sábado, 7 de fevereiro de 2009

O caso Calabote (V)

I. A trajectória da bola e as decisões da FPF
II. A pouco inocente nomeação de Calabote
III. Os estágios das selecções em... Lisboa
IV. Treinador-adjunto do SLB no banco do Torreense

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V. Deus deu o campeonato à melhor equipa

Estando o FC Porto e o SLB empatados em pontos e nos jogos disputados entre si (empates 0-0 na Antas e 1-1 na Luz), a diferença global de golos era decisiva e, nesse item, o FC Porto dispunha de uma vantagem de quatro golos (78-22 contra 71-19).

Em termos de adversários, enquanto o FC Porto ia jogar a Torres Vedras contra o último classificado, o SLB recebia na Luz o Desportivo da CUF (uma equipa que estava no meio da tabela).
Ambos os jogos tinham início previsto para as 15h00, conforme os regulamentos impunham.


«Ao intervalo o F. C. Porto vencia por 1-0, ganhava o Benfica por 3-0.
A dois minutos do final do jogo no Campo das Covas fez o F. C. Porto o segundo golo, para euforia dos seus adeptos, que já descriam porque, no outro lado, vencia o Benfica por 6-1.
Marcaram os portistas e de rajada marcaram os benfiquistas: 7-1.
E, a meio do minuto 90, Teixeira, com esse golo que haveria de ficar histórico, colocou o F. C. Porto a vencer por 3-0 e de novo em vantagem. Tremularam, de novo, bandeiras azuis e brancas nas Covas, na Luz pairou um silêncio de dúvida e de desolação.

O jogo de Torres acabara... Houve invasão de campo, gente que tentava abraçar os seus heróis, camisolas rasgadas na euforia e eles, os jogadores, desesperadamente à espera de um sinal, com o sonho suspenso, fugindo, suplicando que os deixassem ouvir o que se ia passando na Luz naqueles minutos que se arrastavam e pareciam séculos. Nas bancadas, uma mole de gente que permanecia, quieta, de mãos enclavinhadas, olhos marejados de lágrimas, respiração opressa – na tortura da dúvida...
... Em Lisboa ainda havia luta e havia sonho, por o jogo ter imoralmente começado oito minutos mais tarde que a hora prevista, com a complacência de... Inocêncio Calabote – que, depois de já ter assinalado três penalties a favor do Benfica, foi prolongando o tempo do jogo sem que nada o justificasse...

Doze minutos tiveram de esperar os portistas pelo desfecho. Os corações arfavam, as gotas de suor (ou de impaciência) perolavam pelos rostos dos jogadores, que se sentavam no chão nunca mais entreviam o tal sinal, as bandeiras esvoaçando ao vento, os gritos Porto! Porto! Porto! ressoavam como tambores de vitória ainda por anunciar...

Enfim, a explosão de alegria. Teixeira, que marcara o golo que valeria o título, levantou-se e, como uma sombra densa que se empasta, como uma estátua de um herói acabado de sê-lo, ergueu os olhos para o céu e murmurou: «Deus encarregou-se de dar o Campeonato à melhor equipa
in 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA


De pé: Acúrsio, Barbosa, Luís Roberto, Monteiro da Costa (cap.), Miguel Arcanjo e Virgílio
De joelhos: Carlos Duarte, Hernâni, Noé, Teixeira e Perdigão.


Quando o FC Porto marcou o 0-2 (a dois minutos do fim do desafio), um jogador do Sport Clube União Torreense – Saldanha – para queimar tempo, chutou ostensivamente a bola para longe antes do recomeço. O árbitro, que já o tinha advertido várias vezes durante o jogo pelo mesmo tipo de conduta, considerou anti-jogo grosseiro e expulsou-o.

A perder e precisando de ganhar para continuarem a acalentar a hipótese de evitarem a descida de divisão, porque razão os jogadores do Torreense apenas se preocupavam em queimar tempo?

A explicação está nas declarações do jogador António Manuel, reproduzidas por ‘A Bola’, e que não podiam ser mais claras:
No meu último jogo ia dando uma vitória ao Benfica e não o consegui, o que lamento como benfiquista. O Porto talvez seja a equipa que pratica melhor futebol mas nós podíamos ter dado o campeonato ao Benfica. Paciência. Como homem do Benfica, sinto muito que assim não fosse.”

A pouca vergonha e desfaçatez desta gente é tão grande que nem merece comentários.

No final do jogo, em declarações feitas ao ‘Jornal de Notícias’, Virgílio diria: “Lamento a maneira como os torreenses se portaram connosco. Mas tiveram o pago! Os jogadores e o público acenando-nos com lenços a 10 minutos do fim!... Lamentável!

Na análise ao jogo de Torres Vedras, o ‘Mundo Desportivo’ refere a «dupla tristeza (dos jogadores do Torreense) porque, na maioria, os jogadores além da fuga ao último lugar também desejariam que o campeão se chamasse Benfica...».

Na crónica o jornalista afirma que a expulsão de Manuel Carlos (jogador do Torreense), aos 20 minutos da 2ª parte, foi justa (por jogo violento) e não tem dúvidas de que dois minutos antes ficou um penalty por assinalar a favor do FC Porto, num derrube sobre Carlos Duarte (foto ao lado), cuja «nitidez da falta tornou bizarra a decisão do árbitro, mandando prosseguir o jogo e ignorando a grande penalidade que se impunha assinalar».

No capítulo da apreciação ao árbitro Francisco Guiomar, o Mundo Desportivo diz que «...foi muito "caseiro" (aquele penalty negado aos portuenses é inaceitável), contemporizou com a rudeza em excesso por demasiado tempo e regra geral acompanhou o jogo de muito longe...».

O Sport Clube União Torreense esteve quatro anos na 1ª divisão, entre 1955/56 e 1958/59. Voltaria à principal divisão do futebol português em apenas mais duas ocasiões - 1964/65 (último classificado com apenas 7 pontos) e 1991/92 (16º classificado) - descendo novamente de divisão nessas épocas.

(continua: Um Gama avermelhado na baliza da CUF)

Fontes:
[1] 'Glória e Vida de Três Gigantes', A BOLA, 1995
[2] ‘CSI – Calabote Scene Investigation’, Pobo do Norte, Maio de 2008


Fotos (clique para as ampliar): Paixão pelo Porto, A Bola

2 comentários:

  1. Uma correcção, José Correia. Lembro-me do Torreense na 1ª divisão pelo menos mais duas épocas: desceu juntamente com o Seixal em 1964/65 (não me recordo se dessa vez esteve mais que essa época na divisão principal) e na década de 90 voltou a cumprir pelo menos mais uma época entre os grandes. Lembro-me de o Porto lá ter empatado um jogo (0-0) dessa vez.

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  2. Alexandre, obrigado pela correcção (já corrigi no artigo).

    É verdade que na época 1991/92 empatamos em Torres Vedras 0-0 (que memória!).
    Nas Antas vencemos por 5-0.

    ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Campeonato_portugu%C3%AAs_de_futebol_(1991-92)

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