quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O Jornalismo Desportivo

A TV mudou, não tanto na programação desportiva que sempre se pautou por uma grande mediocridade e por dar um tempo de antena excessivo ao clube do regime. Recordo Alves dos Santos, o primeiro comentador residente na RTP. Depois seguiram-se muitos outros, quase todos vulgares. Saídos da rádio, nem todos souberam fazer a ponte para a TV.
Apesar disso, os programas desportivos atraíam vastas audiências, porque não havia directos, que é uma realidade relativamente recente. O que pecava por diferença, peca, hoje, por excesso. O futebol ajustou-se à força da TV, porque não consegue subsistir sem essa receita. Pode ser que a cura seja pior que a doença. Lá mais para diante, saberemos!

De resto, a TV no desporto tal como na restante programação sujeita-se ao império das audiências. E transmite (vende) mais o SLB em função dos tais 6 milhões. Tudo roda à volta do clube do regime, não pelos êxitos desportivos ou em função do valor competitivo, mas em função do prestígio da marca e do valor exponencial de penetração junto dos consumidores. É o que dizem! E a divulgação massiva da marca SLB multiplica-se de forma sistemática, pois o modelo tem de reproduzir até à náusea os valores de um passado majestático que jaz morto e apodrece, pois não tem sustentação em vitórias desportivas, internas ou externas. E, sendo assim, serve-se a bondade e as glórias do passado e denuncia-se os horrores do presente.

A Comunicação Social para cumprir o seu papel reverentemente, teve de virar a informação em propaganda, para salvar a “coroa” do império e vender a promessa que a marca SLB, equipada e armada segundo a versão pós-moderna de Vieira, há-de regressar a galope numa águia e aterrar pela sua mão na Catedral, a fim de recuperar o fausto do antanho.

Num país excessivamente centralizado à volta da capital, só uma RTP vocacionada para um serviço público que equilibrasse os desvios que o oportunismo comercial apoia, poderia moderar essa obsessiva tendência em fazer propaganda a propósito de tudo e de nada a favor do clube do regime que ”obriga”, por outro lado, que todos os outros se tenham de contentar com as migalhas a que têm direito e os melhores se vejam diabolizados por ousarem concorrer e ser melhores no plano interno e externo.
Mas, a nossa RTP não está para aí virada, como comprova a forma como os clubes de Lisboa têm sido tratados na taça UEFA e como o foi o FCP.

Não sendo um consumidor habitual de rádio, bastou-me ouvir o relato da Antena 1 do Souzense-FCP para concluir que até o cheiro é o mesmo. Os locutores de serviço repetiram mais de uma dúzia de vezes que tinha havido um grande penalidade indiscutível contra o FCP e nem uma vez referenciaram que nos tinha sido anulado um golo por pretenso fora de jogo, em lance mais que duvidoso.

A Imprensa parece-me, apesar de tudo, ser o segmento que melhor trabalha o desporto e o futebol, com excepção do Record que é um jornal, declaradamente, anti-FCP que assume como um posicionamento estratégico. Só por histerismo ou fanatismo se pode compreender que o FCP esteja “proibido” de aparecer na capa desse jornal. O Correio da Manhã segue o guião: vale tudo desde que seja para denegrir o FCP. É uma bandeira do grupo Cofina, que exibem sem pudor. Uma vergonha!

Não prevejo que o futuro vá ser melhor. Ou será? O poder da informação – muito particularmente no âmbito desportivo – segue os poderes dominantes. O poder atrai o poder e abundam, lamentavelmente, na actividade os incapazes e os capazes de tudo. Mas, a esperança é a última a morrer e quero acreditar que um dia possa ser melhor. Aliás, é tão mau o panorama, que só pode melhorar.

3 comentários:

  1. Eu, infelizmente temo que ainda possa ser pior. Já varias vezes julguei que mais baixo a comunicação social não pode cair, mas a cada fim de semana, vejo, ouço e leio cada coisa que me faz arrepios, por isso mais vale estar sempre à espera do pior.

    Sobre a estratégia do Grupo Cofina ela é tal e qual o Mário afirma, um ódio anti-FCP sem qualquer pudor, assumindo-a como estratégia editorial e comercial.

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  2. Diz o Mário: "a nossa RTP não está para aí virada, como comprova a forma como os clubes de Lisboa têm sido tratados na taça UEFA e como o foi o FCP".

    Nunca mais esquecerei que milhões de portistas, e também adeptos de outros clubes, foram privados de ver o FC Porto - Lazio das meias-finais da Taça UEFA, na época 2002/03, porque a RTP ofereceu uma ninharia pela transmissão desse jogo.

    Eu tive a felicidade de estar lá, no antigo Estádio das Antas, e posso dizer que foi um dos jogos mais extraordinários que vi o FC Porto fazer nas competições europeias.

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  3. Não me parece que o panorama poderá algum dia melhorar. De órgãos de comunicação do Estado já não espero mais nada. Dos privados pouco mais, seguindo tais estratégias editoriais ou guiados que são pelo "factor lisboa".

    A única forma que vejo para tentar equilibrar os pratos da balança são iniciativas dos "mecenas" do Norte, como é o caso do Público do Eng. Belmiro, um jornal que ano após ano apresenta resultados medíocres mas que é mantido de forma estratégica. Ou o surgimento de um canal de televisão do Porto, para os portuenses, alicerçado em capitais privados consistentes, para não ter de 'falir' como foi o caso da estatal NTV.

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