domingo, 7 de setembro de 2008
E Pimba!
A selecção de sub-21 meteu água por todos os lados: não admira, dirão os optimistas, chovia a cântaros em Londres, ontem, e a rapaziada não sabe nadar. Colectiva e individualmente a equipa valeu zero.
Depois do reinado Queiroz fomos perdendo pedalada, deixamos de fazer bons resultados, os técnicos consagrados e discípulos do Professor foram esgotando os seus recursos e muito dos jovens promissores perderam-se pelo caminho.
Muitos técnicos da especialidade, têm referido que e o período de transição de júnior a sénior é fundamental no progresso e na consolidação da carreira, e que ainda não soubemos resolver o problema, devidamente.
Outros, como o João que vem pregando e evangelizando sobre as nefastas consequências da abertura do mercado a jogadores estrangeiros, e cada vez mais para reforçarem os escalões mais jovens, acham que estas entradas "sem barreiras" são a causa do desemprego no sector e do quase desaparecimento de jogadores nacionais nas nossas principais equipas.
Dirigentes e empresários não serão alheios a este fluxo migratório.
Manuel Machado acha que não e que temos mais emigrantes que imigrantes, e portanto o saldo consolidado é positivo e que a taxa de desemprego, na ordem dos 10%, terá que ser encontrada de uma forma menos simplista, até porque o proteccionismo já era, e os jogadores, através do seu Sindicato (por que não?), devem estar atentos e procurar soluções que sirvam melhor os seus interesses. Mas a sua atitude não pode ser passiva e ficar-se pelas “bocas” do seu presidente, que parece ter-se especializado nesse tipo de intervenção.
Há problemas. Obviamente.
O FCP e as iniciativas que levou a cabo são significativas. A formação passou a ser a menina dos olhos da direcção. Nada a dizer. Há um reconhecimento por parte dos grandes clubes portugueses que havia um défice na formação, nomeadamente no FCP. Tocou a reunir: novos dirigentes, novos técnicos, novos programas, novos equipamentos e a cereja em cima do bolo: a inauguração do Vitalis Park como o novo paradigma de um clube com olhos no futuro, como diz Jesualdo.
Projecto 611, scouting e Dragon Force passou a fazer parte do nosso quotidiano portista. Vítor Baía esfolou muito aqueles joelhos, tal como os demais companheiros, para vencer na carreira. Hoje o caminho está desbravado de algumas incomodidades. Já não há “Felicianos” e os novos treinadores são mestres em psicologia, não praguejam nem berram e usam uma imensa bibliografia e todo o artesanal que as novas tecnologias lhes colocam à disposição para tratar os jovens e levá-los a campeões.
Nunca as estruturas no FCP tiveram tal excelência. Que os resultados sejam conformes este investimento material e humano. O FCP merece.
Nestas coisas, quem sempre faz a diferença é o homem, o trabalhador, o artista, o treinador e o futebolista. Principalmente o dono da bola: o jogador. Esperemos que esta facilidade para desenvolver aptidões não retire ao jovem jogador a capacidade de sofrer, de superação, de luta e um alto sentido profissional. O facilistismo não raras vezes conduz ao comodismo.
Na selecção nacional e nos sub-21 nunca ganhámos. Quando tudo parecia estar tão perto, perdemos sempre, e para alguns países da nossa dimensão. A nossa alma é triste como o fado, e falhámos quase sempre, em todos os desportos colectivos.
Apesar do progresso, que sofre inevitavelmente o efeito dos ciclos – esses malandros que existem para infernizar os nossos brandos costumes -, não posso deixar de pensar que muitos dos nossos atletas são excelentes profissionais a exigir altos proventos e excessivamente amadores no desempenho da profissão. E, por isso, não deixo de pensar que parte daquela sábia entrevista dada por um espectador para o programa “Liga dos últimos” em que refere que os "seus jogadores" nas vésperas dos jogos vão para as discotecas, dançam, bebem, fumam e depois pimba pela noite fora, é provavelmente extensiva a muitos jogadores profissionais e a muitos jovens em formação.
A equipa do FCP vai ter – nesta interrupção do campeonato – uma série de dias de folga. O descanso da competição alivia o corpo e o stress. Mas a tendência para demasiado tempo livre não é normalmente útil ao atleta. E depois pimba. E os homens ficam cansados de tanto descanso e menos disponíveis para as tarefas que exigem esforço e dedicação. Ou seja “viciam-se” no dolce far niente e nas mundanidades que enchem o imaginário de muitos jovens e de bastantes menos jovens, também, e são objecto de todas as coberturas na Comunicação Social. E depois pimba: chutam sempre ao lado.
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7 comentários:
Excelente post. subscrevo inteiramente tudo o que foi dito!
Parabéns e continuação de bom trabalho aqui no blog.
Abraço da equipa do LegionofDragons
Será por falta de qualidade dos jogadores que a Selecção de Sub-21 está praticamente arredada da fase final do Europeu?
