Por Luis Carvalho
Londres, 30 de Setembro de 2008
No jogo de, muito provavelmente, maior grau de exigência que vai realizar em toda a presente época, o FCP apresenta, de início, nada menos que sete jogadores com apenas três meses de casa, apesar de apenas terem saído três habituais titulares. Mais: destes sete, seis apresentam uma experiência de Champions League de apenas 90 minutos.
Aqui chegados, a pergunta a fazer é apenas uma: como se chegou a este estado de "loucura"?
Vários factores se conjugaram para que tal sucedesse.
Em primeiro lugar, a dificuldade da generalidade das pessoas entenderem que, devido a uma situação praticamente única em toda a Europa (domínio caseiro praticamente absoluto), o nosso clube efectua menos de dúzia e meia de jogos verdadeiramente competitivos. Isto é, tirando os jogos da Champions League e os confrontos com slb e scp, só numa ou outra rara circunstância (uma final de Taça, por exemplo), o FCP enfrenta adversários que lhe permitam aferir do seu real valor.
Um erro comum é portanto tirar grandes conclusões dos confrontos com as restantes equipas da liga portuguesa. Aliás, no nosso campeonato, pode até acontecer que uma equipa sem grande valor, passe uma época inteira a enganar tudo e todos. Basta relembrar os casos recentes do Boavista-campeão com Pacheco ou do slb de Trapattoni.
Na prática, pode até ocorrer que melhoremos a nossa diferença pontual para os nossos rivais internos enquanto, em simultâneo, estejamos a cavar ainda mais o nosso fosso em relação aos grandes "tubarões" da Europa. Uma coisa não invalida a outra.
Já aconteceu...
É pois essencial prestar o máximo de atenção a esse número ínfimo de jogos ''a sério'' e tirar deles as conclusões.
Exemplos práticos? Pois muito bem: que garantias reais existiam acerca de um Rolando? Praticamente nenhumas. Meia dúzia de cortes na Luz e dois jogos contra os tais adversários menores e deu-se por certo que estava ali para altos voos. Aliás, tal como o Stepanov há uma ano atrás...
Pior: quase ninguém abriu a boca de espanto sobre o exílio, forçado em dois tempos, do Pedro Emanuel. Um jogo menos conseguido na Supertaça (onde, seguramente, não falhou mais que os restantes colegas de defesa) e adeus prestígio alcançado durante anos e anos, em jogos e jogos pelo FCP.
"Está velho'', dizem. A idade, aliás, é cada vez mais sentença definitiva pelo Dragão...
E quanto à restante defesa?
Bem a rábula do lateral-esquerdo daria um filme. Trágico-cómico, claro. Se Lino ''ataca bem e defende mal'', alguém partiu dessa premissa e concluiu então, que Benitez, visto não atacar bem, teria que, obrigatoriamente, defender bem. Pois, mas e então o banco de suplentes do Lanús?...
Fucile? Uns minutitos menos brilhantes em Vila do Conde (tal e qual a restante equipa mas havia a necessidade de encontrar um bode expiatório) e adeus capital acumulado no último ano.
Quanto a Fernando, após ter realizado uma época de quase absoluta obscuridade na Amadora, bastou que começasse a circular a hipótese da titularidade para, de repente, passar a ser quase unânime que, afinal, ele até tinha tido uma passagem bem "jeitosa" pela Reboleira...
Porém, a dura realidade dos factos é que, certamente por engano, foram comprados dois "números oitos" para esta posição "seis" e Fernando é apenas fisicamente parecido com o Assunção, nada mais.
O Pelé dos 6 milhões? Parece que, apesar do preço e ter vindo do Inter, ainda não está "ambientado", seja lá isso o que for...
E chegamos ao ataque. O local onde joga a nossa mais curiosa aquisição: Rodriguez.
Se em Maio passado perguntássemos a qualquer outro portista a opinião sobre o uruguaio, a maioria diria tratar-se de alguém com potencial mas que, como qualquer outro jogador que passe pelas bandas da segunda-circular, estava a ser sobrevalorizado. Ora, as primeiras impressões muitas vezes são as mais correctas...
Daquele jogador que, há menos de 2 meses atrás, se garantia ir-se tornar, rapidamente, o melhor jogador da liga, nem sombra.
Nada de enganos: Rodriguez não é mau jogador, bem pelo contrário. Todavia, além de ter sido exageradamente caro, é apenas a menos-má alternativa para a substituição de Quaresma, esta sim uma perda sem cura possível.
Já Lisandro é aquele tipo de jogador que todos querem ter na sua equipa mas, aquela máquina de golos da época transacta foi, como já na altura era bom de adivinhar, uma excepção. Não voltará a marcar tantos. Foram tempos em que tudo lhe corria bem, rematasse como rematasse. Ora, ponta-de-lança-matador ele nunca foi, nem será. Não exageremos pois nas críticas aos golos que agora ficam por marcar. Falta-lhe uma "muleta" a seu lado, agora que o Mustang se foi.
E esta só pode ser mesmo Hulk, jogador que está a pagar pelo negócio estranhíssimo que envolveu a sua compra. Muita gente, com razão, estava (e ainda está) algo desconfiada. Não há razões para isso: ali existe mesmo garra e qualidade que muito útil nos será. O atleta não pode ser sofrer na pele por razões que é alheio. Num plantel de fraca qualidade como o actual, terá que ser forçosamente titular.
