quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A crise vista da 2ª circular (II)

O impacto da crise no futebol português (I)

Vale a pena recordar que o Sporting, depois de no final dos anos 90 e início deste século ter investido fortemente no futebol, acumulou um enorme passivo e atingiu uma situação de desequilíbrio financeiro tal, que obrigou a actual administração a vender património e a fazer cortes brutais na sua equipa de futebol (a propagandeada aposta na formação foi muito mais uma necessidade do que uma aposta estratégica). Como é óbvio, a politica de contenção dos últimos anos afectou a competitividade da sua equipa de futebol e só a partir desta época parece haver uma folga um bocadinho maior.

Ao contrário da “formiga” sportinguista, o seu vizinho da 2ª circular continua a adoptar a postura da “cigarra”. Todos os anos gastam milhões no suposto reforço da equipa de futebol, sem se perceber muito bem de onde vem tanto dinheiro.

Em declarações prestadas à Agência Lusa, primeiro em 6 de Novembro e, mais recentemente, a 3 de Janeiro, responsáveis das sociedades desportivas do FC Porto, Benfica e Sporting afirmaram que o futebol português não escapará à recessão que afecta a economia europeia, mas que os efeitos da crise devem sentir-se de forma desigual nos três "grandes".

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Filipe Soares Franco, Sporting SAD


O presidente do Sporting antevê "com toda a segurança" um "crédito bancário mais difícil e mais caro, sobretudo para as organizações que apresentem menos sustentabilidade", porque os bancos vão ser mais restritivos na concessão de crédito devido à crise de liquidez.

Relativamente ao mercado de transferências, aquele empresário, presidente do grupo Opway, considerou que a crise "vai afectar os negócios em geral e os clubes fortes poderão ficar menos fortes e os clubes médios vão ficar mais fracos", admitindo uma quebra nos valores das transferências, normalmente essenciais para os principais clubes nacionais equilibrarem as contas.
Os clubes “vão ser mais selectivos” e só quererão comprar os melhores por um preço mais baixo, admitindo que, como vai haver menos procura e muita oferta, os preços de venda dos passes dos jogadores tendem a reduzir-se.

Em relação às receitas de bilheteira e merchandising, Soares Franco salientou que terá de haver um grande esforço dos clubes para manterem a assistência e as receitas, indicando que no caso do Sporting cerca de metade dos lugares estão vendidos para toda a época, razão pela qual, pelo menos na época em curso, não haverá reduções de preços para não prejudicar quem comprou bilhetes antecipadamente.

Filipe Soares Franco garantiu que o Sporting está "preparado para enfrentar os tempos difíceis que aí vêm, mas isso não quer dizer que está imune a esses problemas", pois ainda tem "um endividamento muito alto e precisa de, pontualmente, vender alguns dos seus activos para poder fazer face à diminuição de lucros e reduzir o passivo".
"Isso é algo que o Sporting não deve parar de fazer, sobretudo numa altura destas. Espero que o Sporting consiga, com a reestruturação financeira que está a terminar, ter uma sustentabilidade que lhe permita passar esta fase difícil de forma mais suave", advogou.

Para o presidente dos “leões”, 2009 "não será um ano fácil em nenhuma vertente e o futebol terá que se adaptar à nova realidade económica que o mundo está a viver e que passa por uma enorme falta de liquidez nos mercados" e os "colossos" europeus não são excepção.
Filipe Soares Franco lembrou que "esses clubes não são ilhas desertas que contornam todas as dificuldades criadas pelo cenário internacional" e descartou a possibilidade de abdicar da política de austeridade para agradar aos sócios em ano de eleições.

Evolução dos Proveitos vs Custos da Sporting SAD (fonte: Fórum SCP)

"O Sporting nunca seguirá esse rumo. O Sporting pauta as suas decisões pela racionalidade e não pelo facto de ser ano eleitoral. Aliás, o maior investimento que fizemos esta época foi não termos vendido nenhum jogador importante", assegurou o presidente "leonino".

