sábado, 12 de julho de 2008

Santos da Casa não fazem Milagres


De há uns anos para cá está muito em voga falar-se na “formação”, nas pomposas “academias” e até, recorrendo-se a um desagradável castelhanismo, na “cantera”. Sempre, como é evidente, os clubes recorreram aos melhores elementos das suas camadas jovens para reforçarem os plantéis mas, desde que as nossas selecções jovens começaram a brilhar e desde que os números envolvidos nas transferências se tornaram astronómicos, essa potencial fonte de abastecimento dos plantéis e das receitas ganhou mais notoriedade.

O F.C. Porto, por sinal, até já encaixou uns gordos números com transferências de jogadores feitos na casa, casos de Rui Barros, Vítor Baía, Fernando Couto, Sérgio Conceição e Ricardo Carvalho, mas a utilização e aproveitamento de valores da casa, além de contribuir para o reforço da identidade do clube e de possibilitar bons encaixes futuros, tem a vantagem de diminuir os gastos com contratações de jogadores. Isso mesmo tem valido ao Sporting em tempo de vacas magras (não partilho a opinião de isso ser uma “estratégia” leonina, mas antes fruto da necessidade: basta ver que, há um ano, com os bolsos recheados com o produto da venda de Nani, aquele clube contratou nove – sim, nove!- estrangeiros!), mas o recurso a essa fonte de recrutamento não deveria ser apenas um mero expediente. Isso mesmo parece ter estado subjacente à concepção e criação do projecto Visão 611, cujo objectivo é abastecer regularmente o plantel do clube com jogadores feitos na casa.


Vem isto a propósito de, mais uma vez no arranque de uma pré-época, vermos variados jogadores formados no clube serem emprestados, e alguns deles pela segunda ou terceira época consecutiva. Todos reconhecemos ser natural os “neófitos” irem adquirir rodagem noutras paragens, mas a verdade é que, a partir de certa altura, parece ter-se criado um “estigma” no nosso clube para com os jogadores da casa. Se nos lembrarmos bem, atletas como Rui Barros, Sérgio Conceição e Ricardo Carvalho, de tanto andarem emprestados, acabaram por dar ao clube um contributo temporal limitado antes de partirem para o estrangeiro.

E duas questões se colocam: se ao fim de duas ou três épocas de empréstimo os jogadores continuam a não merecer a confiança dos técnicos, por que razão mantê-los sob contrato (e nalguns casos, até renovarem-se-lhes os contratos…)? E serão todos os jogadores entretanto contratados para o plantel (na grande maioria estrangeiros) superiores à prata da casa que vai andando de mochila às costas pelas mais variadas paragens do país?

Esta “diáspora”, outrora limitada ao Norte e Centro do país tem, aliás, vindo a estender-se a paragens mais meridionais e mais exóticas, como a Porcalhota, a terra natal do Bocage e as grandes metrópoles algarvias de Olhão e Portimão – isto sem esquecer a longínqua Grécia dos conhecidos filósofos Sócrates (o do chá de sicuta, claro), Platão, Aristóteles e Fernando Santos.

Quase que diria que Cristiano Ronaldo ou Ricardo Quaresma, se tivessem sido juniores do F.C. Porto, teriam também tido de cumprir esse “estágio” e provavelmente teriam feito furor no Ribeirão ou no Tourizense, isto antes de serem promovidos e passarem também pelo Portimonense ou pelo Varzim. E se Miguel Veloso ou Bruno Pereirinha tivessem visto a luz do dia futebolístico no Porto, provavelmente andariam a esta hora nessas cedências temporárias, como sucede aos eternos emprestados como Hélder Barbosa, Paulo Machado, Bruno Vale, Bruno Gama, Paulo Ribeiro e os dois Coelhos, aos quais se vão juntando o Vieirinha, o Bura, o Zequinha, o Steven Vitória, eu sei lá... E já nem menciono o peso morto que esses eternos emprestados representam no orçamento da SAD.

Não sei se todos os jogadores de que falei têm qualidade para fazerem parte do plantel do F.C. Porto mas, nos casos em que eles andam por fora há mais tempo, quem de direito já devia ter uma ideia. Digo eu.

9 comentários:

  1. A absoluta falta de aposta em jovens internacionais portugueses - Paulo Machado, Vieirinha, Bruno Gama, Hélder Barbosa, etc. -, mesmo após estes "rodarem" durante 2 ou 3 épocas, contrasta com as apostas e benefício da dúvida que todos os anos é dado a "jovens promessas" da Argentina, Brasil ou Colômbia.

    Porque será?

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  2. Só pode ser xenofobia, José Correia! :-)

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  3. Gostei da do filósofo Fernando Santos ;-)

    Mais a sério, é de facto lamentável que não sejam dadas as mesmas oportunidades aos jovens formados no clube que aquelas que são dadas todos os anos à quantidade de sul americanos que vêm prenchendo o plantel do FC Porto.

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  4. Para alem de não serem dadas oportunidades devidas a alguns dos nossos jovens, esta-se cada vez mais abusar nestas aquisições compulsivas sem que a SAD consiga se libertar dos jogadores excedentários.

    Neste defeso já vimos alguns jogadores que têm estado emprestados a outros clubes, a renovarem contrato para depois voltarem a ser recambiados. Isto é um completo contra-senso.

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  5. Aí, estou de acordo. Ou servem ou não servem. Se não servem não se renova e não se empresta.

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  6. Paulo Machado, Ivanildo, Bruno Gama, Vieirinha, Castro, Hélder Barbosa, todos já tiveram a oportunidade de jogar pela equipa principal do Porto. Para já não mostraram serem alternativas credíveis.

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  7. E quanto tempo será necessário para o mostrarem? Ou, trocando por miúdos: é natural um jogador andar emprestado 3 anos sem que quem decide seja capaz de concluir da sua capacidade para jogar no FCP?

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  8. A reflexão sobre este assunto é simples. Alguns não tem valor e alguns até tem. O problema é que estes últimos não geram comi$$ões, ninguém ganha nada com a presença deles no plantel e ao que parece, no FCPorto esse facto é muitíssimo relevante...infelizmente!

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  9. Caro turk, da lista que referiu retirava o Castro e o Hélder Barbosa, em quem deposito esperanças para o futuro e que ainda não tiveram uma oportunidade a sério de se imporem no FC Porto.

    Quanto aos outros - Paulo Machado, Ivanildo, Bruno Gama, Vieirinha, etc. - se não são alternativas credíveis, porque razão continuamos a renovar os contratos com eles?

    Para os emprestar e pagar 70 ou 80% do seu salário?

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