quinta-feira, 29 de maio de 2008

Goodbye and good riddance

A rescisão de contrato unilateral de Paulo Assunção foi como um murro no estômago de muitos portistas. Sem ter sido propriamente uma surpresa (a negociação da renovação de contrato, que não se concretizou, foi uma telenovela em câmara lenta), não deixa de ser um balde de água fria, até porque é a primeira vez que o "Webster ruling" é utilizado contra um dos grandes clubes europeus (o único clube que até agora tinha sido vítima disto foi o modestíssimo Hearths of Mithlodian).

Esta saída deixa-me três dúvidas no ar e três certezas.


É óbvio que a razão para a rescisão terá sido a falta de acordo financeiro na renovação do contrato. Pergunto-me quais terão sido as exigências de P. Assunção e se estas teriam sido assim tão incomportáveis para a SAD, ou se não terá havido pelo contrário uma certa teimosia exagerada e/ou bluff e/ou até mesmo um menorizar da importância do jogador na equipa.


Penso que se P. Assunção não pediu (muito) mais do que o jogador mais bem pago ganha neste momento (Quaresma?), a sua vontade devia ter sido satisfeita no limite. Isto porque desportivamente é um jogador difícil de substituir, e financeiramente irá ficar-nos certamente mais caro o passe de um substituto do que 100mil euros/mês que seja de aumento salarial (o que seria equivalente a não mais de 2 ou 3 milhões ao fim de 2 ou 3 anos).


E de um ponto de vista de "justiça", bem... isso não existe no que diz respeito a salários no mundo do futebol. Quaresma ganha certamente muito mais do que um Pedro Emanuel, e é questionável se essa diferença é justa. Idem para C. Ronaldo vs. alguns colegas de equipa. Ganham mais porque negocialmente têm mais margem de manobra, tão simples como isto.

Outra dúvida coloca-se no que diz respeito a eventuais ofertas ao FCP pela aquisição do passe de P. Assunção. Se a renegociação de contrato estava muito mal parada, é questionável se não se terá perdido uma boa oportunidade de ao menos encaixar alguns milhões com a sua venda (contra umas centenas de milhar de euros de indemnização).


A terceira dúvida prende-se com o preenchimento desta vaga no plantel e da conquista da titularidade: Bolatti parece estar ainda algo verde, e para além dele temos Castro (certamente muito verde) e Fernando (também certamente verde). Parece-me que vamos acabar por ir ao mercado...


Quanto às certezas, a primeira é que a vida continua e não será por causa disto que não seremos os principais candidatos ao título na próxima época. Os jogadores passam, e as vitórias nos campeonatos continuam...


A segunda é que abriram as hostilidades na Europa no que diz respeito ao Webster ruling. Até agora nunca tivemos um clube com "nome" na Europa envolvido num caso destes; presumo que haja um acordo "tácito" entre os grandes clubes (digamos ex-G14) para não usar esta arma atómica. Vamos a ver quem é o clube por detrás disto, mas esse clube merece que cortemos relações com eles e será, se não ostracizado, certamente olhado de soslaio no panorama europeu. Será mesmo um alvo legítimo para a mesma arma da parte de clubes ainda mais ricos, já que perdeu autoridade moral.


A terceira é que, mesmo que a atitude de P. Assunção seja compreensível no caso de ter ofertas milionárias de outras paragens, não é certamente desculpável. Não gosto de quem rasga contratos que assinou de livre vontade - não é minimamente ético (para mais quando o "Webster ruling" não tem sido sequer usado por outros jogadores). Sendo assim, goodbye and good riddance.

8 comentários:

  1. Quanto ao facto em si, não me surpreende minimamente.

    Não sabendo os valores oferecidos e/ou pedido é dificil dizer quem deveria ter cedido.
    Mas há uma variável que não tem sido falada e que não sei até que ponto não influenciou as negociações: O facto de 50% do passe do P. Assunção ser do Nacional da Madeira. Será que o FCP ao renovar com o jogador não teria de comprar ao mesmo tempo os 50% do Nacional?

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  2. A traição tem sempre um sabor amargo e no futebol os adeptos têm maior tendência para reagir com emotividade. É apenas um jogador, mais um que jogava para a equipa.

    Agora provavelmente vai acontecer-lhe o mesmo que a Zahovic e Drulovic: não terá 1/4 do sucesso e das prestações que teve no FC Porto.

