Encarnada) são tudo o que Nuno tem para oferecer.
Em campo, as equipas de Nuno são parecidas tanto com o Rio Ave como com o Valencia. Defesa baixa, linhas recuadas, um 433 que aposta no contra-ataque, jogo lateral e entrega do controlo do esférico ao adversário. Com Nuno, tanto o Rio Ave como o Valência marcavam poucos golos, jogavam de forma pouco atractiva (em Valência ainda hoje há quem refira a sua equipa como uma das menos atractivas da história recente do clube) e sobretudo praticavam um futebol de contenção. Contra rivais que colocavam o autocarro, sofria. Contra rivais que entregavam a iniciativa, sofria. Ou seja, contra a imensa maioria dos rivais na liga portuguesa, sofria. Não é, desde logo, o melhor dos presságios. Mais do que nunca o FCP tem de transmitir uma dupla sensação. Controlo absoluto da bola e do jogo e um gene competitivo que se perdeu nos últimos anos. Nenhuma das suas equipas tem qualquer um desses traços.
No entanto, Nuno é apenas uma escolha que trabalhará com o material que lhe for dado. A culpa nunca é toda do treinador nem os méritos o são e para julgar a Nuno convém primeiro ver que plantel vai ter disponível e se os jogadores que tem se adequam á sua ideia de jogo ou se ele será capaz de se adaptar ao que tiver nas mãos. A sua amizade com Mendes poderá - repito, poderá - facilitar algumas chegadas e saídas nesse sentido mas não será suficiente. Depois de três anos de desinvestimento e erros de casting convém montar um plantel á altura do desafio. Não se podem pedir milagres a treinadores com Suks, Maregas e afins. Mas também não se lhes pode dar caviar e receber em troca papas de sarrabulho.
Nuno é o novo treinador do FC Porto porque Pinto da Costa assim o quis. Contra a vontade de Adelino Caldeiro e o seu grupo. Contra a vontade de Antero Henriques e o seu grupo (o homem que queria Jesus e Marco Silva vai ter, pelo terceiro ano consecutivo, de ser director do departamento de futebol de um treinador que desaprova, algo inédito...se fosse sério e estivesse realmente contra essa nomeação, demitia-se por falta de confiança no seu "projecto"). Chega da mão de um player cada vez mais relevante no jogo, um novo parceiro preferencial de Jorge Mendes. Curiosamente numa recente entrevista Pinto da Costa disse que não gostaria de ver nenhum filho a presidente do clube mas Nuno é um homem de Alexandre Pinto da Costa e o seu êxito (ou fracasso) também será o seu. Num momento em que o clube necessita, mais do que nunca, de unidade, Pinto da Costa preferiu tomar partido por uma facção contra outras. Num momento em que o clube necessita, mais do que nunca, competência, entregou a equipa a um treinador que não traz nada de relevante para mostrar no CV. O tempo julgará a decisão como o fez com as anteriores. Tempo ...precisamente o que o FC Porto tem cada vez menos.