Na origem de todos estes erros e omissões, está claro a política de contratações.
Defendo mesmo que as entradas deviam ser higienicamente limitadas a umas 5/6 por ano.
A forma como jogadores, não geniais, mas com algumas provas dadas como Ibson, Pitbull e Adriano (pior do que Farias em quê exactamente?) foram descartados, diz tudo sobre o facilitismo com que sempre decorre o nosso defeso, altura rica nas mais absurdas "trocas", que tão caro pagamos ao longo da temporada (Postiga...).
E chegamos assim ao nosso técnico. Ele não terá a culpa total, bem longe disso, mas anda completamente perdido entre "sistemas-base", "modelo", "princípios", "métodos" e "estratégias" e outros modernismos que tais que tão bem ficam nas entrevistas.
E que tal uma "transição rápida", menos tatuada, para a realidade das coisas, Sr. Professor?
Nota final: O 'Reflexão Portista' agradece ao Luis Carvalho a elaboração deste artigo.
Muito, muito bom. O único reparo que eu faço a esta magnífica análise tem a ver com o Pitbull que, a meu ver, e apesar da boa época no Setúbal, não tem qualidade para jogar no Porto. Obviamente que não é pior do que o Mariano mas acho-o, tal como ao argentino, apenas um jogador mediano.
ResponderEliminarAmanhã é fundamental ganhar ao Sporting. Por todas as razões e mais alguma.
Como todos temos opinião diferente e é isso que nos faz adeptos especiais de um clube especial, sinceramente não concordo com a desvalorização do Fernando, tendo em conta que era o Estrela, penso que fez uma época bem razoável, pelo que acompanhei.
ResponderEliminarJá o pitbull, entre mariano e ele nao sei nao...
Rodriguez, totalmente de acordo.. e mais... a exigência que se tem com o Mariano por exemplo, é incomparavelmente maior do que a que se tem sobre o Rodriguez... basta ver pelos assobios.. e entre os 2 é dificil escolher o que tem jogado pior...
Acho que naquela posição nunca vai render..mas...
Cumpz
Muito bom post salientando bem o que se vai passando.
ResponderEliminarA rábula do defesa esquerdo é notável quando tivemos jogadores portugueses à mão de semear como Antunes ou o Jorge Ribeiro. Não são decerto piores que os que temos.
Certo lembrar Ibson que devia ter sido emprestado a um Clube europeu e não ir para o Brasil brincar na areia, e que dizer de Adriano/Farias???
Vamos a ver se ganhamos amanhã ainda sem Tarik e a falta que ele faz...
«A forma como jogadores, não geniais, mas com algumas provas dadas como Ibson, Pitbull e Adriano (pior do que Farias em quê exactamente?) foram descartados, diz tudo sobre o facilitismo com que sempre decorre o nosso defeso»
ResponderEliminarEu não assisto aos treinos, mas por aquilo que todos vimos nos jogos, o Ibson é bem melhor do que o Kaz, Bolatti, Guarin ou Tomás Costa, só para falar em médios contratados no mesmo período em que ele foi emprestado ao Flamengo.
Quanto ao Pitbull, se apesar do muito que fez de bom na época passada, nem sequer teve direito a fazer a pré-temporada no FC Porto, a pergunta que eu faço é porquê manter o vínculo contratual com este jogador?
Relativamente ao caso do Adriano, escrevi recentemente um artigo neste blog sobre o assunto.
O Fernando fez uma boa temporada no Estrela, se calhar não teve a mesma atenção que outros jogadores mas foi fundamental para a boa temporada do Estrela.
ResponderEliminarA questão do lateral esquerdo é tão anormal como irritante, não acertamos uma como ainda temos laterais esquerdos emprestados.
O artigo está muito bem elaborado e escrito mas não concordo com algumas coisas que lá são ditas:
ResponderEliminar. O Ibson sempre foi um barrete a defender ; o tipico jogador de futebol brasileiro
. O Pitbul não é melhor que o Mariano ou Tarik ; é muito bonito ser bom jogador no Setubal quando se joga contra equipas abertas mas no Porto a realidade é diferente (o caso recente do Jorginho, p.ex.)
. O Tomás Costa tem imenso potencial, assim como o Hulk, Rolando e Fernando (este é um excelente jogador e o futuro confirmará isso mesmo)
Quem eram o Lisandro, o Bruno Alves, o Pepe, o Deco, o Derlei, o Ricardo Carvalho, o Bosingwa e outros quando chegaram ao Porto? ninguém! e quantos pegaram de estaca na primeira época que cá passaram? nenhum!
E o Assunção que agora é transformado em insubstituivel? veio de brinde numa transferencia para o Porto quando tinha 18 anos, esteve cá um ano e foi dispensado. Foi depois comprado ao Nacional por birra para não ir para o Sporting e foi emprestado ao AEK. Só à terceira é que ficou no plantel (com o Adriaanse).
Eu também gostava de ver muitos portugueses na equipa (de preferência formados no clube) e poucas e boas contratações. Mas a realidade do futebol português é diferente e o Porto tem provado que é quem melhor lida com esse facto pois continua a ser campeão mais vezes que os outros e continua a vender mais e mais caro que os outros.
Este ano há muita gente nova e com potencial e há que ter paciência.