quinta-feira, 24 de abril de 2008

Leonor Pinhão e as derrotas do Benfica

Às quintas-feiras é o dia em que Leonor Pinhão, nas páginas de A BOLA, liberta a azia e frustrações acumuladas com as sucessivas vitórias e títulos conquistados pelo FC Porto. Tem sido assim semana após semana, ano após ano. Contudo, em 30/05/1997, Leonor Pinhão estava farta de Manuel Damásio e, num momento raro de lucidez, escreveu um artigo no PÚBLICO intitulado “As derrotas do Benfica”.
Sensivelmente 11 anos depois, vale a pena reler alguns extractos desse artigo:

«Há dez meses e três treinadores, começava na Suécia a época do Benfica. A imprensa desportiva noticiava a nova realidade do futebol "encarnado": Jamir era o "patrão", Bermúdez genial, Tahar intransponível, João Pinto estava melhor que nunca e os golos de Donizete nos treinos enchiam primeiras páginas. O presidente Manuel Damásio, encantado com tudo e todos, e em especial com o técnico Paulo Autuori, exultava: "Se isto fosse científico, nem era preciso haver campeonato." Mais valia... À 32ª jornada do campeonato de 1996/97, o Benfica vai a 24 pontos do FC Porto e a 11 do Sporting.

E tão "científica" foi a preparação da temporada que das provetas dos seus pensadores saíram resultados impensáveis: em 42 anos de história do Estádio da Luz, nunca o Benfica tinha sofrido uma goleada tão grande como os 5-0 com que o FC Porto conquistou a Supertaça; nunca, nos seus 93 anos de história, tinha o Benfica sido derrotado em casa pelo Salgueiros; há 36 anos que os "encarnados" não perdiam em casa com o Belenenses e perderam esta época; há 30 anos que o Benfica não sofria quatro golos na Luz para o campeonato (desde os quatro golos de Lourenço, num célebre Benfica-Sporting) e baqueou esta temporada por 4-3 frente ao Salgueiros; nunca o Benfica tinha tido três treinadores numa só época e isso aconteceu em 1996/97. (...)

E Manuel Damásio, dos três campeonatos que teve ensejo de preparar "cientificamente", viu dois deles (1994/95 e 1996/97) acabarem por ser dos piores de sempre em 93 anos de história do clube. E viu o FC Porto conquistar com brilho o "tri". (...)

As contas de uma época ainda se podem fazer de outra maneira: somando as derrotas em todos os jogos oficiais. Com a última derrota do Benfica nas Antas, a equipa de Autuori/Wilson/Manuel José passou a acumular 11 desaires (8 no campeonato, 1 na Taça das Taças, frente à Fiorentina, e 2 na Supertaça, face ao FC Porto). Pior do que isto ainda não há.»

Ora, de Damásio a Vieira (passando por Vale e Azevedo e Manuel Vilarinho), o que mudou em 11 anos?

Substituam os nomes das “fantásticas contratações” da altura (Jamir, Bermúdez, Tahar e Donizete) pelas desta época (Luis Filipe, Ed Carlos, Maxi Pereira, Fredy Adu);
substituam a frase presidencial do início de época “se isto fosse científico, nem era preciso haver campeonato” por “temos o melhor plantel dos últimos 10 anos”;
substituam a escandalosa derrota em casa com o Salgueiros (3-4) pelos (0-3) da derrota com a Académica;
substituam “Manuel Damásio, dos três campeonatos que teve ensejo de preparar” por “Luis Filipe Vieira, dos sete campeonatos que teve ensejo de preparar”.
O resto podem manter, porque o número total de derrotas em jogos oficiais é idêntico, o número de treinadores é o mesmo, a diferença pontual para o FC Porto é igual (24 pontos) e também esta época os benfiquistas viram o FC Porto conquistar com brilho o "tri".

Ah, é verdade, o discurso anti-Porto, anti-Pinto da Costa e anti-Sistema é obviamente o mesmo e, misturado com as habituais pazadas de areia, continua a servir para alimentar a comunicação social e entreter os “6 milhões”. Felizmente, digo eu...

4 comentários:

  1. Zé Correia, parabéns pela perspicácia mas, mais, pela coragem de leres a Pinhão, algo que nunca fiz e, por isso, jamais estaria habilitado a um exercício comparativo como este. Muito menos por um texto de há 11 anos.
    Livra!

    p.s. - mas a "viúva negra" tinha razão... Nunca imaginei é que falasse do brilho do tri portista. Deve ter sido baço, mas sempre era alguma coisa para tal figura pardacenta

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  2. «Conhece teu inimigo e conhece-te a ti mesmo; se tiveres cem combates a travar, cem vezes será vitorioso»
    Sun Tzu, A Arte da Guerra

    Caro Zé Luís, lia mais o que a Leonor Pinhão escrevia há 11 anos atrás (quando era Editora de Desporto do PÚBLICO) do que leio as crónicas "biliares" que nos últimos anos tem escrito na BOLA. Aliás, a partir da altura em que o acesso via Net deixou de ser livre, nunca mais li nenhuma.

    Não perco muito?
    De facto, até porque o estilo é sempre o mesmo.

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  3. Sou Benfiquista, mas devo reconhecer que está muito bem apanhado... corrosivo e cirúrgico.

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  4. Há 11 anos estavam a 11 dos lagartos, agora só estão a 1. É óbvio que estão a melhores.

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