    Esta tomada de posição é curiosa. Agora quero ver quem é o clube que lhe vai dar guarida e que ficará 'marcado' connosco (FC Porto) para o futuro. Sim, porque se não houver ética e solidariedade entre os clubes muitos mais jogadores já teriam feito isto e as compras/vendas de jogadores passavam a ser uma selvajaria. Não me acredito que hajam muitos clubes na Europa disponíveis para contratar jogadores desta forma.

    Já gostei muito do PA como jogador, fazia-me lembrar a formiga trabalhadora Makelele. Ultimamente fui-me apercebendo das suas limitações e até acho que as saudades não vão durar muito tempo.

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  3. "Penso que se P. Assunção não pediu (muito) mais do que o jogador mais bem pago ganha neste momento (Quaresma?), a sua vontade devia ter sido satisfeita no limite. Isto porque desportivamente é um jogador difícil de substituir, e financeiramente irá ficar-nos certamente mais caro o passe de um substituto do que 100mil euros/mês que seja de aumento salarial (o que seria equivalente a não mais de 2 ou 3 milhões ao fim de 2 ou 3 anos)."

    Isso seria abrir um precedente gravíssimo para a manutenção da estabilidade no plantel. Ainda que o raciocínio tenha toda a lógica economista e prática, os custos que daí pudessem resultar no futuro poderiam ser bastante elevados ("pior a emenda que o soneto"). A mensagem passada ao plantel (e pior que isso, aos seus empresários, sempre prontos a abrir a boca) seria a de que a sociedade cede a pressões dos seus futebolistas no sentido de elevar os salários. Depois teríamos os jogadores prestes a fazer 28 anos prontos a lançar ameaças de rescisão unilateral se as suas exigências não fossem satisfeitas.

    Assim, até é melhor. A mensagem é que o clube sabe até onde pode ir e é intransigente.

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  4. Estou como o outro: só faz falta quem cá está! Embora tenha sido um jogador que contibuiu decisivamente para os nossos êxitos, tenho a certeza que daqui a uns tempos já não me recordarei dele. Os mercenários raramente ficam na memória de alguém. Suspeito que vai jogar num clube de Lisboa...

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  5. Caro Zé,

    Com desculpas pelo pedantismo, o nome do clube é Heart of Midlothian (alcunha: "Hearts") e "modestíssimo" não me parece ser um adjectivo adequado, já que se trata de um dos historicamente principais clubes escoceses. Não estamos a falar de Celtic ou Rangers, claro, mas também não se trata de Clyde ou Stranraer!:-)

    Abraços

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  6. No panorama *europeu*, o Heart *é* um clube modestíssimo. Quantas presenças têm na Liga dos Campeões? O q é q já fizeram na Europa? Zero.

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  7. Quer o clube que está por detrás desta operação (Atlético de Madrid? Fiorentina? Benfica?), quer o empresário do jogador (Rui Neno?), devem entrar para a nossa lista negra.

    Relativamente ao clube, esperar pela melhor oportunidade para lhes responder na mesma moeda, ou pior (lembram-se de como o FC Porto reagiu à investida do Sporting, quando eles vieram cá buscar o Jaime Pacheco e o Sousa?).

    Quanto ao empresário do Paulo Assunção, corte de relações totais.

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  8. «O dia seguinte à bomba lançada por Paulo Assunção, ao ter rescindido, sem justa causa, o contrato que o ligava ao FC Porto, foi aproveitado pela imprensa espanhola para apontá-lo ao Atlético de Madrid.

    O antigo camisola 6 do FC Porto até fez manchete num dos principais jornais desportivos do país vizinho. O “Mundo Deportivo” aproveitou a sua primeira página para escrever que Assunção “é o escolhido para reforçar o meio-campo” colchonero.

    “Assunção, atado” ficou escrito em letras grandes no referido órgão de comunicação social, que acrescenta que o brasileiro “chega livre do FC Porto e assinará por três temporadas”.

    Recorde-se que Paulo Assunção foi observado pelo Atlético em diversos jogos ao longo da temporada que agora terminou, motivo pelo qual este interesse do clube espanhol não surpreende. Em todo o caso, a Fiorentina também está na corrida, num desejo assumido muito antes de Assunção ter invocado a Lei Webster para se tornar num jogador livre...

    De resto, refira-se que o médio continua sem se pronunciar sobre a sua decisão e mantém-se incontactável. O mesmo acontece com o seu advogado, o conhecido Ilson Visconti, o mesmo que garantiu que Assunção nunca se serviria da Lei Webster para deixar o Dragão.»

    in Record, 31/05/2007

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