Olhando para a equipa que alinhou em Wembley, verificamos que contava com jogadores como:
- Rui Patricio (titular do Sporting)
- Pereirinha (suplente muitas vezes utilizado do Sporting)
- Miguel Veloso (suplente/titular do Sporting)
- Manuel Fernandes (Everton)
- Ricardo Vaz Tê (Bolton)
De fora, por castigo, ficaram:
- Pelé (FC Porto)
- Manuel da Costa (Fiorentina)
De fora, por terem sido convocados para a Selecção principal, ficaram:
- Djaló (titular do Sporting)
- João Moutinho (titular do Sporting)
Olhando para esta lista, será mesmo que o problema é falta de qualidade dos jogadores?
Por falar em Feliciano recordo-o, grande Homem, esteve presente na inauguração da nova constituição, era um fazedor de campeões, de poucas falas e disciplinador mas simpático.
Lembro.me de ir à captação na Constituição tentar a minha sorte aos 15/16 anos, no primeiro ano fui saudado por um seco mas educado " lamento mas não serve ", seguindo então para o Atletismo ( com mais êxito ).
No segundo lá agradei mas depois fui eu a deixar e regressar ao Atletismo de novo, no Clube.
Feliciano foi um Homem de grande importância no FCP e realmente é pena não existirem muitos mais como ele.
Jorge Aragão disse...
"Feliciano foi um Homem de grande importância no FCP"
Sem dúvida que Feliciano teve um papel importantíssimo na formação e descoberta de novos talentos para o FCP e foi bom saber-se que ele esteve presente na inauguração, não da "nova Constituição", mas na inauguração do novo projecto do Club na área em que ele foi um dos pioneiros...
Quem não esteve presente, porque já não está entre nós, foi ARTUR BAETA... o homem que antecedeu Feliciano e que deu o primeiro impulso às ditas "camadas jovens" do FCP.
Parabéns pelo post ! Incisivo, objectivo e necessário.
Mas que raio de Caçador é este ? Diz que é inevitável sermos campeões da Europa e levamos um banho de bola dos antigos ?
Já sei: é Caçador de gambuzinos...
PS: Cuidado com aquele miúdo central do Chelsea B !
José Correia disse...
"Será por falta de qualidade dos jogadores que a Selecção de Sub-21 está praticamente arredada da fase final do Europeu?"
Alguns destes são os mesmos jogadores que ganharam o europeu de sub-17 em 2003: Miguel Veloso, Paulo Machado, Vieirinha, João Moutinho, Bruno Gama, Hélder Barbosa.
Vi o jogo e pareciam putos a jogar com homens. Ou seja, mais um típico jogo dos sub-21 nos últimos anos.
«Portugal perdeu em Wembley com a selecção de Inglaterra, o país que alberga a melhor liga de futebol do planeta. Da qual, é verdade, poucas notícias havia de ter conseguido tirar proveito para as suas equipas nacionais, pelo contrário. Portugal e as demais selecções do Grupo 3 de apuramento para o campeonato da Europa chocaram de nariz com uma dessas raridades: entre os onze jogadores que os Sub-21 portugueses tentaram anular havia nada menos do que seis titulares da Premier League. Seis jogadores que, esta época, fizeram parte do alinhamento inicial nas três jornadas que o campeonato inglês leva. Talvez a formulação lhe estrague um pouco o efeito, mas o significado do número compreende-se melhor com outro ao lado: três. Rui Patrício, Vasco Fernandes e Nuno André, os internacionais portugueses que esta época foram titulares na Liga Sagres. Depois deles, o melhor que se encontra são os 89 minutos jogados por Bruno Gama no Setúbal. Era possível ganhar?
Uma selecção de Sub-21 é uma equipa nómada em tudo. Nos jogadores que a compõem, no seleccionador que dura dois anos de cada vez e no papel que representa para quem lá joga. Por circunstâncias que têm a ver apenas com a situação de Portugal no mercado de transferências, cada vez mais serve de barriga de aluguer a um tipo específico de futebolista, já exportado e em período de adaptação a um campeonato estrangeiro. Gonçalo Brandão (Siena), Vieirinha (PAOK) e Paulo Machado (Saint-Étienne) são três exemplos de uma infelicidade muito a propósito: os dois primeiros só fizeram jogos-treino; o último correu vinte minutos numa jornada do campeonato francês. Por esta altura, há um ano, eram titulares do Belenenses e do Leixões, o que, no mínimo, complica a tese de que é a falta de espaço em Portugal que condiciona o escalão.
A terceira pergunta - será que nos ralamos? - podia ser a primeira, posta de outra forma. Ao certo, que Portugal perdeu? Podia ter sido, ou melhor, podia não ter sido o Portugal de Nani, Djaló, João Moutinho e Antunes, jogadores que participaram nesta fase de apuramento e desapareceram entretanto sem lamentações nem críticas, porque a subida à selecção principal nunca é vista com censura ou verdadeira preocupação pela subalterna. Raramente se questiona o sentido prático da chamada de um sub-21 que depois não é utilizado e nunca, mas nunca, se discute em público se, em determinada circunstância de especial necessidade, a selecção mais jovem não deveria ser prioritária.»
José Manuel Ribeiro
O JOGO, 09/09/2008
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