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Domingos Soares de Oliveira, Benfica SAD

O administrador financeiro da SAD do Benfica afirmou ter consciência das maiores restrições ao crédito por parte das entidades bancárias em geral, mas assinalou que a maioria dos créditos contratados pelo clube estão negociados a longo prazo. O responsável assinalou que se o Benfica precisar de novos empréstimos, além de falar com os parceiros habituais, poderá optar por outros meios de financiamento, como empréstimos obrigacionistas, observando que até à data o clube não teve dificuldades de crédito.

As receitas de bilheteira têm estado acima do orçamentado, embora em situações pontuais haja indícios de menor disponibilidade dos espectadores, garantiu Domingos Oliveira, considerando que "face à qualidade da equipa, as dificuldades são compensadas porque a qualidade do espectáculo é boa".

Aquele gestor prevê que possa haver restrições na importação de jogadores se os clubes destinatários tiverem dificuldades financeiras ou de crédito, mas assinalou que o Benfica "não tem uma dependência por aí além das vendas de jogadores" para equilibrar o seu balanço e não será muito afectado por isso, recordando que o clube não vendeu jogadores no fim da época passada e apresentou resultados positivos.

Mais do que o "apertar do cinto" de Chelsea, Manchester United, Real Madrid ou Inter de Milão, o drama para o Benfica passa por novo afastamento da "liga milionária", pois, como notou Domingos Soares de Oliveira, "a diferença entre a Liga dos Campeões e a Taça UEFA situa-se entre os sete e dez milhões de euros".

"Desenvolvemos um modelo que visava não depender da venda de jogadores. Esta quebra do mercado é-nos mais favorável do que em relação a alguns concorrentes. Mas se todos os proveitos se reduzirem, em 2010, o Benfica também terá necessidade de vender jogadores", preveniu.

O administrador da SAD do Benfica espera quebras nas receitas de bilheteira e quotização, pois "é impensável julgar que as pessoas vão continuar a pagar, quando até o consumo de bebidas e gasolina diminui", mas salienta que é a Liga dos Campeões que faz a diferença: "Não podemos manter esta ausência durante muito tempo".

Para Domingos Soares de Oliveira, é o "sucesso ou insucesso na performance desportiva" que pode determinar uma boa ou má época para a tesouraria benfiquista e não os proveitos com a venda de jogadores, pois "a última grande venda foi a de Simão (para o Atlético de Madrid), já há quase dois anos".
"Não diria que vai secar, mas esse mercado vai diminuir significativamente. Não se atingirão os níveis, nem em valores, nem em quantidade, que se atingiram nos últimos anos. Vermos clubes que, num ano, fazem 50 ou 60 milhões de euros de vendas... não acredito que isso aconteça", defendeu.


(continua, A perspectiva de Fernando Gomes, administrador da FCP SAD)

Fonte: Agência Lusa
Nota: A selecção das fotos e os destaques no texto a negrito são da minha responsabilidade.

9 comentários:

  1. É sabido que, em época de contracção económica, as empresas refreiam os orçamentos de "marketing". Extinguem contratos de patrocínios ou tentam renová-los por valores mais baixos. Foi o que o BES tentou fazer. Quis reduzir o investimento anual conjunto de 3,5 milhões de euros no apoio ao Benfica, Sporting e Porto. Os clubes não aceitaram e o acordo não foi fechado. Será que as equipas podem dar-se ao luxo de não aceitar a proposta? Será que voltam atrás? Nunca se sabe.

    "Chegado o momento de definir as condições de renovação dos contratos de patrocínio aos 'três grandes' foi-lhes proposto que os mesmos reflectissem a redução do orçamento associado. Os clubes não aceitaram a proposta, pelo que não houve acordo quanto à continuação dos contratos", disse, ao Negócios, Paulo Padrão, director de comunicação do BES, banco que deixou de patrocinar o Óbidos Vila Natal.

    in Jornal de Negócios, 06/01/2009

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  2. Além do BES, também o BPI desinvestiu no futebol, ao deixar de apostar nas linhas de publicidade nos estádios, um investimento que durou uma década. O contrato, renovável de três em três anos, deixou agora de ter continuidade. "Esta decisão não tem a ver directamente com a crise", garante fonte oficial do banco, que também deixou de patrocinar a Feira de Arte de Lisboa.

