quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Requiem pelo futebol na cidade do Porto

Para além de ser portista sou também portuense (ou "tripeiro") de gema. E com a situação atribulada actual do Boavista dei comigo a pensar para com os meus botões que o futebol na cidade parece atravessar um declínio irreversível, com a notável excepção do FCP.

A cidade do Porto conta com vários clubes de futebol históricos a nível nacional: 3 são centenários (FC Porto, Boavista FC e Sport Progresso) e dois para lá caminham, apesar de já não contarem com o futebol sénior entre as modalidades actualmente practicadas (falo do SC Salgueiros e do Académico FC).

O FC Porto é o clube mais antigo da cidade (e do país) e a sua história é sobejamente conhecida. A seguir temos o Boavista FC (fundado em 1903), também bem conhecido, seguido do menos conhecido Sport Progresso (fundado em 1908 e actualmente na 1a divisão distrital), do Salgueiros e Académico FC (fundados em 1911, hoje sem futebol sénior mas ainda "vivos"), do Ramaldense FC (fundado em 1922, actualmente na 2a divisão distrital), do Clube Desportivo de Portugal (fundando em 1925, também na 2a divisão distrital), do FC Foz (fundado em 1934, actualmente na 1a divisão distrital) e finalmente, entre os clubes que participam nos campeonatos distritais ou nacionais, do Pasteleira (o mais "delfim" tendo sido fundado "apenas" em 1962, actualmente na 1a divisão distrital). Isto para além de clubes que disputam competições amadoras (tal como um Passarinhos da Ribeira).

Para além do Boavista e do Salgueiros muito pouca gente terá conhecimento da dimensão que o Progresso e o Académico chegaram a atingir a nível nacional: o Académico teve o primeiro estádio relvado do país (em 1937) - o antigo campo do Lima, à direita - onde o FCP chegou a disputar vários jogos "em casa", tal como a selecção nacional (estádio que foi também o grande palco para várias provas nacionais de ciclismo); e disputou 5 campeonatos nacionais da 1a divisão nas décadas de 1930 e 1940 (mais do que, por exemplo, um outro "Académico" bem mais conhecido, nomeadamente o Académico de Viseu).

Já o Progresso participou por diversas vezes (sem grande destaque) no Campeonato de Portugal (instítuido em 1921), a única competição nacional (por eliminatórias) antes de se instituir o primeiro verdadeiro campeonato nacional em 1934. Curiosamente, o Progresso está indirectamente ligado à alcunha "Andrades" atribuída aos portistas, aquando de uma disputa por uns terrenos em que ambos os clubes disputavam os seus jogos na década de 20.

Uma palavra ainda para o Ramaldense, que sem nunca ter atingido uma presença a nível nacional está também bem inscrito na memória colectiva dos portuenses, sendo ainda hoje bem comum assistir-se a comentários do género "jogar à Ramaldense" quando uma equipa "despeja" bolas para o meio-campo adversário.
Com um eventual desaparecimento do Boavista, a cidade do Porto passaria a ter apenas o FCP como representante em campeonatos nacionais, depois de já ter tido quatro... para bem da cidade espero bem que não, mesmo não morrendo de amores por este clube da freguesia de Ramalde. Por muito que os principais culpados do declínio de equipas competitivas de futebol na cidade sejam acima de tudo os dirigentes que foram passando por esses clubes...

4 comentários:

  1. Muito interessante este artigo.

    O declínio dos clubes portuenses e a sua perda de representatividade no meio futebolístico deve, em minha opinião, estar relacionado com: (i)a actuação da Associação de Futebol do Porto (que apesar de ter tido um presidente reconhecido por muitos e com obra feita não terá sido capaz de travar a queda de alguns clubes) e (ii)com o empobrecimento continuado da cidade do Porto, da região Norte e do seu tecido industrial envolvente (muitos clubes ainda vivem do 'cash' libertado por uma indústria ou empresa relevante não tendo necessariamente uma forte massa associativa).

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  2. O declínio (desaparecimento) do Salgueiros está directamente relacionado com a forma como um conjunto de Direcções, particularmente a última, "geriu" o património e receitas do clube (Bingo incluído).

    O declínio do Boavista é algo mais complexo, mas parece-me evidente que o desejo/sonho de competirem com os 3 grandes, fez com que dessem um passo maior que a perna.
    Por outro lado, convém salientar que ao contrário de outros clubes da sua dimensão competitiva, como o Braga, Guimarães ou Marítimo, o Boavista não teve os apoios e subsidios públicos de que estes beneficiaram, particularmente em termos de instalações desportivas.

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  3. Requiem pela cidade do Porto.

    O futebol é só uma consequência.

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