    in Jornal de Negócios, 06/01/2009

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  3. Neste campeonato do entra e sai, há um novo jogador no futebol. É o Millennium bcp, que associou o seu nome à Taça de Portugal, um acordo válido para três épocas. A entidade liderada por Carlos Santos Ferreira, que contratou Bárbara Guimarães como rosto do banco, garante que este ano vai reduzir o seu orçamento publicitário em 20%, o que se traduz em menos cinco milhões de euros face a 2008. A perder ficam eventos como o Anteciparte, que deixou de ter o BCP como "main sponsor".

    in Jornal de Negócios, 06/01/2009

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  4. A edição de 2009 do Rali de Portugal corre o risco de não se concretizar, ao perder parte do apoio da Vodafone. A equipa de ciclismo do Benfica acabou por falta de patrocínios. Eventos como a Volta a Portugal e o Estoril Open, organizados pela João Lagos Sports, poderão não ter "luz verde" dos antigos patrocinadores.

    "Lutamos pela sobrevivência do Estoril Open. Vamos tentar salvar o que tanto trabalho deu a construir", disse João Lagos numa entrevista à "Bola" em Dezembro. Em causa está o patrocínio da PT, que apoia o evento desde a sua fundação, há 20 anos. "Estamos em diálogo com a empresa para procurar soluções tendentes à continuidade", garantiu, ao Negócios, Rui Oliveira, director de comunicação da João Lagos Sports. A PT optou por não fazer qualquer comentário ao torneio em concreto. "O plano de 'marketing' e comunicação, que será focado nos serviços MEO e TMN, ainda não está fechado", disse fonte oficial da companhia.

    O patrocínio da PT ao Estoril Open está periclitante há cinco anos. De ano para ano, o orçamento alocado ao evento tem diminuído. No ano passado, marcado pela presença de Roger Federer, a PT fez uma espécie de conluio com o BES e co-patrocinou o evento. Mas o retorno parece ser incipiente.

    in Jornal de Negócios, 06/01/2009

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  5. Também os custos associados o patrocínio da Volta a Portugal em Bicicleta parecem não trazer o retorno desejado. A prova, que teve o apelido PT Comunicações até 2004, pode agora ficar órfã da EDP. "O contrato terminou este ano. Patrocinámos o evento durante quatro anos. Neste momento estamos em conversações para perceber o que pode ser feito", diz, ao Negócios, fonte oficial da EDP. "O contrato está em fase de revisão. Estamos em conversações", confirma Rui Oliveira, da João Lagos Sports.

    in Jornal de Negócios, 06/01/2009

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  6. O director-geral da SIC, Luís Marques, avançou ontem que o canal está a prever “uma quebra de 7% a 15%” na sua facturação de receitas publicitárias em 2009. O mesmo responsável sublinhou a dificuldade dos operadores de televisão em antecipar números mais concretos devido à conjuntura de crise económica mundial.

    in Jornal de Negócios, 06/01/2009

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  7. Todos sabemos que os administradores da nossa "Futebol-SAD" consideram as receitas das trasnferências de jogadores como fundamental para equilibrar as contas, que já de si estão muito desiquilibradas devido a uma série de resultados negativos.
    Fernando Gomes terá mesmo dito recentemente que precisamos de arrecadar anualmente cerca de 25 milhões de euros em transferências!
    Ora neste aspecto, e olhando para as contas dos grandes rivais, a nossa situação financeira é mesmo a mais preocupante, uma vez que eles não estão tão dependentes como nós da receita das transferências.
    O caminho só pode ser um: redução de custos! É dos livros e é exactamente isso que estão a fazer as empresas citadas neste texto: BES, PT, etc...

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  8. «O futebol é uma indústria que vive do lazer e da publicidade, que está directamente relacionada com os direitos televisivos e com o consumo. Eu não sei antecipar a cascata, mas uma indústria que vive do lazer é débil, quando a economia não é forte»

    Soares Franco
    PÚBLICO, 10/10/2008

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  9. «O FC Porto nunca devolve bilhetes quando a equipa se desloca à Luz. São sempre vendidos. Este foi o primeiro ano, desde que estou na SAD do Benfica que o FC Porto devolveu bilhetes, cerca de 700. Eu penso que isso é um indicador de que poderá haver alguma situação que esteja a afectar o consumidor.»

    Domingos Soares de Oliveira
    PÚBLICO, 10/10/2008

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